200 médicos… só se anunciam 22?
PARECE piada de Primeiro de Abril mas, infelizmente, não o é! Ao que parece, o sector da Saúde de Macau precisa, para o novo hospital a construir na Taipa, de 200 novos médicos!
Com a conhecida qualidade dos serviços que nos prestam actualmente, e com as dificuldades que têm enfrentado para recrutar profissionais capazes ao exterior, prevejo que iremos ter mais uma fornada de médicos vindos do interior da China, com toda a carga negativa que isso acarreta! Falta de qualidade, mau domínio de inglês e nenhum de português ou mesmo cantonense, arrogância e pouco profissionalismo.
A área da Saúde em Macau está mal e precisa de mudar radicalmente, na opinião de especialistas locais e do exterior.
Há já vários anos que não se consegue convencer clínicos de qualidade de Portugal para exercerem em Macau (tirando alguns casos esporádicos). As condições oferecidas não são atractivas, como eram anteriormente.
Com a necessidade de recrutar mais duas centenas de médicos e sem opções viáveis, temo sinceramente pela nossa saúde. Recrutar no continente não é solução que nos sirva, visto que a qualidade, tanto em termos técnicos como linguísticos, é muito má.
Sempre que me desloco aos Serviços de Urgência, a primeira pergunta que faço ao médico que me atende é sobre a sua origem! Quando me indicam um vindo do continente, educadamente, peço para me encontrarem algum médico que fale português, desculpando-me com o facto de não saber inglês! Muitas vezes a opção que me dão é o ter como intermediário uma enfermeira/intérprete, mas que recuso, insistindo na necessidade de ter um clínico que me atenda na minha língua. Afinal, o Português também é língua oficial de Macau. Esta insistência gera, regra geral, muito desconforto. No entanto, insisto em não mudar de posição, porque a Lei assim o diz. Depois de muita insistência a situação é resolvida.
Agora, perante a necessidade de virem mais 200 médicos, e com a conhecida dificuldade de «importar» clínicos de Portugal e o deficiente domínio da língua inglesa por parte dos profissionais de Saúde do continente, prevejo um futuro ainda mais negro para quem precisa de se dirigir aos hospitais locais.
Já por diversas vezes sugeri que, na impossibilidade de oferecerem melhores condições aos médicos a recrutar em Portugal, tentem outros mercados. Afinal, a língua portuguesa é falada noutros países. Ao que se sabe, pelo menos o Brasil tem excedente de médicos que poderiam, eventualmente, prestar serviço em Macau. E, na falta de falantes da língua portuguesa, seria caso de optar pelos de língua castelhana (Cuba poderia ser uma opção, visto que em Portugal os contratam também) ou de língua inglesa (com as Filipinas aqui tão perto e muitos profissionais de qualidade disponíveis).
A par dos 200 médicos para o novo hospital a surgir em 2014 no COTAI serão precisos, – de acordo com os números dos Serviços de Saúde, – cerca de quatro centenas de enfermeiros e outros profissionais especializados.
Perante a escassez, em Macau, de trabalhadores com esta formação, como irá o Governo solucionar o problema?
Pelo que me é dado a saber, de acordo com dados divulgados anteriormente, há no território cerca de quatro centenas de pessoas habilitadas a exercer funções nesta área, mas as suas qualificações não são reconhecidas localmente, devido a problemas meramente burocráticos. Possivelmente, a abordagem deste problema de forma sistemática e séria seria um primeiro passo para resolver a escassez que o sistema enfrenta. Solução esta que poderia, pelo menos, atenuar o grande problema que é contratar mão-de-obra de qualidade ao exterior.
Recruta-se em Portugal
Em Portugal foram já publicados, entretanto, anúncios com intenção de recrutar especialistas. Para esse efeito, de acordo com um aviso publicado pela Ordem dos Médicos do País, os candidatos precisam de ter cinco anos de experiência. Oferecem a «Médico Especialista»: remuneração mensal de 68,820 a 83,700 patacas (equivalente a cerca de 6.000–7.300 euros), dependendo das habilitações literárias e experiência profissional; 22 dias úteis de férias anuais; subsídio de Natal e de férias; bilhete de avião de classe económica de ida e regresso ao local de origem; alojamento. Entre o dia 17 e 22 deste mês estará em Portugal o «subdirector dos Serviços de Saúde, Chan Wai Sin, a fim de realizar entrevistas aos médicos especialistas que forem selecionados».
De acordo com os detalhes sobre as especialidades, há duas vagas para Anatomia Patológica, Cardiologia e Gastroenterologia e uma vaga para Anestesiologia, Neurologia, Patologia Clínica e Pediatria, Cirurgia Toráxica e Vascular, Obstetrícia/Ginecologia, Imagiologia, Oncologia, Psiquiatria e Urologia, Otorrinolaringologia e Ortopedia, Medicina Física e Reabilitação e Medicina Legal.
No total são 22 as vagas, muito aquém dos 200 necessários para todo o corpo clínico!
Sabendo o que se tem passado com alguns dos médicos recrutados mais recentemente, sinto-me na obrigação de deixar um pequeno aviso a quem se candidate. No que se refere a condições de alojamento, aconselho a que deixem tudo preto no branco e por escrito. Caso contrário, quando aqui chegarem, acabam enfiados num «buraco», porque, em Macau, «alojamento» pode ter diversas interpretações e todas elas muito distantes daquilo a que em Portugal chamam casa! Os critérios são «um pouco» diferentes dos de Portugal!
Entretanto, ficamos sem saber de onde virão os outros 178 médicos!