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domingo, 27 de novembro de 2011

O CLARIM - Semanário Católico de Macau

Clínicos gerais à pressão

A SAÚDE, ou a falta dela, em Macau, é um assunto que acaba por reunir o consenso da população, mas um tema que, infelizmente, anda sempre nas bocas do mundo pelas piores razões. É evidente que, nos últimos anos, o sistema de saúde tem vindo a piorar, devido à falta de mão-de-obra qualificada e nada, ou muito pouco, tem sido feito para resolver o problema.

A solução adoptada até agora passava, quase exclusivamente, por recrutar clínicos ao exterior, nomeadamente do interior da China, com todas as desvantagens que isso acarreta, devido à falta de qualidade, problemas linguísticos, culturais e mais alguns pormenores que não vale a pena enumerar. Importa dizer, desde já, que quem sai mais prejudicado neste esquema é o utente; contudo, em abono da verdade, também não devemos esquecer os médicos de boa qualidade que acabam por ser incluídos no rol de queixas da população, apesar de diariamente se esforçarem por oferecer bons serviços, sem por tal serem reconhecidos.

Recentemente vi na Imprensa que o hospital (privado) Kiang Wu, desde 2003 (confesso que foi uma total novidade para mim), tem vindo a formar médicos de clínica geral em cursos de um ano! Cursos de ensino com métodos inovadores, afirmavam os responsáveis daquela unidade hospitalar.

Este pormenor deixou-me algo preocupado, porque, segundo me informaram, estes «médicos» estão agora a prestar serviço nas urgências e em regime de turnos nas várias valências das unidades hospitalares do território.

Não consegui apurar quais os requisitos para se participar neste curso de «medicina» geral que consegue criar clínicos num ano; no entanto, segundo o que foi tornado público na Imprensa, o recurso a experiências práticas, mas sem descurar o ensino teórico, é, de acordo com o Kiang Wu, a reposta para se conseguir formar os clínicos gerais em tão pouco tempo.

Deveremos ou não estar preocupados com esta situação? Sempre tive como adquirido que a entrada num curso de medicina, de nível ocidental, era das provas mais difíceis para qualquer estudante do ensino secundário; e que os cinco anos passados a estudar para ter acesso ao canudo eram também eles muito complicados. Agora, porém, os responsáveis do hospital privado de Macau anunciam que, afinal, tudo isto se pode fazer num ano!

Bom, se realmente for verdade, descobriram uma fórmula para acabar com a falta de médicos na RAEM e, quem sabe, noutras paragens! Estaremos perante uma grande descoberta, ou mais uma peculiaridade de Macau? Quem nos assegura a qualidade desses clínicos? Ou será que não vale a pena questionar tal aspecto, visto que o sistema já está tão mau, que qualquer clínico, por muito mau que seja, será sempre um valor acrescentado?

A ser assim, temo pela qualidade e pela honra de muitos dos médicos que ainda vão trabalhando nos hospitais de Macau, porque vão acabar por ver a sua imagem denegrida por estes «colegas» feitos à pressão.

A verdade é que, das últimas vezes que tive de ir às urgências, acabei por sair de lá sempre com a mesma medicação: Paracetamol para a febre, mas também para as dores de articulações e musculares e um qualquer anti-histamínico para o nariz, mas que também serviu para coceira de pele. Ou seja, receitam-nos a mesma coisa para um sem número de maleitas, quando deveriam tentar apurar, mais a fundo, o que realmente está mal no paciente. E quando reclamamos e pedimos que nos seja feito um exame mais sério, acusam-nos de pretendermos saber mais do que o próprio médico.

O que ocorreu comigo também se regista, muito certamente, com outros utentes. Recentemente, um conhecido deslocou-se às urgências em três ocasiões diversas, com sintomas diferentes, mas acabou por sair sempre com a mesma medicação. O típico paracetamol, nesse caso, serviu para dores de cabeça, artrite e gripe.

Se estes clínicos, nas urgências do CHCSJ, vêm das fornadas do Kiang Wu, aconselho a que a «escola» comece a leccionar «casos práticos» mais variados, porque os pacientes correm o risco de virem a desenvolver resistência aos efeitos do paracetamol, a muito curto prazo.

A iniciativa do Kiang Wu é de louvar, visto haver em Macau uma crónica falta de médicos; no entanto, sendo o sector da Saúde tão sensível e de tão grande importância, o Governo deve ter uma postura activa na fiscalização destes métodos de ensino. Tratando-se de cursos de medicina, deve haver um grupo de especialistas médicos, de várias especialidades e de várias nacionalidades e culturas, para verificarem o que é leccionado e como é leccionado. E, no final dos cursos, os alunos devem ser submetidos a rigorosos exames, por entidades independentes, para atestar as suas qualidades, antes de entrarem no mercado de trabalho, como acontece, por exemplo, com os advogados.

Apesar dos nossos dirigentes não usarem os serviços de saúde de Macau (vá-se lá saber porquê...), não se devem esquecer que a esmagadora maioria da população não tem meios para ir ao médico a Hong Kong ou à Tailândia.

Afinal, é a saúde de todos nós que está em causa!

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