Metam lombas nas passadeiras
OUVIR dizer que «o tráfego em Macau é um pesadelo» é uma afirmação que já todos conhecemos e com a qual nos habituámos a viver. No entanto, para os mais cépticos, aconselho um passeio pelas ruas do território a qualquer hora do dia. Em pouco tempo terão a oportunidade de presenciar todo o tipo de atropelos às regras que ensinam nas escolas de condução.
Sabendo que o sistema de ensino de condução é de qualidade aceitável, fico sem saber onde é que o mesmo falha. Se todos somos obrigados a aprender as regras, como podemos, depois de ter a licença para ser responsável por um veículo motorizado, fazer as maiores asneiras? Algo está errado e as autoridades parece não se importarem nem terem capacidade para resolver o problema.
Por várias vezes sugeri, simplesmente, ser apenas preciso que a lei fosse aplicada, sem qualquer tipo de excepção, logo a começar pelos carros e condutores do Governo e, principalmente, pelos agentes de autoridade, que devem ser os primeiros a dar o exemplo ao volante. Mas, enfim, sabemos que tal não se passa!
Problemas estruturais à parte, há outros aspectos que podem ser revistos, para tentar melhorar a segurança rodoviária, a começar pela sinalização vertical e luminosa ou semafórica. Aliás, na semana passada, um grupo de deputados referiu o mesmo na Assembleia Legislativa.
Há exemplos que deixam os condutores confusos e sem saberem muito bem o que se pretende com certas indicações. A zona do túnel, no COTAI, ou as mais recentes obras na ponte Sai Van, são disso exemplo.
Mas, se não se consegue mudar as sinalizações, – tarefa que podia ajudar a regular melhor o trânsito, – pode-se tentar melhorar no outro extremo da equação, na segurança dos peões.
Como é do conhecimento de todos, as passadeiras em Macau servem apenas para que os condutores acelerem e procurem passar, antes de alguém tentar meter o pé para atravessar. Infelizmente, raros são os exemplos dos que param para dar prioridade a quem quer atravessar. Assim como também são raros os exemplos dos peões que respeitam os sinais vermelhos e verdes que a eles dizem respeito.
Apesar de todas as idiossincrasias de Macau, há pequenas coisas que podem ser feitas e que melhorariam a segurança de quem anda a pé. Tomemos, como exemplo, as passadeiras que atravessam a avenida (Estrada da Baía de Nossa Senhora da Esperança) junto do «Galaxy Resort», no COTAI. Há, se não estou em erro, três passagens marcadas no pavimento, para dar acesso ao empreendimento. A primeira não tem qualquer sinalização luminosa e situa-se logo após a Rotunda da Piscina Olímpica; a segunda tem sinalização intermitente amarela com um inovador a energia solar (!); e a terceira, já depois do quartel da guarnição do Exército Popular de Libertação, tem semáforos completos que apenas servem para parar o trânsito e deixar os peões atravessar. Relativamente a esta última, não consigo perceber de onde surgiu a ideia de criar um semáforo completo que pára o trânsito, havendo ou não peões no local. Quando não há ninguém para atravessar a passadeira, muitos são os condutores que não param ao sinal vermelho, o que acaba por ser uma violação ainda maior e que reflecte o estado do respeito pelas regras de condução na RAEM.
Mas aquele de que queria mesmo falar era do segundo exemplo. Neste caso, há um semáforo amarelo com um interruptor, que o peão pode premir para que as luzes (alimentadas com uns painéis solares) entrem em funcionamento. É de felicitar o autor de nobre ideia, ao pensar que os educados condutores de Macau iriam parar num simples sinal intermitente. Há pessoas que parece viverem numa cidade onde tudo é perfeito.
E ainda relativamente a estes inovadores semáforos, a manutenção e a atenção que lhes é dispensada pela DSAT é tanta, que ainda não repararam que já nada funciona. Penso que uma das lâmpadas ainda acende num terço da sua superfície. Os interruptores há muito passaram a ser apenas decoração.
Será esta mais uma singularidade de Macau?
Sempre me perguntei por que não se recorre ao uso de lombas ou bandas sonoras nas aproximações às passadeiras. Esta técnica já existe em poucos locais, – que me lembre na zona da Montanha Russa e de São Lázaro – e, pelo que vejo, funcionam lindamente. Quando foi a última vez que se registou um acidente nessas passadeiras com as lombas? Porque não se usam os exemplos que funcionam? Estas lombas existem há duas décadas e nunca mais foram feitas outras no território.