Crie-se uma empresa governamental única
O MÊS de Setembro marcou o regresso às aulas para a maioria dos estudantes do território e causou alguma apreensão junto da população por se temer uma maior confusão no trânsito.
Desde a entrada em funcionamento do novo modelo de exploração dos transportes públicos, agora com três empresas concessionárias, a entidade governamental responsável, a Direcção de Serviços dos Assuntos de Tráfego (DSAT) tem vindo a monitorizar e a tentar ajustar os trajectos e frequências dos autocarros, para fazer face à demanda dos utilizadores e às muito peculiares características de Macau.
Como se sabe, o espaço em Macau não abunda e, com o incessante aumento da população e das viaturas privadas, o recurso ao incremento do número de autocarros a circular diariamente não parece ser a solução mais indicada para o problema das deslocações dos cidadãos. Mais carros na estrada quando o problema é mesmo a falta de fluência do trânsito?
Anteriormente, quando só havia duas concessionárias, as críticas já recaíam no facto do trânsito ser lento e muito demorado, para além da falta de qualidade dos veículos e do serviço prestado. Pelo que, aumentar o número de autocarros para solucionar o problema me parece, no mínimo, contraproducente! Melhorou a qualidade dos veículos, mas aumentou a confusão e diminuiu a qualidade do serviço prestado.
Não sou especialista no assunto, mas utilizo os serviços dos autocarros com alguma assiduidade. Sinceramente, não consigo detectar nenhuma melhoria relativamente ao sistema antigo. Aliás, considero que actualmente a confusão é ainda maior e as demoras mais prolongadas.
Para uma cidade com as dimensões de Macau, e devido precisamente à escassez de espaço para vias de rodagem, a solução poderia passar mesmo, não pelo aumento do número de companhias fornecedoras, mas sim pela sua diminuição. Se o serviço estivesse adjudicado a uma só companhia (ou se fosse criada uma empresa estatal, à semelhança de muitas outras cidades do mundo), a sua organização seria muito mais fácil, assim como o controle por parte das autoridades governativas.
Há ainda outro aspecto no contrato de concessão que, em minha opinião, se torna desajustado perante a realidade de Macau. Sendo o Governo responsável pela injecção de capital nas companhias concessionárias, em troca do serviço por estas prestado, nada foi estipulado como incentivo para que estas companhias se vejam estimuladas a prestar um bom serviço e a aumentar a qualidade daquilo que oferecem.
O contrato baseia-se no pagamento por quilómetro percorrido. Daí que a empresa concessionária pouco se preocupa se os autocarros andarem vazios ou cheios, visto que recebe o mesmo no fim do mês!
De que vale ter 600 autocarros nas estradas de Macau, se continuamos à espera tempos «eternos» para apanhar um que nos leve ao destino? De que vale andarem a alterar rotas, se os utentes têm que adivinhar onde devem ir apanhar o autocarro que lhes serve para irem trabalhar?
Para um local como Macau, uma ou duas centenas, no máximo, de autocarros deve ser mais do que suficiente, desde que bem organizados e com um controlo apertado dos trajectos, paragens e horários: uma empresa controlada pelo Governo, de forma directa ou indirecta, e que não tenha de estar dependente de quilómetros feitos para receber o seu pagamento no final do mês; mas, por outro lado, que tenha um sistema de incentivos que a leve a tentar melhorar a oferta do serviço prestado, quer se trate de empresa pública ou de empresa prestadora de serviço público por concessão.
Como a autoridade que controla os serviços públicos de autocarros é também responsável por todos os outros assuntos relativos ao trânsito no território, porventura já devem ter concluído que usar medidas draconianas para limitar a circulação de veículos particulares não resulta e só causa insatisfação na população.
As pessoas devem ser, e tal está previsto em qualquer local do mundo civilizado e democrático, livres de utilizarem os meios de locomoção que bem entenderem (liberdade de opção). O recurso ao aumento desmesurado das taxas de utilização e impostos apenas reflecte a falta de capacidade dos governantes para resolver o problema e, por outro lado, reflecte também a falta de qualidade da oferta dos transportes públicos.
Macau não tem falta de serviços públicos de transportes; o que tem é falta de capacidade de os organizar de forma adequada e de os fiscalizar eficientemente. E quando falo de autocarros, aplico a mesma bitola para os táxis e para o futuro metro ligeiro.
Ainda um pequeno reparo para a DSAT: a língua portuguesa é língua oficial, a par com a chinesa; pelo que deve ser respeitada e surgir em todos os documentos e painéis. Ultimamente têm surgido alguns painéis informativos nas paragens de autocarro que parece terem sido comprados em Hong Kong, visto estarem escritos apenas em chinês e inglês
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