DÁ vontade de dizer que só mesmo em Macau é que se lembrariam de elaborar uma lei de salvaguarda do património que prevê a deslocação de locais ou estruturas de importância histórica!!! Pelo que tenho lido ainda não consegui entender muito bem o que querem dizer com tal enormidade. O deputado Cheang Chi Keong, presidente da 3ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa, diz que «por exemplo, um imóvel classificado que está num local pode estorvar o desenvolvimento. Trata-se de um imóvel com valor. Por isso é que foi aditada uma norma que prevê o deslocamento para outro local» (!?) Enquanto que o director do Instituto Cultural, Guilherme Ung Vai Meng, é mais cauteloso e afirma que «quando um monumento estiver em risco pode ser transportado para outro local. Mas o nosso conselho principal é que não se deve mexer no património». Valha-nos alguém com algum senso na cabeça porque os que fazem as leis já provaram não o ter. Na prática, caso esta – repito – enormidade ande para a frente, está aberta a porta para se mudar tudo em Macau e se construir um parque de atracções ao estilo de Shenzhen. Visto ser possível mudar tudo de lugar, em prol do desenvolvimento, e sendo todos os locais onde se situam os edifícios históricos de grande importância em termos de desenvolvimento do território, podem mudar as Ruínas de São Paulo para um parque temático a criar no espaço ainda livre do COTAI. Afinal, na colina onde actualmente estão pode muito bem nascer mais um prédio de luxo e mais um ou dois casinos. E depois – já agora – mudem também o edifício da Santa Casa da Misericórdia porque, aos preços das rendas no Largo do Senado, fazem falta mais umas lojas de perfumes e ourivesarias. Isto claro, se não se lembrarem de remover o Largo do Senado, com Calçada à Portuguesa e tudo, para esse novo parque temático. Aliás, bem vistas as coisas, a criação de um parque temático para ali meter todo o património classificado até teria as suas vantagens. Por um lado iria libertar espaços na zona antiga da cidade que, como sabemos, carece de locais onde se possa construir. Por outro lado, seria mais fácil para os turistas visitarem tudo ao mesmo tempo; bastava organizar um comboio turístico e faziam o percurso em cinco minutos (ainda ficavam com tempo, à saída, para comprarem os biscoitos de amêndoa antes de seguirem para os casinos). Mas se vai ser possível mudar os edifícios históricos, caso o desenvolvimento do território a isso obrigue, por que não mudar o Templo de Á-Má, a Casa do Mandarim e todos os outros locais para uma zona que não atrapalhe o desenvolvimento. Para a Ilha da Montanha, por exemplo. É pena que Macau, com tanto dinheiro e com tantos cérebros, apenas surja com ideias que não lembra a ninguém. Mesmo a posição de Guilherme Ung Vai Meng, que sendo mais cauteloso diz que apenas apoiam no caso da «coisa» de valor histórico estar em perigo, não deixa de ser caricata e descabida. Em qualquer parte do mundo com uns dedos de bom senso a solução seria modificar a situação para que o património deixasse de estar em perigo; não seria mudar o património para evitar a situação. Há exemplos em todo o mundo: as pirâmides no Egipto foram alvo e continuam a ser alvo, quase anualmente, de trabalhos de manutenção para as proteger da erosão. A Torre Eiffel é reparada frequentemente para que a corrosão da estrutura não afecte a totalidade do monumento – está localizado em terreno instável, o que faz com que sofra mais em termos de danos estruturais. No entanto, Paris nunca pensou em mudar a torre de sítio. Assim como os Jerónimos em Portugal, que devido à sua proximidade com o rio e o mar sofre com os altos níveis de salinidade, sem que Lisboa pensasse em mudar o mosteiro para o interior. Ou, ainda, a Grande Muralha, já que se gosta tanto de olhar para o «continente», que tem problemas de erosão e de instabilidade em milhares de locais, mas que nunca foi sequer equacionada a sua mudança de local. Entristece-me que, só em Macau, se pense assim. É uma pena que numa terra onde abundam verbas (para já...) não haja capacidade para fomentar uma massa criativa e pensadora que tenha ideias que realmente possam ser aplicadas e tragam valor acrescentado. Que consigam sentar-se a uma mesa e delinear uma estratégia de longo prazo, em vez de medidas avulsas que nada fazem e que apenas contribuem para sejamos chacota a nível internacional e para que continuem a olhar para Macau como um depositário de casinos onde hordas de chineses vêm esbanjar milhões ganhos por meios menos lícitos. Mas prestem atenção aos próximos tempos, porque esta medida incluída na nova lei pode estar a preparar caminho para removerem as Portas do Cerco, devido às obras do Metro Ligeiro… Nada se confirma mas, como se costuma dizer, não há fumo sem fogo! Espero estar enganado, mas se se confirmarem os meus receios, é pena! |
Como blog estaremos aqui para escrever as nossas opiniões, observações e para que quem nos visite deixe também as suas. Tentaremos, dentro das possibilidades, manter este local actualizado com o que vai acontecendo à nossa volta em Macau e um pouco em todo o lado...
segunda-feira, 12 de agosto de 2013
Vamos mudar o Património
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