Taxistas sem vergonha!
Hoje escrevo uma carta aberta ao senhor director da Associação Geral dos Comerciantes de Trânsito e de Transporte de Macau.
PELO nome da associação que Vossa Excelência dirige percebemos porque é que os serviços que nos obrigam a pagar são de tão baixa qualidade. Afinal de contas, trata-se de uma colectividade dedicada ao comércio! Ora eu que pensava serem os táxis um serviço de transporte público!
Por outro lado, estou completamente de acordo e apoio as vossas reivindicações. De facto, com o desenvolvimento social de Macau e o aumento do custo de vida, considero sensato e compreensível o aumento de 8,6 por cento das tarifas. Afinal, os membros da Associação prestam um serviço que prima, essencialmente, pela qualidade e primazia do direito do utente!
Concordo, e assino por baixo, na reivindicação do aumento da bandeirada de 13 para 14 patacas. Afinal, os primeiros 1500 metros são os que mais custam a percorrer, tendo em conta a qualidade de comunicação que os associados apresentam, especialmente na língua inglesa! Isto para já não falar na segunda língua oficial de Macau que, se bem se lembram, é o Português! É que os associados parece nem sequer saberem de tal existência, pois nem os nomes dos locais turísticos sabem na segunda língua oficial (nem na inglesa, já que falamos de línguas «estrangeiras», como lhe chamava um dia destes um dirigente governativo).
Como não poderia deixar de ser, concordo e apoio também a vossa reivindicação para reduzir a distância da bandeirada para 1500 metros (além do aumento de 1 pataca). Afinal, acaba por ser um número mais redondo, facilitando os acertos no final da corrida porque, por incrível que pareça, há uma grande falta de moedas de 50 avos no mercado e os taxistas parece nunca terem troco. Como compreendo essa vossa dificuldade!
Justificam esta proposta de aumentos com o preço galopante dos combustíveis e dos seguros dos veículos e da manutenção.
Sinceramente não percebo o lapso. Eu teria optado por justificar de forma a que não fosse possível contrapor.
É verdade que os combustíveis têm aumentado de preço ultimamente; mas não se trata de uma aumento para toda a população? Ou será apenas para os taxistas! É verdade que os seguros também aumentaram (mas não em 40 por cento) e também admito que o preço dos mecânicos esteja mais elevado. No entanto, não consigo perceber onde gastam dinheiro com a manutenção, se os táxis andam sempre a cair aos bocados e o seu estado de conservação é lastimável!
Considerando-me eu um cidadão responsável e sensível aos problemas sociais, nomeadamente aos dos seus associados, não poderia deixar de apoiar esta nobre causa. Tenho, no entanto, algumas condições a impor, para o meu total apoio:
– Primeiro, gostaria que os seus associados frequentassem cursos de etiqueta e boa educação, visto que na sua maioria andam sempre mal dispostos, um pouco à semelhança de quem é obrigado a trabalhar à segunda-feira!
– Segundo, gostaria que os seus associados, cada vez que obrigam o utente a pagar as sobretaxas de bagagem, se dignassem a sair do veículo para a colocar e retirar do porta-bagagem. Afinal, se o cliente paga, tem direito ao serviço…
– Terceiro, gostaria que explicasse aos seus colegas que o pagamento de taxa extra só se aplica nos trajectos com partida no aeroporto. Os que têm como destino o mesmo local não são taxados…
– Quarto, gostaria que, para a aprovação das benesses que Vossa Excelência propõe, os seus associados fossem obrigados a fazer um novo exame de condução para renovação das licenças.
E visto que Macau gosta de pedir conselhos ao exterior, aconselhava os senhores da Direcção dos Serviços dos Assuntos de Tráfego a irem contratar dois examinadores da congénere da sua associação, em Londres. Assim, visto que os taxistas de Londres são considerados os mais profissionais de todo o mundo, ficaria mais descansado quanto à qualidade de quem se senta atrás do volante de um táxi em Macau.
Sabe Vossa Excelência que o exame para taxista em Londres é quase considerado como diploma de ensino superior, devido à sua complexidade e exigência?
– Quinto, gostaria que os seus associados, de uma vez por todas, fossem obrigados a falar, no mínimo, Inglês básico. É que uma boa parte dos turistas que nos visitam não falam chinês. E, além do Inglês básico, que aprendam o nome dos locais também em Português, porque, como referi e Vossa Excelência deve saber, Macau tem os nomes dos locais nas duas línguas oficiais.
– Sexto, renovem a frota automóvel e obriguem os condutores a apresentarem-se limpos e a cheirar bem. Proíbam-nos de fumar nas horas de serviço e obriguem-nos a ter uma postura profissional, nem que para isso tenham de os despedir e contratar outros que passem num exame de boas maneiras e de boa educação. Além do de condução, claro!
Se a sua Associação e associados forem capazes de satisfazer estas minhas condições, prometo que, antes de Setembro, ou seja, quando forem aprovadas as vossas reivindicações, voltarei a escrever, tecendo largos elogios à vossa classe e aos serviços que prestam diariamente!
Os taxistas têm todas as razões para estarem insatisfeitos e pedirem revisões das tarifas. Mas quem vos paga o serviço tem mais razões para se queixar daquilo que recebe em troca. É que, como é do conhecimento público, o serviço prestado pelos taxistas de Macau é uma vergonha (para não usar um palavrão que poderá ferir algumas susceptibilidades!) e nem merecem aquilo que hoje em dia cobram.
Pedir ao Governo que permita um aumento da bandeirada e da tarifa em quase 40 por cento é uma afronta a todos os residentes de Macau e aos turistas que nos visitam ao longo do ano. É preciso não ter qualquer escrúpulo ou vergonha na cara!!!
Será que nós poderíamos também exigir, a quem nos paga o salário, um aumento, para fazer face ao aumento dos táxis?