Como blog estaremos aqui para escrever as nossas opiniões, observações e para que quem nos visite deixe também as suas. Tentaremos, dentro das possibilidades, manter este local actualizado com o que vai acontecendo à nossa volta em Macau e um pouco em todo o lado...

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Vamos americanizar os nomes

O HÁBITO de mudar a nomenclatura dos edifícios e dos locais em Macau foi um dos episódios mais caricatos que marcaram o pós-colonialismo português (como muitos lhe chamaram). Agora, passados mais de dez anos, ameaça vir a tornar-se novamente hábito; desta vez, porém, com outros contornos.
Os finais de 1999 e os primeiros anos do segundo milénio viram nascer um movimento que, de um dia para o outro, viu o Palácio da Praia Grande passar a chamar-se Sede do Governo da RAEM, o Palacete de Santa Sancha passar a Residência do Chefe do Executivo (ou Sala de Recepções da RAEM), o Edifício do Leal Senado a Edifício do IACM, além de muitos outros exemplos. Felizmente, alguns voltaram à denominação original, devido a terem sido incluídos na lista de Património Mundial. No entanto, muitos outros continuam a usar os novos nomes, como que envergonhados do passado que carregam sobre os ombros e que, quer algumas almas iluminadas queiram ou não, traz a Macau milhares de turistas, desejosos de apreciar a diferença cultural, de raiz portuguesa. Se fosse para verem aspectos de cultura chinesa, certamente que o fariam melhor no «continente» e com muito mais opções. A diferença em Macau, é mesmo pelo facto de ser Macau, como divulga a Direcção dos Serviços de Turismo por todo o lado.
Mais recentemente, apareceu uma nova vaga de mudança de nomes oficiais; mas, desta feita, de carácter privado e fomentada pelo investimento estrangeiro no sector do Jogo. Especialmente quando abordamos nomes em língua inglesa, visto que a obrigação de haver denominação em português visível deixou de ser tida em conta. Quando vamos fazer o registo de uma empresa, é-nos dito que há a obrigação de a denominar nas duas línguas oficiais, quando queremos usar também um nome em inglês, como explicaram num cartório de registo comercial.
Voltando ao tema que me leva a escrever esta coluna, o COTAI, mais concretamente, a Estrada do Istmo, passou a chamar-se «COTAI Strip» e à zona do aterro de Seac Pai Van agora chama-se «COTAI South».
Foi precisamente este último que mais me chamou à atenção, visto ser, pelo que sei, o mais recente e porque a nova denominação não corresponde à verdade, já que a zona onde se insere nem sequer faz parte do COTAI (oficialmente, COTAI significa Zona de Aterros entre Coloane e Taipa, sendo a denominação um «portmanteau» nascido destes dois nomes próprios). Trata-se de parte da ilha de Coloane, junto do Parque Natural de Seac Pai Van, e que fora aterrada na década de oitenta do século passado, quando ainda existia o istmo que ligava as duas ilhas e que, segundo se lembram muitos dos que aqui vivem há mais tempo, ficava intransitável em épocas de chuvas mais intensas.
Aliás, naquela zona havia, ou ainda há, um parque industrial cujo nome é «Concórdia» e que era gerido por uma empresa de capitais públicos denominada Sociedade de Desenvolvimento do Parque Industrial da Concórdia.
Se não passaram por esta zona nos últimos dias, aconselho a que o façam, de carro ou autocarro e vejam com os próprios olhos o que se passa, porque está à vista de todos.
Lembro-me de que, quando cheguei a Macau, a ilha de Coloane era apelidada de «pulmão verde de Macau» e que o Governo se manifestava empenhado em que assim ficasse. Foram várias as vezes que «patos bravos» tentaram, por diversas vias, mudar o rumo do Governo e obter autorização de construção em grande escala. Tal nunca fora conseguido, tirando o caso dos prédios na praia de Hac Sá, mantendo a ilha como o único refúgio verde do território, a par da Colina da Guia. Infelizmente – e digo-o com muita mágoa – essa opção e firmeza do Governo parece estar a ceder ao jogo dos interesses, ou seja, dos empresários da construção.
Os «patos bravos», como referia um articulista de Hong Kong recentemente, em Macau têm muito poder e conseguem sempre o que querem.
Afinal, Coloane vai ter construção em altura e a dar o (mau) exemplo, por vergonhoso que seja, é mesmo o Governo! Na zona da pedreira, logo à entrada da ilha, segundo consta, vai nascer um complexo de habitação social!
E no «COTAI South» vai nascer um empreendimento de luxo. Ele está anunciado e até é promovido no próprio local!

domingo, 4 de abril de 2010

Passividade da DSSOPT

SE me pedissem para eleger a situação que em Macau mais me envergonha ou me deixa perplexo, certamente que elegeria as construções ilegais. O território, ou melhor, os seus telhados, estão cheios delas. Macau cada vez mais se parece com um bairro de lata!
Passamos dias e dias sem nos apercebermos da sua existência. Muitos dos que nos visitam também não as notam porque o território está feito de tal forma que as pessoas raramente olham para cima. Existe algo que nos força a olharmos para a frente ou para o chão e raramente perdemos uns segundos a olhar para o céu. A verdade é que há poucos atractivos que o justifiquem. Se exceptuarmos alguns edifícios que merecem ser apreciados na sua plenitude, pouco mais há para ver acima da cota dos cinco ou dez metros.
Eu vivo num quarto andar na zona histórica de Macau, mesmo nas traseiras da Fortaleza do Monte. Um edifício que data de há cerca de 20 anos, ou pouco menos. No entanto, a zona envolvente com inúmeras construções ilegais fazem acreditar que o bairro data de há mais de um século e, a cada dia que passa, mais parece um bairro de lata.
As queixas à Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT) de nada servem porque não se vê resultado nenhum do seguimento das mesmas, deixando a impressão que nada é feito. A polícia nem sequer se digna dar acompanhamento ao problema porque, segundo dizem, não lhes compete, atirando a responsabilidade para a entidade anterior.
O prédio em frente ao meu (isto serve apenas de exemplo porque, infelizmente, se repete telhado sim, telhado sim), que já conta com um último andar (anteriormente o terraço) ilegal, foi recentemente alvo de nova intervenção. Ainda não contentes por terem ocupado mais de 50% do terraço do edifício, decidiram cobrir a restante (área comum que deve ser do uso de todos os proprietários do edifício) como se de um anexo da outra se tratasse.
As fotos que vos deixo, que foram tiradas ao longo de vários dias, chegam para ilustrar o que se arrastou aos olhos de todos. Claro, como ninguém olha para cima, estas situações continuam impunes e sem que as autoridades se preocupem.
No prédio ao lado deste existe pelo menos um andar completo todo ilegal. E por cima desse apêndice, já de si fora-da-lei, foi ainda construído um solário «particular»! O peso de tudo isto é tal que, na estrutura exterior do rés-do-chão se viram obrigados a aplicar umas peças metálicas para ajudar a suportar o esforço e abrandar a abertura das fendas nas paredes. Imaginem o que poderá dali advir num qualquer dia azarado.
No meu edifício, os proprietários do quinto (último) andar, decidiram que o terraço era deles, pelo que simplesmente o fecharam e construíram o que bem quiseram sem dar nenhuma satisfação aos restantes vizinhos! Interrogados sobre o assunto, dizem não querer saber. Alguns aconselharam mesmo quem se queixava para apresentarem queixa às autoridades, sabendo que nada se iria resolver!
É esta a passividade que temos de enfrentar em Macau. Mas, imaginemos que acontece um incidente semelhante ao que aconteceu em Hong Kong recentemente. Será que é necessário esperar que haja a queda de um edifício, causando vítimas mortais, para que as autoridades se metam em campo e obriguem os transgressores a repor a legalidade?
De tempos a tempos vemos notícias promovendo as actividades de fiscalização. No entanto, pergunto: Já alguém viu alguma construção ilegal vir abaixo? Em mais de 13 anos, nunca vi nada de semelhante…

NaE's kitchen A Cozinha da NaE

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