DE Hong Kong chegou, há dias, uma notícia que me fez franzir o sobrolho. As autoridades, nomeadamente a monetária, da antiga colónia britânica anunciaram que contrataram uma empresa (que para cúmulo não identificaram) para fornecer dados relativos ao modo de funcionamento dos bancos e instituições financeiras aquando da venda de produtos e serviços. Para tal, vão recorrer ao recrutamento de clientes-mistério, um conceito muito usado no sector comercial privado, mas, pelo que se sabe, nunca usado pelo Governo de forma a controlar a actividade de empresas privadas. De acordo com informação tornada pública, o Governo, através dessa empresa de serviços, vai recorrer a idosos, grávidas e jovens para se dirigirem aos bancos e instituições financeiras pretendendo adquirir produtos, servindo este método para avaliar a forma como os funcionários cumprem as normas e regulamentos do mercado.
O escândalo das «mini-bonds», que afectou milhares de pessoas em Hong Kong, está na base desta decisão polémica do Executivo de Donald Tsang. Muitas são, porém, as vozes que se levantam contra a medida, especialmente vindas do sector visado, acusando o Governo de usar tácticas pouco transparentes para controlar um mercado que se orgulha de ser dos mais livres a nível mundial. Um mercado liberal que tem dominado a zona asiática, graças a esse liberalismo e transparência e que o Governo agora mete em questão, acusam os refractários desta medida.
O que me preocupa não é o facto de o Governo estar a tentar evitar que aconteça uma nova crise, levando milhares à falência e à perda de todas as poupanças. Preocupa-me, sim, o facto de ser o próprio Executivo a recorrer a estratégias que pouco dignificam a sua imagem. Recorrendo a clientes-mistério, – junto a minha voz a outras críticas, – creio que o Governo irá criar um clima de desconfiança entre todos os agentes do mercado levando outros sectores (que não o da banca) a considerar que tal pode vir a ser também aplicado na sua área, generalizando a falta de confiança na sociedade.
Será que o Governo esgotou todas as formas legítimas para efectuar acções de fiscalização e tentar evitar que volte a suceder um episódio semelhante ao que abalou o mercado financeiro? Duvido e penso que o recurso a esta táctica se deve simplesmente ao facto de essa ser a forma mais fácil, mas também mais irresponsável, que os dirigentes políticos encontraram para fazer face a um problema bastante real.
Quanto a Macau, este problema financeiro pouco se sentiu por aqui; outros houve, porém, relacionados com a crise da bolsa. Mas como já, normalmente, os dirigentes do território têm o costume de seguir o que se faz em Hong Kong, nomeadamente na área financeira, fico algo preocupado se os responsáveis pela regulação da banca local decidirem por tácticas semelhantes.
O clima que se vive em Macau, no que diz respeito ao sistema de queixas e informações, é já bastante preocupante. Qualquer pessoa pode apresentar queixa, ou mesmo difamar outra, anonimamente junto das autoridades, sem que tema ser descoberto, visto que o anonimato, nestes casos, é mesmo levado a sério. Isto, como sabe quem aqui vive há mais de uma década, tem gerado algum desconforto e tem trazido à memória sensações de outros tempos, em que todos controlavam todos.
Nem quero imaginar se os responsáveis de Macau decidirem também adoptar esta novidade de Hong Kong. Se actualmente, mesmo sem essa nova estratégia, já vivemos num clima de desconfiança, o recurso a este tipo de artimanhas será um pesadelo: o andar sempre a olhar por cima do ombro.
O escândalo das «mini-bonds», que afectou milhares de pessoas em Hong Kong, está na base desta decisão polémica do Executivo de Donald Tsang. Muitas são, porém, as vozes que se levantam contra a medida, especialmente vindas do sector visado, acusando o Governo de usar tácticas pouco transparentes para controlar um mercado que se orgulha de ser dos mais livres a nível mundial. Um mercado liberal que tem dominado a zona asiática, graças a esse liberalismo e transparência e que o Governo agora mete em questão, acusam os refractários desta medida.
O que me preocupa não é o facto de o Governo estar a tentar evitar que aconteça uma nova crise, levando milhares à falência e à perda de todas as poupanças. Preocupa-me, sim, o facto de ser o próprio Executivo a recorrer a estratégias que pouco dignificam a sua imagem. Recorrendo a clientes-mistério, – junto a minha voz a outras críticas, – creio que o Governo irá criar um clima de desconfiança entre todos os agentes do mercado levando outros sectores (que não o da banca) a considerar que tal pode vir a ser também aplicado na sua área, generalizando a falta de confiança na sociedade.
Será que o Governo esgotou todas as formas legítimas para efectuar acções de fiscalização e tentar evitar que volte a suceder um episódio semelhante ao que abalou o mercado financeiro? Duvido e penso que o recurso a esta táctica se deve simplesmente ao facto de essa ser a forma mais fácil, mas também mais irresponsável, que os dirigentes políticos encontraram para fazer face a um problema bastante real.
Quanto a Macau, este problema financeiro pouco se sentiu por aqui; outros houve, porém, relacionados com a crise da bolsa. Mas como já, normalmente, os dirigentes do território têm o costume de seguir o que se faz em Hong Kong, nomeadamente na área financeira, fico algo preocupado se os responsáveis pela regulação da banca local decidirem por tácticas semelhantes.
O clima que se vive em Macau, no que diz respeito ao sistema de queixas e informações, é já bastante preocupante. Qualquer pessoa pode apresentar queixa, ou mesmo difamar outra, anonimamente junto das autoridades, sem que tema ser descoberto, visto que o anonimato, nestes casos, é mesmo levado a sério. Isto, como sabe quem aqui vive há mais de uma década, tem gerado algum desconforto e tem trazido à memória sensações de outros tempos, em que todos controlavam todos.
Nem quero imaginar se os responsáveis de Macau decidirem também adoptar esta novidade de Hong Kong. Se actualmente, mesmo sem essa nova estratégia, já vivemos num clima de desconfiança, o recurso a este tipo de artimanhas será um pesadelo: o andar sempre a olhar por cima do ombro.