O HÁBITO de mudar a nomenclatura dos edifícios e dos locais em Macau foi um dos episódios mais caricatos que marcaram o pós-colonialismo português (como muitos lhe chamaram). Agora, passados mais de dez anos, ameaça vir a tornar-se novamente hábito; desta vez, porém, com outros contornos.
Os finais de 1999 e os primeiros anos do segundo milénio viram nascer um movimento que, de um dia para o outro, viu o Palácio da Praia Grande passar a chamar-se Sede do Governo da RAEM, o Palacete de Santa Sancha passar a Residência do Chefe do Executivo (ou Sala de Recepções da RAEM), o Edifício do Leal Senado a Edifício do IACM, além de muitos outros exemplos. Felizmente, alguns voltaram à denominação original, devido a terem sido incluídos na lista de Património Mundial. No entanto, muitos outros continuam a usar os novos nomes, como que envergonhados do passado que carregam sobre os ombros e que, quer algumas almas iluminadas queiram ou não, traz a Macau milhares de turistas, desejosos de apreciar a diferença cultural, de raiz portuguesa. Se fosse para verem aspectos de cultura chinesa, certamente que o fariam melhor no «continente» e com muito mais opções. A diferença em Macau, é mesmo pelo facto de ser Macau, como divulga a Direcção dos Serviços de Turismo por todo o lado.
Mais recentemente, apareceu uma nova vaga de mudança de nomes oficiais; mas, desta feita, de carácter privado e fomentada pelo investimento estrangeiro no sector do Jogo. Especialmente quando abordamos nomes em língua inglesa, visto que a obrigação de haver denominação em português visível deixou de ser tida em conta. Quando vamos fazer o registo de uma empresa, é-nos dito que há a obrigação de a denominar nas duas línguas oficiais, quando queremos usar também um nome em inglês, como explicaram num cartório de registo comercial.
Voltando ao tema que me leva a escrever esta coluna, o COTAI, mais concretamente, a Estrada do Istmo, passou a chamar-se «COTAI Strip» e à zona do aterro de Seac Pai Van agora chama-se «COTAI South».
Foi precisamente este último que mais me chamou à atenção, visto ser, pelo que sei, o mais recente e porque a nova denominação não corresponde à verdade, já que a zona onde se insere nem sequer faz parte do COTAI (oficialmente, COTAI significa Zona de Aterros entre Coloane e Taipa, sendo a denominação um «portmanteau» nascido destes dois nomes próprios). Trata-se de parte da ilha de Coloane, junto do Parque Natural de Seac Pai Van, e que fora aterrada na década de oitenta do século passado, quando ainda existia o istmo que ligava as duas ilhas e que, segundo se lembram muitos dos que aqui vivem há mais tempo, ficava intransitável em épocas de chuvas mais intensas.
Aliás, naquela zona havia, ou ainda há, um parque industrial cujo nome é «Concórdia» e que era gerido por uma empresa de capitais públicos denominada Sociedade de Desenvolvimento do Parque Industrial da Concórdia.
Se não passaram por esta zona nos últimos dias, aconselho a que o façam, de carro ou autocarro e vejam com os próprios olhos o que se passa, porque está à vista de todos.
Lembro-me de que, quando cheguei a Macau, a ilha de Coloane era apelidada de «pulmão verde de Macau» e que o Governo se manifestava empenhado em que assim ficasse. Foram várias as vezes que «patos bravos» tentaram, por diversas vias, mudar o rumo do Governo e obter autorização de construção em grande escala. Tal nunca fora conseguido, tirando o caso dos prédios na praia de Hac Sá, mantendo a ilha como o único refúgio verde do território, a par da Colina da Guia. Infelizmente – e digo-o com muita mágoa – essa opção e firmeza do Governo parece estar a ceder ao jogo dos interesses, ou seja, dos empresários da construção.
Os «patos bravos», como referia um articulista de Hong Kong recentemente, em Macau têm muito poder e conseguem sempre o que querem.
Afinal, Coloane vai ter construção em altura e a dar o (mau) exemplo, por vergonhoso que seja, é mesmo o Governo! Na zona da pedreira, logo à entrada da ilha, segundo consta, vai nascer um complexo de habitação social!
E no «COTAI South» vai nascer um empreendimento de luxo. Ele está anunciado e até é promovido no próprio local!
Os finais de 1999 e os primeiros anos do segundo milénio viram nascer um movimento que, de um dia para o outro, viu o Palácio da Praia Grande passar a chamar-se Sede do Governo da RAEM, o Palacete de Santa Sancha passar a Residência do Chefe do Executivo (ou Sala de Recepções da RAEM), o Edifício do Leal Senado a Edifício do IACM, além de muitos outros exemplos. Felizmente, alguns voltaram à denominação original, devido a terem sido incluídos na lista de Património Mundial. No entanto, muitos outros continuam a usar os novos nomes, como que envergonhados do passado que carregam sobre os ombros e que, quer algumas almas iluminadas queiram ou não, traz a Macau milhares de turistas, desejosos de apreciar a diferença cultural, de raiz portuguesa. Se fosse para verem aspectos de cultura chinesa, certamente que o fariam melhor no «continente» e com muito mais opções. A diferença em Macau, é mesmo pelo facto de ser Macau, como divulga a Direcção dos Serviços de Turismo por todo o lado.
Mais recentemente, apareceu uma nova vaga de mudança de nomes oficiais; mas, desta feita, de carácter privado e fomentada pelo investimento estrangeiro no sector do Jogo. Especialmente quando abordamos nomes em língua inglesa, visto que a obrigação de haver denominação em português visível deixou de ser tida em conta. Quando vamos fazer o registo de uma empresa, é-nos dito que há a obrigação de a denominar nas duas línguas oficiais, quando queremos usar também um nome em inglês, como explicaram num cartório de registo comercial.
Voltando ao tema que me leva a escrever esta coluna, o COTAI, mais concretamente, a Estrada do Istmo, passou a chamar-se «COTAI Strip» e à zona do aterro de Seac Pai Van agora chama-se «COTAI South».
Foi precisamente este último que mais me chamou à atenção, visto ser, pelo que sei, o mais recente e porque a nova denominação não corresponde à verdade, já que a zona onde se insere nem sequer faz parte do COTAI (oficialmente, COTAI significa Zona de Aterros entre Coloane e Taipa, sendo a denominação um «portmanteau» nascido destes dois nomes próprios). Trata-se de parte da ilha de Coloane, junto do Parque Natural de Seac Pai Van, e que fora aterrada na década de oitenta do século passado, quando ainda existia o istmo que ligava as duas ilhas e que, segundo se lembram muitos dos que aqui vivem há mais tempo, ficava intransitável em épocas de chuvas mais intensas.
Aliás, naquela zona havia, ou ainda há, um parque industrial cujo nome é «Concórdia» e que era gerido por uma empresa de capitais públicos denominada Sociedade de Desenvolvimento do Parque Industrial da Concórdia.
Se não passaram por esta zona nos últimos dias, aconselho a que o façam, de carro ou autocarro e vejam com os próprios olhos o que se passa, porque está à vista de todos.
Lembro-me de que, quando cheguei a Macau, a ilha de Coloane era apelidada de «pulmão verde de Macau» e que o Governo se manifestava empenhado em que assim ficasse. Foram várias as vezes que «patos bravos» tentaram, por diversas vias, mudar o rumo do Governo e obter autorização de construção em grande escala. Tal nunca fora conseguido, tirando o caso dos prédios na praia de Hac Sá, mantendo a ilha como o único refúgio verde do território, a par da Colina da Guia. Infelizmente – e digo-o com muita mágoa – essa opção e firmeza do Governo parece estar a ceder ao jogo dos interesses, ou seja, dos empresários da construção.
Os «patos bravos», como referia um articulista de Hong Kong recentemente, em Macau têm muito poder e conseguem sempre o que querem.
Afinal, Coloane vai ter construção em altura e a dar o (mau) exemplo, por vergonhoso que seja, é mesmo o Governo! Na zona da pedreira, logo à entrada da ilha, segundo consta, vai nascer um complexo de habitação social!
E no «COTAI South» vai nascer um empreendimento de luxo. Ele está anunciado e até é promovido no próprio local!