Como blog estaremos aqui para escrever as nossas opiniões, observações e para que quem nos visite deixe também as suas. Tentaremos, dentro das possibilidades, manter este local actualizado com o que vai acontecendo à nossa volta em Macau e um pouco em todo o lado...

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Tacógrafos e políticos de algibeira

Tacógrafos e políticos de algibeira

 
NO seguimento do enorme crescimento dos acidentes de viação nos últimos tempos, envolvendo viaturas pesadas de mercadorias e de passageiros, alguns deputados interpelaram o Governo, não para perguntar, mas para sugerir que se adopte o uso de tacógrafos em Macau, à semelhança do que se passa nos Estados Unidos e na Europa.
Em Portugal, por exemplo, lembro-me que causou grande celeuma quando o Governo (ou a União Europeia) obrigou todos os camiões a serem equipados com tacógrafos, para regular as horas de trabalho e as velocidades a que circulavam, sendo periodicamente mandados parar pela polícia, para inspeccionar o disco de papel que utiliza o tacógrafo e onde fica tudo registado, desde velocidade a horas de condução, consumos, etc. A verdade é que, depois de muito reclamarem, hoje em dia ninguém se lembra da polémica e a situação é tida como normal. A circulação dos profissionais dos transportes melhorou substancialmente, nomeadamente em termos de sinistralidade e de segurança para os próprios profissionais, assim como para os outros utentes da estrada.
Aqui em Macau, a autoridade responsável assobiou para o lado, prometendo mais um estudo, quando os membros da Assembleia Legislativa fizeram tal proposta. Um estudo que irá englobar o sector dos transportes – os primeiros a dizer que não interessa, claro, porque vai trazer custos acrescidos e vão deixar de poder explorar os condutores em horas de serviço a fio – e mais uma série de serviços e associações que nada percebem do assunto, mas que são sempre chamados a dar a opinião. E ficou ainda pendente a decisão do facto de não se saber se o «mercado local» estará preparado para fornecer tais equipamentos. Como se os «amigos» não fossem capazes, de um dia para o outro, de encomendar os ditos equipamentos para fornecer, mediante uns chorudos subsídios de Santa Sancha.
Cada vez mais nos apercebemos que este Governo não sabe governar! Sabe, sim, produzir medidas avulsas, que nenhum efeito trazem. Apetece-me dizer que olhem para Pequim – apesar de ser uma ditadura comunista, com todos os aspectos negativos que isso possa ter – para aprender como se faz política. O Governo foi eleito (ou nomeado, o que para o caso vale o mesmo) para governar, não para andar a criar comissões, cada vez que tem de decidir alguma coisa.
Se é preciso criar um grupo de trabalho para se tomar uma decisão, para que temos Secretários, Chefe do Executivo e Directores de Serviço? Servem apenas para a fotografia, jantaradas e um chorudo salário e regalias?
Este exemplo dos tacógrafos, infelizmente, aplica-se a tudo. Não há uma decisão no Governo que seja tomada, sem que não se gastem uns milhões em consultas, estudos, etc. Então, afinal, para que servem os decisores, se só «decidem» depois de ouvir – o que, sinceramente, não acredito porque, depois de mais de uma década de RAEM, nunca fui inquirido – a população?
O processo governativo passa, essencialmente, por ter capacidade de tomar decisões, especialmente quando estas são impopulares, mas necessárias. Mesmo sendo erradas, se o seu decisor acreditar estar certo, deve tomá-las. O resultado no futuro dirá se estava, ou não, certo. E caso se prove que tenha errado, deve assumir esses erros e prontificar-se a colocar o cargo à disposição.
Infelizmente, em Macau o que se passa é exactamente o oposto. Ninguém toma decisões que são realmente importantes; e quando se fazem escolhas erradas, ninguém é punido. Pelo que dirigente da Função Pública acaba por ser o emprego mais cobiçado aqui no burgo. Aliás, quem não quereria um local de trabalho, com carro pago, cartões de crédito, secretária e assessores, ordenado chorudo, viagens e ajudas de custo se, ainda por cima, não tem que decidir nada e, quando o faz, não é chamado à responsabilidade, caso «meta o pé na poça», para não usar outro termo, que não ficaria muito bem aqui, mas que os leitores devem estar a imaginar qual é...
Para quando um processo de decisão baseado em políticas e um processo sancionatório para cargos elevados da Função Pública? E, mais importante que tudo isso, para quando os tacógrafos para os veículos pesados?

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