QUE tal chegarmos a um local para comer e apreciar a vista junto a um dos mais idílicos locais nas Caraíbas e nos dizerem, com um sorriso na cara, que somos o primeiro português a visitar o estabelecimento? Faz-nos sempre sentir especiais ser distinguidos com a honra de sermos os primeiros seja no que for. Deve ser dos nossos genes que vêm do tempo dos nossos antepassados das Descobertas. Especialmente quando se trata de um local onde milhares de turistas passam anualmente, um local que visitei não por ser um destino turístico, nem por ser recomendado no «TripAdvisor» (a bíblia de quem viaja por esse mundo fora). De salientar que também em Macau há muitos estabelecimentos recomendados por este mesmo sítio da Internet que classifica os locais através dos votos dos seus clientes, e não através de um qualquer painel de especialistas, dando-lhe, portanto, mais legitimidade e veracidade aos resultados.«Big Lee beach bar» foi destino sem qualquer razão aparente, pois nem sequer sabia da sua fama. Mas, logo à chegada, o «grande» Lee acolheu-me com um sorriso no rosto, perguntando-me de que país vinha. A parte de ser português entendeu muito bem e confessou logo que, tanto quanto se lembrava dos três anos de actividade, eu era o primeiro. Mesmo considerando estranho, porque muitos portugueses visitam o País de férias. Já a parte de ser proveniente de Macau foi algo mais complicado de explicar a este americano de Chicago, metendo a nu as debilidades da qualidade da promoção feita pelo Turismo de Macau no exterior. Comparações feitas com Hong Kong e Las Vegas, lá ficou a saber onde fica Macau e assegurou que, definitivamente, era também o primeiro oriundo de Macau! Portanto, algo orgulhosamente, posso afirmar que me senti um «descobridor» e assim levei o nome de Macau ao outro lado do Mundo, sem que o Turismo gastasse uma pataca. É triste verificar que o Turismo de Macau gaste milhões em promoções e, num país onde os casinos são também uma forte fonte de receitas e atraem milhões de turistas anualmente, ninguém tenha ideia de onde fica Macau, ou tenham alguma vez ouvido falar da «Las Vegas do Oriente». Nem mesmo pessoas ligadas ao sector dos jogos de fortuna e azar!... As Caraíbas são um mercado potencial, onde abundam jogadores ávidos de outras apostas mais exóticas, mas que é totalmente posto de parte pelas autoridades de Macau. A história repete-se nas Ilhas Virgens Britânicas, em Curaçao, em Trindade e Tobago, etc. «Macau, o que é isso e onde fica?», ouvi vezes sem conta. Provavelmente fiz mais para promover Macau em duas semanas, do que o Turismo e os seus milhões em campanhas direccionadas a quem, por natureza, já tem Macau como destino final. De que vale gastar milhões da RAEM a promover Macau em mercados como a China e Hong Kong, Tailândia e Malásia? Todos sabem o que é Macau e aqui vêm com intenção de jogar. O que é preciso para estes mercados tradicionais são operações de charme para cativar e manter clientes. Em locais como as Caraíbas, onde o jogo também atrai milhões e ninguém cospe ou defeca no chão, são precisas campanhas para tentar convencer alguns dos muitos apostadores a viajar até à Ásia. Começando, claro, por promover o que é Macau: onde fica e o que pode oferecer. Essa divulgação não se faz com delegações e festinhas. Há que usar métodos mais subtis para ir chamando a atenção, como campanhas em aviões, em veleiros e em barcos de cruzeiro, como vi o Turismo das Filipinas fazer, ou o de Singapura, que tinham publicidade em vários veleiros a navegar por aquelas águas. Tive oportunidade de conhecer um casal de Singapura que decidiu fazer uma pausa de dois anos na sua vida profissional para navegar pelas Caraíbas e que era apoiado, quase na totalidade das suas despesas, pelo Governo da cidade-Estado, algo que Macau poderia fazer mas não tem visão para tal. Sendo o Mar das Caraíbas o paraíso da vela e o local de eleição de todos os apaixonados por este modo de vida, tem como suporte publicitário de excelência os veleiros e as suas tripulações. Ninguém fica indiferente a um veleiro quando entra num porto ou quando passa com as velas cheias de vento. Ou mesmo quando vêem as tripulações a passar com os uniformes, ostentando logótipos de certas marcas. Um método simples e eficiente! Quem está por dentro do mercado da publicidade sabe que nos Estados Unidos a publicidade em veleiros movimenta milhões e gera resultados mais eficientes do que os média tradicionais. Infelizmente, Macau e o organismo responsável pela sua promoção nem tem qualquer visão neste sentido. Mesmo tendo sido contactados por diversas vezes, continuam a ignorar algo que é cristalino como a água. O leitor sabe-me explicar como se pode recusar apoios a projectos para levar o nome de Macau aos quatro cantos do mundo, quando – ainda por cima – apenas se pede apoio institucional para levar o nome desta terra? Eu não consigo perceber tanta falta de visão e de vontade! |
sexta-feira, 1 de março de 2013
Macau, o que é isso?
segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013
Vão acabar as gaiolas?
FAZ já vários anos que diversas forças vivas de Macau tentam «convencer» o Governo para a necessidade de haver legislação relativa às obras ilegais e às inspecções obrigatórias dos prédios habitacionais. Agora, segundo consta no novo «Regime Geral da Construção Urbana», que se encontra em fase final legislativa, as inspecções vão ser obrigatórias, pelo que a Associação dos Arquitectos apela para que, de uma vez por todas, se aplique a Lei.
Como sabemos, o problema de Macau não é não existirem leis. Elas existem e o enredo legislativo do território até é, de certa forma, bastante completo. O problema, na realidade, é que ninguém quer saber das leis e quem devia fiscalizar não as sabe ou assobia para o lado, passando maior parte dos atropelos sem serem sancionados como deve ser. Apenas, de quando a quando, lá temos conhecimento de uma ou outra obra ilegal que veio abaixo e aparecem os seus responsáveis nas capas dos jornais.
Não é só nas obras e construções! É em tudo. Olhe-se para a Polícia e vejamos quantas vezes vimos um agente a fazer o trabalho como deve ser? Salvo raras excepções, o que salta à vista é a falta de profissionalismo e uma atitude de deixa andar. Um pouco à semelhança do famoso dito «mo man tai»! Quantas vezes vi agentes da autoridade a passarem, a pé ou motorizados, por flagrantes incumprimentos da Lei sem nada fazerem. Mas o mesmo se pode aplicar ao cidadão comum que tem obrigação denunciar também o que vê de errado. Por exemplo, quantos de nós já chamámos alguém à razão no autocarro quando não se levanta para dar o lugar a um idoso ou a uma grávida?
Fico algo apreensivo agora com esta nova lei que vai, dizem, acabar com as construções ilegais e obrigar que prédios antigos sejam, forçosamente, inspeccionados para se assegurar que são seguros e que tudo está dentro da normalidade. Pessoalmente já ando a fazer queixas de construções ilegais no meu prédio e nos das imediações desde que cheguei a Macau e... nada aconteceu! Agora, com tanto empenho, se não me cuido até o meu apartamento vai de atacado mesmo depois de, por iniciativa própria, ter tirado todos os apêndices ilegais (gaiolas na sua maioria). A ver vamos quando essa febre de fiscalização chegar.
Não sei quem irá ficar com tal ventura, mas desconfio que devem ser as Obras Públicas. Se assim for, temo que nada mude porque a equipa de Jaime Carion já não dá para as encomendas com todos os trabalhos que tem de fazer. E, como se costuma dizer, sem ovos não se fazem omeletas. Portanto, se até agora não conseguiram fazer mais com os efectivos que têm, e que parece já não dão conta do recado, se vêem as competências alargadas, pouco mais poderão fazer. Jaime Carion, apesar dos poucos recursos à disposição, tem feito um trabalho notório e que merece ser realçado por todos nós. Falta de determinação não lhe podemos apontar, assim como não se lhe pode dizer que não mostra dedicação.
Como em tudo em Macau, vamos esperar para ver se a montanha não pare um rato! Desconfio que será um pouco à semelhança da legislação anti-tabaco que nos primeiros dias deu azo a uma corrida às inspecções com direito a cobertura noticiosa em directo! Algo que também contribuiu para muitos abusos e fez com que uma legislação que tinha tudo para ser bem acolhida, acabou por causar mau estar e muita incompreensão por parte de todos. Aliás, a autoridade responsável pela sua aplicação é muitas vezes acusada de querer fazer mais do que o estipulado na mesma lei. Portanto, no que diz respeito à lei que vai regular as inspecções obrigatórias, espero que não se caia no mesmo erro. Se for bem elaborada e melhor aplicada, poderemos estar perante uma oportunidade de luxo para o território meter de lado alguns dos cancros que nos afectam em termos urbanísticos. Para, de uma vez por todas, lavar a cara dos horríveis prédios do território que ostentam feios gradeamentos de ferro nas janelas e varandas. Mas, acima de tudo, uma oportunidade para obrigar os proprietários, como eu e o leitor, a manter os prédios em boas condições.
Falo por mim, por diversas vezes tentei congregar as vontades no prédio onde vivo para procedermos à sua manutenção, mas sempre me deparei com a falta de interesse da maior parte dos proprietários. Quando recorri ao apoio do Governo, neste caso do Instituto de Habitação, tudo fizeram mas em nada resultou porque não podem obrigar, baseados na lei vigente, os proprietários a manter em boas condições os seus prédios.
Espero que este novo articulado venha trazer melhores mecanismos e formas mais fáceis de obrigar todos os prédios, novos e velhos, a terem associações de condóminos, seguranças e portas fechadas, assim como estruturas seguras e bem mantidas para a segurança de todos.