Vela: ID deve apoiar
MAIS de três dezenas de crianças praticam gratuitamente desporto todas as semanas, graças a uma organização fundada por três residentes de Macau, sem qualquer apoio do Governo. Apesar de terem sido obrigados a constituir uma empresa de responsabilidade limitada e não uma associação, – idiossincrasias da Lei local, – optaram por criar a «academia» sem fins lucrativos, apenas pelo amor ao que fazem e para desenvolverem um desporto que já teve muitas tradições em Macau. Investiram algumas centenas de milhares de patacas do seu próprio bolso, recebem alguns apoios de entidades privadas e tentam, a todo o custo, convencer o Instituto do Desporto (ID) para a necessidade que têm de (pelo menos) serem reconhecidos oficialmente. Pois, se tal acontecer, mais apoios poderão chegar pela via privada, nomeadamente da concessionária do Jogo Galaxy, que está na disposição de avançar com um donativo superior a trezentas mil patacas, o que seria suficiente para fazer face às necessidades mais urgentes.
Desenvolvem a sua actividade lúdica há cerca de três anos e trabalham, gratuitamente, com crianças e com adultos, mediante um pequeno pagamento simbólico, que ajuda a suportar algumas das despesas correntes inerentes à gestão de uma organização ligada ao desporto. Quanto às instalações, apesar de terem já tentado, através da Capitania dos Portos, ter acesso a um barracão que não é utilizado há vários anos, continuam a depender da boa vontade de um empresário da restauração local que lhes disponibiliza dois locais onde armazenam os seus materiais e lhes deixa utilizar água canalizada e electricidade sem exigir nada em troca. Quanto à resposta da Capitania foi a de que não dariam autorização para utilizar algo que abandonaram há muitos anos e que apenas acumula lixo e bicharada!
Por esta altura já muitos leitores devem estar a perguntar de que organização se trata, Pois bem, refiro-me à única instituição que em Macau faz e promove activamente a vela desportiva. Apesar de haver uma associação de vela, – aparentemente, tanto quanto sei, pouco mais faz do que ter um barracão em Hác-Sá, cheio de motas de água e de barcos a motor para salvamentos, que os seguranças do recinto usam para pescar ilegalmente, – este grupo de pessoas tem dinamizado a saudável prática da vela, lutando contra todos os contratempos que lhes vão aparecendo, sempre com um sorriso nos lábios e com a resposta pronta de que para se praticar vela há que ter paixão e encarar a actividade como um divertimento.
A barreira mais recente, que impede a Galaxy em avançar com o chorudo donativo, que poderia resolver muitas das questões imediatas, é a falta de reconhecimento por parte do Instituto do Desporto. Pelo que entendi, «a bola» está agora no campo liderado por José Tavares. Apesar de não conhecer o «número dois» do ID, – tem fama de pessoa competente, atenta e sempre pronta a ajudar, além de um vastíssimo currículo profissional, que atesta o seu grande profissionalismo, – acredito que esteja para breve esse reconhecimento, visto que a Academia Jovem de Vela de Macau exerce um trabalho meritório, que merece ser apoiado por todos. Acredito que José Tavares e o seu colega do «leme», Alex Vong, irão dar «luz verde» em breve, visto que em Junho realiza-se o grande cartaz da academia: a regata internacional de Macau, que na sua primeira edição, realizada no ano passado, reuniu centenas de crianças provenientes de vários locais da região. A edição deste ano irá contar com equipas da África do Sul, das Filipinas, de Hong Kong, da China continental, da Malásia, da Austrália, etc. Um verdadeiro festival internacional que só poderá enaltecer o nome de Macau e contribuir para que a nossa juventude alargue os seus horizontes. Claro está que nunca colocando de lado o cariz desportivo e competitivo do evento.
Quem dúvidas tiver daquilo que escrevo, ou queria que os seus filhos e netos aprendam a velejar, basta deslocar-se a um sábado ou Domingo de manhã para junto do restaurante Miramar, – ao lado do hotel Westin, em Coloane, – para ver que em nada estou a exagerar. O entusiasmo das crianças é contagiante, o ambiente é muito saudável e, acima de tudo, é multicultural, o que em Macau apenas faz jus à terra e ao convívio de culturas que o território representa.
Eu próprio fui conhecer esta realidade a conselho de um amigo de Hong Kong. Depois de ler um artigo na revista náutica Fragrant Harbour, o seu director e meu amigo de longa data, David Robinson, aconselhou-me a conhecer o trabalho deste grupo de pessoas dedicadas. Fui – confesso – um pouco céptico, mas voltei convencido e rendido aos sorrisos e empenho dos mais novos.
Acredito que o Governo e outras entidades comecem a apoiar estas iniciativas, pois elas merecem todo o nosso apoio e carinho. Afinal, trata-se de desporto e do bem-estar dos nossos futuros líderes.