Como blog estaremos aqui para escrever as nossas opiniões, observações e para que quem nos visite deixe também as suas. Tentaremos, dentro das possibilidades, manter este local actualizado com o que vai acontecendo à nossa volta em Macau e um pouco em todo o lado...

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Será que importa mesmo?

 
HOJE, como estamos quase no fim do ano e a apenas uma edição d’O CLARIM entrar em 2013, vou transcrever uma conversa que tive com uma pessoa amiga e que, tendo vindo de quem veio, me deixa apreensivo acerca do futuro da língua portuguesa em Macau.

Não serão citados nomes, como se compreende, nem departamentos governamentais, mas não será muito complicado meter os pontos nos «is».
Certo dia, depois de ter participado numa actividade relativa ao recrutamento de funcionários para a máquina administrativa, encontrei um amigo regressado a Macau para umas curtas férias, depois de aqui ter vivido largos anos e ter ocupado lugares de destaque antes de 1999. Conversa puxa conversa, começámos a desenrolar os quês e porquês da língua de Camões em Macau. Dando eu comigo a defender que a língua está melhor agora do que anteriormente, contrapondo o meu interlocutor dizendo que não estava e que, para tal constatar, bastaria ver que tudo quanto é publicado, que possa ser interpretado de diversas formas, tem sempre no final que prevalecer a versão chinesa, mesmo sendo esta, na maior parte das vezes, ou uma tradução, ou tendo como base um texto original em Português. Argumentos que me obrigaram a engolir o sapo e concordar com o ponto do meu amigo.
Disse ainda este meu amigo que basta ver como funcionam os serviços e ver que a maioria dos documentos internos são feitos apenas em Chinês, sem que haja qualquer versão em Português. Realidade que justificam com o facto dos documentos não se destinarem a pessoas que não lêem Chinês, portanto, a versão chinesa é suficiente.
Pessoalmente, até ao momento, concordava com isto mas, bem vistas as coisas, se as línguas oficiais são duas, segundo o ponto de vista do meu amigo, não deveria tudo ser elaborado em ambas? E – perguntava-me ele – se a situação se inverter? Se for um documento que tenha como destinatário apenas quem lê Português, será que passa sem versão chinesa?
Bem vistas as coisas, a verdade é mesmo essa. Quando reclamamos porque não existem versões bilingues vêm logo dizer que não se destina a quem lê Português, pelo que não faz mal. Na realidade, tenho visto muitos portugueses a serem os primeiros a defender essa teoria, deixando passar situações em que deveriam ser os primeiros a exigir que houvesse a versão nas duas línguas oficiais. Recentemente aconteceu-me isso num banco emissor local e não assinei até que viesse a versão em Português.
Se não formos nós a defender aquilo que é nosso, mais ninguém o faz, afirmava o meu amigo entre um cigarro e um expresso (ao ar livre, entenda-se, por causa da Lei Anti-tabaco!). Aconselhou-me então a olhar para a jurisdição mais próxima com bilinguismo, Singapura, onde tudo, mas mesmo tudo, é publicado em todas as línguas oficiais (Inglês, Bahasa malaio, Chinês e Tamil). Nem lhes passa pela cabeça publicar, seja o que for do Governo, pelo menos, que não obedeça à Lei.
A teoria do meu amigo ia mais longe e culpava, principalmente, a parte portuguesa do Grupo de Ligação por não ter sido capaz de impor uma presença da língua lusa mais forte, tanto no sector público, com o ensino universal em todas as escolas (públicas e privadas que recebem subsídios chorudos do Governo) como mesmo no sector privado. Como exemplo apontava para Hong Kong, onde o Inglês é e sempre foi língua obrigatória desde que os britânicos ali assentaram os pés. Mesmo que os resultados do ensino não sejam brilhantes, a verdade é que quem nasce e vive em Hong Kong sabe o mínimo de Inglês. Em Macau ensina-se Português nas escolas do Governo mas não em todas, dizia, acrescentando ainda que o facilitismo no ensino é tanto que é confrangedor ver os níveis de Português dos alunos das escolas luso-chinesas. No sector privado, nomeadamente nos hotéis, pelo que tinha tido oportunidade de ver desde que chegou, o Português era equivalente a zero em detrimento do Inglês e do Chinês simplificado. Contrapus que sempre assim foi! Ao que ele, felizmente, concordou.
Verdade é que se temos Português em Macau, isso em grande parte se deve a Pequim. As autoridades portuguesas nada fizeram para que, pelo menos, a nossa língua ficasse aqui com futuro. Enquanto a Lei Básica reinar, de uma forma ou de outra, o Português continuará a ser residual. Mas, depois de 2049, defendia o meu interlocutor, desaparecerá por completo.
Actualmente, de quando em quando, lá aparece um arauto na Assembleia Legislativa, seja ele quem for, que vai argumentando acerca do Português e da necessidade do Governo investir e dar mais atenção à sua divulgação e uso. Mas foram esses mesmos deputados que, por decreto, votaram a não obrigatoriedade do uso de Português nas denominações comerciais logo após a criação da RAEM.
Outros ainda insistem, e muito bem, em usar a língua portuguesa mas, para fazerem passar a mensagem, vêm-se obrigados a recorrer sempre ao Chinês. Um exemplo crasso disso foram as recentes LAG, onde os deputados que falam Português foram sempre «obrigados» a expressar-se em Chinês, caso contrário nenhum dos secretários os iria perceber e a mensagem perdia-se.
São esses mesmos deputados que defendem o Português, mas depois organizam eventos onde essa língua não consta, como por exemplo o arraial da gastronomia…
Muito há que fazer e parece-me, como me dizia o meu amigo, não haver tempo suficiente…

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Diferenças entre vizinhos

Diferenças entre vizinhos

 
O PASSADO fim-de-semana em Hong Kong revelou, mais uma vez, outra das grandes diferenças entre a antiga colónia britânica e este pequeno torrão que já esteve sob Administração Portuguesa. Os cidadãos de Hong Kong, desde que ouviram falar na proposta de Educação Nacional como disciplina obrigatória para as escolas dos seus filhos, uniram-se e vieram para a rua fazer saber ao Executivo local que não estariam dispostos a que houvesse «lavagem cerebral» autorizada aos mais novos, sob o capote de se ensinar os valores da Nação Chinesa. E, quando o Governo não quis ouvir, não tiveram qualquer problema de afrontar Pequim e dizer, alto e bom som, que ali não iriam permitir que os líderes comunistas interferissem com a educação dos mais novos, à semelhança do que acontece do outro lado da fronteira.
Depois de vários meses de críticas, discussões acesas no Conselho Legislativo e generalizada polémica em toda a Sociedade, vieram para a rua aos milhares (centenas de milhar) vocalizar aquilo que consideram ser um direito inalienável da sua Constituição: a não interferência de Pequim no sistema de Educação de Hong Kong. O poder popular foi de tal forma que o Executivo não teve outra alternativa que não fosse recuar na proposta de lei. E Pequim, perante tanta atenção mediática mundial, viu-se obrigado a «perder a face» e a «dar o braço a torcer». Apesar de não ter sido uma vitória total, visto que, de obrigatória, a disciplina fica agora ao critério de cada escola, os manifestantes dão-se por satisfeitos e prometem ir até ao fim.
As comparações com Macau tornam-se inevitáveis, mesmo que aqui ainda não se fale de Educação Nacional. Aliás, penso quem nem sequer se irá levantar essa questão, visto que nas escolas chinesas, desde sempre, se ensinou que o mundo roda em torno da China. E, nas escolas do Governo, a maioria dos professores são da China, ou ali tiveram a sua formação, pelo que estão, desde logo, condicionados. Se ainda houver algumas escolas onde se ensina que a China é mesmo o «Império do Meio», estas devem ser residuais e de pouco peso no plano geral de Educação. À semelhança do Artigo 21, que em Hong Kong trouxe milhões às ruas e não foi aprovado, a Educação de cariz nacional deverá ser um «não problema» em Macau.
Por cá, há muito – ou melhor, desde sempre, – que nos habituámos a este «deixa andar». Nunca ninguém se queixa acerca do que nos é imposto pela capital. Tudo o que vem do outro lado das Portas do Cerco é para aceitar, sem abrir a boca. Sejam eles autocarros, que nem na China os querem, ou legislações que nos vão tirando regalias e nos tornando, cada vez mais, meros residentes de qualquer outra cidade chinesa.
Os nossos vizinhos de Hong Kong, apesar de não serem perfeitos em termos de defesa dos direitos cívicos e democráticos, podem servir-nos de exemplo. Desde sempre, nunca tiveram problemas em fazer ouvir o que pensam e em lutar pelos seus pontos de vista. De tal modo que, invariavelmente, acabam por fazer prevalecer a vontade popular, por muito que o Executivo insista em impor o seu ponto de vista.
Sinceramente, gostaria de ver esta mentalidade em Macau. Ficaria contente em ver os habitantes da RAEM irem para a rua lutar por algo que achem ser seu por direito. Infelizmente, penso que isto nunca irá acontecer. Se estiver enganado, estarei lá.
Tirando umas pequenas manifestações no 1º de Maio e uns ajuntamentos em outras datas mais emblemáticas, pouco mais se passa. E, com os cheques que o Governo vai (atempadamente) distribuindo, os ânimos dos mais exaltados acabam por esfriar, pelo menos por um ano...
Em Hong Kong, o Executivo tentou a mesma estratégia, doando cheques aos seus residentes, mas o efeito não resultou. Os seus cidadãos – claro está! – não recusaram a dádiva do Governo, mas não se calaram mesmo depois de terem os dólares na conta bancária. Algo que, para os governantes, deve ter sido difícil compreender.
Em Macau, estamos numa época em que se começam a falar em derrapagens financeiras em vários projectos. Começam-se a descobrir vários problemas relacionados com esbanjamento de milhões públicos. Talvez fosse uma boa altura para vir para a rua reclamar e pedir para que, de uma vez por todas, ao invés de se desperdiçarem os milhões dos impostos, se elabore uma real política social, com apoios aos mais novos e aos mais carenciados. Isso sim, seria um bom motivo para vir gritar para a Avenida da Praia Grande…

Serviços de muito má qualidade

Serviços de muito má qualidade

 
PARECE que não é só a qualidade vida que começa a piorar em Macau. A cada dia que passa parece também que a qualidade dos serviços prestados, mesmo por grandes marcas, deteriora-se a olhos vistos.
Desde grandes marcas de automóveis, que não ligam nenhuma ao serviço pós-venda, a marcas de telemóveis, que não querem saber dos períodos de garantia e não os honram quando os clientes o invocam.
O exemplo que vos quero aqui trazer tem a ver com a Siemens, mas pode ser adaptado a qualquer outra marca que, na Europa, temos como sinónimo de qualidade e bom serviço.
Trata-se de um esquentador eléctrico, de um modelo que praticamente não existe em Macau, que foi instalado em minha casa, um pouco por capricho. Se soubesse o que sei hoje tinha ido para uma qualquer bagatela chinesa e teria ficado o assunto resolvido. Logo a começar pelo facto de qualquer electricista de «vão de escada» o saber concertar. O que não acontece com este modelo alemão. Aliás, para o instalarem quando era novo teve de ser chamado um técnico da marca, já que o electricista que fez a instalação eléctrica em minha casa nem se atreveu a tentar. Logo ali fiquei com a «pulga atrás da orelha».
Não entrando em pormenores, o esquentador funcionou, durante 5 anos, sem qualquer problema. O período de garantia acabou, mas a Siemens sempre se disponibilizou para lhe fazer a manutenção, pelo que quando avariou com um problema no termóstato, resolvi contratar os serviços especializados da marca. Contactei o escritório em Hong Kong e fui muito bem atendido. O problema começou com a empresa concessionária em Macau das reparações da Siemens.
Por experiência com outras marcas, trata-se exactamente do mesmo técnico que faz as manutenções das máquinas de lavar Whirpool. No caso, depois de quatro tentativas para me arranjar a máquina de lavar, que tinha sempre problemas diferentes (!), a Whirpool fartou-se de tanta falta de profissionalismo e enviou-me uma máquina nova de Hong Kong. Problema resolvido!
Mas voltando ao esquentador: Na primeira visita, seria um problema do controlador da temperatura, tendo sido informado por Hong Kong que iria custar cerca de mil patacas para o substituir, ao que eu concordei. Combinado dia e hora para reparar, isto é, para retirar o controlador e meter o novo, verificou-se que o problema seria do sistema de tubagem interno do esquentador, pois mesmo com o novo controlador no lugar nada funcionava como devia ser. Mais uns dias de espera e outro telefonema de Hong Kong, porque me recuso a falar com a empresa de Macau, visto serem extremamente mal educados ao telefone. Acertou-se outro dia para substituir a tubagem do esquentador, uma espécie de serpentina de plástico por onde a água passa.
Na segunda visita, o dito técnico, já visivelmente com «cara de poucos amigos» e eu com pouca disposição para o aturar, chega ao local com um mecanismo completo do esquentador dentro de uma caixa ainda selada. E, pensando eu que iria tirar o mecanismo velho e colocar o novo, fiquei de boca aberta vendo que apenas ia tirando peças do novo para as substituir no velho. Depois do demorado processo, e da quase totalidade das peças mudadas e eu sem perceber porque não tinha substituído todo o módulo, nada funcionava, novamente!
Ao telefone, já comigo no meu local de trabalho, explicaram-me que afinal a culpa era da canalização da água, que estava a entrar por onde deveria sair. Ao que eu perguntei, como tinha o esquentador funcionado durante mais de cinco anos? E, tendo sido a Siemens quem o instalou, como seria possível que tivessem trocado os canos? Tudo isto ficou sem resposta! Eu continuo com água fria mas, felizmente, é Verão!
Agora espero que a Siemens me contacte, porque ao «técnico» disse-lhe para arrumar a trouxa e voltar para o sítio de onde tinha vindo, deixando o esquentador da forma como o encontrou.
Entretanto, fui ver o que se passava e, mesmo não sendo técnico, reparei que o problema era mesmo um cabo eléctrico que tinha sido ligado no local errado, não dando energia à bomba interna do esquentador para fazer circular a água quente e que, ao mesmo tempo, liga a resistência para aquecer a água.
Da Siemens, em Macau ou Hong Kong, continuo à espera que alguém se digne a telefonar para explicar o que se passou.
Da próxima vez, gastarei menos dinheiro e compro uma coisa qualquer feita na China!

Asneiras pagas com milhões

Asneiras pagas com milhões

 
A MAIS recente guerra entre a Apple e a Samsung, à volta de questões relacionadas com patentes de aparência duvidosa e que poucos entendem, faz-me lembrar o que se passa na Assembleia Legislativa aqui da terra.
São todos muito parecidos uns com os outros, apesar de se dizerem diferentes e actuarem de formas distintas. Alguns até dizem palavrões em plenário e nada lhes acontece. Antes pelo contrário, são brindados com contratos adjudicados directamente no valor de milhões por parte do Executivo.
Portanto, e tal como a Apple e a rival coreana, gritam, gesticulam, mas, no fim, acabam por receber dos dois lados. O mesmo se passa com os gigantes dos telefones. Não nos esqueçamos que a Samsung é a maior fornecedora de «microships» e «displays» da Apple, assim como muitos dos deputados têm negócios com o Executivo.
Fong Chi Keong, deputado que se tem destacado pela má educação e falta de carácter para estar sentado na Assembleia Legislativa, parece que tem tudo controlado no seio do Governo e ninguém lhe toca. O Governo, esse, parece que perdeu mesmo o decoro e anunciou publicamente que tinha adjudicado, sem concurso público, a uma empresa de Fong Chi Keong, a Man Kan, a renovação do edifício dos Secretários do Executivo, no valor de milhões de patacas. Um anúncio feito como se tratasse do mais natural dos procedimentos. Afinal, vale a pena ser mal educado e chamar nomes a tudo e a todos, especialmente na AL.
No seguimento deste escândalo, enquanto trocava impressões com um colega sobre a figura em causa, fiquei a saber que, em tempos e antes de ser deputado, Fong Chi Keong era uma pessoa afável e de bom trato. Mas, segundo esse meu colega, a personagem parece que mudou do dia para a noite depois de ter sido nomeado deputado. Ao que eu acrescentei, mudou ou terá vindo ao de cima o que realmente sempre foi?
A bem da verdade, estou-me nas tintas se o Governo dá o dinheiro ao deputado Fong, ou a outro amigo qualquer. Tanto me faz, como se me fez, como se costuma dizer na gíria. A mim não dará de certeza, porque não tenho lá amigos. Agora, que os deputados não se saibam comportar como gente civilizada em plenário, deixa-me triste, porque a imagem que fica para o exterior é de que somos todos uma cambada de analfabetos, burros e iletrados. Uns labregos, recorrendo novamente à gíria. O que, em abono da verdade, não fica muito longe da verdade, no cômputo total da sociedade.
Ainda assim, uma grande parte, onde me incluiu eu e o caro leitor, ficaria mal vista, porque se esforça no dia-a-dia para dar o seu melhor para o desenvolvimento desta terra, e para que a sua imagem além fronteiras seja mais do que apenas casinos, prostitutas, seitas e incompetência a gerir o trânsito.
Ao passarmos os olhos pelo que se escreve na Imprensa internacional, acerca de Macau, apenas encontramos assuntos relacionados, ora com a criminalidade, ora com casinos, prostitutas e escândalos financeiros. E, se nos dedicarmos a ler relatos de visitantes em «blogs» pessoais encontramos queixas sobre o mau funcionamento dos serviços de transportes, da corrupção endémica, da falta de qualidade dos trabalhadores do sector da restauração e da falta de qualidade generalizada dos serviços prestados. Se dão milhões à empresa do deputado depois deste dizer umas asneiras em plenário, que mais se pode esperar!?
Não espero que isto mude, porque – como sabemos – tal nunca irá acontecer, enquanto continuarem a existir empresários sentados nas cadeiras da AL. Isto é, enquanto não houver uma profissionalização e um quadro legislativo de incompatibilidades para os deputados; o mesmo devendo também ser aplicado aos dirigentes de toda a equipa governativa.
A concluir, lembram-se que foi anunciado mais um gabinete para coadjuvar Chui Sai On nas questões internacionais, certo? Sabem que a esposa dele tem interesses na organização de eventos, certo?
Esperem para ver no que isto vai dar...

Esbanja-se muito na Saúde

Esbanja-se muito na Saúde

 
NA Imprensa local falava-se, recentemente, nos milhões gastos na Saúde e do quanto tem ido parar ao Kiang Wu – ou seja, ao hospital privado – e a outras instituições.
Isto até nem seria grande novidade, caso o hospital público fosse aquilo que devia ser: um exemplo de excelência que todos os cidadãos merecem, prestando um serviço de qualidade em todas as suas valências a quem delas precisam.
Numa cidade como a de Macau, onde abundam milhões para dar aos amigos e distribuir pelos mais variados sectores, o serviço de Saúde do Governo continua a ser uma «porcaria». No entanto, há verbas para esbanjar com o sector privado, suportando, muitas vezes, serviços que nada trazem de valor acrescentado para a população em geral.
Há aqui algo de muito errado! Se há dinheiro para suportar as extravagâncias dos amigos do privado (não esquecer que o presente Chefe do Executivo foi durante anos presidente da associação que detém o Kiang Wu e a sua família tem ali muitos interesses), por que não há dinheiro e capacidade para repor a qualidade no Centro Hospitalar Conde de São Januário?
Quando cheguei a Macau, há alguns anos, o CHCSJ era uma unidade de Saúde de referência na Ásia e destino de visitas de vários especialistas, nomeadamente do Japão e de Singapura, locais que agora gozam de excelente qualidade de cuidados de Saúde, tanto no sector privado, como no público. Algo que, quando perguntado aos responsáveis desses países, dizem ser, de alguma forma, inspirado no que viram e aprenderem em Macau antes da transferência de soberania.
Não consigo entender (até consigo mas não posso afirmar nestas páginas!) como é que o sistema de Saúde do território chegou ao estado em que está. Ainda por cima, quando se entregam, de mão beijada, milhões às associações e aos operadores do sector privado.
Os responsáveis continuam a dizer que não conseguem recrutar médicos e enfermeiros em Portugal para reforçar os quadros clínicos. Eu, não sendo especialista em recrutamento, caso queiram, consigo dar-lhes contactos de médicos e enfermeiros disponíveis para virem para Macau se lhes pagarem condignamente. Aliás, os pagamentos e condições dignas devem ser oferecidas a todos os profissionais, a começar pelos que já aqui estão estabelecidos há vários anos.
Não sou contra o sector privado na Saúde, mas acredito que este deve apenas complementar o público. Só assim compreendo que o Governo dê, de mão beijada, milhões aos operadores privados. Esse dinheiro apenas deve ser disponibilizado depois de se assegurar que tudo foi feito para garantir no público o fornecimento de serviços da mais alta qualidade. Se o sector do Estado não consegue oferecer serviços de qualidade, o sector privado deve continuar a sobreviver com as suas próprias verbas e não com dinheiros que deviam ser investidos no desenvolvimento e aperfeiçoamento dos serviços públicos.
Macau tendo, felizmente, tanta abundância de verbas, deve ser capaz de repor a qualidade dos serviços que havia anteriormente. Tanto mais que, antes de 1999, a abundância de dinheiros públicos nunca atingiu os valores que hoje conhecemos.
Se era possível, perante as restrições orçamentais pré-RAEM, manter um sistema de saúde público de qualidade, por que razão numa época de abundância de dinheiro continuamos a ser martirizados com serviços de Saúde de baixa qualidade?
O nível profissional de grande parte dos clínicos não está aqui em questão. O grande problema parece ser mesmo a falta de profissionais e uma grande falta de capacidade da sua gestão. Problemas que a injecção de dinheiro pode ajudar a resolver em várias vertentes.
Se há falta de mão-de-obra, contratem-se mais trabalhadores! Se há falta de capacidade de gestão, procurem-se profissionais capazes da sua execução em Macau ou no exterior!
Pagar aos privados para fazerem o trabalho que cabe ao Governo é que não me parece ser o caminho a seguir, se se quer garantir, a longo termo, serviços de Saúde universais de qualidade.

«Mãe África»

«Mãe África»

 
SE me perguntarem o que senti na minha primeira viagem a África, a resposta será um imensurável prazer de liberdade e uma sensação de espaço infinita. A paisagem, mesmo antes de pisar a terra, é de tal forma vasta e avassaladora que nos faz sentir como se estivéssemos chegado a «casa» e fossemos recebidos de braços abertos.
Mesmo sem grandes ligações ao continente africano, tirando o pequeno detalhe do meu pai ali ter vivido grande parte dos primeiros anos da sua vida adulta, como enfermeiro militar, há aqui (ainda estava em África quando comecei a escrever esta crónica) um magnetismo inexplicável que nos atrai de forma intensa, e com uma razão que dispensa explicações. Aliás, estas seriam difíceis de encontrar e de traduzir em palavras.
Possivelmente quem ali viveu sabe do que falo melhor do que eu. O vermelho da terra, o pôr-do-sol penetrante, a poeira amarelada que cobre tudo, como um manto que aconchega a criança numa noite de frio. Tudo isto, juntamente com o calor humano que se encontra, faz da experiência algo difícil de esquecer e, acima de tudo, profundamente marcante.
Por muito que tente encontrar uma forma simples de explicar o que senti, e que ainda sinto (mesmo agora estando a continuar a escrever esta crónica já sentado no banco do avião num voo de 12 horas e a 36 mil pés de altitude algures sobre o Índico), apenas consigo dizer que é um sentimento algo materno, como aqueles sentimentos que ligam mães e filhos (mais do que aos pais), mesmo que separados à nascença. Um cordão umbilical que apenas encontra explicação e razão nos especialistas que defendem ser África o «Berço da Humanidade». A «Mãe África» que deu origem a toda a raça humana que, a partir desses planaltos imensos, partiu para popular o mundo.
A minha primeira experiência de África foi Moçambique. Uma estadia de quatro dias que me fez visitar a capital Maputo, antiga Lourenço Marques, e a distante Lichinga (antiga Vila Cabral), lá perto desse grande lago que é o Niassa (disseram-me que o terceiro maior de África, mas que a mim me pareceu um oceano), que aos nossos exploradores mais deve ter parecido o mar, mas com água doce. Maputo, todos nós já ouvimos falar e vimos imagens na televisão. É uma cidade, capital, como muitas outras, onde nada falta e onde a toda a hora se encontra um mundo de gente com todos os problemas que isso traz.
Já Lichinga é «África»! Terra vermelha, pó quando o vento levanta, muita chuva quando os deuses assim o decidem, casario térreo (o 24, o prédio mais alto da cidade, tem apenas quatro andares!) e ruas geometricamente traçadas desde que os portugueses ali decidiram «fazer» uma vila. À volta existem hoje muitas aldeias que, a pouco e pouco, vão passando a ser parte da cidade e a ver as suas palhotas substituídas por casas de alvenaria.
Lichinga é a capital da província do Niassa, a maior de todo o País e também a mais isolada. Pelo que ouvi do presidente do Conselho Municipal, Lichinga é a única capital provincial que não tem ligação por estrada com a capital. Existe, porém, ligação aérea e, em breve, frequentes e fiáveis viagens de comboio. No entanto, pegando nas palavras do presidente do Conselho Municipal, para desenvolver o potencial da província é essencial haver um cordão umbilical rodoviário à capital para escoar os produtos e pessoas.
Mas não me quero perder em descrições dos problemas burocráticos do Niassa. O meu propósito é mesmo falar-vos da «minha» África. São sentimentos de uma primeira experiência, provavelmente como os amores de criança, apesar de quase todos os que se aperceberam disso me dizerem que ficará para toda a vida. «Não há amor como o primeiro» disse sem conta um dos amigos que fiz por ali nesta deslocação oficial.
Confesso que, mesmo sem antes ter ido a Moçambique, já me sentia apaixonado pela terra através das estórias contadas pelo meu pai e das experiências que ali viveu ao longo de vários anos e que me habituei a ouvir desde que me lembro de ser gente. Desde tenra idade que sei que tinha de ser algo de muito especial porque, até hoje, guarda lá amizades que não vê há décadas, mas que o tempo não enfraqueceu. Isso tive a oportunidade de viver na última noite em que fiquei no hotel Avenida. Ao chegar de ver o Benfica perder com o Barcelona, (apesar de ser simpatizante dos encarnados deu-me algum prazer a derrota, porque esta trouxe umas bombas de gasolina da GALP para Lichinga, resultado de uma aposta de teimosia que tinha sido feita na brincadeira por um alto dirigente da GALP, na presença de todos nós, com o antigo governador do Niassa) alguém me interpelou na entrada do hotel, sem nunca me ter visto ou falado, mas sabia perfeitamente quem eu era. Pois, segundo me disse, era a cara do meu pai há 40 anos. Um senhor que eu nunca tinha visto e que me recebeu como fosse seu filho, pois via em mim o amigo que não encontrava há décadas. Falta dizer que nessa última noite não dormi. Ficámos horas no bar do hotel a falar, ou melhor, eu a ouvir estórias de tempos passados, contadas como se tivesse sido eu um dos intervenientes e delas me tivesse esquecido. Era o outro eu, só que há quarenta anos!
Sinceramente, agora regressado e com tempo de pensar em tudo o que vivi em quatro dias, não me admiro de me ter sentido em casa no leito da «Mãe África» e no caloroso abraço dos nossos irmãos.

Dengue e falta de civismo

Dengue e falta de civismo

 
A FEBRE de dengue afecta Macau todos os anos, mas desta vez parece que o caso é mais complicado do que em anos anteriores. Como sabemos, o veículo transmissor da doença é um mosquito que se reproduz em águas estagnadas e limpas e que pica, principalmente, de dia. Ora, o que se pode depreender destas características é que as condições de higiene têm vindo a deteriorar-se e a qualidade de vida a baixar na cidade, aumentado as condições de reprodução do veículo transmissor da doença.
Este contínuo aumento desregrado da população, para o qual a cidade nunca esteve, nem estará preparada, pode muito bem estar na base do aumento desta epidemia. Como se sabe, na génese de qualquer surto epidemiológico está sempre a falta de limpeza e a falta de higiene do local onde se vive. Quando se promove a entrada de milhares de pessoas e se lhes dá residência, o que se pode esperar? Principalmente quando, na sua maioria, essas mesmas pessoas não têm qualquer noção de higiene ou respeitam qualquer tipo de norma de vida em sociedade.
Falo, por exemplo, do prédio onde vivo, na zona da Fortaleza do Monte, área onde fora registado um caso de febre de dengue, segundo dados dos Serviços de Saúde. Se bem que os residentes nem sequer foram informados da localização exacta do caso, dando origem a um pânico generalizado e fomentando a desconfiança entre todos. Foram colocados uns copos com um produto químico, o OVITRAP, pelos Serviços de Saúde, nas escadas em todos os andares do prédio, tendo em vista recolher amostras dos ovos dos insectos que vivem nessas zonas para se conseguir fazer um rastreio do doença. No entanto, passados dois dias, os ditos contentores tinham desaparecido quase na totalidade, apenas restando o do primeiro andar. E, pelo que temo, também esteve deve desaparecer em breve.
É que, a par com o aumento desregrado do número de residentes, aumenta também a falta de civismo de quem aqui vem residir. Os ditos contentores tinham sido furtados por um dos residentes dos andares superiores do prédio com o intuito de os meter em casa, pensando que tal iria contribuir para que não houvesse mosquitos na sua residência. Claro que nem sequer se preocupou com a segurança e bem-estar da restante vizinhança.
Por sorte – ou azar dele – deparei com a pessoa a furtar um dos ditos copos e perguntei-lhe o que estava a fazer, e se não via que estavam identificados com o símbolo dos Serviços de Saúde e com a menção «Não mexer». Respondeu que não queria saber, que se os Serviços de Saúde quisessem que fossem lá meter mais. E, quando lhe perguntei se não se importava de estar a colocar em perigo a saúde dos vizinhos, riu-se, como se me quisesse dizer que estava mais preocupado com o seu bem-estar do que com o dos vizinhos. «Que se lixem os vizinhos!», certamente pensou.
Claro que apresentei queixa por telefone para a linha indicada no único copo que restava. Depois de passar a dificuldade de encontrar alguém que falasse Português ou Inglês, lá consegui identificar o edifício e os andares em causa. Quando quis identificar a pessoa que tinha visto a furtar os copos ali deixados pelos Serviços de Saúde, disseram-me que não valeria a pena, a não ser que tivesse testemunhas. Ora essa, se eu o vi, que mais precisavam? Vi a pessoa, sei quem é e onde vive, que mais será necessário para que enviem uma autoridade ao seu apartamento para verificar a existência dos ditos contentores no seu interior?
No dia seguinte reparei que nas escadas do meu piso estava um copo. Falta-me saber se foram os Serviços de Saúde ou o ladrão que ali o meteu.
O que está em questão não será tanto os copos dos SS, mas sim a acção da pessoa e a mentalidade dos que vieram viver para Macau recentemente. O território está a tornar-se num local sujo e habitado por pessoas que apenas pensam em si, ignorando, completamente, as regras de boa vivência em sociedade. Isto, claro, traz consigo lixo lançado para a rua, sacos do lixo depositados à porta dos apartamentos, lixo nas escadas, etc. E, como se sabe, tudo isto contribui para a diminuição da salubridade na cidade, criando as condições ideais para que doenças, como o dengue, se instalem de vez entre nós.
O Governo, antes de mais, deveria começar por impedir que mais pessoas fixassem residência em Macau porque, como sabemos, a capacidade da cidade há muito está ultrapassada. Depois, devia actuar de forma a erradicar, de novo, este tipo de problemas.

Governo deve fazer o que é importante

Governo deve fazer o que é importante

 
FOI referido num dos jornais de língua portuguesa, recentemente, que um dos últimos baluartes da culinária macaense, o Riquexó, pode fechar as portas. O local, junto ao edifício Hoi Fu, onde se encontra há vários anos, tal como o Clube de Amigos do Riquexó, nas antigas instalações do Park’n Shop, foi vendido (ou vai sê-lo em breve) e quem dirige o restaurante tem tentado, apesar da sua avançada idade, encontrar um local apropriado para voltar a servir comida macaense; mas, com as rendas caríssimas e com ordenados cada vez mais altos, a única solução parece ser mesmo vir a desaparecer.
Não é por ser macaense, ou português ou chinês; é por ser património de Macau, património de todos nós, que o Governo devia, de uma vez por todas, deixar de olhar apenas para as reservas cambiais e tomar iniciativas para proteger aquilo que nos identifica, seja a comida macaense, seja outros aspectos culturais que definem Macau como aquilo que é.
Macau é um território com estatuto especial, não apenas porque foi administrado por uma potência estrangeira, mas porque a confluência de culturas, ao longo de séculos, criou aqui uma maneira de ser diferente do resto da China. Se os governantes não forem capazes de perceber isto e fazer tudo o que for necessário para o proteger, não me parece que mereçam ser governantes e devem deixar o lugar vago para quem tenha essa capacidade.
Se Macau não se destacar pela diferença deixa de ser o que é e passa a ser apenas um pequeno subúrbio de Zhuhai, apenas mais um recanto da China, sem qualquer distinção ou particularidade.
O caso do Riquexó é apenas um exemplo do abandono a que foram votadas as tradições de Macau. Desde que se verificou o alastramento da massificação do Jogo, com tudo o que de bom e mau nos trouxe, nada foi acautelado nos novos investimentos para proteger a identidade de Macau. Não existe um único recinto, dos novos que surgiram e dos que ainda irão surgir, que se digne preservar a identidade de Macau, as suas tradições e a sua vivência. Em vez disso, construíram-se Venezas, cópias integrais de algo que nada nos diz, e extravagâncias que apenas servem para atrair hordas de turistas embasbacados com tanta opulência oca. Ao que parece, vamos ter também uma Torre Eiffel e não sei mais o quê!
Era aqui que o Governo poderia aproveitar para meter o dedo e obrigar quem quer investir a cingir-se a valores e tradições locais, em vez de importar algo que nada tem a ver com Macau. Primeiro trabalhem em prol da cultura local; depois então construam os elefantes brancos que quiserem!
Quando me contrapõem neste ponto, lembro-me sempre das promessas feitas por aquela «trupe» de circo que se instalou no Venetian, prometendo mundos e fundos ao Governo: que Macau iria ser o centro do mundo deles; que Macau iria ter isto e aquilo de escolas de arte. Bom, sabem por onde andam? Eu também não. Só sei que, passados alguns anos, com milhões embolsados sabe-se lá de onde, desapareceram e levaram a trouxa, deixando para trás Macau cheio de nada…
Mas voltemos à comida. Nas centenas de estabelecimentos do género que surgiram, conjuntamente com as numerosas salas de jogo, nem um restaurante de comida macaense foi criado. Tirando os maus exemplos do Gosto (dizem que é restaurante português, mas eu considero-o tão português como o Vela Latina, na Almeida Ribeiro!) no casino Galaxy, e do balcão do Porto Interior no recinto de comidas do Venetian (onde servem as comidas em pratos e talheres de plástico!), nada mais existe. Seria uma boa oportunidade para o Governo fixar quotas para este tipo de situações. Assim como deveria fixar para a comida cantonense de qualidade e outras iguarias típicas de Macau, que também estão a desaparecer a pouco e pouco.
A lista dos restaurantes que fecharam nos últimos anos começa a engrossar: Long Kei, Marisol, Algarve Sol, Safari e, agora, o Riquexó.
Relembro que o Governo distinguiu a gastronomia macaense como Património Intangível da RAEM; mas de que valem títulos se, na prática, para eu comer um «minchi», tiver que ir a Zhuhai ou a casa de algum amigo macaense?
A aposta privada de pequenos investidores tem feito mais pela preservação da cultura de Macau do que o próprio Governo. Se ainda vai havendo locais onde se podem comer pratos macaenses, isso deve-se apenas a alguns aventureiros que se deixam apaixonar pela gastronomia e teimam em não deixar morrer tradições. O exemplo mais recente, se não estou em erro, é o Lagoa Azul, do nosso bem conhecido Dillon, ali na Avenida da Praia Grande. Há outros, ainda bem. Mas faz falta a mão do Governo para proteger tudo isto…

Dirigentes devem ser responsabilizados

Dirigentes devem ser responsabilizados

 
NUMA altura em que se fala da qualidade de construção dos edifícios em Macau e que algumas famílias vivem o desespero de verem a sua casa em risco de ruínas, os dedos apontam em diferentes direcções. Sendo que, na sua maioria, querem sacar ao Governo as responsabilidades e também que este seja a rede de salvação de todas as situações.
Na verdade, o Governo deve ter uma quota parte de responsabilidade, caso se comprove que a ruína se deve à falta de qualidade de materiais e de estrutura, pois a este cabe, em última análise, a vistoria e aprovação das obras, antes destas terem licença para abrir portas aos moradores. Se, como aconteceu no caso do edifício no Patane, se descobre que o material usado nos pilares era de baixa qualidade, o Governo tem de ser chamado a assumir responsabilidades. Mas, assim sendo, o próprio Governo não se pode ficar pelo simples facto de desembolsar uns milhões de patacas para resolver a situação.
No seio do Governo, depois de resolver a situação aos cidadãos afectados, tem de se apurar quem foi o dirigente que assinou os documentos que permitiram que tal problema passasse sem que fosse rectificado. Alguém deve ter sido responsável por assinar o documento que permitiu que tal deficiência tenha passado em claro, certo? Essa responsabilização terá de ser exemplar, para que erros destes não se repitam.
Quando um funcionário público assina um documento, assumindo a sua responsabilidade, tem de ser responsável por aquilo que autoriza, caso contrário a assinatura não passa de um gatafunho numa folha de papel timbrado, sem qualquer autoridade.
Este estado de irresponsabilidade que se vive actualmente em Macau, em que erros são cometidos diariamente, mas que ninguém assume, tem de acabar, sejam eles na construção, nas estradas ou em qualquer outro aspecto da vida regrada pelo Governo e pelos seus funcionários.
O Governo, como instituição de bem que é e que os cidadãos merecem, não pode continuar a ter costas largas para abarcar com os erros grosseiros cometidos pelos seus funcionários, sejam eles de posição hierárquica elevada ou não. Os dirigentes têm de ser responsáveis quando assinam documentos em nome do Governo; não se podem restringir à responsabilidade social da entidade governativa porque, sendo assim, os erros e a impunidade irão continuar sem que o problema de raiz se resolva.
No caso de que agora se fala, na zona do Patane, houve alguém que assinou a autorização para que os habitantes entrassem no edifício; portanto, essa pessoa e esse departamento terão de ser chamados à responsabilidade. Caso essa pessoa já não se encontre no activo, que se responsabilize o departamento em causa, porque a responsabilidade de avalizar a obra foi, em última análise, sua.
Nos últimos anos temos assistido a uma série de problemas relativos a decisões do Governo, muitos deles com eco na Assembleia Legislativa, mas os casos acabam sempre sem que ninguém, em nome individual enquanto detentor de cargo governativo, seja responsabilizado perante a sociedade.
O único caso, sobejamente conhecido e noticiado, foi o de corrupção que envolveu o antigo Secretário Ao Man Long, e que, em minha opinião, ficou muito aquém do resultado esperado. Continuo a acreditar que o secretário nunca teria sido capaz de fazer o que fez, sem ter existido conluio de pessoas em cargos mais elevados, e mais baixos, do que o dele… Dizer que assinaram porque confiavam, não serve de desculpa. E ficamos por aqui!
Já no que diz respeito a outras decisões, aquelas do dia a dia, como dos médicos que cometem erros grosseiros mas que nunca são responsabilizados; ou do chefe de departamento que escolhe uma empresa, em detrimento de outra, numa adjudicação directa e depois o resultado final não corresponde ao que era necessário, esses casos, talvez por serem pequenos, acabam por nunca ver os seus responsáveis a serem chamados para responder pelas suas decisões.
São estes pequenos problemas que levam a população a ser cada vez mais céptica em relação ao Governo e à governação em geral. Apesar de sondagens encomendadas dizerem que os cidadãos se encontram satisfeitos com o nível da Administração de Macau, a verdade parece ser outra. Não são necessárias sondagens de opinião encomendadas pelo Governo para se saber que algo vai mal. Para tal, basta dar ouvidos, de uma vez por todas, ao povo e aos deputados na Assembleia Legislativa.

Tanto desprezo

Tanto desprezo

 
CADA vez mais me custa engolir sapos e, quando estes me são impostos pelo Governo, ainda piora a situação. Não consigo perceber como é que uma modalidade desportiva, a única que dá títulos internacionais de nível mundial a Macau, continua tão desprezada a nível oficial.
São já nove os títulos asiáticos. Será por ser liderada por caucasianos? Sinceramente, não quero acreditar que assim seja, mas todos os indícios apontam para isso.
Mais uma vez um grupo de casmurros de Macau – alguns nascidos cá; outros, «filhos da terra adoptados» que consideram o território como a sua terra – vestiram-se por amor à camisola e às cores da RAEM para ir renovar um título asiático.
Na Imprensa sempre se foi lendo alguma coisa acerca dos resultados, penso que por apontamentos feitos via telefone, em contacto com os atletas envolvidos. Não me parece que tenha sido enviado qualquer jornalista para acompanhar o campeonato asiático de hóquei em patins, cuja selecção de Macau é campeã.
Já quanto à TDM, tanto a rádio como a televisão, que são do Governo, nem se dignaram enviar um jornalista, nem um operador de câmara. Um desprezo total pelos atletas e pelo esforço que fazem para carregar a cruz da camisola do Lótus. Tanto quanto sei, não houve cobertura televisiva do campeonato transmitido nos canais locais.
Não consigo compreender como é que os atletas encontram forças para ainda continuarem a dar o seu suor, quando da parte do Governo e da Comunicação Social – esta por ele gerida e mantida – continuam a ser completamente ignorados.
O campeonato asiático foi organizado numa cidade chinesa e, ao que parece e que foi noticiado na Imprensa, as condições eram péssimas: má comida, frio, poucas condições para os atletas, entre outros contratempos. No entanto, mesmo assim, a selecção liderada por Alberto Lisboa conseguiu trazer mais um título para Macau. É, sem dúvida, a equipa de Macau com mais títulos internacionais, mas nem por isso recebe o reconhecimento do Governo de Macau. Não se justificava já uma medalha da parte das autoridades da RAEM?
Será por serem, maioritariamente, de origem portuguesa? Mas, afinal, o que é Macau, senão uma mistura de etnias e de nacionalidades aqui concentradas ao longo de cinco séculos?
Seria bom que o Governo, de uma vez por todas, metesse esses complexos de inferioridade atrás das costas e apadrinhasse aquilo que de bem se faz em Macau. Em vez de andarem a importar atletas da «mainland», que acabam por nada dar a Macau, virem-se para o que de bem se faz aqui dentro, sejam os atletas nascidos ou não em Macau. Que eu saiba, nenhum dos patinadores foi contratado especialmente para vir representar as cores de Macau, ao contrário do que acontece em outras modalidades. Todos eles são «feitos» e desenvolvidos em Macau, com o esforço do seleccionador e de toda a equipa da entidade responsável pelo hóquei patinado do território.
A triste realidade é que a selecção de Macau de hóquei patins é campeã asiática, tendo participado neste último campeonato sem ter perdido um único encontro, mas continua a ser desprezada pelas entidades oficiais do território.
Os atletas treinam em péssimas condições, fazendo imensos sacrifícios para se encontrarem e, mesmo assim, os resultados aparecem. Imaginem se da parte do Governo houvesse o mesmo apoio que prestam a outras modalidades, nomeadamente ao futebol, em que existe uma selecção totalmente patrocinada pelo Governo e que nada faz, senão sofrer goleadas, quando joga com as suas congéneres estrangeiras.
É uma pena que esta situação se arraste, sem que ninguém faça nada para a mudar!

Desigualdades (que não se apagam com patacas)

Desigualdades (que não se apagam com patacas)

 
MACAU é uma terra cheia de boas surpresas para quem tem amigos nos sítios certos. No entanto, para a maioria de nós, – os «outros» – é madrasta e difícil de digerir.
Não acreditam? Vejam quantas pessoas passam fome em Macau! Verdade! Com tanto dinheiro nesta terra ainda há pessoas que passam fome diariamente, sem que nada seja feito para que o seu sofrimento seja atenuado. Por vezes passamos por eles e nem sequer ligamos, ou fazemos que não vemos.
Quantas pessoas continuam sem trabalho, mesmo com qualificações, enquanto que outras mal chegam, ou acabam cursos sem qualquer interesse numa universidade que ninguém conhece, e começam logo a trabalhar com grandes salários em bons empregos, porque conhecem as pessoas certas ou são da família tal que mexe cordelinhos nos locais de decisão? Enquanto que outros trabalham a vida inteira no duro sem nunca serem reconhecidos e vêem estes privilegiados a passar-lhes à frente.
E, no campo dos apoios financeiros, quantos de nós já nos deparamos com barreiras intransponíveis quando precisamos de apoio, mas outros recebem aos milhões só porque conhecem fulano ou sicrano e têm amigos que tomam decisões acerca de dinheiros públicos destinados a apoiarem seja o que for?
Há pedidos que nunca recebem resposta, mesmo após inúmeras tentativas para se saber o resultado. Enquanto que outros fazem os pedidos já sabendo quanto vão receber, quanto e quando!
Basta olhar para o que é publicado na Imprensa para se ir percebendo que existem muitas injustiças, nomeadamente na atribuição de apoios a eventos e iniciativas realizadas em Macau. Méritos das iniciativas aparte, porque todas elas o têm de uma maneira ou de outra, quais são os critérios que levam a Fundação Macau (apenas como exemplo, visto ser o maior «fornecedor» de apoios com dinheiros públicos da RAEM) a financiar uma associação para despesas correntes, mas nega apoio a outra quando esta se propõe organizar um evento que pode ajudar a promover o nome de Macau no exterior por uns míseros milhares de patacas?
Mas, quem diz a Fundação Macau, pode referir qualquer outra instituição do Governo ou particular. O que está em causa é a falta de critérios igualitários que dão depois origem a desigualdades difíceis de aceitar pela sociedade e que fazem com que as bases se comecem a revelar contra quem manda.
Quando o Governo decide dar aos residentes uns cheques, dissimulados como forma de ajudar a combater a inflação, algo de muito errado vai no seio da nossa sociedade. Macau, pelo que sei, não é o único «país» que enveredou pela distribuição de dinheiro pelos seus cidadãos. Essa medida tem vindo a ser utilizada por muitos dos reinos do Golfo Pérsico sem resultados aparentes. Aliás, basta ver o desequilíbrio social existente nesses locais. Muitos deles deixaram de distribuir esses dinheiros para os tentar aplicar de forma mais pragmática no desenvolvimento de estruturas que realmente beneficiam a população porque, mesmo com cheques, estas reclamam mais benefícios sociais.
Recentemente li na Imprensa internacional que Macau, apesar de ser o local que mais lucros tira do jogo a nível mundial, apenas tem três unidades hospitalares, enquanto que Las Vegas, a quem Macau tirou o trono, oferece dezenas de hospitais aos seus residentes e uma qualidade de vida que a RAEM nem consegue imitar, quanto mais igualar!
Colocando de parte toda a propaganda que o artigo pudesse conter, uma verdade não se pode esconder: Macau está a sofrer devido à falta de capacidade dos seus governantes trabalharem para a população. A governação da RAEM está, cada vez mais, virada para as empresas e para o lucro a qualquer custo. O escamoteamento desta realidade com cheques que tentam calar os mais pobres não é mais do que uma completa falta de respeito pelas pessoas inteligentes. Pessoas essas que – na minha opinião – são ainda a maioria da população, apesar do Governo pensar que a classes média e baixa não passam de uma cambada de ignorantes que podem ser comprados, quiçá também calados, com meia dúzia de milhares de patacas por ano.
Macau sofre de um sintoma social grave e que o Governo, por muito que tente, parece não conseguir curar: A sociedade está enferma devido aos abusos da máquina administrativa, pelo que o tratamento terá de passar, em primeiro lugar, por essa mesma máquina...
Muitos deputados defendem uma remodelação governativa. Eu, além dessa remodelação, penso que deveria haver também uma completa reformulação da estrutura do Governo.
Neste momento, cada vez que tem de se tomar uma decisão, cria-se uma comissão de avaliação!? Assim, meus senhores, não vamos a lado nenhum!

Mais uma feira de iates (sem línguas oficiais)

Mais uma feira de iates (sem línguas oficiais)

 
NO fim-de-semana do Grande Prémio, onde se esqueceram do hino nacional de Portugal – situação que o cônsul-geral de Portugal diz ser normal, – realizou-se também a segunda edição da feira de barcos de Macau. Depois de, no ano passado, ter sido realizada na Doca dos Pescadores – aliás, é na água onde se devem realizar feiras de barcos, – este ano, após recusa da Doca dos Pescadores em alugar o local, desculpando-se com a necessidade de programar os trabalhos de renovação do recinto, a entidade organizadora da China teve de optar por uma solução de recurso, acabando por fazer uma feira náutica seca, num dos pavilhões do Venetian.
Não será novidade fazerem-se feiras em terra firme. É norma um pouco por todo o interior do território dos Estados Unidos, onde apenas há lagos e rios. No entanto, não deixa de ser caricato que se vendam barcos em terra, numa quase ilha que é Macau! E, além de ser um pouco fora do normal, acaba por ter outros contratempos, como o facto de não haver exibição de grandes barcos, nem demonstrações para possíveis interessados.
O que me leva este ano a escrever sobre a feira novamente é o facto de parecer não terem aprendido nada com a experiência do ano passado. Falo dos erros cometidos, começando por comunicados à Imprensa num Inglês paupérrimo, já para não falar na completa inexistência de Português ou de Chinês tradicional. Foi tudo conduzido como se se tratasse de um evento na «mainland», apenas com Mandarim e escrito em Chinês simplificado. Quanto ao que foi disponibilizado em Inglês, parece-me ter sido obra do «Google Translate». Confrontada a organização com o facto, nada adiantaram, prometendo melhorar na próxima oportunidade, à semelhança do ano passado.
A minha crítica pode até ser um pouco descabida. Afinal, que benefícios trazem os barcos para os residentes de Macau? Barcos são para os ricos, ouço dizer muitas vezes!
Guardo o direito de discordar, sempre que ouço este tipo de desculpas. Primeiro, sabendo-se da necessidade que Macau tem em diversificar a Economia, a opção por feiras de barcos pode muito bem ser uma opção; primeiro, porque movimenta muito dinheiro; segundo, porque a par do sector da venda de barcos pode surgir, ou ressurgir para ser mais exacto, todo um sector de indústrias de apoio, desde a reparação, a membros de tripulação, a empresas ligadas aos serviços náuticos, a desportos de água, etc. Algo que sempre foi tradição em Macau, mas que nas duas últimas décadas praticamente desapareceu com a cegueira do Jogo.
Ao se fazerem feiras de barcos em Macau, e tendo o Governo visão para criar legislação que permita a ancoragem de barcos ao largo – no canal entre Macau e a Taipa, por exemplo, que é uma zona de ancoragem, mas que a Capitania não deixa utilizar, sem se saber muito bem a razão – a construção de mais uma marina iria contribuir para criar um sector forte, que pode empregar milhares de pessoas do território.
Macau deve aproveitar esta oportunidade, principalmente porque o maior competidor, Hong Kong, está a atravessar uma crise no sector, não tendo mais espaço para se expandir. Além dos residentes de Macau eventualmente interessados em ter barco, muitos de Hong Kong, se as condições aqui forem adequadas, mudarão as suas embarcações para a RAEM.
Todo um leque de actividades pode florescer, caso este ramo de actividade seja dinamizado e apoiado pelo Governo. Contudo, parece que se começou com o pé errado, ao se dar, de mão beijada, a organização do evento a uma empresa que nada tem a ver com Macau. Há no território, pelo menos, duas empresas capazes de organizar tais eventos e com o «knowhow» e uma equipa habituada a organizá-los: uma é obviamente a que está ligada à Doca dos Pescadores (daí se perceber agora porque não disponibilizaram o espaço este ano, penso eu!); e outra, ligada a uma das maiores famílias deste território e cujo líder tem tentado fazer algo pela náutica do território, mas a quem o Governo tem fechado todas as portas.
Pergunto: que valor acrescentado traz a empresa da China que está responsável pelo evento? Nunca antes tinham realizado uma feira de barcos! E qual a justificação para que o sócio local fosse a Nam Kwong (que nem sequer é local, pois, como todos sabemos, é um braço empresarial do Governo de Pequim)? E, ainda por cima, vêm para Macau impor línguas que não fazem parte das nossas tradições, desrespeitando as línguas oficias.

Recado à Capitania

Por várias vezes foi pedido à Capitania dos Portos que fosse permitida a ancoragem de barcos privados na zona do Fai Chi Kei, no apelidado abrigo de tufões, que ninguém usa. Tais pedidos têm sido, repetitivamente, recusados pela autoridade marítima, dizendo que quem quer parar barcos em Macau tem de o fazer na Marina do Lamau, obrigando, assim, os residentes e visitantes a dar dinheiro a uma entidade privada. No entanto, este fim-de-semana esteve um veleiro (Kitty 1), registado em Hong Kong, mas cujo proprietário e empresa que o gere são da China, ancorado no local com pessoas a dormir no seu interior.
Ao mesmo tempo, um outro veleiro, pertencente ao proprietário de uma empresa náutica de Hong Kong, foi obrigado a ficar na dita marina, tendo de pagar do seu bolso a estadia.
Gostaria que a Capitania explicasse esta dualidade de critérios e fizesse pública a justificação de autorizar um barco, cujo proprietário é da China, a ficar num local onde tem recusado ancoragem, ao longo dos anos, a residentes locais.
Espero que a Capitania venha a público responder a isto na língua oficial, porque os residentes merecem saber o que está por detrás desta dualidade de critérios.

Mais do mesmo nada

Mais do mesmo nada

 
ESTAMOS no período de apresentação das Linhas de Acção Governativa. Muitos querem saber quando é que o Governo vai dar os famosos cheques. Ficou-se a saber que, desta vez, vamos ser premiados com oito mil «lecas». Olha que fartura! Assim, vamos mesmo fazer frente à galopante inflação… Macau, com toda esta prosperidade, chegou a um ponto que se resume ao anúncio de cheques de ajuda pecuniária.
As LAG foram um desfilar de medidas avulsas, que mais se assemelham a medidas tomadas pelo dono da mercearia (sem desprezo para esta nobre profissão que me foi familiar durante vários anos), para fazer face às despesas diárias. Não se viu uma única medida de longo prazo, que merecesse a atenção da população Tirando a promessa da reforma do sistema judiciário, que tem vindo a ser anunciada há vários anos e que desta vez não foi excepção, nada mais de relevante foi dito no hemiciclo e, depois, na Praia Grande.
De entre todas as migalhas anunciadas, uma houve que me ficou no ouvido pela sua singularidade. O nosso Chefe do Executivo, com toda a pompa, anunciou como medida para fazer face à inflação e, de certa forma, beneficiar os residentes: a devolução de 60 por cento do Imposto Profissional. Até aqui, tudo bem; e a medida até seria de louvar, se o reembolso não tivesse sido agendado apenas para 2014! Então, se me vão reembolsar em 2014 o que paguei em 2012, que efeito terá isso na inflação que tenho de enfrentar diariamente cada vez que abro a carteira? Agradeço que me expliquem o alcance disto, porque eu não percebo! Ou será que nos fazem a entrega dos 60% com juros?
Ainda não consegui perceber – deve ser problema da minha mente atrofiada – como se pode fazer frente a problemas relacionados com a inflação, quando as medidas anunciadas são de efeito imediato. Como se resolve o problema do contínuo aumento do custo dos produtos no mercado, quando não se resolve o problema (esse, sim, real) do monopólio do mercado abastecedor que, em grande parte, é o responsável pelos preços selvagens que cobram pelos alimentos frescos nos mercados municipais.
A inflação não se resume apenas aos bens de primeira necessidade, claro está. Mas julgo que, se a população, cada vez que vai ao mercado, sentisse que os produtos estão mais baratos e que pode comprar mais comida com o mesmo dinheiro, isso muito contribuiria para reduzir o efeito, pelo menos psicológico, dessa dita malfadada inflação. Não se percebe como é que um cate de hortaliça custa, por exemplo, dez patacas em Macau, quando no mercado de Gongbei (do outro lado de fronteira) custa menos de um renmimbi! Não sou especialista em economia, nem em inflação, mas custa-me compreender como é que temos estas diferenças de preço, quando os fornecedores são os mesmos e a qualidade é igual.
Nas LAG foi também anunciado um aumento dos subsídios para os idosos e outras medidas com o objectivo de lhes minorar as dificuldades. Mais uma vez, porém, se trata de paliativos, em vez de um tratamento de fundo que fosse ao encontro das reais necessidades dos nossos idosos e pessoas carenciadas. Os idosos, além de alimentos de qualidade, precisam de habitação condigna. Não têm de ser enviados para Coloane, quando há inúmeros prédios devolutos em Macau, que deveriam ser recuperados e transformados em habitação social. Desta forma os idosos e outras pessoas que precisam de habitação financiada ficariam no seu meio, sem terem de se isolar de tudo e de todos, perdendo todas as raízes que são a base de qualquer sociedade harmoniosa.
Por outro lado, os idosos e pessoas mais carenciadas, precisam de cuidados médicos, que devem ser gratuitos e de boa qualidade; dar-lhes uns cheques e subsídios contribui apenas para o aumento do preço da saúde no sector privado, que aproveita para encaixar mais uns milhões à custa dos cheques de saúde.
As LAG nada disseram de medidas concretas para fazer face à crescente onda de pessoas a viver nas ruas. Nada anunciaram de medidas para combater o flagelo da toxicodependência e do cada vez maior negócio da prostituição. E nada anunciaram relativamente a formas de fazer face a estes problemas estruturais do território. Apenas lançaram umas aspirinas para enfrentar problemas que se arrastam há vários anos e que, pelo que se vê, parece terem vindo para ficar.
Perante tanta falta de coragem, de eficácia e de vontade em procurar resolver os problemas, resta-nos esperar pelas próximas LAG e aguardar por melhores dias.

Tacógrafos e políticos de algibeira

Tacógrafos e políticos de algibeira

 
NO seguimento do enorme crescimento dos acidentes de viação nos últimos tempos, envolvendo viaturas pesadas de mercadorias e de passageiros, alguns deputados interpelaram o Governo, não para perguntar, mas para sugerir que se adopte o uso de tacógrafos em Macau, à semelhança do que se passa nos Estados Unidos e na Europa.
Em Portugal, por exemplo, lembro-me que causou grande celeuma quando o Governo (ou a União Europeia) obrigou todos os camiões a serem equipados com tacógrafos, para regular as horas de trabalho e as velocidades a que circulavam, sendo periodicamente mandados parar pela polícia, para inspeccionar o disco de papel que utiliza o tacógrafo e onde fica tudo registado, desde velocidade a horas de condução, consumos, etc. A verdade é que, depois de muito reclamarem, hoje em dia ninguém se lembra da polémica e a situação é tida como normal. A circulação dos profissionais dos transportes melhorou substancialmente, nomeadamente em termos de sinistralidade e de segurança para os próprios profissionais, assim como para os outros utentes da estrada.
Aqui em Macau, a autoridade responsável assobiou para o lado, prometendo mais um estudo, quando os membros da Assembleia Legislativa fizeram tal proposta. Um estudo que irá englobar o sector dos transportes – os primeiros a dizer que não interessa, claro, porque vai trazer custos acrescidos e vão deixar de poder explorar os condutores em horas de serviço a fio – e mais uma série de serviços e associações que nada percebem do assunto, mas que são sempre chamados a dar a opinião. E ficou ainda pendente a decisão do facto de não se saber se o «mercado local» estará preparado para fornecer tais equipamentos. Como se os «amigos» não fossem capazes, de um dia para o outro, de encomendar os ditos equipamentos para fornecer, mediante uns chorudos subsídios de Santa Sancha.
Cada vez mais nos apercebemos que este Governo não sabe governar! Sabe, sim, produzir medidas avulsas, que nenhum efeito trazem. Apetece-me dizer que olhem para Pequim – apesar de ser uma ditadura comunista, com todos os aspectos negativos que isso possa ter – para aprender como se faz política. O Governo foi eleito (ou nomeado, o que para o caso vale o mesmo) para governar, não para andar a criar comissões, cada vez que tem de decidir alguma coisa.
Se é preciso criar um grupo de trabalho para se tomar uma decisão, para que temos Secretários, Chefe do Executivo e Directores de Serviço? Servem apenas para a fotografia, jantaradas e um chorudo salário e regalias?
Este exemplo dos tacógrafos, infelizmente, aplica-se a tudo. Não há uma decisão no Governo que seja tomada, sem que não se gastem uns milhões em consultas, estudos, etc. Então, afinal, para que servem os decisores, se só «decidem» depois de ouvir – o que, sinceramente, não acredito porque, depois de mais de uma década de RAEM, nunca fui inquirido – a população?
O processo governativo passa, essencialmente, por ter capacidade de tomar decisões, especialmente quando estas são impopulares, mas necessárias. Mesmo sendo erradas, se o seu decisor acreditar estar certo, deve tomá-las. O resultado no futuro dirá se estava, ou não, certo. E caso se prove que tenha errado, deve assumir esses erros e prontificar-se a colocar o cargo à disposição.
Infelizmente, em Macau o que se passa é exactamente o oposto. Ninguém toma decisões que são realmente importantes; e quando se fazem escolhas erradas, ninguém é punido. Pelo que dirigente da Função Pública acaba por ser o emprego mais cobiçado aqui no burgo. Aliás, quem não quereria um local de trabalho, com carro pago, cartões de crédito, secretária e assessores, ordenado chorudo, viagens e ajudas de custo se, ainda por cima, não tem que decidir nada e, quando o faz, não é chamado à responsabilidade, caso «meta o pé na poça», para não usar outro termo, que não ficaria muito bem aqui, mas que os leitores devem estar a imaginar qual é...
Para quando um processo de decisão baseado em políticas e um processo sancionatório para cargos elevados da Função Pública? E, mais importante que tudo isso, para quando os tacógrafos para os veículos pesados?

NaE's kitchen A Cozinha da NaE

NaE's kitchen A Cozinha da NaE
Visite... Visitem...