Como blog estaremos aqui para escrever as nossas opiniões, observações e para que quem nos visite deixe também as suas. Tentaremos, dentro das possibilidades, manter este local actualizado com o que vai acontecendo à nossa volta em Macau e um pouco em todo o lado...

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Macau tem dois locais para iates?

EM Macau habituámo-nos a ouvir dos dirigentes do Governo as mais sérias barbaridades, sem que ninguém venha a público dizer que estão enganados e os chame à responsabilidade pelos erros cometidos.

Recentemente, foi a vez da Capitania dos Portos, pela voz da sua chefe máxima, Susana Wong, ao anunciar que está a ser planeado um processo para licença única dos barcos de lazer. Algo que, segundo as notícias vindas a público, baseadas num comunicado à imprensa apenas em Chinês (como já vem sendo hábito da Capitania dos Portos, infelizmente), foi decidido na última reunião da Assembleia Nacional Popular, em Pequim! Os barcos de Macau, Hong Kong e da província de Cantão vão passar a ter uma espécie de registo de navegação, único, que lhes permitirá entrar e sair dos portos da região sem grandes problemas.

Eu pergunto-me: com o registo do meu pequeno barco à vela, que problemas tenho eu para entrar em Hong Kong ou em Nansha (marina perto de Cantão)? Nunca tive qualquer tipo de problema com papéis, porque estão todos em ordem. Para Hong Kong, basta-nos apresentar o BIR de Macau e assinar o papel da emigração (aliás, se for apenas para passar a noite numa das baías, muitas das vezes as autoridades de Hong Kong nem se dão ao trabalho de fiscalizar). Caso haja entrada em Hong Kong, antes de sair, no prazo de 24 horas, temos de informar as autoridades portuárias locais. Na China, o processo é o mesmo, apenas com a agravante de incluir vistos.

Em Macau, não tenho conhecimento de nenhum barco de recreio vindo da China, mas de Hong Kong têm vindo vários, ao longo do ano (mas muito longe dos 100 que o comunicado informava!), e o processo é igualmente simples.

Não se entende, por isso, a razão de tanta euforia com um assunto que nada traz de novo.

Por outro lado, a directora falava na perspectiva de se aumentar a actividade no campo da náutica de recreio e da necessidade de haver mais pontões ou locais de atracagem: um problema velho em Macau, mas que apenas o Governo não vê forma de resolver. Já aqui se avançou com, pelo menos, duas opções: uma, que incluía a construção de raiz; e outra, que incluía a reconversão das estruturas existentes, ambas trazendo valor acrescentado a Macau e a toda a sua linha costeira na cara do território. Qualquer grande cidade mundial, que faça jus ao seu nome e história ligada ao mar, tem marinas à entrada. Olhem para Sidney, Nova Iorque ou Lisboa, para falar apenas de algumas!

Susana Wong dizia que havia dois locais para atracar os iates em Macau! Eu vivo em Macau desde 1997 e, desde essa altura, só sei da existência da Marina do Lamau para se atracar barcos. É verdade que existe o Porto Interior e o abrigo do Fai Chi Kei, mas as «máfias» dos pescadores nem sequer deixam os desportistas náuticos sonhar em ali atracarem, quanto mais os barcos que nos visitam. Veja-se a reacção do «sindicato» dos pescadores na notícia do «Ponto Final» para logo nos darmos conta do que eles pensam. Nem sonhem sequer em usurpar os locais que a proeminente indústria pesqueira da RAEM usa!

A directora da Capitania, certamente, referia-se a Cheok Van, que outrora foi o Clube Náutico e que serviu para milhares de crianças aprenderem a velejar. Depois de ter sido entregue ao Governo, nunca mais abriu portas, apesar de haver, pelo menos, uma proposta de um grupo particular para o reactivar e o restituir à população. Segundo sei, a isto o Governo disse nem pensar, porque são eles que sabem o que ali se deve fazer! Há vários anos fechado com as instalações a apodrecer, ali há barcos sem serem usados na totalidade das suas capacidades.

Cheok Van está longe de se chamar um local de atracagem de barcos, visto ser uma doca seca e, como tal, só pode acolher barcos que possam ser retirados facilmente da água através de um guincho: equipamento que, da última vez que foi usado antes do tufão Agupit, quase danificou um barco por se ter partido um cabo e porque quem o operava não sabia o que fazer!

Da Capitania já nada me impressiona, nem mesmo que não saibam o mínimo da sua faina. Tenho pena porque ali trabalham pessoas com imenso valor e com muitas provas dadas, especialmente técnicos que vieram da Administração Portuguesa e que muito têm para dar a Macau e a quem gosta de coisas ligadas à água.

Quando pessoas novas ligadas à Capitania não sabem distinguir entre bombordo e estibordo, algo de muito errado se passa no reino da «marinha».

segunda-feira, 16 de abril de 2012

As criancices de Macau

RECENTEMENTE, ao ler um artigo publicado por uma advogada brasileira, fiquei com a impressão de ver aí retratada a sociedade de Macau. Quando me dediquei a digerir o que tinha acabado de ler, lembrei-me de afirmações de Carlos Morais José, feitas recentemente, acerca da infantilização da sociedade e dos benefícios que isso traz para as camadas governantes. Em Macau é conveniente ter-se uma sociedade infantil, pois assim ela pode ser manipulada e moldada de forma a que aceite tudo o que o Governo decida.

A verdade é que, quanto mais os membros da sociedade se comportam como crianças, mais fácil se torna para o Governo controlá-los e influenciá-los. E, em Macau, esses comportamentos são cada vez mais visíveis, sejam eles nos «Hello Kitty’s» ou nos carros cheios de bonecos e outras decorações dignas de um quarto de criança, seja nos comportamentos que se vêem à mesa dos restaurantes, ou nos tópicos de conversas entre pessoas adultas à mesa do café. Ou, em casos mais severos, na falta de capacidade para conjecturarem sobre o futuro e sobre o que querem para as suas vidas.

Este fenómeno não é recente e o seu estudo já se arrasta desde o século XVII, quando o filósofo alemão, Immanuel Kant, o abordou dizendo que «a menoridade é a incapacidade de fazer uso do seu entendimento sem a direcção de outro indivíduo. O homem é o próprio culpado dessa menoridade se a sua causa não estiver na ausência de decisão e coragem de se servir de si mesmo sem a direcção de outrem».

Passados três séculos, é incrível como estas palavras continuam muito actuais e visíveis em Macau, assim como em toda a Ásia. Na Europa, aparentemente, tal se faz sentir noutros moldes.

No mesmo texto de autoria brasileira lia-se que «a infantilização do adulto, ou seja, o processo tendente a infantilizar e manter a pessoa infantil, sem capacidade de raciocínio claro, sem opinião própria decorrente do seu próprio entendimento, interessa aos Governos que pretendem induzir as pessoas a acreditarem no que eles querem que acreditem, mesmo sem lógica e sem coerência. Isso começa pelos discursos, pela demagogia e pela publicidade muitas vezes hipnótica, sempre rebaixando a mentalidade, como se fôssemos todos destituídos de raciocínio e de capacidade de entendimento».

Aqui em Macau juntam-lhe cheques e outros doces, como quem dá um saco de rebuçados a uma criança, para que ela deixe de choramingar. Lembram-se de alguém tentar convencer os funcionários públicos de que os aumentos não teriam retroactivos, porque o orçamento não teria capacidade de os cobrir? Como? Então o Governo nunca consegue gastar o orçamento anual e seriam agora uns meros retroactivos que nos iriam levar à bancarrota?

Durante a leitura vinham-me à cabeça os pandas e todo o carnaval feito à sua volta: os pandas que até falam como pessoas! E as publicidades infantis que nos ensinam como lavar as mãos e como escolher o que comprar e os diálogos infantis que se lêem e ouvem na Comunicação Social local.

Basta olhar para a publicidade que nos é impingida na televisão local (e na de Hong Kong no que diz respeito a publicidade institucional, porque a de empresas privadas, nomeadamente de cariz ocidental, até tem qualidade), em que somos todos tratados como crianças sem inteligência, para as quais se tem de recorrer ao uso de bonecos animados e discursos infantis, para fazer passar a mensagem.

Este processo, como dizem os estudiosos, é vantajoso para Governos que querem manietar a sociedade, de forma que esta seja dócil e fácil de convencer. No entanto, a longo termo, os riscos são muito elevados, visto que essa geração se tornará completamente inútil no que diz respeito a liderança.

Em Macau, daqui a dez ou vinte anos, os jovens, que agora são bombardeados com mensagens infantis e que entram na sua fase de jovens adultos a comportarem-se como se tivessem dez anos, não irão estar minimamente preparados para tomar as rédeas do poder e de liderança deste território.

Segundo Kant, a única saída para este ciclo vicioso é a «transformação do espírito», isto é, a mudança de mentalidade e o acordar da população, rejeitando tudo o que o Governo e as autoridades lhes tentam impingir. Só assim poderão «emergir da menoridade e empreender uma marcha segura», tendo como resultado final adultos seguros de si e com ideias próprias e construtivas.

Um adulto infantilizado perde a sua liberdade e, com ela, a vida que poderia viver com «maturidade, gratificação, aperfeiçoamento de si mesmo, prejudicando assim suas relações afectivas, sociais, profissionais».

A sociedade de Macau caminha perigosamente para a infantilização, e ninguém parece estar preocupado com isso. No entanto, basta-nos olhar para o outro lado da fronteira. Na China, com todos os problemas que se lhe podem apontar, sendo um país comunista onde faltam grande parte das liberdades, nota-se que a sociedade não «necessita de protecção a esse ponto». Basta ver que as publicidades e os discursos dos seus líderes são muito mais sérios e, gostando-se ou não da ideologia, cheios de significado.

Aliás, barreiras ideológicas à parte, os jovens do outro lado da fronteira que vêm trabalhar para Macau estão muito melhor preparados dos que os locais. Falam mais línguas, têm mais conhecimentos e, acima de tudo, têm personalidade e sabem o que querem, sem medo de tomarem decisões.

NaE's kitchen A Cozinha da NaE

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