ESTAMOS de volta às bancas e é Setembro, mês de eleições em Macau para a Assembleia Legislativa, um período onde ouvimos de tudo. Das promessas mais disparatadas às afirmações mais polémicas que, depois das canas dos foguetes recolhidas no final da festa, acabam por cair no esquecimento, voltando a vida ao normal e ao normal andamento desta cidade que se diz internacional. No entanto, de certa forma, tudo o que envolve as eleições e as suas polémicas vai servindo para nos desviar a atenção do que é realmente importante e que o Governo não quer que as pessoas critiquem ou analisem. Nos últimos tempos temo-nos esquecido, completamente, dos problemas relacionados com a salubridade pública. A qualidade do ar, da água e da comida que ingerimos. Ninguém se lembra de tentar saber como as obras do metro irão afectar o nosso dia-a-dia e o que está a ser feito para minorar os seus efeitos. Poucos de nós ainda nos lembramos que há bem pouco tempo foi vendido óleo do esgoto na China e que, possivelmente, muito terá vindo para Macau. Ou que paira no ar a esquizofrénica possibilidade de um novo surto de H5N1, desta vez, segundo afiança o «lobby» da farmacêutica, pior do que o anterior e com características de pandemia! Por outro lado, todos sabemos que alguns candidatos à AL não querem enfermeiros portugueses e que outros querem enfermeiros portugueses. Há para todos os gostos! E sabemos que todos prometem mundos e fundos e que depois nada fazem porque na Assembleia Legislativa, com a actual forma organizativa do Governo, nada ou quase nada se decide. Alguém se lembra de uma proposta de Lei do Governo que não tenha sido aprovada ou de um deputado que tenha visto uma proposta sua aprovada? Tudo o que vai ao hemiciclo, com a actual constituição de deputados nomeados, eleitos indirectamente e directamente, tem a sua aprovação garantida visto que mesmo que os deputados eleitos directamente se unam e votem contra, nunca serão em número suficiente para bloquear a passagem de uma Lei. O número total de deputados este ano aumentou para 33, os eleitos directamente passaram a ser 14, os indirectos 12, sendo que os nomeados continuam a ser os sete desde o início da RAEM. No entanto, sendo os eleitos indirectos defensores de interesses intrinsecamente ligados ao Governo, muito dificilmente iriam juntar forças com um hipotético voto massivo dos eleitos directamente contra uma qualquer proposta de Lei mais polémica. Tanto para mais que nos próprios eleitos directamente existem muitos que são, ostensivamente, alinhados com as políticas pró-Pequim. Tudo o que se ouve e vê em torno das eleições é um autêntico atentado à inteligência dos residentes de Macau. Desde a publicidade/propaganda da Comissão eleitoral que nem sequer respeita as duas línguas oficiais em pé de igualdade, remetendo o Português para segundo nível, apenas com legendas da versão em Chinês (e se o telespectador for invisual?), aos tempos de antena que obrigam o canal português da televisão a passar sem qualquer legendagem ou versão na língua de Camões. É Macau no seu melhor e a tempo inteiro! Depois do período de férias gostaria de ter regressado e ver a comunidade e o Governo mais preocupados com outras questões. Nomeadamente as questões sociais como a falta de apoios aos mais carenciados e a falta de habitação social condigna. Não aquela que engoliu milhões de patacas e que ninguém quer porque a construíram em Seac Pai Van sem perguntar se a sua localização seria a melhor. Macau, com tantos prédios devolutos nas zonas antigas, teria tido melhores opções se tivesse optado por renovar esses edifícios, transformando-os em habitações condignas para os mais necessitados, como vem sendo feito em cidades internacionais como Londres, Nova Iorque ou mesmo em Singapura. Mas, claro, como se sabe, remodelar prédios não dá tanto lucro aos construtores civis como a sua construção de raiz... E os problemas do acesso aos cuidados de saúde e as listas e filas de espera no hospital público que obrigam pessoas necessitadas a terem de optar por serviços particulares se quiserem ser tratados em tempo útil? O hospital da Taipa teima em não aparecer enquanto que o de Macau continua em obras indefinidamente. O número de médicos aumenta mas o problema mantém-se. A falta de qualidade dos clínicos vindos do continente (tirando algumas excepções) não consegue ser colmatada com o aumento do número de efectivos. E o mesmo se aplica aos enfermeiros, mesmo que alguns candidatos eleitorais se tenham insurgido contra a vinda de enfermeiros portugueses. Já agora, alguém me sabe dizer quando foi que chegou o último enfermeiro vindo de Portugal? |
Como blog estaremos aqui para escrever as nossas opiniões, observações e para que quem nos visite deixe também as suas. Tentaremos, dentro das possibilidades, manter este local actualizado com o que vai acontecendo à nossa volta em Macau e um pouco em todo o lado...
sábado, 7 de setembro de 2013
Quando é realmente importante
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