Como blog estaremos aqui para escrever as nossas opiniões, observações e para que quem nos visite deixe também as suas. Tentaremos, dentro das possibilidades, manter este local actualizado com o que vai acontecendo à nossa volta em Macau e um pouco em todo o lado...

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

O CLARIM - Semanário Católico de Macau

Feliz Natal a todos!

TODOS os anos o mesmo ritual... As ruas iluminam-se, o tempo arrefece e, como que por magia, todos se conhecem e se tornam mais amáveis, distribuindo os cumprimentos e sorrisos que durante o ano mantiveram escondidos numa gaveta esquecida, mas que agora vêem a luz do dia.

No Natal gosto sempre de relembrar uma história que me foi contada, quando ainda andava na escola primária, e que tenta mostrar o ridículo de nos apegarmos a coisas materiais, tão típico das nossas gerações. É a história da menina e do papel de embrulho dourado. Uma história antiga, mas intemporal, como são todas as histórias com moral.

Nas vésperas de Natal, o pai, vendo que a menina tinha usado o caro papel de embrulho dourado deu-lhe um sermão, pois viviam-se tempos de pouca abundância e aquele papel estava destinado a algo mais nobre. Pior ainda ficou, quando viu, no dia de Natal, que ela tinha usado o papel para embrulhar uma velha caixa de sapatos. No entanto, quando a menina lhe disse que era a prenda para ele, sentiu-se culpado e pediu-lhe desculpas. Ao abrir o presente, deparou com a caixa vazia, tendo ficado novamente irado, gritando para a filha e dizendo-lhe que era de muito mau gosto dar como prenda uma caixa cheia de nada, vazia. A menina, lavada em lágrimas, disse-lhe que não estava vazia, estava cheia de beijos que ela tinha soprado para o seu interior até que ficasse cheia. Assim, o pai teria beijos dela durante todo o ano, mesmo se ela não estivesse com ele. Ao ouvir isto, o pai ficou sem palavras e, arrependido de toda a cólera, desdobrando-se em pedidos de desculpas, chorou de alegria, enquanto abraçava a sua menina.

Passados alguns dias, num acidente, a criança faleceu e, desde esse dia, o pai nunca mais largou a caixa dourada. Sempre que se sentia sem forças para continuar a enfrentar problemas, tirava da caixa os beijos imaginários e lembrava-se do amor incondicional da sua filha e do tempo que perdeu aborrecido com ela, por causa de um simples papel dourado.

Infelizmente, o Natal, como o conhecemos agora, tornou-se uma época puramente mercantil que pouco ou nada tem para dizer, a não ser compras e consumismo. O aspecto religioso, sentimental e fraterno, há muito foi esquecido e substituído pelas árvores enfeitadas de luzes e fitas, mais ou menos reluzentes. Neste «carnaval» de ideias institucionalizadas reina uma figura bonacheirona e de barbas, patrocinada por uma bebida americana, o «Pai Natal», que nada tem a ver com a tradição, de que me falaram quando era mais novo, e com esta época que visa festejar o nascimento do Menino Jesus e a amizade entre os povos.

Em Macau, a reboque de toda a febre mercantil e da necessidade do Estado gastar dinheiro para alimentar os grupos de interesse que ajudam a manter os líderes no poder, fazem da cidade uma autêntica árvore de Natal, no seu sentido mais pejorativo. Os enfeites e grinaldas são de tal forma abundantes, que o misticismo e tradição que deveria povoar esta quadra ficam ofuscados com tanto brilho.

É uma pena que, devido aos interesses económicos, se tenha descuidado todo o lado positivo ligado à celebração do nascimento de Jesus e à festa do Natal. Nos dias de hoje, como vivemos numa economia de mercado, não se pode dissociar esta quadra de todas as vantagens monetárias que dela podem advir. Só que os proveitos económicos acabaram por relegar para segundo plano a verdadeira essência do que se festeja e a dita caixa dourada fica esquecida num canto poeirento.

A maioria, se não mesmo a totalidade dos jovens de hoje, não faz ideia da razão de festejar o Natal, quanto mais do valor simbólico da Ceia de Natal, do bacalhau cozido ou do peru recheado (dependendo da zona). Tudo nesta época tem um valor simbólico e cada peça tem um papel a desempenhar, tal como aquela caixa dourada teve para mostrar que nada deve ser mais importante do que darmos atenção e carinho a quem nos está próximo. Tudo o resto é efémero.

Muitos de nós levamos ao extremo o facto da época de Natal ser também conhecida como de paz e harmonia. Instintivamente, nesta quadra, passamos a ser mais cordiais e mais bem dispostos, enchendo as ruas da cidade de sorrisos e de cumprimentos. Seria bom que fosse Natal todos os dias e não apenas quando o Homem quer!

Acreditando-se ou não nas doces histórias de Natal, todos nós temos uma caixa dourada cheia de amor e beijos, daqueles que nos são mais queridos e mesmo de pessoas que nos são totalmente desconhecidas, mas que também merecem o nosso respeito. Todos os outros bens que possuímos não são mais do que objectos materiais que nada dizem.

O mais importante é mesmo o amor de quem nos está próximo. Assim como o amor e carinho que podemos mostrar durante todo o ano para com quem nos cruzamos no dia-a-dia.

Se soubermos cuidar da nossa caixa dourada, não haverá tempo para outras preocupações e todos os problemas relacionados com bens materiais nos parecerão muito mais fáceis de resolver.

Em Macau, nos outros onze meses do ano, muitas pessoas parecem esquecer a caixa dourada daqueles que amam e lhes são queridos.

Lembram-se em Dezembro, o que já não é mau!

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

O CLARIM - Semanário Católico de Macau

Subtilezas de Macau

situações em Macau muito difíceis de entender. No último dia de apresentação das Linhas de Acção Governativa, em resposta às críticas dos deputados, relativamente à falta de qualidade das ligações à Internet no território, o responsável pelo Serviço de Regulação de Telecomunicações (DSRT) afirmou que a falta de concorrência no mercado local é o factor principal dessa baixa qualidade, e esta a óbvia razão que fez o Governo decidir avançar com o programa de Internet livre em vários locais da cidade. «Devido à falta de concorrência, as tarifas não correspondem às aspirações dos utentes. Por isso o Governo instalou o sistema Wi-fi Go», anunciou Tou Veng Keong.

Quando li as afirmações ainda fiquei inclinado a pensar que seria um erro de interpretação da minha parte; mas, depois de ver a notícia em vários locais, rendi-me à evidência.

Quando foi anunciado o programa «Wi-fi Go» do Governo, que disponibiliza dezenas de pontos em vários locais da cidades onde todos podemos aceder à Internet, bastando termos equipamento que use tecnologia «wi-fi» e registo na página do «Wi-fi Go», foi dito que tal se destinava a dar acesso à Internet a todos os residentes que, por uma razão ou outra, não tivessem oportunidade de ter uma conta privada.

Agora vêm-nos dizer que a criação do «Wi-fi Go» é para fazer frente à Companhia de Telecomunicações de Macau, o único fornecedor local de acesso à rede.

Esta medida implica, pelo menos, dois grandes aspectos negativos. O primeiro, o facto de ser o Governo a imiscuir-se em assuntos que nada lhe dizem respeito. Sendo Macau um mercado livre, o Governo não tem nada que fazer concorrência a empresas privadas. Se o objectivo é baixar os preços, o Executivo tem ao seu alcance medidas legais que lhe permitem controlar os preços, quando a situação do mercado o exige.

Além disso, sendo o programa «Wi-fi Go» uma iniciativa do Governo, que agora se sabe ter nascido para fazer face aos preços elevados praticados pelo único fornecedor, o que acontecerá ao programa quando a liberalização do sector for consumada em 2012? Irá o Governo desactivar o «Wi-fi Go» visto depois não ter qualquer utilidade? E sendo que o Governo está a oferecer acesso gratuito, prometendo ainda alargar mais a cobertura do sistema, não será isto contraproducente, relativamente à necessidade de captar investidores para a dita liberalização do sector?

Pessoalmente, se em minha casa tiver acesso gratuito devido à proximidade de um «hotspot» do Governo, não precisarei de contratar o serviço a uma empresa privada.

Ora, sendo obrigação do Governo tratar todos os residentes de forma igual, como se justifica que apenas se possa aceder gratuitamente em alguns locais de Macau, enquanto noutros os residentes tenham de pagar preços que são contestados?

A Lei de Imprensa

Não costuma ser meu apanágio enveredar por águas turvas e assuntos pouco claros. Contudo, o enredo que envolve a Lei de Imprensa que o Governo quer, a tudo o custo, reformular, não pode passar sem um comentário descomprometido.

Como sabemos, apesar de toda a tradição de Macau na liberdade de Imprensa e no jornalismo, não existe no território um estatuto que atribua aos profissionais da Comunicação Social uma identificação que, sem qualquer dúvida, os defina, de pleno direito. Esta lacuna da RAEM, gerada com o fim da emissão do cartão do Gabinete de Comunicação Social, que apesar de não ser o ideal dava para separar as águas, veio causar ainda mais confusão. Não havendo obrigatoriedade de identificação profissional, como diziam recentemente alguns profissionais do sector com provas dadas, qualquer funcionário de um Órgão de Comunicação Social se pode apelidar de jornalista, desde o condutor ao empregado de limpeza. Afinal, trabalham todos para o mesmo fim! Assim como, não havendo leis ou códigos deontológicos, pode haver jornalistas que, ao mesmo tempo, fazem publicidade ou assessoria de Imprensa…

A verdade é que em Macau se torna necessário, de uma vez por todas, uma clarificação do que é ser jornalista e de quem pode ostentar o título. Se o não souberem fazer, vejam o de Hong Kong, que tem um bom exemplo há vários anos.

O Governo, tendo como objectivo latente reformar a Lei de Imprensa, convidou (não se sabe a que preço) um especialista em sondagens deliberativas (vá-se lá saber muito bem o que isto é).

O prof. James Fishkin, director do Centro de Sondagem Deliberativa da Universidade de Stanford, veio a Macau realizar pesquisas, tendo em vista a reforma da lei. Como aconteceu no primeiro encontro, contava com sandes, «lai sis» e outros atractivos, para levar as pessoas ao local, a fim de responderem a umas perguntas e apresentar sugestões. Num universo de 300 almas, trinta eram da área da Comunicação Social. Mas isto não é o mesmo que dizer que eram jornalistas.

Peço imensa desculpa, se estou a ferir a susceptibilidade de alguém. Concordo que a população seja tida e achada em muita coisa. Mas, sinceramente, na Lei de Imprensa, devido à sua tão grande especificidade, não acredito que o sr. Zé ou a sra Maria, que vivem na Areia Preta e que nem lêem jornais, estejam minimamente preparados para opinar sobre o assunto.

O que virá a seguir? Uma sondagem deliberativa para a reforma do Regime Jurídico da Função Pública? Ou do Código Civil?

Jornalistas, sim, com carteira emitida em Macau pelas associações de jornalistas, ou pelas suas congéneres estrangeiras, e reconhecidas pelo GCS ou por uma instituição privada por este avalizada.

Quanto à lei, chamem os jornalistas, depois de os terem acreditado condignamente, e juntem uma equipa de juristas de língua portuguesa e chinesa para trocarem ideias e formularem a nova versão da lei.

Quanto à população, continuem a dar-lhes brindes e deixem-nos em paz!

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

O CLARIM - Semanário Católico de Macau

Tempo de ideias lânguidas

ESTE período que atravessamos todos os anos é sempre pardacento e sem grandes assuntos para abordar. Além da aproximação da quadra festiva do Natal, pouco mais há para dizer.

Os fins de Novembro e princípios de Dezembro ficam marcados por conversas que giram em torno das Linhas de Acção Governativa, os aumentos ou a sua inexistência para os funcionários públicos e pouco mais. Todos os anos isto se repete e faz lembrar a famosa «silly season» do Verão. Agora, depois de todos os digníssimos secretários se terem dado ao trabalho de nada apresentarem de substancial, há-de surgir uma publicação, primeiro em Chinês e depois em Português, com todos os detalhes que foram apresentados na Assembleia Legislativa.

Recebo esses «manuais» todos os anos na minha secretária, mas, de tão enfadonhos que são, raramente me dou ao trabalho de os abrir. Ali ficam junto a tantas outras publicações que se vão fazendo nesta terra e que apenas servem para gastar verbas do erário.

Já se vai tornando hábito, por esta altura, fazer a pergunta: O que fizeram os membros do Governo da interminável lista que tinha sido publicada no ano anterior? O que foi feito e o que ficou por fazer?

Este ano não tivemos oportunidade de ouvir as apresentações em directo na Rádio Macau. Uma bênção? Ou, como me disseram, foi um problema técnico… Sinceramente, era das poucas alturas do ano em que ligava a rádio em língua Portuguesa, porque me dava prazer ouvir as excelentes traduções vindas do sistema sonoro da Assembleia Legislativa. E, como muitas vezes acontecia, se não entendesse nada do que era debitado para os microfones dos tradutores, lia a imprensa do dia seguinte e talvez ficasse mais esclarecido.

Em todos estes anos não me lembro de ninguém que tenha ido para a Assembleia, durante a apresentação das LAG, de livrinho do ano transacto na mão para confrontar os secretários acerca do pouco que foi feito, relativamente ao que tinha apresentado. Há excepções, claro. Já quanto a respostas esclarecedoras da classe política…

Como não houve directo radiofónico da AL, pouco ou nada sei do que foi anunciado este ano. Mas, mesmo assim, não estou muito preocupado, pois não deve ser muito diferente do que foi anunciado no ano anterior. Se algo de excepcional tivesse saído dos Lagos Nam Van, certamente já há muito se falaria nas ruas de Macau.

De tudo o que se palrou no hemiciclo, apenas sei de um detalhe que desapontou muita gente: os funcionários públicos não vão ter aumento!

Bom, do mal, o menos, já que a secretária anunciou que vai ser criada uma comissão para estudar um mecanismo de actualização automática dos vencimentos… O que é que virá por aí!?

Como outros anúncios, este deve ficar no rol dos que nunca irão sair do papel. No próximo ano, ninguém se irá incomodar em confrontar os responsáveis na apresentação das LAG em Novembro. Entretanto, serão distribuídos mais uns cheques e outros doces e a malta assobia para o lado!

A verdade é que esta apatia, que o Governo tem gerido com oferendas de dinheiro e de outro tipo, começa a causar problemas sociais que dificilmente se resolvem, caso as mentalidades não mudem. O facto dos nossos dirigentes não serem capazes de tomar decisões que tenham um impacto positivo na vida das populações, a longo prazo, não implica que andem a remendar buracos com ofertas. Há problemas em Macau que não devem ser escamoteados.

Num território que, ano após ano, não chega a gastar a verba dotada no orçamento, não se consegue entender, nem tão pouco se deve admitir, que haja pessoas a passar fome.

Uma cidade que vive do luxo e da opulência não se deve esquecer de olhar para as sombras por trás das iluminações dos casinos e dos grandes hotéis. Há em Macau muitas pessoas que, por uma razão ou outra, vivem abaixo do limiar de pobreza e que nada têm para comer. É isto que devia ser discutido no hemiciclo todos os anos e que deveria merecer uma atenção incondicional por parte de quem nos Governa.

Aumentos, subsídios e abonos são boas notícias para quem os recebe, mas a questão mais importante, num Estado Social (como o que se deve querer para Macau), é saber se a sua população vive condignamente. Só depois de se assegurar que todos têm acesso a cuidados de saúde, a alimentação e abrigo diariamente e sem qualquer problema, deveremos olhar para as outras falhas.

De que vale ter um metro ligeiro, se debaixo dos carris vamos ter os já famosos sem-abrigo do território? De que vale fazerem-se aterros e novas ilhas, se há pessoas que não têm dinheiro sequer para apanhar o autocarro para ali se deslocarem?

Falem de assuntos importantes e das pessoas a passarem por necessidades no quotidiano! Acabem com a feira de vaidades que é a Assembleia Legislativa! Os cidadãos que ali merecem estar de pleno direito podem contar-se pelos dedos de uma das mãos e todos sabemos quem são. Os outros é melhor voltarem para o lugar de onde vieram e, assim, darem a vaga a quem possa fazer algo construtivo para o bem comum.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

O CLARIM - Semanário Católico de Macau

Será o GRH parte do sistema?

CADA vez se torna mais claro que, para ter autorização de contratar uma empregada doméstica, é mais fácil ir a uma agência de emprego, do que usar os serviços do Governo. Numa destas agências, mesmo não tendo justificação plausível para se contratar uma empregada, basta abrir a carteira e pagar cerca de dez mil patacas para se ter uma quota assegurada, sem mais perguntas!

Se formos ao Governo tratar de tudo dentro da Lei, somos confrontados com um sem fim de barreiras e impedimentos, que levam qualquer pessoa ao desespero. E, perante as dificuldades, sucumbir aos serviços das agências…

Tinha prometido a mim mesmo que não iria abordar o assunto nestas páginas, visto que o mesmo já foi resolvido. No entanto, e depois de falar com várias pessoas sobre o tema, aconselharam-me a publicar a história porque, certamente, muitos outros cidadãos de Macau continuam a ser vítimas do sistema que envolve o Gabinete de Recursos Humanos (GRH) e o próspero negócio das agências de emprego.

No passado dia 1 deste mês decidi ir reactivar a quota de Trabalhador Não Residente (usada em 2004 ou 2005, se não estou em erro. A exactidão da data não tem interesse; apenas serve para provar que fora antes da nova lei de 2010).

Quando me desloquei ao Gabinete de Recursos Humanos, disseram-me que não poderia pedir a Renovação da Autorização, devido a esse novo diploma, que o proibia. Isto é, proíbe um direito adquirido, pensei eu. Não insisti e disse para fazerem como manda a lei; afinal, de nada valeria protestar ali junto do funcionário. Contudo, mais tarde reparei que no recibo constava a menção de renovação e não novo pedido!

Passados cinco dias, como descreviam as instruções, deveria receber uma notificação. Tal aconteceu no dia 14 de Novembro, oito dias úteis após, mas ainda dentro do prazo máximo de dez dias. Pelo que, até aqui, nada de anormal.

Ao receber a notificação via SMS («Ent xxxxx/11 – Queira dirigir-se ao GRH, munido do recibo, no prazo de 5 dias úteis, p/ notificação»), decidi telefonar para confirmar a mensagem.

Primeiro, perguntei se poderia ser levantada por terceiros, ao que me foi explicado que só poderia ser levantada por portadores de Bilhete de Identidade de Macau. De seguida, decidi perguntar quais seriam os passos seguintes, visto que não queria perder muito tempo com o processo e gostava de levar todos os documentos necessários.

Durante a conversa indicaram que tinha de me dirigir ao Gabinete de Recursos Humanos para levantar a Autorização e que a mesma viria com um formulário dos Serviços de Migração e, depois de tudo preenchido, deveria então deslocar-me às autoridades policiais para a fase seguinte do processo.

Nunca no decorrer da conversa me fora dito que o pedido tinha sido negativo, ou indeferido. Aliás, perguntei se tinha sido aprovado (em inglês, visto que a conversa sempre se processou nesta língua e não em nenhuma das línguas oficiais da RAEM, apesar de eu ter perguntado se falavam português) e foi-me dado a entender que seria positivo.

Aliás, caso não fosse, como se justificaria o zelo em explicar todos os passos a dar de seguida? Ou, sabendo eu ser indeferido, teria necessidade de perguntar o que fazer junto das autoridades policiais?

Para meu espanto e já depois de informar a pessoa que pretendia contratar, quando me desloquei ao GRH para levantar a dita Autorização e o formulário, deparo com um despacho (n28274/IMO/GRH/2011), assinado pela coordenadora-adjunta, a 11 de Novembro, indeferindo o pedido, com base no facto da «insuficiente exposição dos fundamentos em que se baseou o pedido, bem como a ausência de outros elementos justificativos da necessidade de contratação de um trabalhador não-residente».

Incrédulo, tentei enumerar mentalmente os documentos comprovativos que entreguei. Documentos justificativos do agregado familiar, que nos colocam fora de casa mais de 12 horas por dia. Entre outros justificativos que, no final de contas, fazem com que, como a maioria das pessoas que trabalham, passemos mais de 14 horas fora de casa. As restantes, gostaria de dormir para estar apto a enfrentar mais um dia de trabalho, comer e tomar banho!

Resumindo: não resta muito tempo para as lides de casa. E, a acrescentar a tudo isto, temos um animal de estimação que precisa que o levem à rua e o alimentem. Este pormenor, porém, prontamente nos foi referido como de pouca ou nenhuma importância para a matéria. Deve ser por isso que, em Macau, os direitos dos animais se encontram no estado em que todos sabemos. Se não contam para nada, como podemos esperar que o Governo os trate condignamente. Se fosse num país civilizado, teriam os mesmos direitos que um ser humano no que diz respeito a igualdade de tratamento.

Foi-nos dito que seria sensato apresentar reclamação. O que fiz de imediato e por escrito.

Já fora do recinto do GRH, quando explicava a situação a algumas pessoas, foi-me dado a entender que seria mais fácil (e certo) ir a uma agência de emprego tratar da situação. Aliás, o tratamento que dão a casos destes deixa-nos com a sensação de que nos «empurram» para as agências, pois ali, mediante uns milhares de patacas, é sempre possível sair com uma quota assegurada, visto que nem todos os cidadãos têm conhecimentos ou paciência para apresentarem uma reclamação.

Sinceramente, esperava que tal não fosse necessário; é que, se assim for, mal vai o sistema dos Recursos Humanos em Macau.

A verdade é que, depois de analisada a queixa, a quota foi aprovada!

Agora que o processo terminou, gostaria que os critérios usados e os resultados de todos os pedidos fossem feitos públicos, juntamente com as justificações apresentadas para os basear. Só com essa transparência se pode acreditar que todos são tratados com justeza.

Como se justifica que o meu caso, numa semana seja reprovado e na seguinte, depois de reclamar, seja autorizado, com base, praticamente, nos mesmos justificativos?

Senhor coordenador do GRH, não se percebe como é que um cidadão comum apresenta documentos e justificações que muitos dizem ser suficientes, mas vê o pedido recusado. Mas, se for a uma agência, esta vende-lhe as quotas que quiser, sem qualquer pergunta, a não ser a do pagamento de dez mil patacas!

domingo, 27 de novembro de 2011

O CLARIM - Semanário Católico de Macau

Clínicos gerais à pressão

A SAÚDE, ou a falta dela, em Macau, é um assunto que acaba por reunir o consenso da população, mas um tema que, infelizmente, anda sempre nas bocas do mundo pelas piores razões. É evidente que, nos últimos anos, o sistema de saúde tem vindo a piorar, devido à falta de mão-de-obra qualificada e nada, ou muito pouco, tem sido feito para resolver o problema.

A solução adoptada até agora passava, quase exclusivamente, por recrutar clínicos ao exterior, nomeadamente do interior da China, com todas as desvantagens que isso acarreta, devido à falta de qualidade, problemas linguísticos, culturais e mais alguns pormenores que não vale a pena enumerar. Importa dizer, desde já, que quem sai mais prejudicado neste esquema é o utente; contudo, em abono da verdade, também não devemos esquecer os médicos de boa qualidade que acabam por ser incluídos no rol de queixas da população, apesar de diariamente se esforçarem por oferecer bons serviços, sem por tal serem reconhecidos.

Recentemente vi na Imprensa que o hospital (privado) Kiang Wu, desde 2003 (confesso que foi uma total novidade para mim), tem vindo a formar médicos de clínica geral em cursos de um ano! Cursos de ensino com métodos inovadores, afirmavam os responsáveis daquela unidade hospitalar.

Este pormenor deixou-me algo preocupado, porque, segundo me informaram, estes «médicos» estão agora a prestar serviço nas urgências e em regime de turnos nas várias valências das unidades hospitalares do território.

Não consegui apurar quais os requisitos para se participar neste curso de «medicina» geral que consegue criar clínicos num ano; no entanto, segundo o que foi tornado público na Imprensa, o recurso a experiências práticas, mas sem descurar o ensino teórico, é, de acordo com o Kiang Wu, a reposta para se conseguir formar os clínicos gerais em tão pouco tempo.

Deveremos ou não estar preocupados com esta situação? Sempre tive como adquirido que a entrada num curso de medicina, de nível ocidental, era das provas mais difíceis para qualquer estudante do ensino secundário; e que os cinco anos passados a estudar para ter acesso ao canudo eram também eles muito complicados. Agora, porém, os responsáveis do hospital privado de Macau anunciam que, afinal, tudo isto se pode fazer num ano!

Bom, se realmente for verdade, descobriram uma fórmula para acabar com a falta de médicos na RAEM e, quem sabe, noutras paragens! Estaremos perante uma grande descoberta, ou mais uma peculiaridade de Macau? Quem nos assegura a qualidade desses clínicos? Ou será que não vale a pena questionar tal aspecto, visto que o sistema já está tão mau, que qualquer clínico, por muito mau que seja, será sempre um valor acrescentado?

A ser assim, temo pela qualidade e pela honra de muitos dos médicos que ainda vão trabalhando nos hospitais de Macau, porque vão acabar por ver a sua imagem denegrida por estes «colegas» feitos à pressão.

A verdade é que, das últimas vezes que tive de ir às urgências, acabei por sair de lá sempre com a mesma medicação: Paracetamol para a febre, mas também para as dores de articulações e musculares e um qualquer anti-histamínico para o nariz, mas que também serviu para coceira de pele. Ou seja, receitam-nos a mesma coisa para um sem número de maleitas, quando deveriam tentar apurar, mais a fundo, o que realmente está mal no paciente. E quando reclamamos e pedimos que nos seja feito um exame mais sério, acusam-nos de pretendermos saber mais do que o próprio médico.

O que ocorreu comigo também se regista, muito certamente, com outros utentes. Recentemente, um conhecido deslocou-se às urgências em três ocasiões diversas, com sintomas diferentes, mas acabou por sair sempre com a mesma medicação. O típico paracetamol, nesse caso, serviu para dores de cabeça, artrite e gripe.

Se estes clínicos, nas urgências do CHCSJ, vêm das fornadas do Kiang Wu, aconselho a que a «escola» comece a leccionar «casos práticos» mais variados, porque os pacientes correm o risco de virem a desenvolver resistência aos efeitos do paracetamol, a muito curto prazo.

A iniciativa do Kiang Wu é de louvar, visto haver em Macau uma crónica falta de médicos; no entanto, sendo o sector da Saúde tão sensível e de tão grande importância, o Governo deve ter uma postura activa na fiscalização destes métodos de ensino. Tratando-se de cursos de medicina, deve haver um grupo de especialistas médicos, de várias especialidades e de várias nacionalidades e culturas, para verificarem o que é leccionado e como é leccionado. E, no final dos cursos, os alunos devem ser submetidos a rigorosos exames, por entidades independentes, para atestar as suas qualidades, antes de entrarem no mercado de trabalho, como acontece, por exemplo, com os advogados.

Apesar dos nossos dirigentes não usarem os serviços de saúde de Macau (vá-se lá saber porquê...), não se devem esquecer que a esmagadora maioria da população não tem meios para ir ao médico a Hong Kong ou à Tailândia.

Afinal, é a saúde de todos nós que está em causa!

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

O CLARIM - Semanário Católico de Macau

Cheoc Van ao abandono

RECENTEMENTE tive conhecimento que um grupo empresarial, com muita tradição no mercado da náutica de lazer, com sede em Hong Kong, mas cujo proprietário é de Macau e de uma das famílias mais proeminentes do território, tinha avançado com uma proposta para dinamizar uma estrutura que, em tempos, foi de referência junto das gentes locais. Infelizmente a resposta foi um redondo não, por parte de quem agora tem a responsabilidade de gerir essa instalação desportiva e de recreação.

Tratava-se das instalações do Clube Náutico de Cheoc Van, que agora estão sob a alçada do Instituto do Desporto e que, pelo que tenho visto, passam mais tempo fechadas do que abertas. E, das vezes que vemos alguma actividade, em nada se compara com o que se fazia antes de 20 de Dezembro de 1999.

Muitos de nós ainda se lembram das tardes passadas no Clube Náutico e dos milhares de crianças, e mesmo mais velhos, que ali aprenderam a fazer vela nos «optimist» e «laser» (que agora apodrecem debaixo de uns toldos) e dos momentos de verdadeira descontracção que se viviam nos fins de tarde na esplanada do clube a ver o pôr-do-sol. Um dos locais mais aprazíveis do território e que, devido à falta de visão do Governo, está ao abandono e completamente desaproveitado.

A proposta informal que foi feita incluía a completa recuperação da estrutura e a compra de todo o material necessário (novos barcos para ensino e material de apoio), instrutores profissionais e a promessa de trazer a Macau os mais variados eventos que se adaptassem à finalidade do local (pequenas regatas, encontros de jovens desportistas, etc). A pessoa responsável pela ideia queria apenas que o deixassem gerir o espaço de forma a dinamizá-lo, para voltar a ver crianças e jovens a velejar, como ele chegou a fazer quando era mais novo. Não tinha em mente qualquer tipo de negócio ou tirar proveito financeiro da iniciativa. Tratava-se de uma iniciativa filantrópica, tendo apenas como objectivo dinamizar o sector do desporto náutico. Sendo essa pessoa um empresário de sucesso nessa área, com a sua empresa principal representada em Hong Kong, Tailândia, Malásia, Singapura, Filipinas e na Europa, considerava retribuir à sua terra natal no que melhor sabe fazer e que vê como uma das maiores lacunas: desporto náutico para crianças e um local saudável onde os residentes possam descontrair-se, sem ter de pensar em gastar muito dinheiro. Dos responsáveis pelo desporto de Macau levou uma nega, sem qualquer outra justificação.

O Instituto do Desporto ficou com as instalações do Clube Náutico de Cheoc Van, depois de criticar a forma como o mesmo (que ainda gere a Doca do Lam Mau) estava a dinamizar aquele espaço. Pelo que é do conhecimento público, a decisão baseou-se no facto do antigo responsável não estar a organizar actividades e a não gerir o local convenientemente. Ora, depois do ID ter «pegado» no dito clube, nada melhorou, pelo que tenho presenciado.

Portanto, o que mudou na mentalidade do Governo e por que se recusam a que outros tentem dinamizar o local, quando manifestamente se vê que não existe capacidade para o fazer?

Neste momento, as instalações náuticas de Cheoc Van não organizam qualquer tipo de actividade e quem ali ainda tem as embarcações (até 20 pés de comprimento e que possam ser retiradas da água) vê-se e deseja-se para as conseguir utilizar, porque desde a passagem do famigerado tufão Hagupit (que tanta destruição espalhou pela ilha de Coloane) os serviços normais de lançar e retirar embarcações nunca mais foi retomado. Os serviços estão reduzidos ao mínimo de um segurança. Aliás, já houve roubos de material de algumas das embarcações mantidas em doca seca. E quem tinha embarcações e teve oportunidade de as mudar para o Lam Mau, não hesitou.

Quanto às outras actividades, que estiveram na génese da criação do clube naquele local durante a Administração Portuguesa, o ensino de vela e náutica de recreação estão completamente paradas, há mais de uma década! Existem para tal (também a funcionar muito mal, diga-se!) instalações na praia de Hac Sá.

Quanto ao edifício de apoio do clube (o denominado «clubhouse»), o prédio situado na encosta vizinha à doca seca continua fechado e à mercê das intempéries e do salitre do mar. Até dá pena olhar para as instalações, quando descemos a estrada de acesso à praia.

Era isto que o empresário queria dinamizar, oferecendo tudo o que fosse necessário. Não impunha qualquer condição, tendo perguntado apenas quanto teria de pagar de renda pela utilização do local e quais seriam as condições do Governo.

Não se percebe esta intransigência do Executivo, que não faz nem deixa fazer quem quer e tem capacidade. Se fosse uma pessoa sem experiência, ainda se percebia. Mas tratando-se de alguém ligado ao sector há décadas em Hong Kong...

Entristece-me ver este tipo de situações. Primeiro, por ver que há pessoas interessadas em o fazer gratuitamente; segundo, por ver que o Governo continua a insistir em fazer tudo e mais alguma coisa, acabando por não fazer nada.

Sempre ouvi, desde pequenino: «cada macaco no seu galho».

O Instituto do Desporto tem competências para coordenar superiormente as actividades desportivas, mas a gerência das instalações deste tipo, tipicamente de cariz clubístico amador e recreativo, devem ficar a cargo das pessoas que realmente se dedicam à actividade, de alma e coração. Gerir um clube de vela (ou náutico) sem saber nada do sector, é meio caminho andado para nada ser feito!

sábado, 12 de novembro de 2011

O CLARIM - Semanário Católico de Macau

Escudo Português em perigo

CERTAMENTE que muitos dos chegados a Macau nos últimos tempos sabem da existência do Templo Lin Fong e da importância desse templo para a história do território, por ser onde ficavam instalados os mandarins, quando ainda tinham algo a dizer sobre a política local. Foi ali também que foi assinada a ordem que ilegalizou o comércio de ópio. Por ficar fora dos percursos normais dos turistas (situado na zona Norte, perto do Canídromo), facilmente fica esquecido.

Mas não foi para falar da importância histórica do templo que resolvi abordar o tema. Sempre acreditei que «onde há fumo há fogo» e como ultimamente ouvi uns boatos acerca de algo muito português que se encontra nesse templo, fiquei alarmado.

De acordo com a história, aquele é o sítio onde foi assassinado o antigo governador Ferreira do Amaral, aquele que assentou de vez as fronteiras de Macau que hoje conhecemos e afastou o poder «mandarinal» definitivamente.

Na época, para atestar o controlo português sobre toda a zona, o mesmo governador mandou inscrever um símbolo real numa das rochas existentes no recinto do templo. Segundo nos relata o padre Manuel Teixeira, uma «coroa real e escudo, tendo por baixo a data de 1848, foram mandados esculpir pelo governador Ferreira do Amaral. A data, que não se encontra visível, estará provavelmente escondida pelo relvado que circunda a rocha». Uma marca indelével do controlo português em todo o território, com todo o valor simbólico que teria, ao ser gravada no local onde antes ficavam as autoridades chinesas que vinham interferir com o poder português.

Acontece que, de acordo com alguns boatos que se ouvem, mas que nenhuma autoridade actual quer confirmar, apesar de muitas tentativas por canais oficiosos nas Obras Públicas, parece que se preparam para, definitivamente, remover a marca portuguesa. À semelhança do que foi feito com centenas de símbolos um pouco por todo lado, logo após a transferência de soberania, e como o que recentemente avançámos, em primeira mão, relativamente às edições do Boletim Oficial da Administração Portuguesa (que tem sido subtraído dos símbolos portugueses na sua edição online), deve estar para breve o desaparecimento dessa marca deixada numa das rochas existentes no recinto do Templo Lin Fong.

Na sua obra «A Voz das Pedras de Macau», o padre Manuel Teixeira já referia que uma inscrição semelhante já teria sido retirada da Estrada do Arco, a mesma onde fica o templo, e colocada junto das ruínas de S. Paulo, onde veio depois a ser «desfeita pelo camartelo dos assalariados do Leal Senado».

Relativamente aos boatos desta inscrição existente no Templo Lin Fong, há duas versões: a primeira diz que os planos de reordenamento daquela zona, de acordo com o plano maior para toda a cidade de Macau, abrangem o templo e obrigam a que a rocha seja partida, sendo que o símbolo português irá ser preservado e «metido» na parede; a segunda versão diz que a dita remodelação abrange apenas o recinto do templo e que a rocha tem de ser removida, não havendo qualquer plano relativo à marca portuguesa.

Independentemente do que é dito por cada uma das duas versões, a verdade é que se trata de mais um delapidar de história e uma tentativa velada de reescrever o que os nossos antepassados, portugueses e chineses, escreveram.

A história, boa ou má, não se reescreve nem se coaduna com tentativas de a alterarem. Quanto muito, aprendemos a viver com ela e tentamos retirar ensinamentos do que aconteceu ao longo dos séculos. Uma terra sem história, ou com uma história parcial ou artificial, nunca poderá ter um futuro brilhante e os seus filhos ficarão sempre na ignorância quanto aos acontecimentos ocorridos.

Pelo que esta tentativa de alterar o legado da história, por mais insignificante que seja, não pode acontecer e não deveria ter lugar em Macau, um local tradicionalmente conhecido como de encontro de culturas. Espero que este alerta chegue a tempo e que os responsáveis pelo projecto de remodelação da zona, a serem verdade o boatos que correm, mudem de planos e preservem o que torna Macau diferente e atrai tantos turistas anualmente.

NA FOTO: Escudo Português encimado pela coroa real, junto ao Templo de Lin Fong.

domingo, 6 de novembro de 2011

O CLARIM - Semanário Católico de Macau

Onde vai o Terminal?

NAS últimas semanas, o Terminal Marítimo do Porto Exterior tem andado nas bocas do mundo e sido referido em diversos meios de comunicação social do território. A polémica que o Governo está a alimentar, ao não clarificar o que planeia fazer, assemelha-se muito ao que se passou logo nos primeiros anos de vida da Região Administrativa Especial, quando o grupo de Stanley Ho apresentou o projecto «Oceanus», o original, não aquele que acabou por abrir portas nas antigas instalações do centro comercial New Yaohan.

O projecto, para quem se lembra, apresentava um sumptuoso hotel que atravessava a Avenida da Amizade, ligando-se à água na zona onde estava o «Palace Casino» (o casino flutuante, que agora agoniza nas águas do Fai Chi Kei, à espera de afundar e sem qualquer utilidade) e o actual Terminal Marítimo do Porto Exterior. Já nessa altura, olhando para o projecto apresentado pela Sociedade de Turismo e Diversões de Macau (STDM) se adivinhava que o terminal teria de ser demolido, se bem que o Governo, habilmente, se tenha ido esquivando às questões mais incómodas. Nessa altura, pelo menos publicamente, ainda não se falava do novo terminal do Pac On.

Entretanto, mudaram-se os tempos e o terminal do Pac On nasceu, mas o Governo apressou-se a dizer que o de Macau ficaria também de pedra e cal, fazendo com que a STDM perdesse a paciência e decidisse avançar para a remodelação do antigo New Yaohan, transformando-o em casino, metendo na gaveta o projecto original do hotel «Oceanus», porque não estava disposta a esperar por uma decisão que tardava em chegar. Tempo é dinheiro e o grupo de Stanley Ho sabe disso melhor do que ninguém!

Agora fala-se na possibilidade do terminal ir mesmo abaixo! Ou, como diz o Governo, tudo ser decidido depois dos estudos adequados. Os estudos que têm feito Macau famoso além-fronteiras e que pouco esclarecem a opinião pública.

Não entendo como podem os empresários de Macau ter paciência para aguentar tanta indecisão do Governo. Todos sabemos que, no mundo dos negócios, não pode haver lugar para muitos compassos de espera, quando há que tomar decisões e, da parte do Governo, os homens do dinheiro esperam posições firmes e decididas.

Qual será a reacção da STDM, ou da Sociedade de Jogos de Macau, se o Governo agora decidir avançar com a demolição do terminal de Macau? Pessoalmente, não consigo entender o que espera o Executivo para clarificar a situação. Além da STDM, haverá outro empresário que terá toda a legitimidade para ficar indignado. Com efeito, David Chow e a Doca dos Pescadores ficaram limitados pela decisão do Governo em não remover o Terminal do Porto Exterior. A marina que existe no projecto de David Chow nunca conseguiu obter licença de utilização, devido a estar localizada dentro da zona de navegação dos barcos que fazem a ligação entre Macau e Hong Kong. Não conheço os pormenores da negociação, quando a Doca dos Pescadores foi aprovada, mas certamente que deveria contar com a possibilidade de utilização da marina. Caso assim não fosse, não se justificava o empresário ali investir milhões de dólares. Será que poderá haver lugar para o pedido de uma indemnização por prejuízos causados, caso a terminal seja agora retirado?

Desde sempre advoguei que o terminal em Macau não faz sentido, caso se construa o do Pac On. O novo terminal fica mais bem localizado, perto do aeroporto, com acessos mais favoráveis e com mais espaço para crescer e irá contar com um «interface» modal que incluirá autocarros, metro ligeiro e táxis. Além do mais, retira os barcos rápidos do canal de navegação entre Macau e a Taipa, facilitando a navegação e, – quem sabe! – finalmente convencendo o Governo que se pode navegar ali à vela, acabando com a proibição de se hastear as velas desde o Porto Interior até bem depois da Ponte da Amizade! Algo que, pelo que conheço, só acontece em Macau. Até em Hong Kong se pode velejar entre Kowloon e a ilha de Hong Kong!

A verdade é que o terminal de Macau está desactualizado, precisando de uma remodelação completa, pois já não consegue satisfazer as necessidades actuais. Basta ver que, em tempo de tufão, quando as ligações de barco são cortadas, nem sequer existe uma área para os passageiros esperarem com algum conforto. São recorrentes as imagens na televisão com passageiros sentados pelo chão, enquanto esperam para seguir viagem.

Recentemente, a Capitania dos Portos anunciou que a gestão do terminal iria deixar de estar a cargo da empresa de Stanley Ho passando para as mãos do Governo! Não será isto mais um passo para complicar o funcionamento de toda a estrutura?

Desde sempre, a gestão destas estruturas esteve entregue a privados e os resultados foram positivos. Qual a razão do Governo para agora insistir em tomar as rédeas?

As ligações marítimas de Macau foram, desde sempre, dos poucos serviços que funcionaram sem grandes problemas e que mais contribuíram para o desenvolvimento do território.

Antes de 1999, era por ali que entravam a maioria dos turistas e apostadores dos casinos. A situação apenas mudou, depois da China ter decidido começar a emitir vistos individuais para os residentes do interior do país virem a Macau livremente.

domingo, 23 de outubro de 2011

O CLARIM - Semanário Católico de Macau

Boicote-se

PARA mim é já um hábito dar sangue em Macau, pelo menos uma a duas vezes por ano. E, cada vez que tal acontece, aproveito para ver o estado da língua portuguesa no Centro de Transfusões de Sangue e nos documentos que me são entregues para preenchimento ou leitura. Na outra língua, que também é oficial, costumo brincar quando se dirigem em Cantonense para mim. Felizmente – talvez porque as minhas doações são feitas nas recolhas organizadas no meu local de trabalho – há sempre um funcionário do Centro de Transfusões de Sangue que fala Português. No entanto, os formulários continuam, invariavelmente, a ser apresentados apenas em Chinês e Inglês. Em todos eles tenho deixado uma nota, pedindo a versão em Português. De salientar que, da última vez, já havia alguns feitos de acordo com o princípio das duas línguas oficiais. De louvar e algo que merece também ser aqui referido.

Recentemente foi noticiado que tinha sido organizada uma gala de homenagem aos dadores. Fiquei triste em saber, numa coluna publicada no jornal Hoje Macau e assinada por um leitor, que na cerimónia só foi usada a língua chinesa, o Cantonense.

É com pesar que manifesto o meu total desacordo com esta medida do Centro de Transfusões de Sangue. Sendo uma instituição governamental, devia fazer uso das línguas oficiais em todas as suas actividades. Se no meu caso pessoal reconheço que fazem um esforço, tendo sempre um funcionário que domina a língua portuguesa nas recolhas feitas no meu local de trabalho, porque razão, numa cerimónia com a visibilidade da gala que organizaram, isso não se passou?

Será que têm vergonha da segunda língua oficial da RAEM? Se assim for, algo vai mal e os altos dirigentes devem intervir para repor a igualdade de tratamento das línguas oficiais nos serviços públicos. Um lembrete de algo que está previsto na Lei Básica, para os mais esquecidos!

Acho que, se estivesse estado presente na dita cerimónia, me tinha levantado e abandonado o local, assim que informassem acerca do não uso da língua portuguesa.

Não seria a primeira vez que abandonaria um evento organizado por uma entidade pública, por se recusarem a usar as duas línguas oficiais. Abandonando e deixando claro o motivo por que o faria. Aliás, considero que todos os que falam Português e gostam da língua como sendo oficial nesta terra, o deveriam fazer em sua defesa, porque, se não formos nós a defendê-la, ninguém o fará.

Penso até que, se os profissionais da Comunicação Social de língua portuguesa – um dos pilares essenciais para a manter viva no Oriente – adoptassem essa postura cada vez que se deparam com um evento organizado por entidades governamentais sem versão em Português, as mentalidades mudariam rapidamente e a situação alterar-se-ia.

Um boicote frontal e total por parte da Comunicação Social Portuguesa – visto que o representante de Portugal nesta terra nada parece fazer – ajudaria a abrir os olhos e a mudar a postura de alguns serviços, que ainda olham para a língua oficial portuguesa como um fardo herdado da Lei Básica. Fardo ou não, se está na lei, é para ser honrado. As leis são para isso mesmo, para serem cumpridas, quer se goste, quer não. E, pelo que sabemos, os sinais vindos de Pequim vão no sentido de um cada vez maior uso da língua lusa, se bem que os interesses por detrás desse uso sejam mais económicos do que de outra natureza.

Continuamos, infelizmente, com brandos costumes e a baixar a cabeça a tudo o que nos afronta.

Uma no cravo outra na ferradura

Este assunto vem em contra-senso com a semana que agora começou. A Festa da Lusofonia e a Semana Cultural da China e dos Países de Língua Portuguesa assume um papel importante no reconhecimento, por parte da China e das autoridades chinesas, da importância do Português e da cultura de cariz lusófono em Macau. Tem interesses económicos na sua génese, defendem uns. Não importa; o que é importante é que serve para preservar a língua e a cultura.

Se existe um tão grande empenho por parte de Pequim, em algumas ocasiões, por que continuam alguns sectores em Macau a minar esse relacionamento?

Todos sabemos, apesar de não ser a posição oficial, que Pequim defende o uso do Português, devido à necessidade que tem da língua nas suas relações com os mercados onde ela se fala. Não será apenas uma questão herdada da história, como muito se apregoa. Mas, se a Pequim convém a língua de Camões por interesses económicos, porque não há-de o mundo lusófono tirar partido disso e fazer-se impor, em Macau e na China, através da inversão desses mesmos interesses?

A defesa da língua e a não-aceitação de actos que podem fazer com que o seu uso diminua será o primeiro passo, que deve ser dado por todos quantos dominam o idioma e a cultura que durante os próximos dez dias é revivida em vários locais de Macau. E, como dizia anteriormente, se não formos nós a fazê-lo, ninguém o fará por nós. Cabe-nos, no dia-a-dia no território, defender a língua que falamos e fazer com que seja respeitada, como ficou acordado entre a China e Portugal, antes de 1999.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

O CLARIM - Semanário Católico de Macau

Metam lombas nas passadeiras

OUVIR dizer que «o tráfego em Macau é um pesadelo» é uma afirmação que já todos conhecemos e com a qual nos habituámos a viver. No entanto, para os mais cépticos, aconselho um passeio pelas ruas do território a qualquer hora do dia. Em pouco tempo terão a oportunidade de presenciar todo o tipo de atropelos às regras que ensinam nas escolas de condução.

Sabendo que o sistema de ensino de condução é de qualidade aceitável, fico sem saber onde é que o mesmo falha. Se todos somos obrigados a aprender as regras, como podemos, depois de ter a licença para ser responsável por um veículo motorizado, fazer as maiores asneiras? Algo está errado e as autoridades parece não se importarem nem terem capacidade para resolver o problema.

Por várias vezes sugeri, simplesmente, ser apenas preciso que a lei fosse aplicada, sem qualquer tipo de excepção, logo a começar pelos carros e condutores do Governo e, principalmente, pelos agentes de autoridade, que devem ser os primeiros a dar o exemplo ao volante. Mas, enfim, sabemos que tal não se passa!

Problemas estruturais à parte, há outros aspectos que podem ser revistos, para tentar melhorar a segurança rodoviária, a começar pela sinalização vertical e luminosa ou semafórica. Aliás, na semana passada, um grupo de deputados referiu o mesmo na Assembleia Legislativa.

Há exemplos que deixam os condutores confusos e sem saberem muito bem o que se pretende com certas indicações. A zona do túnel, no COTAI, ou as mais recentes obras na ponte Sai Van, são disso exemplo.

Mas, se não se consegue mudar as sinalizações, – tarefa que podia ajudar a regular melhor o trânsito, – pode-se tentar melhorar no outro extremo da equação, na segurança dos peões.

Como é do conhecimento de todos, as passadeiras em Macau servem apenas para que os condutores acelerem e procurem passar, antes de alguém tentar meter o pé para atravessar. Infelizmente, raros são os exemplos dos que param para dar prioridade a quem quer atravessar. Assim como também são raros os exemplos dos peões que respeitam os sinais vermelhos e verdes que a eles dizem respeito.

Apesar de todas as idiossincrasias de Macau, há pequenas coisas que podem ser feitas e que melhorariam a segurança de quem anda a pé. Tomemos, como exemplo, as passadeiras que atravessam a avenida (Estrada da Baía de Nossa Senhora da Esperança) junto do «Galaxy Resort», no COTAI. Há, se não estou em erro, três passagens marcadas no pavimento, para dar acesso ao empreendimento. A primeira não tem qualquer sinalização luminosa e situa-se logo após a Rotunda da Piscina Olímpica; a segunda tem sinalização intermitente amarela com um inovador a energia solar (!); e a terceira, já depois do quartel da guarnição do Exército Popular de Libertação, tem semáforos completos que apenas servem para parar o trânsito e deixar os peões atravessar. Relativamente a esta última, não consigo perceber de onde surgiu a ideia de criar um semáforo completo que pára o trânsito, havendo ou não peões no local. Quando não há ninguém para atravessar a passadeira, muitos são os condutores que não param ao sinal vermelho, o que acaba por ser uma violação ainda maior e que reflecte o estado do respeito pelas regras de condução na RAEM.

Mas aquele de que queria mesmo falar era do segundo exemplo. Neste caso, há um semáforo amarelo com um interruptor, que o peão pode premir para que as luzes (alimentadas com uns painéis solares) entrem em funcionamento. É de felicitar o autor de nobre ideia, ao pensar que os educados condutores de Macau iriam parar num simples sinal intermitente. Há pessoas que parece viverem numa cidade onde tudo é perfeito.

E ainda relativamente a estes inovadores semáforos, a manutenção e a atenção que lhes é dispensada pela DSAT é tanta, que ainda não repararam que já nada funciona. Penso que uma das lâmpadas ainda acende num terço da sua superfície. Os interruptores há muito passaram a ser apenas decoração.

Será esta mais uma singularidade de Macau?

Sempre me perguntei por que não se recorre ao uso de lombas ou bandas sonoras nas aproximações às passadeiras. Esta técnica já existe em poucos locais, – que me lembre na zona da Montanha Russa e de São Lázaro – e, pelo que vejo, funcionam lindamente. Quando foi a última vez que se registou um acidente nessas passadeiras com as lombas? Porque não se usam os exemplos que funcionam? Estas lombas existem há duas décadas e nunca mais foram feitas outras no território.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

O CLARIM - Semanário Católico de Macau

Jovens apostam em sector tradicional

NÃO será preciso muita imaginação para se olhar para Macau e conseguir ver que, em tempos idos, esta foi uma cidade piscatória e com tradições na indústria do mar.

O facto de viver virada para a água e existirem excelentes condições naturais para protecção das embarcações, em caso de intempéries, fez do território um local natural para acolher pessoas que viviam do que o mar lhes dava.

Aliás, Macau foi escolhido pelos portugueses por se tratar de uma «aldeia» piscatória que lhes poderia dar condições para secar a carga que tinha ficado molhada numa tempestade, segundo nos relatam os registos históricos da chegada dos Portugueses ao sul da China.

Num passado não muito distante existia por aqui uma significativa população flutuante, no real sentido de viverem em cima da água, em embarcações de pesca. Assim como existia uma indústria da pesca e de construção naval com algum peso na economia local. Hoje, infelizmente, tudo isso mudou e o declínio é cada vez mais evidente.

Se os barcos de pesca escasseiam e são cada vez menos de ano para ano, já a indústria de construção de juncos de pesca e reparação de barcos desapareceu completamente há mais de uma década. O último barco saiu dos estaleiros de Lai Chi Vun, em Coloane, ainda sob a administração portuguesa. Toda a área da aldeia parece agora estar destinada a ser demolida, para dar lugar a um empreendimento habitacional de luxo, segundo algumas fontes não oficiais locais, mas negado pelo Governo.

Com o custo da mão-de-obra crescente, a par com a melhoria do nível de vida no território, resultado da explosão do sector do jogo, as lides tradicionais ligadas ao mar mergulharam na agonia, levando centenas de pessoas a mudar de profissão ou a terem de manter-se num sector pouco produtivo e a passarem amarguras para sobreviverem diariamente, sem qualquer apoio ou compaixão do Governo.

Na zona das pontes cais, ao longo daquilo que conhecemos como Porto Interior, havia diversas lojas e oficinas que se dedicavam a actividades de suporte do sector marítimo. Ainda hoje é possível ver as tabuletas a anunciar acessórios e apetrechos marítimos para manutenção das embarcações. Contam-se pelos dedos de uma mão as que ainda se mantêm em actividade, tentando sobreviver. A grande maioria fechou ou mudou de ramo de actividade.

As críticas de quem teima em não fechar as portas são recorrentes e centram-se no facto do Governo nada fazer para apoiar este sector tradicional de Macau, nem estar interessado em preservar o Porto Interior, prestando assim apoio às pessoas que sempre ali viveram e trabalharam. Perdem-se tradições e um modo de viver muito peculiar de uma cidade ribeirinha.

Apesar da falta de mão-de-obra especializada, da pouca vontade dos mais novos em aprender as lides antigas, alguns empreendedores locais decidiram apostar e avançar com um projecto ambicioso. Talvez uma pequena luz no fundo do túnel.

Um pequeno grupo de filhos destes resistentes está a fazer a surgir uma nova vaga de jovens para reavivar o sector, de modo que as tradições dos seus antepassados, mas também de Macau, não se percam e continuem a ser fonte de sustento para várias famílias. Têm formação superior e trazem ideias novas, apostando numa outra área que pode vir complementar a actividade tradicional.

Com uma visão mais abrangente, tentam manter a tradição, direccionando a oferta dos serviços e dos conhecimentos dos seus familiares ainda activos para um sector que acreditam ser o futuro para a RAEM e para a sobrevivência das suas raízes familiares.

Terminada a pesca e a frota que a ela se dedicava, viram-se agora para a náutica de recreio, oferecendo os serviços dos anos de experiência dos seus pais e avós aos proprietários de barcos de lazer, que têm Macau como porto ou que por aqui passam todos os anos, vindos de outras marinas da região do Rio das Pérolas.

O facto destes jovens estarem apostados em fazer renascer das cinzas uma indústria quase extinta poderia passar despercebida, caso se passasse em Hong Kong. Na região vizinha há uma indústria semelhante que evoluiu da mesma forma há várias décadas e que tem um peso considerável na economia local. Em Macau é exemplo único e, por tal motivo, deve ser apadrinhado, promovido e seguido por outros.

A empresa Pak Keong Navio, sob a gerência do jovem Vicent Chow, formado pela Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau, aposta forte neste sector da manutenção virada para a náutica de entretenimento e lazer.

Apercebendo-se do declínio do mercado tradicional em Macau e tomando as rédeas da empresa familiar, Vicent decidiu arregaçar as mangas e procurar parceiros de confiança do outro lado da fronteira, para aí lhes fornecer os serviços que em Macau, pelas óbvias limitações de espaço, não podem ser efectuados. Refiro-me, nomeadamente, a trabalhos em grandes embarcações de recreio e que envolvam outros meios tecnológicos, como nos explicou o jovem empreendedor, fazendo questão de frisar que a qualidade, seja em Macau ou na China, estará sempre garantida, como sendo o ponto de honra no trabalho prestado pela Pak Keong Navio. A qualidade terá de ser sempre o cartão-de-visita de todo o serviço prestado, quer seja pela Hai Wei Boat Building, – a parceira responsável pelos trabalhos de fibra de vidro e embarcações de recreio mais pequenas, – quer seja pela Guangzhou Panyu Lingshan Shipyard, – uma das maiores empresas do sector na China – e pelo parceiro que ficará responsável por projectos de maior dimensão e de barcos em alumínio ou outros materiais que não fibra de vidro.

Depois de alguma pesquisa junto do sector em Macau, apurámos que esta é a primeira empresa local a apostar em sair do antigo sistema e a tentar um mercado que aparenta ser promissor. O facto de ser pioneira trará frutos óbvios mas, certamente, outros jovens irão aproveitar e apostar neste mercado, caso o primeiro exemplo vingue. O mercado desta zona do Delta terá capacidade para absorver mais do que uma empresa, desde que o serviço oferecido prime pela qualidade.

Macau tem um mercado de náutica de lazer em crescimento que deveria merecer o apoio do Governo. A actual Marina do Lamau está desactualizada e é desadequada para as exigências dos utilizadores. Não há pontões disponíveis e a legislação de Macau não permite (pelo menos, directamente) que privados fundeiem barcos de lazer fora da marina do Lamau, ao contrário de Hong Kong, onde se pode requerer autorização para usar os fundeadouros regulados pela Port Authority.

Estes jovens empreendedores da Pak Keong Navio, além de terem tido a capacidade de virar uma empresa tradicional, que vivia em agonia, num negócio que parece ter futuro, tiveram também a visão de oferecerem um serviço virado para a comunidade expatriada. O facto de dominarem a língua inglesa e de terem vários contactos fora da esfera chinesa e de estarem a par de todas as tecnologias do momento, faz com que o relacionamento com a comunidade não falante de cantonense se processe de forma natural, fazendo a ponte com a oficina, ou a loja, que pode fornecer o serviço.

É positivo para o mercado da náutica de lazer e para este sector tradicional de Macau que surjam iniciativas como esta. O facto de serem jovens a avançar deixa antever que, ao contrário do que se pensava há uns anos, o futuro pode ser mais risonho.

O primeiro passo parece estar dado. Agora cabe também ao Governo, através dos departamentos ligados a este sector, dar o apoio necessário para apadrinhar e estimular estes jovens empreendedores.

De referir que a Pak Keong Navio vai estar presente, com os seus parceiros da China e locais, na primeira feira de náutica de recreio aqui organizada, a ter lugar na Doca dos Pescadores, de 27 e 30 de Outubro, onde vão ter em exposição vários barcos e exemplos dos serviços que podem fornecer aos seus clientes. Uma oportunidade para ver o que podem fazer e para os interessados poderem contactar directamente os responsáveis do novo sector.

sábado, 1 de outubro de 2011

O CLARIM - Semanário Católico de Macau

Finalmente um parque para cães

AO longo dos anos, os donos de animais de estimação do território têm vindo a reclamar contra as leis pouco adequadas e desactualizadas no que se refere aos bichos.

Os regulamentos legais sofreram algumas alterações. mas, em muitos pontos, continuam ainda fora de contexto. Esta é a actual situação, apesar dos veterinários e associações de protecção dos animais continuamente reclamarem quanto a alguns aspectos que consideram urgente serem revistos, tendo em vista acompanhar o desenvolvimento da cidade e proteger o bem-estar dos animais.

Como se sabe, em Macau é proibido passear cães de estimação sem estarem presos por uma trela, sejam eles bem ou mal treinados. Pelo que, legalmente, não é possível ao dono soltar o animal para que este se exercite e gaste energias acumuladas.

Se perguntarmos a qualquer veterinário acerca da importância do exercício para os animais de estimação, certamente ele nos dirá que é dos aspectos mais importantes a ter em conta com um animal que vive, como a grande maioria dos existentes em Macau, 24 horas dentro de um apartamento. De acordo com a letra da lei, o único local onde o animal pode estar sem trela é em casa dos donos! Infelizmente, a maioria dos residentes não dispõe de casas com espaço suficiente, ou jardim, para os animais andarem à vontade.

Em todos os jardins e áreas ajardinadas do território ou é proibido entrar com cães ou, quando é permitido, não se pode deixá-los à solta.

O facto de o animal não ter oportunidade para exercitar e gastar energias acumuladas faz com que o seu comportamento se torne mais agressivo, começando a comportar-se mal em casa e acabando por se tornar num fardo que poucos têm paciência para carregar. A frustração e todos os comportamentos negativos nos animais estão, muitas vezes, na base da decisão dos donos os abandonarem.

Ao fim de alguns anos de pedidos e insistências de vários sectores, Macau conta agora com um parque para cães. Entrou em funcionamento recentemente e, tanto quanto sei, há planos para mais alguns em outros locais, onde tal seja possível.

É de louvar a ideia do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais, pois desde há muito esse era um desejo de todos os proprietários de animais de estimação e de quem gosta de animais.

Apesar de nem tudo ser perfeito, o local escolhido é aprazível e está bem localizado. Entre o edifício «SeaView» e o Jardim do Reservatório, o parque para cães tem capacidade para acolher dezenas de animais, havendo em todo o recinto caixotes do lixo para depositar as fezes dos animais, podendo ser recolhidas em sacos biodegradáveis que também se encontram no local, em dispensários adequados. Existe também um aguadeiro para os cães aí poderem beber. A iluminação, visto que o parque está aberto das sete da manhã às dez da noite, é insuficiente, mas penso que tal se deve ao facto do recinto ser recente e ainda não ter havido reajustamentos no modo de funcionamento.

No local em questão, onde só podem entrar cães acompanhados e devidamente registados e vacinados, está destacado um segurança que vai zelando pelo bom funcionamento do recinto e preservando o bom ambiente. Periodicamente, um funcionário da empresa concessionária da limpeza passa por ali, para substituir os sacos do lixo nos caixotes. Apesar do grande avanço que esta instalação traz para a população e para os animais de estimação, há ainda aspectos a ter em conta.

Da última vez que ali me desloquei, deparei com muitas fezes dos animais na relva. Deveriam ter sido retiradas pelos proprietários dos animais, mas tal não aconteceu, porque o segurança não exerceu o seu dever de alertar os proprietários. Tal não deve suceder. O segurança tem de estar atento a estas situações de desrespeito pelo Regulamento Geral dos Espaços Públicos e, caso detecte alguma violação, deve chamar as pessoas à atenção ou pedir a presença imediata de um fiscal ou agente das forças de segurança no local, para tomar conta da ocorrência.

Na eventualidade do incidente não ser detectado, o segurança, após se ter apercebido do facto ou ser alertado para o mesmo por algum utente, deve chamar alguém responsável pela limpeza para remover as fezes da relva, de modo que outras pessoas e animais possam usufruir do recinto, sem terem de andar preocupadas em pisar algo menos próprio! Tanto mais que o recinto é frequentado por muitas crianças que acompanham os adultos com animais e aproveitam também para socializar com os cães no recinto.

Cabe também ao segurança zelar pela ordem dentro daquele espaço, onde é proibido comer e beber. Também nessa minha última deslocação, na zona mais distante do parque em direcção ao local de estacionamento do Parque do Reservatório, vi um sujeito sentado num dos bancos a fumar e a beber dentro do recinto. Chamei à atenção do segurança na altura, mas de nada serviu, pois nem se deu ao trabalho de ir verificar o que lhe tinha dito.

Apesar de tudo, é positiva a criação do parque para cães. Espera-se agora que outros surjam e que o funcionamento seja melhor de dia para dia.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Fragrant Harbour

UntitledParadise next door

Hengqin Dao, the island west of Taipa and Coloane, is being promoted by China’s central government as a mecca for leisure in the Pearl River Delta. Promotional material has been issued and Wam Kam, as it is known in Cantonese, Ilha da Montanha in Portuguese, looks set to become serious competition to its wealthy neighbour, Macau.
For years, the people of tiny Macau have talked about expanding into the adjacent islands to relieve their space shortage. Interestingly, some historical sources suggest Hengqin Dao was actually a part of Macau when it was under Portuguese rule in the very early years. So, for Macau to push westwards, and reap the rewards, would seem natural. But China has other ideas and wants a tripart development of the island, involving Macau, Hong Kong and Guangdong province.
Actually, infrastructural and building work on the island has been going on for some time. The first project was notably the new campus of the University of Macau, now well underway to the left side of the Lotus Bridge. Roads are being laid and utilities set up. Once the university got approval to begin construction, by the way, many of Macau’s other educational institutions submitted applications to Beijing for building permits.
But there are also those in Macau who fear that the housing projects on Hengqin Dao may end up like the previous development surge some years back. None of them was completed and the buildings just stand empty and unfinished — an eyesore just across the channel.
Here is another project underway on Hengqin Dao: on the left side of the bridge (above) connecting the Cotai area of Macau to Hengqin Dao, and to the left of Hengqinzhen (Hengqin village), the largest water amusement park in Asia is being built. This is a massive investment to attract customers from the Mainland as well as Macau. Of course, free movement between Macau and Hengqin is going to be necessary; word is that should be sorted out by the end of the year. Other details such as car insurance and driving licences are now being discussed.
The scale of what is being undertaken on Hengqin Dao is, of course, amazing but not unlike the headlong rush to modernise and develop elsewhere in China. Consider that Hengqin Dao is three times the size of Macau and is the largest island in the Zhuhai region. At present it has 3,000 or so residents. By 2020, the estimate is 280,000!
Divided into three specific zones — Leisure and Tourism, Education, Science and R&D, and Commercial — the island has a number of other projects underway (right). By 2012 most of the roads will be ready, including primary and secondary routes, a throughway, a ring road, landscaping and embankments. Not forgetting the MTR Guangzhou-Zhuhai and Guangzhou-Zhuhai extension of the West Expressway.
Let’s hope the construction (right) side of Hengqin’s development will not end up like the infamous housing projects in Hong Kong (for example, the one on Lamma). As for the marine side, the official promotional material does feature marinas and facilities for recreational boating. One is connected to a residential area and the other to the recreational zone covering the area south and east of the island (where the Tianhua Natural Scenic Area, San Diequan Scenic Area and Sea Paradise are now).
In addition, there appear to be navigation channels, possibly based on what currently exists on the island. The lower area of Hengqin Dao has a network of channels and waterways very well known to the people who like to go fishing there.
Planners would do well to factor in more marine recreation into Hengqin Dao’s development. Not only can this satisfy the needs of wealthy Mainlanders and Macanese, but it could also draw very lucrative custom from good old Hong Kong. It’s not too far and, if they get their clearance procedures right, it would be perfect for fleets of yachts (given Macau’s woeful record for paperwork).
Planners should also take a shrewd look at Hong Kong’s failure to develop its superyacht appeal. With marinas popping up almost monthly in places like Hainan, Nansha and elsewhere along the southern China coast, they could come up with incentives to draw floating visitors from outside Asia. Worth a thought.
In 2015, according to the data that was made public, the watercourse Maliuzhou Waterfront Landscape and Zhongzingou Belt Valley Waterfront Landscape will be equipped with all sorts of cultural and recreational services. Don’t dismiss this: consider the incredible Nanhai No.1 museum on Hailing Island (three hours’ drive southwest of Zhuhai, covered in our Number 255 issue).
The Hong Kong-Zhuhai-Macau bridge, scheduled for completion in 2016, may contribute to the popularity of Hengqin Dao, provided tolls are made attractive for private cars and coaches.
Other projects currently underway on Hengqin Dao include the Chime-Long International Ocean Resort, an industrial park for Guangdong-Macau cooperation, the headquarters building for the Hengqin Development Board, the Shizimen Central Business District (CBD), a multigas-engine generator and supplier and the first phase of Hengqin New Home Complex.
For the Macanese, Hengqin’s ascendancy is viewed as a good thing. There is little space in Macau to grow and there is no desire for more reclamation. Hengqin could provide liebensraum and help improve the quality of life in the former Portuguese enclave.
http://www.youtube.com/watch?v=fWIuUfUm2kQ&NR=1

O CLARIM - Semanário Católico de Macau

Lei pode resolver problemas do trânsito

MUITO se tem falado sobre a qualidade dos condutores de Macau e do trânsito que, a cada dia que passa, se torna cada vez mais caótico. No entanto, acredito que, se as leis do trânsito fossem seguidas à risca, muito mudaria e a circulação seria muito mais fluida.

Para quem conduz em Macau, percorrer as estradas diariamente é uma aventura que, não poucas vezes, acaba mal. Contudo, eventuais acidentes poderiam, muitas vezes, ser evitados, se todos seguissem as regras que aprenderam nos bancos das escolas de condução.

Daí que, se parte do problema é os condutores não seguirem as regras básicas da circulação rodoviária, faz todo o sentido que os responsáveis do sector comecem por ter isso em conta, ao procurarem solucionar o problema do trânsito.

Ainda me lembro que, no início dos anos 90, na Europa passou-se a criar uma mentalidade, instituída superiormente, que ficou conhecida como «tolerância zero». De um dia para o outro, as autoridades rodoviárias deixaram de ser complacentes para com os prevaricadores, aplicando a lei à letra e não havendo lugar a qualquer tipo de excepção.

Na altura, muitas vozes se levantaram, houve manifestações e mini-revoltas de pessoas que não se conformavam com o facto de, numa sociedade de Direito, terem de seguir regras tão restritivas.

Pergunto-me: afinal, quando se faz o exame de condução e de código não temos de saber a teoria e conduzir bem? Por que razão, depois de ter a carta, passamos a conduzir mal?

Em Macau, a exigência dos exames práticos e teóricos não é inferior à da Europa. Basta ir ao website da Direcção dos Serviços de Assuntos de Tráfego e tentar fazer os exames teóricos que ali estão disponíveis. Em nada ficam atrás do exame que fiz quando tirei a carta de condução, em Coimbra, há uns anos.

Ora, se o ensino e o exame são semelhantes, algo estará errado no sistema. Possivelmente, estamos perante um problema que tem a sua raiz na forma de aplicação da mesma lei…

Nunca vi em Macau um agente da autoridade mandar parar um condutor porque este não respeitou um peão na passadeira, ou porque pisou um risco contínuo. Portanto, se a lei não é aplicada, como se pode exigir que as pessoas conduzam bem e que o trânsito seja fluído?

Se a polícia e os outros agentes envolvidos na regulação do trânsito começarem a ter coragem para aplicar a lei, sem darem lugar a qualquer tipo de clientelismo ou excepções, as mentalidades rapidamente mudam. Excessos de velocidade, pisar o risco contínuo, mudar de direcção sem fazer sinal, desrespeitar sinais vermelhos, prioridades e sinais de STOP, são apenas alguns exemplos dos inúmeros atropelos que diariamente se vêm nas ruas de Macau.

Mas, como em tudo, o exemplo tem mesmo de vir de cima. E, neste caso, os senhores que conduzem carros e motorizadas da polícia terão de ser os primeiros a dar o exemplo. Não esquecendo todos os outros condutores que andam atrás do volante de carros do Governo.

Se assim for, penso que todos começarão a cumprir e o trânsito em Macau acabará por ser mais disciplinado.

Quanto às críticas, que com toda a certeza surgirão quando as autoridades começarem a aplicar a lei à letra, bastará dizer que a lei é igual para todos e para ser cumprida por todos os cidadãos.

Até lá, resta-nos sonhar com uma cidade onde todos se respeitem e saibam cumprir os mínimos de decência de vida em sociedade.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

O CLARIM - Semanário Católico de Macau

Feira de iates em Macau

ESTAMOS a pouco mais de um mês da realização da primeira feira de material náutico de Macau e, no entanto, o evento nem sequer é conhecido pela maioria da população!

Anunciada, com pompa e circunstância junto da Comunicação Social chinesa e especializada, num evento ocorrido no Rocks Hotel, na Doca dos Pescadores, esta iniciativa, a realizar entre os dias 27 e 30 de Outubro, promete transformar a marina do local numa montra do que melhor se faz na náutica de luxo no mundo inteiro e atrair à RAEM a fina nata do sector.

O contrato assinado entre a Fuzhou Auto China Yachts Management, o Governo e o promotor, David Chow, é válido para três edições da feira, pelo que se pode afirmar que, até 2014, Macau vai contar com uma feira especializada na náutica de lazer.

De acordo com a informação disponibilizada pelos organizadores, irão marcar presença no recinto cerca de três dezenas de fabricantes de barcos de luxo de todo o mundo. A par da mostra, serão organizadas outras actividades lúdicas e de diversão, de modo a ajudar a manter os visitantes naquele espaço.

O projecto, liderado pelas empresas Fuzhou Auto China Yachts Management, China Ocean Aviation Group, Nam Kwong (como parceiro local), China Automotive Industry International, Macau Expo Group, com o apoio do Governo, da China Machinery Industry Group e da Associação de Exibições e Convenções de Macau, promete trazer milhares de visitantes e compradores ao território.

Em conferência de Imprensa, que não mereceu tradução sequer em Inglês, foi salientado que esta mostra não será igual às que se organizam noutros locais do mundo, porque Macau oferece muitas vantagens que lhe são únicas e que o diferenciam do resto: desenvolvimento económico forte, abundantes recursos turísticos e culturais, condições de trânsito favoráveis e extensa oferta de serviços de exibições. Isto, para além de estar perto de Hong Kong, de Taiwan, virado para a China continental e aberto ao mercado do Sudoeste Asiático. Características que, de acordo com o comité organizador, criam um «banquete ideal para a importação e exportação de iates».

De acordo com a Fuzhou Auto China Yachts Management está confirmada a presença de mais de trinta marcas de topo, vindas da China, Itália, Reino Unido, América, Alemanha, Austrália, França, Japão, Taiwan e Nova Zelândia. Entre elas incluem-se as conhecidas Sunsekeer, ARS Monaco, Italyachts, Horizon, Azimut, Benetaeu, Lagoon, Meridian e a Pershing.

A mostra irá ocupar toda a zona da marina na Doca dos Pescadores, onde ficarão atracados os barcos para venda e exibição. Ao longo das avenidas do parque temático serão instaladas tendas das mais variadas marcas de produtos e serviços, relacionados com este sector de actividade.

Além do lado mercantil da feira, a organização promete ainda diversas actividades de diversão e outros eventos que, de acordo com o que foi avançado na conferência de Imprensa, irá cativar os visitantes e mantê-los entretidos durante todo o dia.

A questão da náutica de recreio na RAEM já foi abordada por várias vezes e eventos desta natureza serão sempre bem-vindos. Mas será que, em tão pouco tempo, haverá capacidade para meter de pé tão ambicioso projecto? Ou será mais um evento prometido que redundará num enorme fiasco para os visitantes e participantes? A organização confirma que tudo está a decorrer dentro do previsto e que todos os detalhes estão pensados.

Julgo que quem organiza tenta sempre fazer o melhor que pode e Macau certamente merece um evento deste tipo. Aliás, peca apenas por ser tardio, porque o mercado da náutica de recreio tem vindo a crescer em toda a zona do Delta do Rio das Pérolas e Macau tem ficado para trás.

A empresa que lidera o projecto, a Fuzhou Auto China Yachts Management, tem vasta experiência na organização de eventos de grande envergadura e, no seguimento do conselho deixado pelos líderes de Pequim, esta iniciativa encaixa perfeitamente na diversificação da economia local. Será mesmo por isso que o evento conta com o apoio explícito de Fernando Chui Sai On, o Chefe do Executivo, que fez questão de vincar esse apoio num certificado assinado por si, em que garante todo o apoio ao evento e aos seus organizadores.

O CLARIM - Semanário Católico de Macau

Crie-se uma empresa governamental única

O MÊS de Setembro marcou o regresso às aulas para a maioria dos estudantes do território e causou alguma apreensão junto da população por se temer uma maior confusão no trânsito.

Desde a entrada em funcionamento do novo modelo de exploração dos transportes públicos, agora com três empresas concessionárias, a entidade governamental responsável, a Direcção de Serviços dos Assuntos de Tráfego (DSAT) tem vindo a monitorizar e a tentar ajustar os trajectos e frequências dos autocarros, para fazer face à demanda dos utilizadores e às muito peculiares características de Macau.

Como se sabe, o espaço em Macau não abunda e, com o incessante aumento da população e das viaturas privadas, o recurso ao incremento do número de autocarros a circular diariamente não parece ser a solução mais indicada para o problema das deslocações dos cidadãos. Mais carros na estrada quando o problema é mesmo a falta de fluência do trânsito?

Anteriormente, quando só havia duas concessionárias, as críticas já recaíam no facto do trânsito ser lento e muito demorado, para além da falta de qualidade dos veículos e do serviço prestado. Pelo que, aumentar o número de autocarros para solucionar o problema me parece, no mínimo, contraproducente! Melhorou a qualidade dos veículos, mas aumentou a confusão e diminuiu a qualidade do serviço prestado.

Não sou especialista no assunto, mas utilizo os serviços dos autocarros com alguma assiduidade. Sinceramente, não consigo detectar nenhuma melhoria relativamente ao sistema antigo. Aliás, considero que actualmente a confusão é ainda maior e as demoras mais prolongadas.

Para uma cidade com as dimensões de Macau, e devido precisamente à escassez de espaço para vias de rodagem, a solução poderia passar mesmo, não pelo aumento do número de companhias fornecedoras, mas sim pela sua diminuição. Se o serviço estivesse adjudicado a uma só companhia (ou se fosse criada uma empresa estatal, à semelhança de muitas outras cidades do mundo), a sua organização seria muito mais fácil, assim como o controle por parte das autoridades governativas.

Há ainda outro aspecto no contrato de concessão que, em minha opinião, se torna desajustado perante a realidade de Macau. Sendo o Governo responsável pela injecção de capital nas companhias concessionárias, em troca do serviço por estas prestado, nada foi estipulado como incentivo para que estas companhias se vejam estimuladas a prestar um bom serviço e a aumentar a qualidade daquilo que oferecem.

O contrato baseia-se no pagamento por quilómetro percorrido. Daí que a empresa concessionária pouco se preocupa se os autocarros andarem vazios ou cheios, visto que recebe o mesmo no fim do mês!

De que vale ter 600 autocarros nas estradas de Macau, se continuamos à espera tempos «eternos» para apanhar um que nos leve ao destino? De que vale andarem a alterar rotas, se os utentes têm que adivinhar onde devem ir apanhar o autocarro que lhes serve para irem trabalhar?

Para um local como Macau, uma ou duas centenas, no máximo, de autocarros deve ser mais do que suficiente, desde que bem organizados e com um controlo apertado dos trajectos, paragens e horários: uma empresa controlada pelo Governo, de forma directa ou indirecta, e que não tenha de estar dependente de quilómetros feitos para receber o seu pagamento no final do mês; mas, por outro lado, que tenha um sistema de incentivos que a leve a tentar melhorar a oferta do serviço prestado, quer se trate de empresa pública ou de empresa prestadora de serviço público por concessão.

Como a autoridade que controla os serviços públicos de autocarros é também responsável por todos os outros assuntos relativos ao trânsito no território, porventura já devem ter concluído que usar medidas draconianas para limitar a circulação de veículos particulares não resulta e só causa insatisfação na população.

As pessoas devem ser, e tal está previsto em qualquer local do mundo civilizado e democrático, livres de utilizarem os meios de locomoção que bem entenderem (liberdade de opção). O recurso ao aumento desmesurado das taxas de utilização e impostos apenas reflecte a falta de capacidade dos governantes para resolver o problema e, por outro lado, reflecte também a falta de qualidade da oferta dos transportes públicos.

Macau não tem falta de serviços públicos de transportes; o que tem é falta de capacidade de os organizar de forma adequada e de os fiscalizar eficientemente. E quando falo de autocarros, aplico a mesma bitola para os táxis e para o futuro metro ligeiro.

Ainda um pequeno reparo para a DSAT: a língua portuguesa é língua oficial, a par com a chinesa; pelo que deve ser respeitada e surgir em todos os documentos e painéis. Ultimamente têm surgido alguns painéis informativos nas paragens de autocarro que parece terem sido comprados em Hong Kong, visto estarem escritos apenas em chinês e inglês

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

O CLARIM - Semanário Católico de Macau

Símbolos portugueses desaparecem

CIRCULA por mensagem electrónica, há já algum tempo, uma acusação sobre o Boletim Oficial da Região Administrativa Especial de Macau. Na mensagem chama-se à atenção para o que foi feito às versões digitais (em versão PDF) das publicações anteriores a 20 de Dezembro de 1999, ou seja, as publicadas sob Administração Portuguesa e que ostentavam o símbolo da República Portuguesa no topo da primeira página.

Pelo que consegui constatar antes de contactar a Imprensa Oficial, à semelhança do que aconteceu em muitos dos edifícios públicos do território, também as páginas do Boletim Oficial em versão digital se viram limpas dos símbolos portugueses.

A medida não é recente, mas só agora mereceu alguma atenção com a sua circulação na Internet. Em resposta a um pedido de esclarecimento enviado à Imprensa Oficial, foi-me respondido o que passo a citar na íntegra, para evitar diferentes entendimentos: «A página electrónica da Imprensa Oficial como sendo uma página electrónica do Governo da Região Administrativa Especial de Macau, só apresenta em circunstâncias normais o Emblema Regional da RAEM.

Desde o ano de 2007, a Imprensa Oficial começou a disponibilizar gradualmente, na sua página electrónica, as legislações publicadas antes do estabelecimento da RAEM e os documentos correlacionados.

A respectiva versão em formato PDF só inclui parte do conteúdo constante dos Boletins Oficiais publicados durante aquele período. A versão em formato PDF destina-se apenas a facilitar a consulta da legislação e do respectivo conteúdo por parte dos cidadãos, não constituindo um arquivo integral ou histórico da sua versão impressa».

Portanto, pela explicação, percebe-se que apenas a partir de 2007 temos as versões da Administração Portuguesa disponíveis na Internet. E que as mesmas não estarão disponíveis na sua totalidade e na íntegra, porque não se trata de um repositório histórico, mas apenas de consulta fácil.

Compreende-se que tenha sido trabalhoso digitalizar todos os números do Boletim Oficial anteriores a 20 de Dezembro de 1999. E, pelo que se pode ver na imagem que publicamos, a trabalheira deve ter sido ainda mais complexa porque se deram ao trabalho de digitalizar as primeiras páginas, indo depois apagar o símbolo de Portugal. Ou será que a digitalização foi feita com um digitalizador especial que excluía, automaticamente, aquilo que não interessava a alguém? Porque as versões digitalizadas, posteriores a 1999, ostentam o símbolo da RAEM no local onde as anteriores a 20 de Dezembro do mesmo ano tinham o de Portugal.

Se fosse a inexistência das primeiras páginas, onde se encontra o símbolo de Portugal, ainda se percebia. No entanto, não é disso que se trata. A primeira página está disponível e, num acto deliberado e que deve ter demorado muito tempo, devido à imensidão de números que foram publicados, foi-lhe obliterada apenas a parte do símbolo.

A confirmar-se que foi uma acção concertada, é de lamentar e não consigo perceber como é que alguém tenha ordenado procedimento semelhante. Tanto mais que a acção tem mais de caricato do que de sério. Trata-se, realmente, de um «episódio que não lembraria nem ao diabo», como se costuma dizer na gíria popular.

Se a intervenção para remover os símbolos e nomes dos edifícios históricos roçou o ridículo, o ataque às páginas do Boletim Oficial nas versões PDF só pode ser brincadeira de quem tem algum ódio ressabiado e reprimido!

O Governo deveria tomar medidas e averiguar a fundo o que se passou, porque tentar apagar a história é algo muito grave. Foi maior o desperdício de meios e dinheiro para apagar o símbolo do que se o tivessem mantido, pelo que se torna importante saber quem ordenou tal trabalho e o uso de verbas públicas.

Macau, como se prova pela inclusão na lista do Património Mundial da UNESCO, só tem que se sentir orgulhoso do passado que tem. Não fosse a presença do poder lusitano nestas paragens durante quase cinco séculos e não existiria justificação para a distinção das Nações Unidas. Macau seria igual a qualquer local do outro lado da fronteira.

O facto de tentarem apagar a história faz lembrar alguns incidentes no interior da China, aquando da Revolução Cultural, altura em que tudo o que fosse estrangeiro era considerado burguês; logo, de acordo com os preceitos fundamentalistas da altura, condenável e alvo de destruição. Assim se perdeu muito do que havia de histórico na China, tanto de origem ocidental, como até dos períodos anteriores ao poder comunista. Hoje em dia, mentes mais esclarecidas do Governo Central consideram que foi um erro tremendo ter-se enveredado por essa via e tentam remendar o que ainda é possível recuperar.

Em Macau, passadas muitas décadas sobre os erros cometidos no interior da China, até parece haver quem queira continuar a fazer o mesmo, apagando os vestígios do passado.

Nos últimos anos, tem-se notado uma regressão e uma tentativa de remediar os excessos cometidos nos primeiros anos de Região Administrativa Especial, voltando-se a usar as denominações originais dos edifícios. Basta ver a lista oficial do Património Mundial da UNESCO para verificar que os nomes antes de 1999 são os que foram reconhecidos. O edifício do Leal Senado é disso exemplo.

O Boletim Oficial não faz parte da distinta lista, mas, como qualquer outro documento, é parte integrante da história do território e fonte importante para quem queira estudar o passado. Ali são publicados todos os acontecimentos políticos da vivência desta terra, que mais tarde podem servir para ajudar a compreender o dia-a-dia da vida em Macau.

sábado, 13 de agosto de 2011

Fragrant Harbour

Macau gets bigger

UntitledThe Macau waterfront is soon to be transformed by a number of reclamation and development projects. Draft consultations are underway yet, despite local coverage, very little has been reported outside the Macau Special Administrative Region. More surprising is that few of the former Portuguese enclave’s half a million inhabitants really understand the extent of their government’s plans.
The coloured zones marked as B, C and D on the accompanying graphic (opposite page) will affect what
is known as the ‘riverside area’ among the three bridges. Work on these is progressing. The two zones on Taipa, marked as E1 and E2, are for the new and temporary ferry terminals . . . if the government can make a decision to relocate the old ferry terminal (more on that later).
But, certainly the area which will create the most impact is Zone A. This stretches along the east side of the Friendship Bridge to Gongbei in China and, when completed, will effectively increase the size of the Macau peninsula by 25%. It will also be where the Macau link to the Hong Kong–Zhuhai-Macau Bridge is located, and is likely to be the first of all the zones to be completed.
These projects, together with other waterfront developments, were presented to the public in November 2010. Consultation is open until the 8th of August but, like so many other important issues in Macau, there has been little or no concern shown for the loss of existing waterfront, sea area or, indeed, why there is a need for more land.
One thing is for sure, there are major changes afoot . . . starting on the starboard side of the ferry as you
arrive. Macau currently has a total land area of 29.2 square kilometers.
The reclamation will increase that by 12.3 percent to 32.81 square kilometers. Land created will amount to approximately 350 hectares. The projects, naturally, are given a positive spin and show little of what will be lost and, of course, say nothing about what could go wrong. There are all sorts of promises such as green corridors, links between new and old areas, preservation of historical sites, and so on.
The truth is (well, certainly with this writer) that few people really believe what the government says and are rightly suspicious of grand plans and glossy presentations.
More urgent than reclamation and construction projects would be a sensible and cohesive policy on the preservation and promotion of Macau for its maritime heritage. Sadly, the examples of mistreatment of historical buildings and structures are too many. Who can remember seeing the Guia Lighthouse (right) — an endearing icon of Macau — from all angles?
Over the past five years, infrastructural works and housing projects have all but obliterated its reassuring presence. In fact, Tap Seac and Golden Lotus Square are about the only two place where you can get a clear view of the 146-year-old structure. (Word is Macau has received another stern letter from UNESCO drawing attention to the city’s responsibilities in retaining World Heritage Site status for the lighthouse.)
Let’s not forget, Macau has always been a maritime city and has existed ‘facing the water’.
However, developments and unchecked progress in recent years have seen Macanese turn their backs on their history. And, as mentioned before, there is no real policy to recognize the city’s historical importance, or its potential.
Take commercial fishing, once an important sector of the economy. It is now virtually nonexistent.
And what about recreational boating? Another sorry story, and a mere shadow of what it was before 1999. There is only one marina, despite constant calls for more to be built. With more berthing facilities, Macau would be able to attract more boats, provide jobs, and attract visitors from around the region. There is much talk of an Asian superyacht circuit but for this there need to be destinations and facilities — Macau,
like Hong Kong, is missing a golden opportunity.
Macau Fisherman’s Wharf is a sad case of where a private venture has turned out to be a white elephant. Largely, because of dithering and a lack of support and understanding from the government. Furthermore, until such time as a decision is made on the old ferry terminal, pleasure craft simply can’t be allowed to navigate in and out of busy ferry lanes. The plan was to move the terminal to Taipa, and the developer went ahead with the basin for the marina. But since no decision has been made on a new terminal for the ferries, the developer has put further work in the marina basin on hold. A prime ‘riverside’ location abandoned because government won’t make a decision on the ferry terminal and has been distracted by questionable reclamation and development projects. Moreover, this indecision by the authorities has seen other missed opportunities. Whoever follows Macau affairs will remember that Stanley Ho prepared and presented, some years ago, a huge project called Oceanus. It was of a hotel that would occupy part of the area where the former New Yaohan mall was situated, crossing Friendship Avenue to the place where the old Palace floating casino was moored and even included part of the ferry terminal itself. This project was shelved, and the shopping centre turned into another casino.
Although the government has sponsored several public forums to discuss good use of the SAR’s waterfront and sea area, a higher level of debate is now needed. A multi-disciplinary team needs to address the many technical aspects of an ‘expanding’ Macau. The general population may know what it
wants but it is unlikely to know whether it is possible or feasible — this is where civil engineers, architects and town planners are useful.
Macau’s authorities do not pay enough attention to criticism, or even measured advice.
They doesn’t even listen to business and tend to act unilaterally. The results are plain to see in the shambolic planning of areas and general deterioration of the city. Artificial islands (Zone A) are not going to solve these problems. In fact, Macau could well end up with its own ‘West Kowloon Reclamation’ fiasco.
Let us all hope that needless reclamation and specious construction projects, together with the impact of the Hong Kong-Zhuhai-Macau Bridge, do not bring any more problems to a Macau that should not be allowed to end up as just another Chinese coastal city. There is nothing wrong with reclamation, construction or bridges but there has to be a need for them. Will they make the air pollution worse, and what about the quality of seawater?
Macau has existed because of the sea, but its waterfront now faces an uncertain future. Attention is being paid to apartment blocks, casinos and new buildings but is this really necessary, especially when it is at the expense of a rich and important maritime heritage?

NaE's kitchen A Cozinha da NaE

NaE's kitchen A Cozinha da NaE
Visite... Visitem...