Quem discorda dos números oficiais interroga-se: de que vale a situação melhorar no cômputo geral, se à minha porta as coisas ficam pior a cada dia que passa?
Não ponho em questão que, na globalidade, a ocorrência de crimes tenha mesmo registado um decréscimo; no entanto, para quem vive em certas zonas da cidade que tradicionalmente não eram de risco, a situação tem vindo a agravar-se, sem que nada seja feito para a inverter.
Onde vivo e circulo assiduamente (imaginem um perímetro em redor da Fortaleza do Monte, englobando o Largo do Senado) as ocorrências têm sido cada vez mais frequentes. Se é fácil perceber que na área entre o Largo do Senado e as Ruínas de São Paulo possa registar-se um aumento, devido ao grande número de turistas e à aglomeração de pessoas, o que facilita a actuação de carteiristas e outro tipo de criminosos, o mesmo já não se percebe que se venham a registar crimes por esticão e mesmo ofensas corporais graves em locais onde raramente se aglomeram pessoas.
Só nos últimos dias, na escadaria junto da Fortaleza do Monte, na Calçada das Verdades, foram detectados dois crimes, um por esticão a uma estudante do colégio das imediações, em plena luz do dia, e outro a uma residente de um dos prédios na dita calçada, quando esta regressava a casa por volta das duas da manhã, depois de ter terminado o seu trabalho num dos casinos. Em ambos os casos não se registou a presença policial para resolver o problema. Estes são casos de que tenho conhecimento e que são recentes. Creio, porém, não serem os únicos.
De nada vale as pessoas gritarem por ajuda, já que a polícia nunca se vê por ali. Toda aquela zona não é policiada, nem sequer tem sistema de vigilância vídeo. Que eu saiba, apenas existem caixas de registo de passagem dos agentes policiais no final do Caminho dos Artilheiros, a meio da Calçada do Monte, e uma outra junto da Travessa do Penedo. A verdade, porém, é que a existência destas caixas onde os agentes de autoridade têm de ir assinar o livro de presença ou inserir o cartão electrónico, de pouco vale, porque muitas das vezes se dirigem de carro ou motorizada, deixando o local logo após terem registado a sua passagem. Este tipo de vigilância não serve, de forma alguma, para diminuir a incidência deste tipo de criminalidade, nem tão pouco para dar segurança à população que diariamente ali tem de passar.
Ainda não há muito tempo, um criminoso foi detido, depois de ter furtado um saco a uma rapariga na mesma zona. O indivíduo foi interceptado, não pela polícia, mas sim por um residente português, que acudiu aos gritos de ajuda da vítima e que acabou, depois de uma perseguição quase até à Rua de São Domingos, por atirar ao chão o criminoso, fazendo com que devolvesse os bens furtados.
Embora seja de louvar a intervenção da pessoa, não é este tipo de justiça que se quer para Macau. O território costumava ser um local seguro e isso mesmo era motivo de orgulho para quem aqui vive. Ora, se as autoridades não fizerem o seu trabalho de casa, suspeito que não teremos muitos motivos para nos voltarmos a orgulhar de andar na rua, a qualquer hora e em qualquer local que seja, sem termos de nos preocupar se iremos ser assaltados ou importunados pela pessoa que segue atrás de nós.
A indiferença dos novos agentes é alarmante. Já por diversas vezes chamei à atenção para alguns que encontro na rua, alertando para situações irregulares que eles têm obrigação de tomar em conta e fazem como se nada fosse, continuando o seu caminho e dizendo que não é da sua competência.
Admito que a Polícia não tenha efectivos suficientes para colocar um agente em cada esquina, mas pode muito bem fazer circular a pé aqueles que tem ao seu serviço, em vez de andarem de carro ou motorizada. Patrulhas a pé são mais efectivas e levam as pessoas sentirem-se mais seguras. E nessas patrulhas, que devem cobrir todo o território ou pelo menos os locais que são consideradas mais isolados, especialmente à noite, e sem esquecer também o período diurno, os agentes devem, tanto quanto possível, entrar em conversa com os residentes.
Importa ter em conta o policiamento de proximidade, aproveitando para perguntar se algo de errado se tem passado, para se aperceberem das ansiedades de quem vive na zona e saber que aspectos devem ser mais vigiados. Este tipo de policiamento é bastante efectivo e serve, sem dúvida alguma, para dissuadir os malfeitores de actuarem nessa área.
Será pedir muito ver os nossos polícias na rua e a falar com os moradores das zonas que patrulham? E quando digo falar, refiro-me a comunicarem, não a dar ordens como costumam fazer com toda a arrogância que a farda parece dar a muitos deles. Os agentes da polícia devem ser, antes de autoridade, fonte geradora de segurança e de bem-estar na sociedade.
Felizmente, alguns ainda o são.