Como blog estaremos aqui para escrever as nossas opiniões, observações e para que quem nos visite deixe também as suas. Tentaremos, dentro das possibilidades, manter este local actualizado com o que vai acontecendo à nossa volta em Macau e um pouco em todo o lado...

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Cuspo para o chão ou furo a fila

O COMPORTAMENTO das pessoas em Macau foi algo que sempre me fascinou, e por muito que me esforce, cada vez o percebo menos. É frequente dizer, ou ouvir dizer, que são os de fora que vêm para aqui fazer as coisas que nos desagradam. No entanto, penso que não será assim tão linear…
Temos por hábito dizer que as pessoas de Macau são bem comportadas e que os maus exemplos são praticados por quem nos visita. Eu assim gostaria de acreditar, mas o que vemos no dia-a-dia deixa poucas hipóteses para desculpar certos actos menos dignificantes.
Todos sabemos que grande parte da população do território é proveniente de outros locais, nomeadamente da China continental. De acordo com dados «oficiais» muitos dos residentes, especialmente da zona norte, vivem em Macau há menos de vinte anos, ou seja, há menos de uma geração. E desde 2000 o número de pessoas com autorização de residência cresceu em flecha, fazendo com que a percentagem do número de nascidos no território seja cada vez menor.
As conversas de café sobre formas de comportamento, diferenças culturais e afins, alongam-se sem nunca chegarem a consensos satisfatórios. Quando enveredo por este tipo de discussão filosófica, particularmente com amigos de etnia chinesa, acabamos sempre por chegar a uma espécie de consenso onde atiramos as culpas para quem vem de fora e aqui chegou há menos tempo. Existem dois grupos visados nesse sacudir de água do capote, o dos imigrantes vindos do interior da China e dos outros países asiáticos, e o dos turistas que entram e saem todos os dias.

A culpa morre solteira

Mas se olharmos com atenção, nem tudo é assim tão linear: quando vamos a uma repartição pública, por exemplo à sede dos Correios de Macau, que fica ali mesmo no centro, vemos os utentes alinhados em filas ordenadas, pacientemente esperando pela sua vez sem tentarem passar à frente de quem quer que seja. Acredito que os utentes dos Correios sejam locais e não visitantes. A maioria dos utentes, que mais não seja pela especificidade do serviço, devem ser mesmo residentes permanentes.
Depois de vermos as pessoas muito ordenadas nos Correios (ou em qualquer outra repartição pública) deparamos com as mesmas pessoas na paragem do autocarro a empurrarem-se e a passarem à frente de tudo e de todos para entrarem dentro do transporte público. Este comportamento que muitas vezes gostamos de apontar como sendo praticado essencialmente por chineses vindos do continente é deplorável.
Não quero estar aqui a defender os que chegaram há mais ou menos tempo a Macau. A verdade é que a falta de educação não escolhe proveniência. Por experiencia própria posso afirmar que já vi nascidos em Macau a praticar os maiores actos de falta de civismo e já vi pessoas que se mudaram há bem pouco tempo para Macau, vindos do interior da China ou de outro país asiático (com níveis e desenvolvimento mais baixos do que os de Macau) a darem exemplos de civismo e de bom comportamento social.
Já o meu avô dizia, a educação, assim como o conhecimento, não ocupa lugar e fica bem a todo a gente. É tudo uma questão de educação. E, como se sabe, a educação não vem com rótulos mas pode ser ensinada, se bem divulgada. Se houver campanhas sérias e compreensão, mas também fiscalização a sério, as pessoas acabam por «aprender».
O que não vale a pena é andar a gastar milhões na promoção de leis e a ditar «bitaites» de educação cívica, se a fiscalização não for eficiente. Existem Leis e Regulamentos em Macau que são mais do que suficientes para «educar» a população residente e não residente. O que faz falta é que sejam aplicados com seriedade – quando digo seriedade, digo rigidez de forma contínua. Quem é apanhado a prevaricar deve ser punido e assunto arrumado. Isto, claro, daria para muita discussão e, como tudo, nunca poderá ser tão linear.
A complexidade do problema é enorme e de difícil solução, mas se começarem, a sério, pelas escolas, pode ser que daqui a dez ou vinte anos tenhamos uma geração mais educada.
Para quem vem de fora apliquem os diplomas em vigor e não os deixem ir embora sem regularizar a situação.

NaE's kitchen A Cozinha da NaE

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