EM Novembro ou Dezembro de 2009 surgiu uma polémica em redor de um festival de cinema que ninguém sabia o que era, de onde vinha, e que tinha surgido em Macau como que por magia. Pois, o mesmo voltou e foi apresentado recentemente pelos mesmos organizadores. Não vou citar nomes porque, de acordo com o que li na Imprensa portuguesa e inglesa diária, o responsável e promotor do evento anda já a processar judicialmente seja quem for que o critique. No entanto, a mesma personalidade, que pouca gente de Macau sabe quem é e de onde veio (não que isso me tire o sono), não se coíbe de criticar a Imprensa local pela falta de cobertura do «seu» evento. Acusando mesmo, indiscriminadamente, os profissionais da comunicação de Macau de não saberem dar a cobertura devida e profissional a eventos de expressão mundial.
Vivendo em Macau há mais de uma dezena de anos e sem qualquer intenção de deixar o território, só me apetece dizer a este senhor que, se pretende que o seu evento seja comparado ao de Cannes, deve começar pelos princípios mais básicos. Primeiro, o «Festival de Cannes» apresenta-se na língua oficial do local onde nasceu (neste caso o francês, em Macau deveria ser em chinês e português), mas não esquece que é internacional; por isso também se apresenta em inglês, árabe, espanhol, japonês e grego. O de Macau começou mal, apenas se apresentando em chinês, daí comprometendo grandemente a sua faceta internacional e, na minha opinião, desrespeitando completamente a tradição de Macau no que diz respeito a línguas.
Também, segundo o que li, o dito director, quando lhe perguntaram se o festival iria fazer acordos com parceiros internacionais (no caso citaram Hong Kong e Portugal), a resposta foi negativa.
Na verdade, não consigo compreender como se pode organizar um evento de cinema, neste caso um festival, sem que haja um completo envolvimento das entidades locais e das entidades culturais de Macau.
Concordo e agrada-me ver o sector privado a tomar iniciativas de carácter cultural, mas quando está em causa a imagem do território no exterior, defendo que o Governo tem um papel marcante a desenvolver. Que mais não seja, um papel de suporte e de apoio em todas as frentes.
Este festival, que muitos acusam de ser uma fachada para obter lucros pessoais, começou com o pé esquerdo na primeira edição, envolto em secretismos e com uma aura de dúvida que lhe turvou a imagem. Na segunda edição, que agora apresentaram, vieram acusar a população e a Imprensa local de serem os principais responsáveis pelos maus resultados obtidos. Penso ser um mau presságio sacudir a água do capote e atirar as culpas para quem os acolhe.
A edição que agora apresentaram vem recheada de extras. Entre eles a promessa de salas de cinema 3D e de uma academia de cinema, entre parcerias com altas individualidades do panorama chinês. Se se querem atingir níveis como o que se faz em Cannes, dêem-se ao trabalho de ver a sua ficha técnica e olhar para a diversidade que faz um festival internacional.
Apetece-me dizer que de promessas está Macau farto e o inferno cheio. A mim convencer-me-ão, quando começar a ver resultados a nível internacional e críticas positivas sobre o trabalho que desenvolvem.
Até lá, o meu modesto conselho é que deixem de atirar pedras aos telhados dos vizinhos, porque os seus também são de vidro.
Desejo de menino
Desde pequenino tenho um desejo secreto: de visitar uma central de incineração. Quanto era mais novo e vivia naquele rectângulo plantado à beira do Atlântico, nunca tive essa oportunidade porque ainda não existiam. Depois que me radiquei em Macau pensava que esse sonho se iria concretizar. Infelizmente, parece que tal não será possível. Assim como eu, penso que centenas de meninos e meninas, crescidos e crescidas, partilham da mesma expectativa. Não é que as centrais locais sejam locais ultra-secretos, nem que a empresa que as gere esteja de portas fechadas, porque de Setembro a Dezembro são organizadas visitas, todos os primeiros, segundos e terceiros sábados do mês, duas vezes ao dia, com transporte gratuito e com a oferta de um chapéu-de-chuva e a possibilidade de ganhar prémios monetários. O problema é que, se não falamos Cantonense, ficamos a olhar para a chaminé, se é que as centrais de incineração as têm.
Como disse, nunca visitei nenhuma e, pelos vistos, nunca irei realizar o tal meu «desejo secreto», em Macau.
Estou desolado… não me deixam concretizar um sonho de infância…
Vivendo em Macau há mais de uma dezena de anos e sem qualquer intenção de deixar o território, só me apetece dizer a este senhor que, se pretende que o seu evento seja comparado ao de Cannes, deve começar pelos princípios mais básicos. Primeiro, o «Festival de Cannes» apresenta-se na língua oficial do local onde nasceu (neste caso o francês, em Macau deveria ser em chinês e português), mas não esquece que é internacional; por isso também se apresenta em inglês, árabe, espanhol, japonês e grego. O de Macau começou mal, apenas se apresentando em chinês, daí comprometendo grandemente a sua faceta internacional e, na minha opinião, desrespeitando completamente a tradição de Macau no que diz respeito a línguas.
Também, segundo o que li, o dito director, quando lhe perguntaram se o festival iria fazer acordos com parceiros internacionais (no caso citaram Hong Kong e Portugal), a resposta foi negativa.
Na verdade, não consigo compreender como se pode organizar um evento de cinema, neste caso um festival, sem que haja um completo envolvimento das entidades locais e das entidades culturais de Macau.
Concordo e agrada-me ver o sector privado a tomar iniciativas de carácter cultural, mas quando está em causa a imagem do território no exterior, defendo que o Governo tem um papel marcante a desenvolver. Que mais não seja, um papel de suporte e de apoio em todas as frentes.
Este festival, que muitos acusam de ser uma fachada para obter lucros pessoais, começou com o pé esquerdo na primeira edição, envolto em secretismos e com uma aura de dúvida que lhe turvou a imagem. Na segunda edição, que agora apresentaram, vieram acusar a população e a Imprensa local de serem os principais responsáveis pelos maus resultados obtidos. Penso ser um mau presságio sacudir a água do capote e atirar as culpas para quem os acolhe.
A edição que agora apresentaram vem recheada de extras. Entre eles a promessa de salas de cinema 3D e de uma academia de cinema, entre parcerias com altas individualidades do panorama chinês. Se se querem atingir níveis como o que se faz em Cannes, dêem-se ao trabalho de ver a sua ficha técnica e olhar para a diversidade que faz um festival internacional.
Apetece-me dizer que de promessas está Macau farto e o inferno cheio. A mim convencer-me-ão, quando começar a ver resultados a nível internacional e críticas positivas sobre o trabalho que desenvolvem.
Até lá, o meu modesto conselho é que deixem de atirar pedras aos telhados dos vizinhos, porque os seus também são de vidro.
Desejo de menino
Desde pequenino tenho um desejo secreto: de visitar uma central de incineração. Quanto era mais novo e vivia naquele rectângulo plantado à beira do Atlântico, nunca tive essa oportunidade porque ainda não existiam. Depois que me radiquei em Macau pensava que esse sonho se iria concretizar. Infelizmente, parece que tal não será possível. Assim como eu, penso que centenas de meninos e meninas, crescidos e crescidas, partilham da mesma expectativa. Não é que as centrais locais sejam locais ultra-secretos, nem que a empresa que as gere esteja de portas fechadas, porque de Setembro a Dezembro são organizadas visitas, todos os primeiros, segundos e terceiros sábados do mês, duas vezes ao dia, com transporte gratuito e com a oferta de um chapéu-de-chuva e a possibilidade de ganhar prémios monetários. O problema é que, se não falamos Cantonense, ficamos a olhar para a chaminé, se é que as centrais de incineração as têm.
Como disse, nunca visitei nenhuma e, pelos vistos, nunca irei realizar o tal meu «desejo secreto», em Macau.
Estou desolado… não me deixam concretizar um sonho de infância…