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terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Mais do mesmo nada

Mais do mesmo nada

 
ESTAMOS no período de apresentação das Linhas de Acção Governativa. Muitos querem saber quando é que o Governo vai dar os famosos cheques. Ficou-se a saber que, desta vez, vamos ser premiados com oito mil «lecas». Olha que fartura! Assim, vamos mesmo fazer frente à galopante inflação… Macau, com toda esta prosperidade, chegou a um ponto que se resume ao anúncio de cheques de ajuda pecuniária.
As LAG foram um desfilar de medidas avulsas, que mais se assemelham a medidas tomadas pelo dono da mercearia (sem desprezo para esta nobre profissão que me foi familiar durante vários anos), para fazer face às despesas diárias. Não se viu uma única medida de longo prazo, que merecesse a atenção da população Tirando a promessa da reforma do sistema judiciário, que tem vindo a ser anunciada há vários anos e que desta vez não foi excepção, nada mais de relevante foi dito no hemiciclo e, depois, na Praia Grande.
De entre todas as migalhas anunciadas, uma houve que me ficou no ouvido pela sua singularidade. O nosso Chefe do Executivo, com toda a pompa, anunciou como medida para fazer face à inflação e, de certa forma, beneficiar os residentes: a devolução de 60 por cento do Imposto Profissional. Até aqui, tudo bem; e a medida até seria de louvar, se o reembolso não tivesse sido agendado apenas para 2014! Então, se me vão reembolsar em 2014 o que paguei em 2012, que efeito terá isso na inflação que tenho de enfrentar diariamente cada vez que abro a carteira? Agradeço que me expliquem o alcance disto, porque eu não percebo! Ou será que nos fazem a entrega dos 60% com juros?
Ainda não consegui perceber – deve ser problema da minha mente atrofiada – como se pode fazer frente a problemas relacionados com a inflação, quando as medidas anunciadas são de efeito imediato. Como se resolve o problema do contínuo aumento do custo dos produtos no mercado, quando não se resolve o problema (esse, sim, real) do monopólio do mercado abastecedor que, em grande parte, é o responsável pelos preços selvagens que cobram pelos alimentos frescos nos mercados municipais.
A inflação não se resume apenas aos bens de primeira necessidade, claro está. Mas julgo que, se a população, cada vez que vai ao mercado, sentisse que os produtos estão mais baratos e que pode comprar mais comida com o mesmo dinheiro, isso muito contribuiria para reduzir o efeito, pelo menos psicológico, dessa dita malfadada inflação. Não se percebe como é que um cate de hortaliça custa, por exemplo, dez patacas em Macau, quando no mercado de Gongbei (do outro lado de fronteira) custa menos de um renmimbi! Não sou especialista em economia, nem em inflação, mas custa-me compreender como é que temos estas diferenças de preço, quando os fornecedores são os mesmos e a qualidade é igual.
Nas LAG foi também anunciado um aumento dos subsídios para os idosos e outras medidas com o objectivo de lhes minorar as dificuldades. Mais uma vez, porém, se trata de paliativos, em vez de um tratamento de fundo que fosse ao encontro das reais necessidades dos nossos idosos e pessoas carenciadas. Os idosos, além de alimentos de qualidade, precisam de habitação condigna. Não têm de ser enviados para Coloane, quando há inúmeros prédios devolutos em Macau, que deveriam ser recuperados e transformados em habitação social. Desta forma os idosos e outras pessoas que precisam de habitação financiada ficariam no seu meio, sem terem de se isolar de tudo e de todos, perdendo todas as raízes que são a base de qualquer sociedade harmoniosa.
Por outro lado, os idosos e pessoas mais carenciadas, precisam de cuidados médicos, que devem ser gratuitos e de boa qualidade; dar-lhes uns cheques e subsídios contribui apenas para o aumento do preço da saúde no sector privado, que aproveita para encaixar mais uns milhões à custa dos cheques de saúde.
As LAG nada disseram de medidas concretas para fazer face à crescente onda de pessoas a viver nas ruas. Nada anunciaram de medidas para combater o flagelo da toxicodependência e do cada vez maior negócio da prostituição. E nada anunciaram relativamente a formas de fazer face a estes problemas estruturais do território. Apenas lançaram umas aspirinas para enfrentar problemas que se arrastam há vários anos e que, pelo que se vê, parece terem vindo para ficar.
Perante tanta falta de coragem, de eficácia e de vontade em procurar resolver os problemas, resta-nos esperar pelas próximas LAG e aguardar por melhores dias.

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