SINCERAMENTE nunca pensei em dizer isto, mas estou feliz pela decisão que tomámos em família relativamente à nossa vida futura. Além de decidirmos ir realizar um meu sonho antigo e dar uma experiência de vida à nossa filha, iremos deixar para trás, momentaneamente, um local onde, de dia para dia, nos fazem sentir menos bem-vindos. Nunca esperei pensar isto desta terra, mas as condições de vida actuais, com a falta de qualidade de vida latente, fazem-nos sentir que esta não é a terra ideal para fazer crescer uma criança ou uma família. Insegurança, falta de espaço, custo de vida cada vez mais elevado, animosidade e falta de respeito pelas leis e pelo nosso semelhante são condimentos que para nós, como família, não fazem uma boa «caldeirada»! É, para que conste, um problema da sociedade feita de quem nos visita e não da terra em si, essa continua linda, apesar de tudo. Macau passou, nos últimos anos, de um local aprazível e onde apetecia viver, para uma cidade descaracterizada, inóspita e sem qualquer carácter em termos sociais. Uma cidade que vive para satisfazer os caprichos de quem vem de fora e não para preencher as necessidade dos seus residentes. Há uma dezena de anos que várias vozes vêm alertando para o facto de Macau estar a perder as suas características e a tornar-se numa cidade sem alma e sem qualquer tipo de referências. Os últimos anúncios oficiais que apontam para um ainda maior crescimento do número de visitantes e de novos residentes indicam que o futuro irá ser ainda pior do que o que presente que vivemos. A cidade foi projectada para, no máximo, albergar meio milhão de pessoas. Neste momento estamos já longe desse limite e a tendência é para que o número continue a aumentar diariamente. Com estruturas que não estão preparadas para fazer face a este tipo de pressão, quem acaba por sofrer é o cidadão com a perca de qualidade de vida e a falta de espaço. Quem nos visita apenas nota que vivemos todos apertadinhos, que o serviço é mau e que estamos cada vez mais antipáticos para com os visitantes. Mas, compreensivelmente, não notam que são eles a causa desses problemas. Não individualmente, mas sim no todo dos visitantes que nos inundam as ruas, lojas, restaurantes e tudo quanto é jardim e até prédios residenciais que acabam transformados em albergarias ilegais para fazer face à falta de hotéis de baixo custo. No entanto, a culpa não é mesmo do turista, mas sim de quem os autoriza a vir e de quem os cativa de todas as formas para virem a Macau deixar o seu dinheiro. Sem dúvida que a perda de qualidade de vida trouxe uma pujança económica nunca vista, mas será que vale a pena? Será que se pararmos para pesar os prós e contras realmente seja isto que queremos para os nossos filhos e netos? Sinceramente, como simples cidadão, não é isto que quero para as nossas gerações vindouras. Quero que tenham uma terra onde possam sair à rua sem terem receio de serem assaltados ou assediados. Que possam ir ao jardim e correr e gritar e brincar com as outras crianças sem que os pais estejam constantemente alerta por causa de doenças, pandemias e possíveis raptos. Os nossos líderes pouco se devem importar com isso, pois os seus filhos vivem e estudam fora da China. Poucos se devem lembrar porque a nossa memória é curta mas, no inicio do século, houve quem dissesse que Macau em 20 anos deveria ter cerca de um milhão de habitantes! Se era o plano inicial ou não pouco interessa. O que interessa é que se hoje em dia com cerca de seiscentos mil habitantes já não temos qualquer tipo e qualidade de vida, imaginemos com mais quatro centenas de milhar de almas neste espaço exíguo. A falta de espaço em Macau sempre foi um problema mas, mesmo assim, durante a Administração Portuguesa houve coragem para meter na letra da Lei que Coloane seria zona verde com a construção largamente restringida. Chega-se à RAEM e, passados treze anos, vejam o que se passa e, se querem saber o que aí vem, tentem-se informar dos planos para o futuro do «pulmão de Macau». Não será este o momento do Governo de Macau, ou mesmo de Pequim, meter a mão na consciência e tentar reverter a situação? É que se é para tornar Macau num subúrbio de Zhuhai, para quê andar com tantos paninhos quentes? Basta abrir a fronteira de uma vez por todas e deixar que todos entrem e se fixem. E, se for preciso mais espaço, podem sempre enviar os de Macau para a ilha da Montanha. |
Como blog estaremos aqui para escrever as nossas opiniões, observações e para que quem nos visite deixe também as suas. Tentaremos, dentro das possibilidades, manter este local actualizado com o que vai acontecendo à nossa volta em Macau e um pouco em todo o lado...
sexta-feira, 7 de junho de 2013
Macau, o que fizeram de ti?
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