Cônsul veta exposição
ESPERO que não me considerem tendencioso depois de lerem estas linhas, mas não posso deixar de vir a público repudiar algo que se ficou a saber recentemente.
Sou amigo do principal visado há mais de uma década e, por acaso, ambos colaboramos com O CLARIM. No entanto, não foram estas afinidades que me fizeram escrever este artigo.
Fiquei indignado quando soube que a exposição de fotografias do Joaquim Magalhães de Castro, sobre a sua viagem de 40 dias a bordo do Navio Escola Sagres (entre Goa e Lisboa), fora cancelada pelo nosso mui excelentíssimo cônsul de Portugal na Região Administrativa Especial de Macau. Indignado, mas não surpreendido, visto que não é a primeira vez que decisões pouco claras partem do nosso consulado neste torrão de terra, a que muitos portugueses «expatriados» chamam casa.
Durante a minha vida em Macau acompanhei todos os cônsules que por aqui passaram e, sinceramente, este tem sido rico em surpresas amargas. O serviço do consulado é o que é, com queixas de todos os quadrantes. Mas, mais grave do que isso, a arrogância toma contornos pouco dignos de um representante do Governo de Portugal, que está em Macau para servir os portugueses, quando afirma que não tem de dar justificações sobre os gastos feitos pelo Consulado.
Na entrevista acerca do cancelamento da exposição, publicada na edição do Hoje Macau do passado dia 27 de Junho, o digníssimo cônsul alega que não tem de «dar explicações sobre como gasta o dinheiro do Estado!».
Como residente de Macau, mas, acima de tudo, enquanto cidadão português, custa-me a acreditar que assim seja. Aliás, como cidadão português tenho o direito de perguntar ao meu Governo sobre os destinos dos impostos que pagamos. Se há direito que temos é o de saber onde o Consulado «mete» o dinheiro que vem de Portugal. Afinal, trata-se do erário público. Ou será que os consulados portugueses têm carta-branca para fazerem o que quiserem sem darem contas a ninguém? Não me parece!
Dos cônsules que por aqui passaram sempre houve queixas, no entanto, nunca o mal-estar foi tão grande como agora. Possivelmente chegou o momento de Portugal pensar numa ronda de rotatividade extraordinária.
Não sou eu apenas que me queixo. A indignação chega mesmo aos portugueses de etnia chinesa. Basta, por exemplo, escutar de manhã o canal chinês da Rádio Macau, para se ouvirem queixas sobre o serviço do consulado e sobre a forma como as pessoas são tratados. Queixas que, como sabemos, já chegaram à Assembleia Legislativa, pela voz de um dos deputados da RAEM (aqui o Cônsul fez o que devia, isto é, não respondeu porque nada tem a ver com o que se passa na AL).
Sobre o serviço prestado no consulado, já uma vez citei uma queixa apresentada ao Ministério dos Negócios Estrangeiros em Portugal, por falta de educação e arrogância de um funcionário consular. Pelo que sei, dessa queixa ficou a intenção e a resposta das instâncias responsáveis, dizendo apenas que iriam acompanhar o caso. Até hoje a situação mantém-se aos olhos de todos.
Não me digam que sou apenas eu a queixar-me, porque as vozes ouvem-se de vários quadrantes e cada vez mais pessoas evitam, a todo o custo, usar os serviços do consulado.
Acredito que o corpo de funcionários, tirando um ou outro colaborador, é de boa qualidade e feito de pessoas dedicadas e com boa vontade. Contudo, a liderança nada parece fazer para passar uma imagem de dinâmica e de empenho em melhorar o serviço.
Este incidente, que ainda há-de fazer correr muita tinta, pois há muitos detalhes por explicar, foi ainda mais agudizado pela falta da presença do cônsul no lançamento oficial do livro de Joaquim Magalhães de Castro, em Julho, na Livraria Portuguesa, intitulado «No Mundo das Maravilhas».
Há muito que perdi as esperanças relativamente à nossa representação diplomática em Macau. Se anteriormente nos queixávamos que a presença era pouco sentida, hoje penso que nem isso se nota. Basta-nos esperar que quem vier na próxima rodada seja mais sensível a estes problemas e que ouça toda a população e não apenas uma parte.
Quanto ao Joaquim, espero que a sua iniciativa vá avante com o Instituto Internacional de Macau (IIM) e, à laia de sugestão, aconselho-o a contactar a Embaixada de Portugal em Banguecoque. Pode ser que ainda seja incluída nas comemorações dos 500 Anos da Presença Diplomática Portuguesa na Tailândia.
Estou certo que tanto o anterior embaixador e querido amigo, António de Faria e Maya, como o actual representante de Portugal, o embaixador Jorge Torres Pereira, irão gostar da iniciativa e serão sensíveis ao projecto.
Espero que os contactos que entretanto foram feitos para o Ministério dos Negócios Estrangeiros e para a Marinha Portuguesa surtam os efeitos necessários, porque em Macau precisamos que nos representem e que apoiem as iniciativas que possam trazer prestígio à imagem de Portugal. Afinal temos uma história de vários séculos marcada por relações de amizade e de boa convivência.
Sinceramente não consigo compreender como é que uma exposição pode ser encarada como acendalha para uma crise diplomática. Principalmente quando a sua não vinda a Macau em nada prejudicou as relações entre Portugal e a China.
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