ESTA semana gostaria de pedir a alguém que me explicasse a razão do Exército Popular de Libertação (EPL) precisar de mais espaço em Macau. Por mais imaginação que tente usar, não consigo desvendar a necessidade dos «soldadinhos de chumbo» terem mais espaço e, ainda para mais, terem-no em detrimento das zonas de lazer da população!
Ou sou eu que não entendo nada disto, ou é a classificação dos valores morais nesta terra que anda toda virada do avesso.
Então, aos senhores que gostam de andar aos tiros, que olham muito para o seu umbigo e que deveriam ser os primeiros a dar o exemplo de bons cidadãos, o Governo, de mão beijada, oferece-lhes um terreno, numa zona nobre do COTAI e retira à população um espaço de lazer!? Algo de muito errado se passa por aqui!
O Governo, perante a apatia de toda a população, veio dizer que vai ser construído um espaço de lazer, de raiz, em Coloane! Ora eu, que nem vivo na Taipa nem em Coloane, deveria estar-me nas tintas para tudo isso. Mas, infelizmente, não estou, pois não consigo perceber como é que um espaço de lazer em Coloane (que é necessário, sem dúvida, perante a escassez dos mesmos na ilha) pode colmatar a subtracção de um na ilha da Taipa, onde a sua falta é também gritante, devido ao rápido e desenfreado crescimento da população e da especulação imobiliária.
Será que o Governo vai providenciar ligações directas do antigo local para o novo, para todos os residentes da Taipa que queiram ir jogar à bola? Ou será que os interessados têm de ir a pé? Afinal, até nem é má ideia, visto que o objectivo é mesmo fazer exercício!
O que mais me preocupa, no meio de tudo isto, é a falta de interesse que o anúncio da oferta do local ao exército provocou na população e na Comunicação Social. Aparte alguns poucos esguichos de opinião na Imprensa portuguesa, pouco mais se ouviu. Cala e segue, como se costuma dizer!
Os soberanos interesses da Nação e a defesa territorial de Macau que está seriamente ameaçado (pelas hordas que vêm do outro lado da fronteira!?), a tudo obrigam e todos os sacrifícios são justificáveis, em tempos de crise iminente como esta que atravessamos…
Ironias à parte, resta-nos saber o que está por detrás desta decisão. E, já agora, gostaria de saber qual a posição do EPL, relativamente a este assunto. Será que é só mais um caso em que apenas os cidadãos não-chineses se queixam e a comunidade chinesa amocha?
Se tivesse sido tornado público em Abril, eu ainda me sentiria tentado a pensar que fosse peta de 1 de Abril, mas como isto veio ao conhecimento da sociedade a meio do mês de Março, sou mesmo obrigado a acreditar que é mais uma das aberrações de Macau.
O Governo, quando anunciou tal novidade, dizia que se devia a um «reajustamento do quadro de pessoal» do EPL, mas que não afectaria os residentes! De acordo com o Conselho do Executivo, a «Administração já escolheu um novo espaço (…), para que a relocalização não afecte o uso destas instalações recreativas e desportivas pela população»! De acordo com a mesma explicação, a decisão tomada teve em conta as «necessidades em termos de construção de instalações de treino e depósito de equipamento» que, a par com o aumento de efectivos, obrigam a que o quartel aumente para uma área superior a 61 mil metros quadrados.
Nós estamos na China, certo? Penso que sim, e sempre assim foi. Por isso, por que razão precisa o Exército de estar a aumentar os seus efectivos em Macau, se os seus componentes nada fazem aqui? E, por que razão precisam de espaço para armazenar o equipamento, se o outro lado da fronteira, tanto Zhuhai como a ilha da Montanha ficam a menos de cinco minutos de carro? A mesma incógnita se aplica ao facto de justificarem a necessidade com o facto de não terem espaço para exercício…
Então, pelo facto de os soldados não terem espaço para esticar as pernas, quem se lixa é a população, que vai ser obrigada a ir para Coloane para dar pontapés na bola!?
Que me desculpem os mais conservadores, mas, numa época como a que vivemos, em que Pequim apregoa as relações pacíficas com o Mundo, numa Região dita Especial, parece que acabaram de sair da Revolução Cultural, tal é a necessidade de militarizar e defender o quinhão.