Como blog estaremos aqui para escrever as nossas opiniões, observações e para que quem nos visite deixe também as suas. Tentaremos, dentro das possibilidades, manter este local actualizado com o que vai acontecendo à nossa volta em Macau e um pouco em todo o lado...

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Desvanecer a pouco e pouco

NÃO gosto de ser «ave de mau agoiro» mas nos últimos tempos tudo aponta para que o que venho afirmando seja, cada vez mais, uma realidade. Sempre que posso defendo nestas páginas o uso da língua portuguesa e a sua obrigatoriedade. Não porque seja fundamentalista, mas porque assim ficou acordado entre duas nações soberanas e para mim a Lei é para ser cumprida integralmente. No entanto, a pouco e pouco, e como que pela «calada da noite», o Português começa a ser subtraído das suas funções oficiais. Será que já se está a preparar o terreno para o pós-2049? Lamento afirmar que parece que sim!

Não tinha tido conhecimento da cerimónia oficial da Feira Internacional de Macau (sempre conhecida por MIF, a sua sigla em Inglês), mas agora veio-se a saber que este ano, ao contrário dos anteriores, a língua portuguesa não marcou presença nos discursos oficiais. Passei por lá no último dia, na tentativa de encontrar alguns contactos para a viagem que estamos a organizar, e também pouca informação vi em Português, aliás, em consonância com a pouca abertura dos empresários presentes para o nosso evento. Se não formos nós a apoiar e a defender aquilo que é nosso, ninguém o fará!
É pena que o organizador, neste caso o Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau (IPIM), ou seja, o Governo de Macau, esteja a colocar de lado a Lei Básica tão descaradamente e sem que ninguém levante objecções ou peça explicações por tais decisões e medidas.
Além do exemplo do que se passou no recinto da Feira Internacional de Macau, a mensagem de agradecimento na passada segunda-feira, o dia seguinte ao encerramento do certame, não deixou margem para dúvidas, tendo sido publicada apenas em Inglês, mesmo nos jornais de língua portuguesa. Por acaso tenho curiosidade em saber se nos jornais chineses foi também posto na língua de Sua Majestade. Na edição do mesmo dia do jornal Ou Mun não havia qualquer tipo de publicidade de agradecimento, apenas um artigo referente à MIF e ao seu encerramento.
São pequenos sinais como estes que se vão aglomerando e vão fazendo com que a «nossa» língua acabe por desaparecer, mesmo antes da data previamente acordada entre Pequim e Lisboa. E o que mais me choca é que quem devia levantar a voz, a nossa representação diplomática local, nada faz e nada diz relativamente ao assunto, apenas se focando nos números dos «Vistos Gold».
A instituição máxima de promoção de Macau no exterior, a Direcção dos Serviços de Turismo, há muito que deixou de adoptar o Português nas suas intervenções. Apesar de ter inúmeros bilingues, o Português nunca faz parte dos seus discursos oficiais, a favor sempre do Chinês e do Inglês. Porque é mais fácil, dizem! E isso podemos constatá-lo. Basta ver quantas vezes o antigo director discursou em Português em encontros internacionais. Aliás, agora no novo cargo que ocupa na PATA quantas vezes recorreu à sua língua materna?
Acredito que seja mais fácil à DST dizer que é mais fácil utilizar o Inglês e o Chinês, assim como é fácil negarem apoio a iniciativas de divulgação de Macau em Português quando, do outro lado da porta, se dão milhões a outras realizações em Chinês e Inglês.
Infelizmente existem outros exemplos e cada vez mais frequentes. Várias vezes aqui fiz eco da falta de visão (ou talvez não, se o objectivo é mesmo o de erradicar o seu uso) de não se incluir nos contratos de concessão dos serviços públicos a obrigatoriedade das duas línguas oficiais. Veja-se as operadoras de telecomunicações. Nenhuma delas usa o Português. O mesmo se passa com a Macao Water (Sociedade de Abastecimento de Água de Macau), que até o próprio nome mudou logo após a criação da RAEM, e com a Companhia de Electricidade de Macau que pouco usa a língua portuguesa. E o mesmo se pode dizer da Companhia de Sistemas de Resíduos, que de Português só tem mesmo o nome.
No que respeita aos contratos de concessão apenas a – sempre na berlinda – Direcção dos Assuntos de Tráfego tem obrigado as concessionárias de transportes públicos a usar as línguas oficiais. E, bem ou mal, «a coisa» lá tem sido mantida com toda a informação nos autocarros, escrita ou sonora, a ser disponibilizada nos dois idiomas. Apesar de muito de errado haver a apontar à DSAT, aqui a elogio pelo bom trabalho.
São falhas a mais para um território que se diz apostado em promover as relações com os Países de Língua Portuguesa e em dar condições para que a língua lusa possa continuar a ter o peso que sempre teve.
As últimas novidades neste campo que vieram a público não auguram nada de bom. Recentemente, a Associação de Investigação do Sistema Jurídico de Macau, pelo seu presidente, o proeminente advogado chinês Chan Wa Keong, começou o «ataque» ao sistema jurídico, defendendo, na presença do procurador, Ho Chio Meng, que nada disse em contrário, que os candidatos a juízes não precisam ser bilingues.
Começam a ser muitas as forças a puxar apenas para um lado, sem que ninguém venha a terreiro meter ordem no caos e clarificar as dúvidas que vamos tendo.

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