A NOSSA terra parece, aos olhos de quem a olha de fora, que não se preocupa com a herança cultural. Isto foi-me já dito vezes sem conta e pelas mais variadas pessoas. Quero acreditar, sinceramente, que não é verdade. Mas olhando para o que vamos vendo com o passar dos anos, cada vez me convenço mais que os de fora têm mais objectividade do que nós que aqui vivemos. No dia-a-dia parece que vamos atirando areia para os olhos e, pouco a pouco, vamos deixando que o património vá dando lugar à modernidade.
O evoluir dos tempos não é negativo. Pelo contrário, progressos tecnológicos e novas mentalidades criadas com o passar dos anos, são sempre bem-vindos. No entanto, quando isso começa a destruir aquilo que os nossos antepassados nos deixaram, algo estará errado, porque um povo que não respeita o seu passado nunca poderá ter um futuro risonho. A história conta-nos isso muitas vezes, pelo que todos temos a obrigação de fazer com que tal não aconteça.
Em Macau, com o passar dos anos, muito do património foi desaparecendo, sendo poucos os exemplos de locais que foram preservados, em detrimento do desenvolvimento económico. O exemplo mais recente é o dos edifícios militares da zona de Mong Há, que o Governo decidiu demolir, apesar dos protestos de indignação vindos de vários sectores da sociedade, com mais conhecimentos sobre o assunto que os próprios especialistas que decidiram pela sua demolição. Arquitectos, membros de associações de preservação do património e outros especialistas fizeram ouvir as suas vozes, mas de nada serviu.
Outro dos exemplos recentes é o da anunciada demolição do bairro comunitário no Fai Chi Kei, uma obra arquitectónica de estilo único no território, premiada internacionalmente e que os «especialistas» do Governo decidiram que tinha de ir abaixo para dar lugar a um novo empreendimento (de habitação social também). A decisão sobre este caso parece estar tomada e nada leva a crer que possa mudar. Eu diria, decisão «à Macau» e que ninguém se aventura a pretender alterar. Houvesse nesta terra um movimento cívico forte, como acontece em Hong Kong ou em muitos países europeus, e ver-se-ia se a decisão iria para a frente!
Está na calha mais uma dessas decisões. E isto, mesmo apesar do presidente do departamento que trata dos assuntos culturais desta terra ter dito que, por ele, a decisão seria alterada e os edifícios preservados. Afinal, quem manda?
Primeiro, Guilherme Ung Vai Meng veio a público dizer que, como homem da cultura e das artes, não concordava com a demolição das «casas dos funcionários públicos» junto da entrada da Fortaleza do Monte. Depois, deu o dito por não dito e já não se opõe a que tal aconteça, mas na condição de aquele projecto ser incluído no plano geral de revitalização da zona. Acontece que, e como é do conhecimento público, a decisão parece ter vindo a ser forjada desde 2003. Agora, após um grupo de membros da sociedade ter sugerido a construção de um parque de estacionamento na zona, o Governo anunciou a sua demolição. Um anúncio feito, – pelo que é público, – sem ter sido precedido de qualquer estudo. Apenas planeado para dar resposta ao requisito daqueles cidadãos. Quem são eles? Isso ninguém diz, mesmo que a população da zona diga que não quer ali nenhum parque de estacionamento. A resposta, ao que se sabe, deverá ser, contudo, do conhecimento de quem tomou a decisão! Pelo que se vê, este é mais um exemplo evidente onde o que está em causa é a lei do mais forte a levar sempre a melhor. É caso para perguntar: Até quando, em Macau, estará em vigor este tipo de decisões, que ignora a voz e o direito dos mais fracos?
Havia um problema que impedia a concretização do plano, isto é, o facto de o terreno ser privado! Isso foi resolvido em 2008, tendo as negociações com o Montepio sido concluídas com a troca de direitos de construção de um terreno na Rua de São Tiago da Barra (publicado no Boletim Oficial em Novembro de 2008).
Na verdade, aquilo que me preocupa é o facto de estar mais do que anunciada a construção de um parque de estacionamento naquele local! Destruir construções únicas em Macau, em zona histórica, para depois ali instalar um parque de estacionamento que só vai fazer com que mais veículos acedam à zona? Creio, do ponto de vista de cidadão, que isso só revela falta de bom senso.
Em qualquer cidade turística, com as mesmas características de Macau (Milão ou Coimbra, por exemplo) a norma é deixar os carros fora dos centros históricos e «obrigar» os turistas a andar a pé. Em Macau, apesar da sua pequenez e do traçado estreito das suas vias e das dificuldades do trânsito automóvel cada vez mais denso e caótico, tudo parece ser deixado ao capricho dos patrões das agências de viagens que, olhando apenas para os seus interesses, querem levar os turistas «ao colo» até ao interior dos monumentos!
Demolir os prédios para fazer escavações, até posso concordar; agora, depois destas terminadas, pretender ali fazer um estacionamento? Não, obrigado!
Afinal, para que foi feito o parque de estacionamento no Tap Seac (aliás, o maior parque de autocarros em Macau)? Proporcionem aos turistas o andar a pé, pois além de assim fazerem exercício, os autocarros deixarão de poluir o centro urbano e de congestionar o trânsito. E mais: até os comerciantes que têm estabelecimentos nas ruas entre o estacionamento e as zonas históricas agradecerão, ao ver os seus rendimentos aumentar com os turistas que vão passando à porta. Porque não pensar nisto a sério, no interesse da própria cidade e de todos os cidadãos?
Quando vou a qualquer cidade com centro histórico, se o quero visitar, tenho de andar a pé cerca de 30 minutos. Porque é que em Macau tem de ser diferente?
O evoluir dos tempos não é negativo. Pelo contrário, progressos tecnológicos e novas mentalidades criadas com o passar dos anos, são sempre bem-vindos. No entanto, quando isso começa a destruir aquilo que os nossos antepassados nos deixaram, algo estará errado, porque um povo que não respeita o seu passado nunca poderá ter um futuro risonho. A história conta-nos isso muitas vezes, pelo que todos temos a obrigação de fazer com que tal não aconteça.
Em Macau, com o passar dos anos, muito do património foi desaparecendo, sendo poucos os exemplos de locais que foram preservados, em detrimento do desenvolvimento económico. O exemplo mais recente é o dos edifícios militares da zona de Mong Há, que o Governo decidiu demolir, apesar dos protestos de indignação vindos de vários sectores da sociedade, com mais conhecimentos sobre o assunto que os próprios especialistas que decidiram pela sua demolição. Arquitectos, membros de associações de preservação do património e outros especialistas fizeram ouvir as suas vozes, mas de nada serviu.
Outro dos exemplos recentes é o da anunciada demolição do bairro comunitário no Fai Chi Kei, uma obra arquitectónica de estilo único no território, premiada internacionalmente e que os «especialistas» do Governo decidiram que tinha de ir abaixo para dar lugar a um novo empreendimento (de habitação social também). A decisão sobre este caso parece estar tomada e nada leva a crer que possa mudar. Eu diria, decisão «à Macau» e que ninguém se aventura a pretender alterar. Houvesse nesta terra um movimento cívico forte, como acontece em Hong Kong ou em muitos países europeus, e ver-se-ia se a decisão iria para a frente!
Está na calha mais uma dessas decisões. E isto, mesmo apesar do presidente do departamento que trata dos assuntos culturais desta terra ter dito que, por ele, a decisão seria alterada e os edifícios preservados. Afinal, quem manda?
Primeiro, Guilherme Ung Vai Meng veio a público dizer que, como homem da cultura e das artes, não concordava com a demolição das «casas dos funcionários públicos» junto da entrada da Fortaleza do Monte. Depois, deu o dito por não dito e já não se opõe a que tal aconteça, mas na condição de aquele projecto ser incluído no plano geral de revitalização da zona. Acontece que, e como é do conhecimento público, a decisão parece ter vindo a ser forjada desde 2003. Agora, após um grupo de membros da sociedade ter sugerido a construção de um parque de estacionamento na zona, o Governo anunciou a sua demolição. Um anúncio feito, – pelo que é público, – sem ter sido precedido de qualquer estudo. Apenas planeado para dar resposta ao requisito daqueles cidadãos. Quem são eles? Isso ninguém diz, mesmo que a população da zona diga que não quer ali nenhum parque de estacionamento. A resposta, ao que se sabe, deverá ser, contudo, do conhecimento de quem tomou a decisão! Pelo que se vê, este é mais um exemplo evidente onde o que está em causa é a lei do mais forte a levar sempre a melhor. É caso para perguntar: Até quando, em Macau, estará em vigor este tipo de decisões, que ignora a voz e o direito dos mais fracos?
Havia um problema que impedia a concretização do plano, isto é, o facto de o terreno ser privado! Isso foi resolvido em 2008, tendo as negociações com o Montepio sido concluídas com a troca de direitos de construção de um terreno na Rua de São Tiago da Barra (publicado no Boletim Oficial em Novembro de 2008).
Na verdade, aquilo que me preocupa é o facto de estar mais do que anunciada a construção de um parque de estacionamento naquele local! Destruir construções únicas em Macau, em zona histórica, para depois ali instalar um parque de estacionamento que só vai fazer com que mais veículos acedam à zona? Creio, do ponto de vista de cidadão, que isso só revela falta de bom senso.
Em qualquer cidade turística, com as mesmas características de Macau (Milão ou Coimbra, por exemplo) a norma é deixar os carros fora dos centros históricos e «obrigar» os turistas a andar a pé. Em Macau, apesar da sua pequenez e do traçado estreito das suas vias e das dificuldades do trânsito automóvel cada vez mais denso e caótico, tudo parece ser deixado ao capricho dos patrões das agências de viagens que, olhando apenas para os seus interesses, querem levar os turistas «ao colo» até ao interior dos monumentos!
Demolir os prédios para fazer escavações, até posso concordar; agora, depois destas terminadas, pretender ali fazer um estacionamento? Não, obrigado!
Afinal, para que foi feito o parque de estacionamento no Tap Seac (aliás, o maior parque de autocarros em Macau)? Proporcionem aos turistas o andar a pé, pois além de assim fazerem exercício, os autocarros deixarão de poluir o centro urbano e de congestionar o trânsito. E mais: até os comerciantes que têm estabelecimentos nas ruas entre o estacionamento e as zonas históricas agradecerão, ao ver os seus rendimentos aumentar com os turistas que vão passando à porta. Porque não pensar nisto a sério, no interesse da própria cidade e de todos os cidadãos?
Quando vou a qualquer cidade com centro histórico, se o quero visitar, tenho de andar a pé cerca de 30 minutos. Porque é que em Macau tem de ser diferente?