Português da DSAT!? De bradar aos céus!
A DIRECÇÃO dos Serviços para os Assuntos de Tráfego brindou-nos recentemente com uma pérola de língua portuguesa e, de imediato, foi alvo de diversas reacções na Comunicação Social portuguesa. Uma reacção precedida de uma chuva de críticas e «insultos» nas redes sociais, nomeadamente no «Facebook», onde o assunto foi amplamente difundido e comentado entre falantes do idioma de Camões nos três cantos do mundo.
Aquele serviço público já veio, entretanto, tentar «deitar água na fervura» e desculpar-se com «erro técnico».
Apesar de ser analfabeto no que à tecnologia informática diz respeito, custa-me a acreditar que o computador tenha «cometido» tais erros, sem que ninguém lhe desse essa ordem. Afinal, o irracionalismo continua a ser um dos grandes óbices destas máquinas.
A polémica refere-se ao que foi publicado numa página da «Internet» recentemente lançada, onde se pode fazer a pesquisa sobre as carreiras de autocarros que estarão disponíveis a partir de 1 de Agosto, quando entrar em vigor o novo sistema de transportes públicos. Nesse «website» existia uma lista (www.dsat.gov.mo/bres/StopList.aspx) das carreiras e dos locais por elas servidas em Macau, na Taipa e em Coloane. Entretanto, e como seria de esperar perante tal patacoada, já foi retirada a obra-prima em Português, sendo apenas visível a versão em Chinês.
Tanto quanto consegui apurar e de acordo com o que me foi dito por tradutores oficiais, em Chinês não há qualquer problema com as denominações. No entanto, as versões portuguesas fizeram-me rir, não sei se de alegria ou desespero.
Para que percebam o que quero dizer, e para quem não teve oportunidade de acompanhar o caso, deixo alguns exemplos. Começando por Macau, ficamos a saber que existe uma paragem denominada «Colina da Guia (Matsuyama), e se a montanha constitucional» (sic), onde deveria estar «Colina da Guia, Centro Hospitalar Conde de São Januário», pelo que me explicaram. Na Taipa, temos a paragem da «Nossa Senhora da Bay Area» e a do «Cotai area de recuperacao» (de notar que a falta de acentos e cedilhas é do original). E, para concluir, as paragens em Coloane, onde ficamos a saber que temos uma nova praia, a da «Ordosica» (para quem não saiba é Hac Sá) e a paragem de «Bamboo Bay» que, em Português, como sabemos, é Cheok Van.
Coloane, apesar de ser a lista mais curta, é a que mais pérolas tem, dando para perceber que, além de um total desconhecimento do território e de um completo desrespeito pelas línguas oficiais, é evidente que as romanizações foram feitas a partir do Mandarim: Jiu’ao (povoação de Ká Hó) é disso exemplo. Nesta pequena lista acertaram, miraculosamente, no nome «Vila de Coloane».
Fica a pergunta, será que quem fez a tradução não tinha à mão um mapa de Macau ou uma lista dos arruamentos?
Contactei a DSAT, via correio electrónico, mas não tiveram a amabilidade de me enviar qualquer reacção ao insólito da tradução. Possivelmente ainda estão a fazer a tradução de Português para Chinês! Vamos esperar mais uns meses e, caso ela chegue, prometo que a publico literalmente.
É triste saber que, mesmo errando, quando vieram a público assumir a falta e mostrar empenho em fazer mais e melhor, decidiram atirar a culpa para a «técnica». Teria sido mais sensato assumirem o erro, pedirem desculpas e comprometerem-se em tentar melhorar. Dizer que foi um erro técnico acaba por ser mais ignóbil que o próprio erro que tentam desculpar. Aliás, o comunicado publicado pela DSAT, na página do GCS, no dia 7 pelas 19:29, começa logo mal pelo título: «A Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego tem respeita pela cultura portuguesa». Mais valia terem ficado caladinhos e deixar a poeira acalmar!
Por curiosidade, voltei a visitar a página da DSAT e usei o tradutor do «Google» (que me pergunta sempre se quero traduzir quando abro uma página em língua estrangeira) para a traduzir na globalidade e, para minha surpresa, detectei o famoso «erro técnico» referido pelos Serviços. Afinal, trata-se de uma tradução feita pelo serviço daquele conhecido motor de busca ou outro similar.
Este pequeno exemplo do completo desleixo pela língua oficial portuguesa faz-me temer pelo que possa vir a acontecer relativamente a pontos do Caderno de Encargos, que as operadoras privadas de transportes públicos são obrigadas a cumprir, e que a partir de 1 de Agosto irá entrar em vigor.
Quando a própria entidade do Governo não cumpre o artigo 9º da Lei Básica, qual a autoridade moral que terá para exigir que as concessionárias privadas cumpram o estabelecido? Vou esperar por Agosto para me assegurar do que suspeito. Oxalá esteja enganado!
Tanto quanto sei, o contrato de exploração assinado entre as três empresas e a DSAT obriga-as a disponibilizar, no sistema sonoro e nas comunicações escritas, informações em Chinês (Cantonense e Mandarim), em Português e, facultativamente, em Inglês.
Apesar dos exemplos de atropelo da segunda língua oficial de Macau serem constantes, reconheço que o Governo tem feitos sinceros esforços para melhorar o produto final.