Como blog estaremos aqui para escrever as nossas opiniões, observações e para que quem nos visite deixe também as suas. Tentaremos, dentro das possibilidades, manter este local actualizado com o que vai acontecendo à nossa volta em Macau e um pouco em todo o lado...

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Mini-saias e falta de educação

ESTES últimos dias foram férteis em afirmações que roçaram o ridículo por alguns residentes de Macau que ocupam lugares de destaque na sociedade, nomeadamente professores. Começaram com as críticas à indumentária da professora que resolveu dar a voz nas manifestações do 1º de Maio. Colegas seus, alguns com um discurso que fazia lembrar a famosa caricatura de Herman José, o Diácono Remédios, a dizerem que a saia era curta de mais, que estava muito provocadora, que isto ou aquilo!

Afinal, a mulher não estava em dia de folga? Ou será que por ser professora tem que andar de gola alta e saia até aos tornozelos até mesmo para dormir? Santa paciência para tanta ignorância e interesse pela vida alheia. Se tivessem mais interessados no que se passa dentro das suas próprias vidas, certamente que seria mais produtivo e não diriam tantas baboseiras!
Sinceramente, quando ouço críticas deste tipo fico sempre com o pé atrás relativamente a quem as faz e com uma pulgazinha atrás da orelha. Faz-me lembrar o dito popular: «se tens telhados de vidro não atires pedras ao do vizinho!».
Numa sociedade como a de Macau, onde tudo se vê e tudo se permite, virem com moralismos descabidos para a praça pública não cabe na cabeça a ninguém. A senhora professora, se não estou em erro, não vai de mini-saia para a escola. E, mesmo se for, qual é o problema? Não há código de indumentária no ensino em Macau para os professores, apenas se lhes pede decoro. Aliás, ainda me lembro que quando andava no secundário, se uma professora viesse com roupas mais «ousadas» ninguém ficava ofendido e ninguém faltava às aulas!
Porventura, o que Macau precisa é de mais professoras de mini-saia e com opiniões sobre a sociedade e o sistema de ensino bem fundamentadas. Afinal, a dita professora estava a protestar contra os problemas dos jovens e contra a cultura de ensino em Macau que privilegia técnicas de ensino baseadas em decorar a matéria, em detrimento de incentivar os alunos a serem pró-activos e criativos e a usarem a cabeça para pensarem.
A jovem professora, além da mini-saia que não o era, deve ter calcado os calos a alguém no sistema de ensino de Macau, daí tanta celeuma….
Outro dos assuntos que tem sido alvo de vários comentários é a suposta gravidez de uma menina de 15 anos que teve um «caso amoroso», que ao que se saiba consentido, com um jovem de 21, depois de se terem conhecido numa das plataformas sociais da Internet. Todos apontam o dedo à Internet, como se fosse ela a causadora de tal problema. Ao que saiba, até hoje, pela Internet ninguém engravidou, por muito que apareçam estórias incríveis de tempos a tempos.
O caso é grave e trata-se de uma menor, mas daí até se atirarem as culpas de tudo ao acesso à Internet e aos vários conteúdos e plataformas que ela disponibiliza, vai um passo gigante.
O que se trata é de falta de informação e de consciência por parte dos intervenientes. O problema da sociedade, antes de ser a Internet, é o não haver regras, nem valores morais. A falta destes dois pilares da vida em sociedade, com ou sem Internet, salas de conversação e plataformas sociais, faz com que os jovens cresçam sem referências do que é socialmente aceitável e de como se devem comportar enquanto membros de uma sociedade equilibrada.
Estes dois casos ilustram bem a sociedade em que vivemos.
Qual cidade internacional qual quê!? Uma cidade que se quer internacional, mas que a qualquer chuvinha fica atascada até ao joelho, tem ainda muito que aprender. E, pelo que se vê pela reacção à mini-saia da professora manifestante ou pelo caso da rapariga de 15 anos que engravidou porque conheceu um jovem na Internet, é preciso mais do que infra-estruturas físicas.
O facto de termos líderes políticos no poder há mais de dez anos também não ajuda em nada ao processo de modernização da sociedade.
Como em qualquer bom edifício, temos de começar por ter boas fundações sociais para que a obra possa crescer sem que abane ao mais pequeno contratempo.
Provavelmente o que a professora pede para o ensino de Macau é um bom começo. Jovens críticos, com espírito reivindicativo e informados, não serão tão facilmente engodados pela Internet ou por amores juvenis que acabam em finais menos felizes, como o da jovem de 15 anos que se vê agora de caras com uma gravidez não planeada.

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