Como blog estaremos aqui para escrever as nossas opiniões, observações e para que quem nos visite deixe também as suas. Tentaremos, dentro das possibilidades, manter este local actualizado com o que vai acontecendo à nossa volta em Macau e um pouco em todo o lado...

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Cheias revelam problemas

DURANTE o tempo que estive de férias parece que Macau foi afectado, mais uma vez, por chuvas intensas que voltaram a causar estragos avultados em diversas zonas da cidade. Desta vez, supostamente, foi a Taipa mais afectada, assim como Coloane, nomeadamente as estradas e os terrenos onde decidiram construir a habitação social de Seac Pai Van.

Muitos já dizem que o erro, desde o início, foi mesmo a sua localização! Ao se ter decidido destruir a antiga pedreira, deitando abaixo grande parte da montanha para se erigir habitação social, o Governo voltou a meter o pé na argola. Primeiro, porque a sua localização nunca foi aceite pela maioria da população, particularmente pela população alvo da dita habitação. Segundo, porque todas as evidências apontam para que tenha sido um projecto feito e preparado à medida do agrado dos fortes lobbies da construção civil do território. Ninguém irá corroborar esta afirmação, mas não será muito difícil perceber que terá sido uma decisão tomada à revelia de todas as evidências. Ou será que o Governo pensa que pode estar certo sozinho e nunca erra nas decisões que toma? Acredito que assim possa pensar, se olharmos a muitas das decisões tomadas, mas há-de chegar o momento em que terá de parar e dar ouvidos às queixas.
Como não estou, de forma alguma, ligado à habitação social, económica ou de qualquer outra forma a ser privilegiado, ou prejudicado, pelo citado empreendimento, sinto-me na liberdade de continuar a insistir que a melhor solução teria sido, sem quaisquer dúvidas, a opção de recuperar prédios devolutos e, ao mesmo tempo, reabilitar zonas da cidade para se criar os necessários apartamentos. Ao que parece, e a ver pelas taxas de ocupação, a necessidade da habitação agora concluída não será assim tão premente visto que ninguém, ou quase ninguém, se quer para ali mudar, mesmo com todos os incentivos e toda a propaganda feita por quem decide.
As chuvas fortes de Agosto vieram colocar a descoberto, ao que os acontecimentos indicam, que tudo foi feito em cima do joelho. Apesar de virem dizer que se deveu a alterações morfológicas e outras que tais, a verdade é que as águas não têm para onde ir! Fica a pergunta: então quando se fazem ou planeiam projectos desta envergadura (de salientar que não é só a habitação social, mas sim todo um «bairro» habitacional que também inclui área residencial de luxo) não é normal haver estudos de impacto ambiental, de segurança altimétrica, sistemas de drenagem e de impermeabilidade de solos, etc.? Ou será que foi mesmo tudo feito em cima do joelho, para agradar aos patos-bravos da terra e à sua sede de lucro rápido?
A opção da recuperação de prédios devolutos teria tido um impacto positivo muito maior, revitalizando artérias menos nobres da cidade e oferecendo a possibilidade às pessoas que necessitam de habitação social de não terem de sair do perímetro onde vivem.
Como se sabe a maioria dessas pessoas são da zona Norte, exactamente uma das áreas com maior número de prédios devolutos e em risco de ruína, ou a precisarem de obras de recuperação. Era aqui que o Governo deveria ter investido os milhões que enterraram em Seac Pai Van. Possivelmente teria até gasto mais se optasse pela recuperação, mas o resultado seria, na minha opinião, muito mais positivo. Além de não obrigar a grandes alterações nos hábitos das pessoas necessitadas, também contribuiria para melhorar o ambiente de diversos locais do território.
Compreendo, no entanto, que este tipo de intervenção não agrade muito aos homens das construções porque as margens de lucro, versus o trabalho que tem de ser feito, é muito menor. Além de que envolve muito mais controlo de custos e escolha de materiais de melhor qualidade, enquanto que na construção de raiz vale de tudo um pouco. Aliás, basta ver para a qualidade da construção social e as condições que apresentam escassos meses após terem sido concluídas, sem que ainda tenham sido utilizadas...
As chuvas de Agosto apenas serviram para colocar a nu um problema que é do conhecimento de todos. As obras feitas sem grandes estudos, sérios, preliminares, apenas servem para agradar a alguns e não para resolver os problemas sociais. O resultado está à vista de todos: em vez de resolverem um problema que afecta Macau acabaram por meter a descoberto outro bem pior.

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