Cheoc Van ao abandono
RECENTEMENTE tive conhecimento que um grupo empresarial, com muita tradição no mercado da náutica de lazer, com sede em Hong Kong, mas cujo proprietário é de Macau e de uma das famílias mais proeminentes do território, tinha avançado com uma proposta para dinamizar uma estrutura que, em tempos, foi de referência junto das gentes locais. Infelizmente a resposta foi um redondo não, por parte de quem agora tem a responsabilidade de gerir essa instalação desportiva e de recreação.
Tratava-se das instalações do Clube Náutico de Cheoc Van, que agora estão sob a alçada do Instituto do Desporto e que, pelo que tenho visto, passam mais tempo fechadas do que abertas. E, das vezes que vemos alguma actividade, em nada se compara com o que se fazia antes de 20 de Dezembro de 1999.
Muitos de nós ainda se lembram das tardes passadas no Clube Náutico e dos milhares de crianças, e mesmo mais velhos, que ali aprenderam a fazer vela nos «optimist» e «laser» (que agora apodrecem debaixo de uns toldos) e dos momentos de verdadeira descontracção que se viviam nos fins de tarde na esplanada do clube a ver o pôr-do-sol. Um dos locais mais aprazíveis do território e que, devido à falta de visão do Governo, está ao abandono e completamente desaproveitado.
A proposta informal que foi feita incluía a completa recuperação da estrutura e a compra de todo o material necessário (novos barcos para ensino e material de apoio), instrutores profissionais e a promessa de trazer a Macau os mais variados eventos que se adaptassem à finalidade do local (pequenas regatas, encontros de jovens desportistas, etc). A pessoa responsável pela ideia queria apenas que o deixassem gerir o espaço de forma a dinamizá-lo, para voltar a ver crianças e jovens a velejar, como ele chegou a fazer quando era mais novo. Não tinha em mente qualquer tipo de negócio ou tirar proveito financeiro da iniciativa. Tratava-se de uma iniciativa filantrópica, tendo apenas como objectivo dinamizar o sector do desporto náutico. Sendo essa pessoa um empresário de sucesso nessa área, com a sua empresa principal representada em Hong Kong, Tailândia, Malásia, Singapura, Filipinas e na Europa, considerava retribuir à sua terra natal no que melhor sabe fazer e que vê como uma das maiores lacunas: desporto náutico para crianças e um local saudável onde os residentes possam descontrair-se, sem ter de pensar em gastar muito dinheiro. Dos responsáveis pelo desporto de Macau levou uma nega, sem qualquer outra justificação.
O Instituto do Desporto ficou com as instalações do Clube Náutico de Cheoc Van, depois de criticar a forma como o mesmo (que ainda gere a Doca do Lam Mau) estava a dinamizar aquele espaço. Pelo que é do conhecimento público, a decisão baseou-se no facto do antigo responsável não estar a organizar actividades e a não gerir o local convenientemente. Ora, depois do ID ter «pegado» no dito clube, nada melhorou, pelo que tenho presenciado.
Portanto, o que mudou na mentalidade do Governo e por que se recusam a que outros tentem dinamizar o local, quando manifestamente se vê que não existe capacidade para o fazer?
Neste momento, as instalações náuticas de Cheoc Van não organizam qualquer tipo de actividade e quem ali ainda tem as embarcações (até 20 pés de comprimento e que possam ser retiradas da água) vê-se e deseja-se para as conseguir utilizar, porque desde a passagem do famigerado tufão Hagupit (que tanta destruição espalhou pela ilha de Coloane) os serviços normais de lançar e retirar embarcações nunca mais foi retomado. Os serviços estão reduzidos ao mínimo de um segurança. Aliás, já houve roubos de material de algumas das embarcações mantidas em doca seca. E quem tinha embarcações e teve oportunidade de as mudar para o Lam Mau, não hesitou.
Quanto às outras actividades, que estiveram na génese da criação do clube naquele local durante a Administração Portuguesa, o ensino de vela e náutica de recreação estão completamente paradas, há mais de uma década! Existem para tal (também a funcionar muito mal, diga-se!) instalações na praia de Hac Sá.
Quanto ao edifício de apoio do clube (o denominado «clubhouse»), o prédio situado na encosta vizinha à doca seca continua fechado e à mercê das intempéries e do salitre do mar. Até dá pena olhar para as instalações, quando descemos a estrada de acesso à praia.
Era isto que o empresário queria dinamizar, oferecendo tudo o que fosse necessário. Não impunha qualquer condição, tendo perguntado apenas quanto teria de pagar de renda pela utilização do local e quais seriam as condições do Governo.
Não se percebe esta intransigência do Executivo, que não faz nem deixa fazer quem quer e tem capacidade. Se fosse uma pessoa sem experiência, ainda se percebia. Mas tratando-se de alguém ligado ao sector há décadas em Hong Kong...
Entristece-me ver este tipo de situações. Primeiro, por ver que há pessoas interessadas em o fazer gratuitamente; segundo, por ver que o Governo continua a insistir em fazer tudo e mais alguma coisa, acabando por não fazer nada.
Sempre ouvi, desde pequenino: «cada macaco no seu galho».
O Instituto do Desporto tem competências para coordenar superiormente as actividades desportivas, mas a gerência das instalações deste tipo, tipicamente de cariz clubístico amador e recreativo, devem ficar a cargo das pessoas que realmente se dedicam à actividade, de alma e coração. Gerir um clube de vela (ou náutico) sem saber nada do sector, é meio caminho andado para nada ser feito!