IMAGINEM que têm uma qualquer maleita e que precisam de ser vistos por um especialista. Agora imaginem também que vos dizem que só para finais de Setembro terão consulta de especialidade! Perante tal resposta, o que logo nos vem à mente é que até lá o paciente vai morrer!
Quase parece uma anedota! No entanto, esta é a realidade para muitas pessoas que usam os serviços do hospital do Governo. Relato apenas um caso em que fui interveniente directo.
Num fim-de-semana, decidi ir às urgências (optei pelo fim-de-semana porque não queria estar a faltar às minhas obrigações profissionais), para que me fosse receitado medicamento para um problema de artrite reumática que me afecta há muitos anos e que, nos últimos tempos, tem vindo a piorar (daí a razão de precisar de medicação).
Após a consulta, pedi ao médico que me fizesse a marcação de uma consulta de especialidade, para que fossem feitos exames mais concretos ao problema. Para minha surpresa, o clínico avisou-me logo que, no Centro Hospitalar Conde de São Januário só teria consulta para finais de Setembro, isto é, quatro meses depois! No entanto, teve o bom senso de me explicar que, caso eu concordasse, poderia ter uma consulta mais rápida no hospital privado (penso que ao abrigo de qualquer protocolo que o Governo tem com esta instituição). Tendo acedido à sua sugestão, aguardei que me informassem da data da consulta no Kiang Wu e o processo seguiu com toda a normalidade. Fui consultado naquele hospital privado quatro dias depois!
Perante isto, logo surge em mim a interrogação: porque tem o hospital do Governo de recorrer a serviços privados para dar resposta às necessidades dos seus utentes? Não seria mais sensato optar por reforçar o seu quadro de clínicos e aumentar as instalações, em vez de dar mais dinheiro ao sector privado? Fica mal aos olhos da opinião pública ver entregar milhões a uma instituição particular, sem que para tal haja uma explicação aceitável. E, – pior ainda! – esta instituição nem sequer satisfaz as obrigações no que diz respeito às línguas oficiais, pois dado que a língua portuguesa é inexistente, o recurso ao inglês é a solução, apesar deste ser quase impossível de perceber!
Ao ser, quase, «obrigado» pelo Governo a ir ao hospital privado, não terei o direito de escolher qual hospital privado quero? Se o serviço fosse prestado nas instalações do hospital governamental, não haveria lugar a escolha, mas se nos enviam para o sector privado, deveríamos ter, pelo menos, o direito de escolha do local onde queremos ser observados.
A imagem do hospital privado Kiang Wu não é das melhores, pois são conhecidos casos de tratamento discriminatório de utentes do mesmo. Sabendo-se disso, e não tendo o hospital público capacidade para dar resposta aos seus utentes, deveria permitir que estes pudessem escolher livremente onde querem ser tratados, em vez de os condicionar, logo à partida, e sem qualquer alternativa, o hospital que lhe propõem.
É certo que a escolha entre um serviço de baixa qualidade e um serviço tardio não se apresenta muito fácil de fazer. Mas essa é, no fundo, a escolha que nos é colocada. Caso optemos por outra solução, sai-nos do bolso, porque o Governo apenas subsidia as consultas no hospital da sua escolha.
Nota mais positiva
Para que não digam que ando sempre a criticar os serviços do hospital público, quero dizer que o atendimento nas urgências, nesta consulta que tive num sábado à tarde, foi rápido (pouco mais de uma hora entre o registo e o ser atendido) e o médico que me atendeu mostrou ser bastante competente. Apesar de não falar português, expressava-se correctamente em inglês, não tendo havido qualquer tipo de atrito ou dificuldade de comunicação durante a consulta.
Embora se notem ainda certas atitudes de indelicadeza por parte do pessoal que faz o atendimento e a triagem (pois parecem estar ali a fazer um favor aos pacientes, como se ali fôssemos por divertimento!), quero realçar que melhorou bastante, especialmente no que toca ao tempo de espera dos doentes. As condições do local de espera, porém (temperatura e circulação de ar), eram desajustadas, deixando muito a desejar e a mostrar bem que precisam urgentemente de ser revistas.
Devo dizer, e faço-o com grande satisfação, que fiquei bem impressionado com o tratamento que tive nesta experiência das urgências do hospital público.
Quase parece uma anedota! No entanto, esta é a realidade para muitas pessoas que usam os serviços do hospital do Governo. Relato apenas um caso em que fui interveniente directo.
Num fim-de-semana, decidi ir às urgências (optei pelo fim-de-semana porque não queria estar a faltar às minhas obrigações profissionais), para que me fosse receitado medicamento para um problema de artrite reumática que me afecta há muitos anos e que, nos últimos tempos, tem vindo a piorar (daí a razão de precisar de medicação).
Após a consulta, pedi ao médico que me fizesse a marcação de uma consulta de especialidade, para que fossem feitos exames mais concretos ao problema. Para minha surpresa, o clínico avisou-me logo que, no Centro Hospitalar Conde de São Januário só teria consulta para finais de Setembro, isto é, quatro meses depois! No entanto, teve o bom senso de me explicar que, caso eu concordasse, poderia ter uma consulta mais rápida no hospital privado (penso que ao abrigo de qualquer protocolo que o Governo tem com esta instituição). Tendo acedido à sua sugestão, aguardei que me informassem da data da consulta no Kiang Wu e o processo seguiu com toda a normalidade. Fui consultado naquele hospital privado quatro dias depois!
Perante isto, logo surge em mim a interrogação: porque tem o hospital do Governo de recorrer a serviços privados para dar resposta às necessidades dos seus utentes? Não seria mais sensato optar por reforçar o seu quadro de clínicos e aumentar as instalações, em vez de dar mais dinheiro ao sector privado? Fica mal aos olhos da opinião pública ver entregar milhões a uma instituição particular, sem que para tal haja uma explicação aceitável. E, – pior ainda! – esta instituição nem sequer satisfaz as obrigações no que diz respeito às línguas oficiais, pois dado que a língua portuguesa é inexistente, o recurso ao inglês é a solução, apesar deste ser quase impossível de perceber!
Ao ser, quase, «obrigado» pelo Governo a ir ao hospital privado, não terei o direito de escolher qual hospital privado quero? Se o serviço fosse prestado nas instalações do hospital governamental, não haveria lugar a escolha, mas se nos enviam para o sector privado, deveríamos ter, pelo menos, o direito de escolha do local onde queremos ser observados.
A imagem do hospital privado Kiang Wu não é das melhores, pois são conhecidos casos de tratamento discriminatório de utentes do mesmo. Sabendo-se disso, e não tendo o hospital público capacidade para dar resposta aos seus utentes, deveria permitir que estes pudessem escolher livremente onde querem ser tratados, em vez de os condicionar, logo à partida, e sem qualquer alternativa, o hospital que lhe propõem.
É certo que a escolha entre um serviço de baixa qualidade e um serviço tardio não se apresenta muito fácil de fazer. Mas essa é, no fundo, a escolha que nos é colocada. Caso optemos por outra solução, sai-nos do bolso, porque o Governo apenas subsidia as consultas no hospital da sua escolha.
Nota mais positiva
Para que não digam que ando sempre a criticar os serviços do hospital público, quero dizer que o atendimento nas urgências, nesta consulta que tive num sábado à tarde, foi rápido (pouco mais de uma hora entre o registo e o ser atendido) e o médico que me atendeu mostrou ser bastante competente. Apesar de não falar português, expressava-se correctamente em inglês, não tendo havido qualquer tipo de atrito ou dificuldade de comunicação durante a consulta.
Embora se notem ainda certas atitudes de indelicadeza por parte do pessoal que faz o atendimento e a triagem (pois parecem estar ali a fazer um favor aos pacientes, como se ali fôssemos por divertimento!), quero realçar que melhorou bastante, especialmente no que toca ao tempo de espera dos doentes. As condições do local de espera, porém (temperatura e circulação de ar), eram desajustadas, deixando muito a desejar e a mostrar bem que precisam urgentemente de ser revistas.
Devo dizer, e faço-o com grande satisfação, que fiquei bem impressionado com o tratamento que tive nesta experiência das urgências do hospital público.