O ASSUNTO arrisca-se a tornar tabu em Macau, se não se continuar a falar e a fazer frente a quem o impulsiona. Este território sempre viveu de liberdade de expressão e de Imprensa, estando este direito consagrado na mini-constituição que regula os nossos direitos e obrigações. Mas, na verdade, e principalmente nos últimos anos, são cada vez mais as pressões sobre os jornalistas e sobre quem escreve e fala na Comunicação Social. Certamente que devem estar ao corrente da polémica com a decisão da TDM, canal de rádio, em cancelar o programa Fórum Macau, que se realizava aos Domingos no parque da Areia Preta e era transmitido ao vivo. Um programa, extensão da versão diária em estúdio, que tanto contribuiu para o desenvolvimento do sentido crítico da população chinesa, normalmente pouco dada a pronunciar a sua opinião em público. No entanto, talvez por tocar em assuntos muito sensíveis e dizer muitas verdades, foi encontrada uma forma de, primeiro, reduzir o seu impacto e, agora, de extingui-lo na totalidade. Deixando-se assim a população sem local público para ventilar as suas opiniões de forma livre e sem censura. Felizmente, mas também sob muitas pressões, continua a edição diária a partir dos estúdios da rádio. Aliás, esta versão original fora também alvo de manobras pouco claras há um ou dois anos, tendo alguns dos seus elementos sido «convidados» a deixar a antena. Não sei o que está por detrás da decisão da TDM, que veio a público dizer que tal se deve à falta de pessoal! Desculpa que, sinceramente, custa a acreditar, porque se há falta de pessoal, tal resolve-se contratando mais ou afectando pessoal de outras secções para o programa. Mais não seja de forma temporária até se conseguir contratar mais profissionais para colmatar as lacunas. Privar a população do programa em espaço ao ar-livre, que segundo me dizem todos os chineses que conheço é o mais bem recebido por ser aberto a todo o tipo de opiniões, parece-me pouco sensato e uma completa falta de visão. Para não dizer que existe por detrás uma mão manipuladora de «lápis azul» em riste. Apetece-me dizer que da TDM já não me admiro de nada porque, depois de lá ter trabalhado, habituei-me a saber como funcionam os meandros e como se manobram interesses instalados. Neste caso, e sabendo-se que o programa esteve envolto em diversas polémicas com figuras do Governo da RAEM que levaram mesmo ao afastamento de alguns colaboradores, a decisão da TDM, por muito verdadeira e sincera que seja, cheira a esturro. Tanto mais que não é apenas o exemplo a TDM e do Fórum Macau. Recentemente tivemos também a interferência de um órgão de soberania num dos sítios da Internet de um jornal local de língua portuguesa. Assunto que até hoje continua sem grandes explicações e sobre o qual não tem havido grandes desenvolvimentos. E fala-se à boca pequena que nos jornais chineses essas pressões são ainda mais evidentes e diárias. Temo, sinceramente, pela liberdade de expressão em Macau. Se nos tempos da administração portuguesa, nomeadamente durante a vigência de Rocha Vieira, as tentativas de manipulação eram evidentes e bem visíveis, no mandato de Edmund Ho a situação pareceu melhorar, reinando uma liberdade nunca antes sentida em Macau onde todos podiam abordar tudo o que queriam sem haver qualquer tipo de censura ou tentativa de influenciar o que se falava ou escrevia. Pelo menos que se tenha conhecimento e que tenha sido público. Eu próprio nesta coluna abordei alguns temas mais polémicos e nunca fui chamado à atenção. No entanto, ultimamente, tenho recebido recados de vária ordem, sempre sub-repticiamente, de forma dissimulada. Ora através de interpostas pessoas, ora directamente mas sem ir tocar expressamente no assunto em questão. Aliás, o recado mais caricato veio de um camarada de profissão que, a coberto da sua suposta preocupação para com o bem-estar da minha pessoa, mandou dizer para eu ter mais tento na língua quando escrevo sobre assuntos do Governo. Ainda quero acreditar que em Macau existe liberdade de expressão e que todos, independentemente dos nossos deveres e obrigações profissionais, crenças e preferências, temos direito de nos expressar. Desde que não se insulte ninguém directamente nem se revelem informações que possam estar sob sigilo profissional, todos devemos ser livres para expressar a nossa opinião, seja ela contra o Governo e as suas políticas, seja contra empresas privadas ou qualquer outro assunto.Pessoalmente escrevo tanto contra como a favor e tento sempre, nas minhas crónicas como na minha vida, pautar-me pela independência e objectividade. Gosto de apontar o que considero estar errado mas, ao mesmo tempo, tento apresentar possíveis soluções porque criticar por criticar não serve de muito. E, quando vejo algo que penso ser merecedor de ser elogiado, também não me coíbo de o fazer. Aliás, gostava de ter mais razões para o fazer… |
Como blog estaremos aqui para escrever as nossas opiniões, observações e para que quem nos visite deixe também as suas. Tentaremos, dentro das possibilidades, manter este local actualizado com o que vai acontecendo à nossa volta em Macau e um pouco em todo o lado...
sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013
Algo vai mal
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