O TEMPO passa como se fosse vento, sem que nos apercebamos de que a cada dia ficamos mais velhos e as oportunidades só se concretizam uma vez. Se não as aproveitamos, vamos acabar por nos arrepender durante o resto das nossas vidas. Isto aplica-se tanto a pessoas, como ao próprio Governo.
No ano passado, mais ou menos nesta altura, escrevia sobre algo que pouco, ou mesmo nada, foi falado na Imprensa local. Apesar de ser um evento de grande envergadura e de ser, então, a primeira vez organizado nesta cidade, não mereceu o apoio que merecia da população, da Comunicação Social e, muito em especial, do Governo, que apenas olha para o Jogo, para os «patos bravos» e a especulação imobiliária com o seu lucro fácil.
Macau vai ser palco, pela segunda vez, de uma feira de iates e barcos de luxo. Ao contrário do que a maioria da população pensa, barcos não são apenas para gente rica, pois há-os para todas as bolsas. Aliás, existe o estereótipo de que os donos de barcos e quem viaja de barco são milionários. Pois, posso garantir que quem tem essa ideia nunca meteu os pés dentro de um veleiro ou de um barco a motor. Aliás, a nível mundial, os milionários nesta vertente são uma minoria e raramente embarcam em grandes viagens, servindo os seus barcos apenas para ostentar e mostrar a sua riqueza.
Há todo um outro mercado na náutica de lazer que gera riqueza e empregos, mas que não significa que os proprietários sejam ricos.
Se bem que o exemplo da feira de Macau aponte mais para as carteiras recheadas da China, a verdade é que em Macau não há condições para mais barcos. A actual marina, se é que lhe podemos mesmo chamar marina, está cheia e não tem qualquer tipo de condições. Nem casa-de-banho tem, para já não falar nas outras instalações de apoio que os sócios, que pagam mensalidades e jóias de membro, deveriam ter para uso: bar, duches, zona de reparações, entre outras, apenas para citar algumas das lacunas.
Por outro lado, quem quer comprar barco em Macau enfrenta o problema de não ter onde o colocar. E, caso opte por um barco que possa ser colocado num reboque, enfrenta um outro problema ainda maior, relacionado com o trânsito. Ao que parece, em Macau, não é permitido circular com atrelado em carros particulares, o que inviabiliza qualquer tipo de recurso a essa solução para fazer face à falta de lugares na marina.
Recentemente escrevi nestas páginas que a directora da Capitania dos Portos dizia haver dois locais para iates em Macau. Continuo à espera que me digam onde fica o segundo, porque quero ir ver!
Por outro lado, a Lei Marítima de Macau reconhece a existência de vários portos em Macau e locais de ancoragem. Mas, na verdade, isso não passa de letras no papel. Se quiserem provar isso, experimentem mandar uma mensagem a pedir um local para ancorar um barco. A resposta irá apontar para a Marina do Lamau (que, como já se referiu, está cheia). Portanto, um livre residente de Macau que pague impostos, como toda a gente, se quiser ter barco, em vez de carro, vê-se obrigado a ter de pagar a uma entidade privada para o «estacionar». Algo que, no meu ponto de vista, é injusto, pois quem tem carro pode estacionar na rua, visto ainda existirem locais sem parquímetros.
Antigamente era possível ancorar no Porto Interior, na zona onde param os barcos de pesca, mediante o pagamento de uma taxa anual à Capitania. Actualmente, porém, apesar de tal estar previsto na lei, a Capitania recusa-se a atribuir bóias de ancoragem a privados que não sejam «pescadores». Uma discriminação que não se percebe.
Com todos estes contratempos, Macau avança para a segunda feira de iates! Espero que este ano, pelo menos, os representantes do Governo, nomeadamente do Turismo, se dignem a comparecer no evento, que mais não seja para saborearem uns aperitivos de graça e beberem uns copos de champanhe!
A iniciativa este ano está a cargo das mesmas entidades que organizaram o evento há um ano. Aliás, entidades da China, algo que também não se percebe, dado haver em Macau empresas com experiência suficiente para realizar um evento desta natureza. Além disso, a empresa responsável pelo evento nem sequer tem história na organização de feiras de barcos!
Ah! Este ano parece que vai haver uma regata com dezenas de veleiros. Eu, incredulamente, pergunto-me de onde virão tais velejadores e embarcações! Em Macau há cinco, mas apenas três sobem as velas regularmente! E quando se organizam regatas de e para Hong Kong, nunca se conseguem mais de dez… Vamos esperar…
Fórum alarga esfera
Apenas um pequeno aparte, visto ter lido a notícia recentemente e não querer deixar passar a oportunidade de a realçar. O Fórum de Macau prepara-se para alargar a sua esfera de influência a actividades não económicas, nomeadamente à cultura, pelo que foi abordado por alguns dos seus membros numa reunião na semana passada. Gostaria de manifestar o meu agrado e esperar que não voltem a recusar apoio a iniciativas de cariz cultural e de promoção de Macau, como aconteceu recentemente, depois de terem garantido que dariam todo o apoio necessário a nível institucional.
Sabendo-se que o Fórum tem vindo a apoiar a Semana Cultural e a Lusofonia, é muito difícil entender a recusa de apoio a um evento que tem como propósito promover Macau e os laços que ligam os países de língua Portuguesa.
Fica o reparo, a nota de agrado e o conselho para que submetam novamente a proposta, se esse propósito avançar. Desta vez enviem directamente ao secretário-geral; pode ser que a receptividade não mude.
Afinal, a Economia e o Comércio andam sempre de mãos dadas com a cultura e os laços afectivos.