DAQUI a pouco mais de quatro semanas estamos no final de 2010 e parece que ainda agora estávamos a celebrar o Ano Novo Chinês do Tigre. O ano passou rápido e pouco aconteceu que mereça destaque.
Voltámos a receber uma prenda do Governo: vimos os ordenados aumentados, mas também, em contrapartida, vimos o custo de vida aumentar num grau maior do que o do dinheiro que nos entra na conta bancária. O que significa que ficámos a perder nas contas finais. No entanto, cá vamos continuando a nossa vida, como se tudo estivesse bem e Macau fosse um mundo de rosas. Sê-lo-á, talvez; mas, tal como as rosas que, apesar de belas, têm os seus espinhos, também o território tem os seus.
Hoje, felizmente, parece haver dinheiro em abundância e, se tudo correr como até agora, assim irá continuar por muitos e bons anos. No entanto, não posso deixar de comparar Macau com a Noruega. Apesar de estarem nos antípodas do globo, este dois locais partilham de algo em comum, o «superavit» das contas públicas.
Confesso que pouco sei deste país nórdico e que não conheço nenhum norueguês; o que li, porém, numa das últimas edições da Reader Digest’s asiática, de que sou assinante há vários anos, deixou-me a pensar sobre o dinheiro de Macau.
A Noruega, até há bem poucos anos, era um país esquecido e pouco importante no que diz respeito à economia global. Ainda o é; mas esta crise mundial veio dar-lhe alguma visibilidade, devido à sua racional gestão dos dinheiros vindos da exploração do petróleo, que foi descoberto na década de setenta.
Macau não tem petróleo, mas tem jogo, o que vai dar mais ou menos ao mesmo, um fluxo constante e elevado de verbas a entrar nos cofres do Governo todos os meses.
Os Noruegueses decidiram, quando começaram a explorar a sua «mina», que o dinheiro proveniente do «ouro-negro» não seria utilizado para pagar contas do Governo. Nem uma única «coroa» seria usada para pagar contas correntes provenientes dos gastos do Estado e todas as verbas provenientes da exploração do petróleo seriam aplicadas em fundos de investimento e outras formas de o rentabilizar em segurança. O lucro aí gerado seria então utilizado para «gerir» o País. Uma solução que, em pouco mais de duas dezenas de anos, fez do País um dos mais ricos do mundo, com os melhores padrões de educação e de cuidados médicos Virtualmente, todos os cidadãos têm acesso gratuito aos melhores serviços médicos (de alta qualidade), o ensino é gratuito (até ao ultimo ano da universidade) e as reformas são das mais altas do mundo (que são pagas, mesmo que não se tenha trabalhado – no mínimo o equivalente a 300 mil patacas anuais). Há instalações culturais até na mais pequena aldeia e os cidadãos têm acesso à cultura por preços quase irrisórios.
Todas as comunidades têm, para os pais que trabalham, locais para deixarem os seus filhos a partir dos seis meses de idade. Locais de excelente qualidade e que prestam serviços em diversas línguas (as que forem necessárias para fazer face à diversidade da comunidade). E, ainda no referente à família, a licença de maternidade é de um ano e paga na totalidade, podendo ser dividida em duas partes iguais por ambos os progenitores.
Não é um sistema justo e há queixas. Mas as que existem não se devem à falta de qualidade do serviço que lhes é proporcionado, mas à falta de parcialidade. Há quem não concorde que toda a população receba por igual, visto que uns esforçam-se mais do que outros. Mas, como não há sistemas perfeitos, sempre será preferível ter um imperfeito que peque pelo excesso!
Não tenho conhecimento da forma como são aplicadas as verbas provenientes do Jogo em Macau, mas preocupa-me o facto de um dia o motor da economia local vir a encravar. Se tal acontecer, será que os lucros foram bem aplicados e dispomos de um fundo que nos permita desfrutar da mesma qualidade de vida que temos tido até agora?
Será que o Governo tenha aplicado bem as verbas e apenas use os juros que daí surgem para fazer face às despesas do dia-a-dia? Não me parece. Pelo que seria muito bom olharem para o caso da Noruega, para aprenderem com os bons exemplos a seguir, de modo a saber deles fazer uso na aplicação do dinheiro que é de Macau.