MAIS uma vez Macau vai perder uma grande oportunidade de dar um passo de gigante em direcção à modernização e elevação do nível de protecção ambiental.
Já anteriormente se tinha perdido uma oportunidade de ouro, quando se procedeu à nova adjudicação dos serviços de autocarros, não se tendo introduzido, no caderno de encargos do contrato, a obrigatoriedade das concessionárias utilizarem veículos amigos do ambiente, à semelhança do que acontece em grande parte das cidades, com as quais Macau se quer comparar. A oportunidade perdeu-se e continuamos com autocarros que poluem mais do que os carros ligeiros, sem que o Governo pareça interessado em resolver a situação.
Na altura em que foi renovado o contrato com as concessionárias de transportes públicos teria sido fácil introduzir a obrigação do uso de veículos eléctricos ou, no mínimo, movidos a gás, como acontece em muitas cidades evoluídas e bem próximas de Macau e que obedecessem-se a critérios Euro VI.
Infelizmente, foi mais vantajoso (para os bolsos de alguém supõe-se) continuar a usar veículos movidos a combustível fóssil e com normas de emissão de gases mais do que desactualizadas. Para Macau exige-se a norma Euro IV para veículos movidos a gasóleo, como se essa fosse a mais moderna…
Depois desta oportunidade crassa dos autocarros, é agora a vez dos táxis.
A Direcção dos Assuntos de Tráfego prepara-se para lançar o concurso público para a atribuição de mais 200 alvarás, no próximo mês, e apenas se exige que os automóveis respeitem as normas EURO IV, em vez de se avançar para carros movidos a electricidade ou, no mínimo, a gás, como acontece em Hong Kong há, pelo menos, 15 anos!
Estamos mesmo num território retrógrado, no que diz respeito à mentalidade de protecção ambiental e no que se refere à coragem política de quem nos governa.
De salientar, para quem está menos dentro destes pormenores das normas europeias de emissão de gases, que a EURO IV data de 2005, tendo sido substituída pela EURO V, proposta em Setembro de 2009! No entanto, aqui ainda vamos usando o que os outros já não querem! A diferença das emissões entre a IV e a V é de 50%! E, apenas como informação acessória, saliento que já está feita uma outra proposta na Comissão Europeia para a EURO VI, que deve entrar em vigor como obrigatória em 2014, estando já a ser usada pela maioria dos construtores automóveis. Actualmente a EURO VI é apenas facultativa; contudo, há grandes incentivos fiscais para quem a queira adoptar.
Em Macau tendemos a seguir a mãe-pátria, mas, como sempre me ensinaram, só se devem seguir os bons exemplos. Os maus exemplos, mesmo vindos da mãe-pátria, devem ser metidos de lado. Aliás, em termos de protecção ambiental, a China nada tem a ensinar ao mundo, visto que, mesmo tendo ratificado o Protocolo de Quioto, os chineses não são obrigados a cumprir as suas metas em termos de emissões. Daí que a China continue a ser classificada como país em vias de desenvolvimento! Por outro lado, em Macau o dito protocolo não é aplicável.
Se queremos ser considerados uma cidade evoluída e dar aos cidadãos qualidade de vida, devem ser seguidos exemplos comprovados de boa qualidade de vida. A Europa pode ter muitos problemas e pode estar mesmo a atravessar uma das maiores crises económicas da sua história, mas, sem sombra de dúvida, em termos de qualidade de vida e de protecção ambiental, as suas leis e regulamentos são dos mais avançados de mundo. O Japão, os Estados Unidos e mesmo Singapura baseiam-se nas regras ambientais do Velho Continente para preparar as suas próprias leis locais. Macau, se quer ser considerado um local evoluído em termos de qualidade de vida, deve começar a olhar para fora, em vez de olhar para os bolsos.
Com o caos que se vive no trânsito de Macau e com diminuta dimensão do território, se não se implementarem medidas para reduzir ao mínimo as emissões poluentes, muito em breve iremos ter ruas onde será impossível circular a pé, porque o ar se torna completamente poluído e perigoso para a saúde humana.
A oportunidade que agora se proporciona, para começar a obrigar os táxis a serem dos primeiros a recorrer ao uso de veículos mais ecológicos, tem de ser, por isso, aproveitada.
O exemplo tem de vir do Governo, pois só assim se pode depois exigir à restante população que faça o mesmo.