Como blog estaremos aqui para escrever as nossas opiniões, observações e para que quem nos visite deixe também as suas. Tentaremos, dentro das possibilidades, manter este local actualizado com o que vai acontecendo à nossa volta em Macau e um pouco em todo o lado...

sexta-feira, 15 de julho de 2011

O CLARIM - Semanário Católico de Macau

Português da DSAT!? De bradar aos céus!

A DIRECÇÃO dos Serviços para os Assuntos de Tráfego brindou-nos recentemente com uma pérola de língua portuguesa e, de imediato, foi alvo de diversas reacções na Comunicação Social portuguesa. Uma reacção precedida de uma chuva de críticas e «insultos» nas redes sociais, nomeadamente no «Facebook», onde o assunto foi amplamente difundido e comentado entre falantes do idioma de Camões nos três cantos do mundo.

Aquele serviço público já veio, entretanto, tentar «deitar água na fervura» e desculpar-se com «erro técnico».

Apesar de ser analfabeto no que à tecnologia informática diz respeito, custa-me a acreditar que o computador tenha «cometido» tais erros, sem que ninguém lhe desse essa ordem. Afinal, o irracionalismo continua a ser um dos grandes óbices destas máquinas.

A polémica refere-se ao que foi publicado numa página da «Internet» recentemente lançada, onde se pode fazer a pesquisa sobre as carreiras de autocarros que estarão disponíveis a partir de 1 de Agosto, quando entrar em vigor o novo sistema de transportes públicos. Nesse «website» existia uma lista (www.dsat.gov.mo/bres/StopList.aspx) das carreiras e dos locais por elas servidas em Macau, na Taipa e em Coloane. Entretanto, e como seria de esperar perante tal patacoada, já foi retirada a obra-prima em Português, sendo apenas visível a versão em Chinês.

Tanto quanto consegui apurar e de acordo com o que me foi dito por tradutores oficiais, em Chinês não há qualquer problema com as denominações. No entanto, as versões portuguesas fizeram-me rir, não sei se de alegria ou desespero.

Para que percebam o que quero dizer, e para quem não teve oportunidade de acompanhar o caso, deixo alguns exemplos. Começando por Macau, ficamos a saber que existe uma paragem denominada «Colina da Guia (Matsuyama), e se a montanha constitucional» (sic), onde deveria estar «Colina da Guia, Centro Hospitalar Conde de São Januário», pelo que me explicaram. Na Taipa, temos a paragem da «Nossa Senhora da Bay Area» e a do «Cotai area de recuperacao» (de notar que a falta de acentos e cedilhas é do original). E, para concluir, as paragens em Coloane, onde ficamos a saber que temos uma nova praia, a da «Ordosica» (para quem não saiba é Hac Sá) e a paragem de «Bamboo Bay» que, em Português, como sabemos, é Cheok Van.

Coloane, apesar de ser a lista mais curta, é a que mais pérolas tem, dando para perceber que, além de um total desconhecimento do território e de um completo desrespeito pelas línguas oficiais, é evidente que as romanizações foram feitas a partir do Mandarim: Jiu’ao (povoação de Ká Hó) é disso exemplo. Nesta pequena lista acertaram, miraculosamente, no nome «Vila de Coloane».

Fica a pergunta, será que quem fez a tradução não tinha à mão um mapa de Macau ou uma lista dos arruamentos?

Contactei a DSAT, via correio electrónico, mas não tiveram a amabilidade de me enviar qualquer reacção ao insólito da tradução. Possivelmente ainda estão a fazer a tradução de Português para Chinês! Vamos esperar mais uns meses e, caso ela chegue, prometo que a publico literalmente.

É triste saber que, mesmo errando, quando vieram a público assumir a falta e mostrar empenho em fazer mais e melhor, decidiram atirar a culpa para a «técnica». Teria sido mais sensato assumirem o erro, pedirem desculpas e comprometerem-se em tentar melhorar. Dizer que foi um erro técnico acaba por ser mais ignóbil que o próprio erro que tentam desculpar. Aliás, o comunicado publicado pela DSAT, na página do GCS, no dia 7 pelas 19:29, começa logo mal pelo título: «A Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego tem respeita pela cultura portuguesa». Mais valia terem ficado caladinhos e deixar a poeira acalmar!

Por curiosidade, voltei a visitar a página da DSAT e usei o tradutor do «Google» (que me pergunta sempre se quero traduzir quando abro uma página em língua estrangeira) para a traduzir na globalidade e, para minha surpresa, detectei o famoso «erro técnico» referido pelos Serviços. Afinal, trata-se de uma tradução feita pelo serviço daquele conhecido motor de busca ou outro similar.

Este pequeno exemplo do completo desleixo pela língua oficial portuguesa faz-me temer pelo que possa vir a acontecer relativamente a pontos do Caderno de Encargos, que as operadoras privadas de transportes públicos são obrigadas a cumprir, e que a partir de 1 de Agosto irá entrar em vigor.

Quando a própria entidade do Governo não cumpre o artigo 9º da Lei Básica, qual a autoridade moral que terá para exigir que as concessionárias privadas cumpram o estabelecido? Vou esperar por Agosto para me assegurar do que suspeito. Oxalá esteja enganado!

Tanto quanto sei, o contrato de exploração assinado entre as três empresas e a DSAT obriga-as a disponibilizar, no sistema sonoro e nas comunicações escritas, informações em Chinês (Cantonense e Mandarim), em Português e, facultativamente, em Inglês.

Apesar dos exemplos de atropelo da segunda língua oficial de Macau serem constantes, reconheço que o Governo tem feitos sinceros esforços para melhorar o produto final.

domingo, 10 de julho de 2011

O CLARIM - Semanário Católico de Macau

Paraíso aqui ao lado

A ILHA de Hengqin (conhecida como ilha da Montanha, em Português, ou Wankam, em Cantonense), localizada mesmo ao lado de Macau, vai ser o novo pólo de desenvolvimento da região do Delta do Rio das Pérolas.

Desde que me lembro, na RAEM sempre se falou da necessidade de expandir para a ilha adjacente, devido à evidente falta de espaço. Aliás, a Ilha da Montanha era, de acordo com muitos registos históricos portugueses, parte integrante da jurisdição do território de Macau, pelo que, por este ponto de vista, seria um crescimento natural. No entanto, o Governo Central parece ter outros planos e quer desenvolver a ilha numa parceria bipartida entre Macau e Zhuhai.

O projecto de desenvolvimento de toda a ilha já está em marcha há algum tempo. O novo pólo da Universidade de Macau, o primeiro investimento do território a ser aprovado, está em avançada fase de construção do lado esquerdo da ponte Flor de Lótus, assim como estão a ser desenvolvidas outras infra-estruturas de apoio viárias e de logística por toda a ilha. Depois da Universidade de Macau seguiram-se pedidos de quase todas as outras instituições de ensino superior do território que, aparentemente, chegaram à conclusão, de um dia para o outro, que precisam de se expandir!

Do lado esquerdo da vila de Henqin, também do lado esquerdo da ponte que liga ao COTAI, está a ser construído o maior parque de diversões aquático da Ásia. Um investimento milionário que estará a contar, certamente, com os clientes atraídos pelos casinos de Macau. Para tal, será necessário permitir a livre circulação de pessoas entre os dois lados, algo que pode acontecer já este ano. Falta apenas o processo de reconhecimento recíproco das cartas de condução ser concluído.

Mas, no meio disto tudo, o que impressiona é a escala do que está a ser feito. O mesmo, apesar do Governo chinês não se mostrar muito aberto acerca dos detalhes, tem aparecido na internet. Recentemente surgiu no «Youtube» um vídeo promocional do projecto da ilha que impressiona até os mais cépticos pela sua abrangência e magnitude.

A apresentação, feita pela empresa Silkroad, onde se vê o real tamanho de Henqin (três vezes o de Macau e a maior ilha de toda a região de Zhuhai), refere o número de habitantes que, dos actuais cerca de três mil, passará, em 2020, para mais de 280 mil!

Na promoção do projecto mostram-se diversas zonas como a Universidade de Macau e o Chime-Long Internacional Ocean Resort – um arrojado projecto global que tem como objectivo final, de acordo com a unidade do Conselho de Estado responsável, o Henqin Overall Development Plan, tornar-se num espaço inteligente, aberto e amigo do ambiente de referência no Delta do Rio das Pérolas.

Dividida em três zonas específicas, Zona de Lazer e Turismo, Zona de Ensino Científico e R&D e Zona Comercial, a ilha tem vários projectos em andamento e, até 2012, irá ter, de acordo com o Município de Zhuhai, grande parte da estrutura rodoviária pronta, onde se incluirão vias principais e secundárias, uma via rápida, uma circular exterior, aterros e jardins. Nessa altura, estará também pronto o sistema de transporte sob terra e mar, incluindo o Metro Cantão-Zhuhai e a extensão da auto-estrada do Oeste Cantão-Zhuhai.

Sendo Henqin uma ilha, como não poderia deixar de ser, o lado marítimo não foi descurado. E, apesar de, no projecto, não se avançar nada em concreto no que diz respeito a marinas e estruturas de apoio à náutica de recreio, no vídeo promocional é dada um grande ênfase a esse aspecto, sendo possível distinguir, pelo menos, duas enormes marinas, uma ligada à zona residencial e outra ligada à zona de lazer, que irá abranger toda a área a sul e este da ilha, onde agora estão o Tianhu Natural Scenic Area, o Hengqincun Ecoligical Park e o Sea Paradise.

Além das marinas, parecer haver uma malha de canais de navegação, possivelmente baseado no que actualmente existe na ilha. Quem conhece a ilha sabe que a zona mais baixa é atravessada por milhares de canais e lagos de criação de peixes, caranguejos e ostras.

Como tudo o que diz respeito a projectos na China, os pormenores não são todos conhecidos e as alterações são constantes, pelo que relativamente à existência ou não de estruturas de náutica de recreio vamos ter de esperar, até que as autoridades se decidam em publicar mais informação e o projecto esteja concluído.

Na verdade, seria de todo positivo que a náutica de recreio fosse levada em consideração neste mega-projecto. A localização é ideal e serviria uma vasta zona, vindo colmatar uma das grandes lacunas de Macau e deste ponto do Delta do Rio das Pérolas.

Com a conclusão da construção da ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau em 2016, a ilha de Hengqin passará a ser a demonstração dinâmica da estreita cooperação entre Guangdong, Hong Kong e Macau.

Henqin foi denominada, há três ou quatro anos, pelo Governo Central, como zona de demonstração da cooperação inovadora entre a província de Guangdong, Hong Kong e Macau, sob o princípio «Um país, dois sistemas».

As obras de construção avançam a um ritmo avassalador, como em todos os projectos na China.

Em Macau, como não temos mais para onde crescer e não queremos mais aterros, esperamos que este projecto da Ilha da Montanha venha restituir a qualidade de vida que tínhamos há bem pouco tempo. Só falta que nos deixem ali residir como se fosse parte do nosso território.

O CLARIM - Semanário Católico de Macau

Cônsul veta exposição

ESPERO que não me considerem tendencioso depois de lerem estas linhas, mas não posso deixar de vir a público repudiar algo que se ficou a saber recentemente.

Sou amigo do principal visado há mais de uma década e, por acaso, ambos colaboramos com O CLARIM. No entanto, não foram estas afinidades que me fizeram escrever este artigo.

Fiquei indignado quando soube que a exposição de fotografias do Joaquim Magalhães de Castro, sobre a sua viagem de 40 dias a bordo do Navio Escola Sagres (entre Goa e Lisboa), fora cancelada pelo nosso mui excelentíssimo cônsul de Portugal na Região Administrativa Especial de Macau. Indignado, mas não surpreendido, visto que não é a primeira vez que decisões pouco claras partem do nosso consulado neste torrão de terra, a que muitos portugueses «expatriados» chamam casa.

Durante a minha vida em Macau acompanhei todos os cônsules que por aqui passaram e, sinceramente, este tem sido rico em surpresas amargas. O serviço do consulado é o que é, com queixas de todos os quadrantes. Mas, mais grave do que isso, a arrogância toma contornos pouco dignos de um representante do Governo de Portugal, que está em Macau para servir os portugueses, quando afirma que não tem de dar justificações sobre os gastos feitos pelo Consulado.

Na entrevista acerca do cancelamento da exposição, publicada na edição do Hoje Macau do passado dia 27 de Junho, o digníssimo cônsul alega que não tem de «dar explicações sobre como gasta o dinheiro do Estado!».

Como residente de Macau, mas, acima de tudo, enquanto cidadão português, custa-me a acreditar que assim seja. Aliás, como cidadão português tenho o direito de perguntar ao meu Governo sobre os destinos dos impostos que pagamos. Se há direito que temos é o de saber onde o Consulado «mete» o dinheiro que vem de Portugal. Afinal, trata-se do erário público. Ou será que os consulados portugueses têm carta-branca para fazerem o que quiserem sem darem contas a ninguém? Não me parece!

Dos cônsules que por aqui passaram sempre houve queixas, no entanto, nunca o mal-estar foi tão grande como agora. Possivelmente chegou o momento de Portugal pensar numa ronda de rotatividade extraordinária.

Não sou eu apenas que me queixo. A indignação chega mesmo aos portugueses de etnia chinesa. Basta, por exemplo, escutar de manhã o canal chinês da Rádio Macau, para se ouvirem queixas sobre o serviço do consulado e sobre a forma como as pessoas são tratados. Queixas que, como sabemos, já chegaram à Assembleia Legislativa, pela voz de um dos deputados da RAEM (aqui o Cônsul fez o que devia, isto é, não respondeu porque nada tem a ver com o que se passa na AL).

Sobre o serviço prestado no consulado, já uma vez citei uma queixa apresentada ao Ministério dos Negócios Estrangeiros em Portugal, por falta de educação e arrogância de um funcionário consular. Pelo que sei, dessa queixa ficou a intenção e a resposta das instâncias responsáveis, dizendo apenas que iriam acompanhar o caso. Até hoje a situação mantém-se aos olhos de todos.

Não me digam que sou apenas eu a queixar-me, porque as vozes ouvem-se de vários quadrantes e cada vez mais pessoas evitam, a todo o custo, usar os serviços do consulado.

Acredito que o corpo de funcionários, tirando um ou outro colaborador, é de boa qualidade e feito de pessoas dedicadas e com boa vontade. Contudo, a liderança nada parece fazer para passar uma imagem de dinâmica e de empenho em melhorar o serviço.

Este incidente, que ainda há-de fazer correr muita tinta, pois há muitos detalhes por explicar, foi ainda mais agudizado pela falta da presença do cônsul no lançamento oficial do livro de Joaquim Magalhães de Castro, em Julho, na Livraria Portuguesa, intitulado «No Mundo das Maravilhas».

Há muito que perdi as esperanças relativamente à nossa representação diplomática em Macau. Se anteriormente nos queixávamos que a presença era pouco sentida, hoje penso que nem isso se nota. Basta-nos esperar que quem vier na próxima rodada seja mais sensível a estes problemas e que ouça toda a população e não apenas uma parte.

Quanto ao Joaquim, espero que a sua iniciativa vá avante com o Instituto Internacional de Macau (IIM) e, à laia de sugestão, aconselho-o a contactar a Embaixada de Portugal em Banguecoque. Pode ser que ainda seja incluída nas comemorações dos 500 Anos da Presença Diplomática Portuguesa na Tailândia.

Estou certo que tanto o anterior embaixador e querido amigo, António de Faria e Maya, como o actual representante de Portugal, o embaixador Jorge Torres Pereira, irão gostar da iniciativa e serão sensíveis ao projecto.

Espero que os contactos que entretanto foram feitos para o Ministério dos Negócios Estrangeiros e para a Marinha Portuguesa surtam os efeitos necessários, porque em Macau precisamos que nos representem e que apoiem as iniciativas que possam trazer prestígio à imagem de Portugal. Afinal temos uma história de vários séculos marcada por relações de amizade e de boa convivência.

Sinceramente não consigo compreender como é que uma exposição pode ser encarada como acendalha para uma crise diplomática. Principalmente quando a sua não vinda a Macau em nada prejudicou as relações entre Portugal e a China.

NaE's kitchen A Cozinha da NaE

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