Como blog estaremos aqui para escrever as nossas opiniões, observações e para que quem nos visite deixe também as suas. Tentaremos, dentro das possibilidades, manter este local actualizado com o que vai acontecendo à nossa volta em Macau e um pouco em todo o lado...

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Diferenças entre vizinhos

Diferenças entre vizinhos

 
O PASSADO fim-de-semana em Hong Kong revelou, mais uma vez, outra das grandes diferenças entre a antiga colónia britânica e este pequeno torrão que já esteve sob Administração Portuguesa. Os cidadãos de Hong Kong, desde que ouviram falar na proposta de Educação Nacional como disciplina obrigatória para as escolas dos seus filhos, uniram-se e vieram para a rua fazer saber ao Executivo local que não estariam dispostos a que houvesse «lavagem cerebral» autorizada aos mais novos, sob o capote de se ensinar os valores da Nação Chinesa. E, quando o Governo não quis ouvir, não tiveram qualquer problema de afrontar Pequim e dizer, alto e bom som, que ali não iriam permitir que os líderes comunistas interferissem com a educação dos mais novos, à semelhança do que acontece do outro lado da fronteira.
Depois de vários meses de críticas, discussões acesas no Conselho Legislativo e generalizada polémica em toda a Sociedade, vieram para a rua aos milhares (centenas de milhar) vocalizar aquilo que consideram ser um direito inalienável da sua Constituição: a não interferência de Pequim no sistema de Educação de Hong Kong. O poder popular foi de tal forma que o Executivo não teve outra alternativa que não fosse recuar na proposta de lei. E Pequim, perante tanta atenção mediática mundial, viu-se obrigado a «perder a face» e a «dar o braço a torcer». Apesar de não ter sido uma vitória total, visto que, de obrigatória, a disciplina fica agora ao critério de cada escola, os manifestantes dão-se por satisfeitos e prometem ir até ao fim.
As comparações com Macau tornam-se inevitáveis, mesmo que aqui ainda não se fale de Educação Nacional. Aliás, penso quem nem sequer se irá levantar essa questão, visto que nas escolas chinesas, desde sempre, se ensinou que o mundo roda em torno da China. E, nas escolas do Governo, a maioria dos professores são da China, ou ali tiveram a sua formação, pelo que estão, desde logo, condicionados. Se ainda houver algumas escolas onde se ensina que a China é mesmo o «Império do Meio», estas devem ser residuais e de pouco peso no plano geral de Educação. À semelhança do Artigo 21, que em Hong Kong trouxe milhões às ruas e não foi aprovado, a Educação de cariz nacional deverá ser um «não problema» em Macau.
Por cá, há muito – ou melhor, desde sempre, – que nos habituámos a este «deixa andar». Nunca ninguém se queixa acerca do que nos é imposto pela capital. Tudo o que vem do outro lado das Portas do Cerco é para aceitar, sem abrir a boca. Sejam eles autocarros, que nem na China os querem, ou legislações que nos vão tirando regalias e nos tornando, cada vez mais, meros residentes de qualquer outra cidade chinesa.
Os nossos vizinhos de Hong Kong, apesar de não serem perfeitos em termos de defesa dos direitos cívicos e democráticos, podem servir-nos de exemplo. Desde sempre, nunca tiveram problemas em fazer ouvir o que pensam e em lutar pelos seus pontos de vista. De tal modo que, invariavelmente, acabam por fazer prevalecer a vontade popular, por muito que o Executivo insista em impor o seu ponto de vista.
Sinceramente, gostaria de ver esta mentalidade em Macau. Ficaria contente em ver os habitantes da RAEM irem para a rua lutar por algo que achem ser seu por direito. Infelizmente, penso que isto nunca irá acontecer. Se estiver enganado, estarei lá.
Tirando umas pequenas manifestações no 1º de Maio e uns ajuntamentos em outras datas mais emblemáticas, pouco mais se passa. E, com os cheques que o Governo vai (atempadamente) distribuindo, os ânimos dos mais exaltados acabam por esfriar, pelo menos por um ano...
Em Hong Kong, o Executivo tentou a mesma estratégia, doando cheques aos seus residentes, mas o efeito não resultou. Os seus cidadãos – claro está! – não recusaram a dádiva do Governo, mas não se calaram mesmo depois de terem os dólares na conta bancária. Algo que, para os governantes, deve ter sido difícil compreender.
Em Macau, estamos numa época em que se começam a falar em derrapagens financeiras em vários projectos. Começam-se a descobrir vários problemas relacionados com esbanjamento de milhões públicos. Talvez fosse uma boa altura para vir para a rua reclamar e pedir para que, de uma vez por todas, ao invés de se desperdiçarem os milhões dos impostos, se elabore uma real política social, com apoios aos mais novos e aos mais carenciados. Isso sim, seria um bom motivo para vir gritar para a Avenida da Praia Grande…

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