Como blog estaremos aqui para escrever as nossas opiniões, observações e para que quem nos visite deixe também as suas. Tentaremos, dentro das possibilidades, manter este local actualizado com o que vai acontecendo à nossa volta em Macau e um pouco em todo o lado...

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Será que importa mesmo?

 
HOJE, como estamos quase no fim do ano e a apenas uma edição d’O CLARIM entrar em 2013, vou transcrever uma conversa que tive com uma pessoa amiga e que, tendo vindo de quem veio, me deixa apreensivo acerca do futuro da língua portuguesa em Macau.

Não serão citados nomes, como se compreende, nem departamentos governamentais, mas não será muito complicado meter os pontos nos «is».
Certo dia, depois de ter participado numa actividade relativa ao recrutamento de funcionários para a máquina administrativa, encontrei um amigo regressado a Macau para umas curtas férias, depois de aqui ter vivido largos anos e ter ocupado lugares de destaque antes de 1999. Conversa puxa conversa, começámos a desenrolar os quês e porquês da língua de Camões em Macau. Dando eu comigo a defender que a língua está melhor agora do que anteriormente, contrapondo o meu interlocutor dizendo que não estava e que, para tal constatar, bastaria ver que tudo quanto é publicado, que possa ser interpretado de diversas formas, tem sempre no final que prevalecer a versão chinesa, mesmo sendo esta, na maior parte das vezes, ou uma tradução, ou tendo como base um texto original em Português. Argumentos que me obrigaram a engolir o sapo e concordar com o ponto do meu amigo.
Disse ainda este meu amigo que basta ver como funcionam os serviços e ver que a maioria dos documentos internos são feitos apenas em Chinês, sem que haja qualquer versão em Português. Realidade que justificam com o facto dos documentos não se destinarem a pessoas que não lêem Chinês, portanto, a versão chinesa é suficiente.
Pessoalmente, até ao momento, concordava com isto mas, bem vistas as coisas, se as línguas oficiais são duas, segundo o ponto de vista do meu amigo, não deveria tudo ser elaborado em ambas? E – perguntava-me ele – se a situação se inverter? Se for um documento que tenha como destinatário apenas quem lê Português, será que passa sem versão chinesa?
Bem vistas as coisas, a verdade é mesmo essa. Quando reclamamos porque não existem versões bilingues vêm logo dizer que não se destina a quem lê Português, pelo que não faz mal. Na realidade, tenho visto muitos portugueses a serem os primeiros a defender essa teoria, deixando passar situações em que deveriam ser os primeiros a exigir que houvesse a versão nas duas línguas oficiais. Recentemente aconteceu-me isso num banco emissor local e não assinei até que viesse a versão em Português.
Se não formos nós a defender aquilo que é nosso, mais ninguém o faz, afirmava o meu amigo entre um cigarro e um expresso (ao ar livre, entenda-se, por causa da Lei Anti-tabaco!). Aconselhou-me então a olhar para a jurisdição mais próxima com bilinguismo, Singapura, onde tudo, mas mesmo tudo, é publicado em todas as línguas oficiais (Inglês, Bahasa malaio, Chinês e Tamil). Nem lhes passa pela cabeça publicar, seja o que for do Governo, pelo menos, que não obedeça à Lei.
A teoria do meu amigo ia mais longe e culpava, principalmente, a parte portuguesa do Grupo de Ligação por não ter sido capaz de impor uma presença da língua lusa mais forte, tanto no sector público, com o ensino universal em todas as escolas (públicas e privadas que recebem subsídios chorudos do Governo) como mesmo no sector privado. Como exemplo apontava para Hong Kong, onde o Inglês é e sempre foi língua obrigatória desde que os britânicos ali assentaram os pés. Mesmo que os resultados do ensino não sejam brilhantes, a verdade é que quem nasce e vive em Hong Kong sabe o mínimo de Inglês. Em Macau ensina-se Português nas escolas do Governo mas não em todas, dizia, acrescentando ainda que o facilitismo no ensino é tanto que é confrangedor ver os níveis de Português dos alunos das escolas luso-chinesas. No sector privado, nomeadamente nos hotéis, pelo que tinha tido oportunidade de ver desde que chegou, o Português era equivalente a zero em detrimento do Inglês e do Chinês simplificado. Contrapus que sempre assim foi! Ao que ele, felizmente, concordou.
Verdade é que se temos Português em Macau, isso em grande parte se deve a Pequim. As autoridades portuguesas nada fizeram para que, pelo menos, a nossa língua ficasse aqui com futuro. Enquanto a Lei Básica reinar, de uma forma ou de outra, o Português continuará a ser residual. Mas, depois de 2049, defendia o meu interlocutor, desaparecerá por completo.
Actualmente, de quando em quando, lá aparece um arauto na Assembleia Legislativa, seja ele quem for, que vai argumentando acerca do Português e da necessidade do Governo investir e dar mais atenção à sua divulgação e uso. Mas foram esses mesmos deputados que, por decreto, votaram a não obrigatoriedade do uso de Português nas denominações comerciais logo após a criação da RAEM.
Outros ainda insistem, e muito bem, em usar a língua portuguesa mas, para fazerem passar a mensagem, vêm-se obrigados a recorrer sempre ao Chinês. Um exemplo crasso disso foram as recentes LAG, onde os deputados que falam Português foram sempre «obrigados» a expressar-se em Chinês, caso contrário nenhum dos secretários os iria perceber e a mensagem perdia-se.
São esses mesmos deputados que defendem o Português, mas depois organizam eventos onde essa língua não consta, como por exemplo o arraial da gastronomia…
Muito há que fazer e parece-me, como me dizia o meu amigo, não haver tempo suficiente…

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