A CRIAÇÃO da via exclusiva para motociclos na ponte Sai Van era tida, pelos responsáveis da Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego, como a solução para todos os problemas. No entanto, poucos dias após ter entrado em funcionamento, o resultado está muito aquém do esperado. Aliás, para a população em geral o resultado é aquilo que sempre se esperou, ou seja, um autêntico fracasso que apenas os senhores da DSAT teimam em não ver!
O erro – segundo corre nas bocas do mundo – começou logo pelo facto de terem criado a referida via do lado direito do sentido de marcha, quando o Código da Estrada diz que devemos conduzir o mais à esquerda possível, ficando as faixas mais à direita para ultrapassagens e para veículos em marcha mais rápida.
A segunda queixa tipo tem a ver com o facto da via ter sido criada na ponte onde menos acidentes se registam, não tendo sido proibida a circulação dos veículos de duas rodas na Ponte da Amizade.
Apesar de ter menos importância, corre ainda outra crítica que tem a ver com o facto de terem enfiado no mesmo saco ciclomotores e motociclos! Passou tudo a pagar pela mesma moeda, mesmo que para conduzir alguns dos motociclos seja necessário uma carta de condução similar à de automóvel e os seus custos e níveis de segurança serem muito mais elevados.
Os proprietários de veículos de duas rodas de grande cilindrada não compreendem como podem ser comparados a um ciclomotor de cinquenta centímetros cúbicos. Trata-se de veículos de duas rodas extremamente pesados, difíceis de manobrar a baixas velocidades (de lembrar que a velocidade para as duas rodas foi limitada a 60 quilómetros por hora na Ponte Sai Van!) e que pagam de imposto tanto como os seus congéneres de quatro rodas. E algumas até mais! Só mesmo a DSAT para comparar uma Harley Davidson a um «aspirador com rodas», vulgo scootter!
Felizmente ainda não houve qualquer acidente fatal (até à elaboração deste texto), mas têm sido registados acidentes quase diariamente, causando uma confusão total na ponte. O acesso dos veículos de emergência tem de ser feito pelas únicas duas faixas livres para veículos de quatro rodas, o que causa grande congestionamento no escoamento dos carros. As fotos dos vários acidentes têm andado a circular no ciberespaço, mas parece que os responsáveis da DSAT continuam de palas nos olhos, não vendo o evidente.
Na altura em que a medida foi anunciada, foi dito que era resultado de muitos estudos científicos e de ponderada reflexão. Mas esses estudos, ou os seus resultados, nunca foram tornados públicos para que a população pudesse fazer um juízo mais fundamentado das medidas tomadas. A falta de transparência, aliada aos péssimos resultados que a medida tem atingido, tem gerado desconfiança e mesmo descrença quanto à existência de tais estudos e fundamentos científicos. Se tais resultados existem, que eu espero ser verdade, seria bom que fossem tornados públicos para apaziguar os ânimos.
Mesmo que o resultado real seja negativo, nada impede que a decisão tenha sido tomada de boa fé e baseada em resultados fidedignos. Pode muito bem ter acontecido que o estudo tenha apresentado resultados que não correspondiam à realidade. Mas sem que tais resultados sejam tornados públicos vamos sempre continuar a pensar que isto foi uma ideia «estapafúrdia» de um dos iluminados da DSAT, que agora não quer dar a cara nem o braço a torcer. Ao bom estilo chinês, não quer «perder a face», mesmo perante um completo desastre.
Será preciso morrer alguém num acidente para que se rectifique o que está errado? E, perante tal fiasco, quem será chamado à responsabilidade?
Possivelmente, como sempre acontece em Macau, ninguém será responsabilizado pelos erros que se fazem no Executivo. O povo que vá aguentando…