Como blog estaremos aqui para escrever as nossas opiniões, observações e para que quem nos visite deixe também as suas. Tentaremos, dentro das possibilidades, manter este local actualizado com o que vai acontecendo à nossa volta em Macau e um pouco em todo o lado...

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Governo deve fazer o que é importante

Governo deve fazer o que é importante

 
FOI referido num dos jornais de língua portuguesa, recentemente, que um dos últimos baluartes da culinária macaense, o Riquexó, pode fechar as portas. O local, junto ao edifício Hoi Fu, onde se encontra há vários anos, tal como o Clube de Amigos do Riquexó, nas antigas instalações do Park’n Shop, foi vendido (ou vai sê-lo em breve) e quem dirige o restaurante tem tentado, apesar da sua avançada idade, encontrar um local apropriado para voltar a servir comida macaense; mas, com as rendas caríssimas e com ordenados cada vez mais altos, a única solução parece ser mesmo vir a desaparecer.
Não é por ser macaense, ou português ou chinês; é por ser património de Macau, património de todos nós, que o Governo devia, de uma vez por todas, deixar de olhar apenas para as reservas cambiais e tomar iniciativas para proteger aquilo que nos identifica, seja a comida macaense, seja outros aspectos culturais que definem Macau como aquilo que é.
Macau é um território com estatuto especial, não apenas porque foi administrado por uma potência estrangeira, mas porque a confluência de culturas, ao longo de séculos, criou aqui uma maneira de ser diferente do resto da China. Se os governantes não forem capazes de perceber isto e fazer tudo o que for necessário para o proteger, não me parece que mereçam ser governantes e devem deixar o lugar vago para quem tenha essa capacidade.
Se Macau não se destacar pela diferença deixa de ser o que é e passa a ser apenas um pequeno subúrbio de Zhuhai, apenas mais um recanto da China, sem qualquer distinção ou particularidade.
O caso do Riquexó é apenas um exemplo do abandono a que foram votadas as tradições de Macau. Desde que se verificou o alastramento da massificação do Jogo, com tudo o que de bom e mau nos trouxe, nada foi acautelado nos novos investimentos para proteger a identidade de Macau. Não existe um único recinto, dos novos que surgiram e dos que ainda irão surgir, que se digne preservar a identidade de Macau, as suas tradições e a sua vivência. Em vez disso, construíram-se Venezas, cópias integrais de algo que nada nos diz, e extravagâncias que apenas servem para atrair hordas de turistas embasbacados com tanta opulência oca. Ao que parece, vamos ter também uma Torre Eiffel e não sei mais o quê!
Era aqui que o Governo poderia aproveitar para meter o dedo e obrigar quem quer investir a cingir-se a valores e tradições locais, em vez de importar algo que nada tem a ver com Macau. Primeiro trabalhem em prol da cultura local; depois então construam os elefantes brancos que quiserem!
Quando me contrapõem neste ponto, lembro-me sempre das promessas feitas por aquela «trupe» de circo que se instalou no Venetian, prometendo mundos e fundos ao Governo: que Macau iria ser o centro do mundo deles; que Macau iria ter isto e aquilo de escolas de arte. Bom, sabem por onde andam? Eu também não. Só sei que, passados alguns anos, com milhões embolsados sabe-se lá de onde, desapareceram e levaram a trouxa, deixando para trás Macau cheio de nada…
Mas voltemos à comida. Nas centenas de estabelecimentos do género que surgiram, conjuntamente com as numerosas salas de jogo, nem um restaurante de comida macaense foi criado. Tirando os maus exemplos do Gosto (dizem que é restaurante português, mas eu considero-o tão português como o Vela Latina, na Almeida Ribeiro!) no casino Galaxy, e do balcão do Porto Interior no recinto de comidas do Venetian (onde servem as comidas em pratos e talheres de plástico!), nada mais existe. Seria uma boa oportunidade para o Governo fixar quotas para este tipo de situações. Assim como deveria fixar para a comida cantonense de qualidade e outras iguarias típicas de Macau, que também estão a desaparecer a pouco e pouco.
A lista dos restaurantes que fecharam nos últimos anos começa a engrossar: Long Kei, Marisol, Algarve Sol, Safari e, agora, o Riquexó.
Relembro que o Governo distinguiu a gastronomia macaense como Património Intangível da RAEM; mas de que valem títulos se, na prática, para eu comer um «minchi», tiver que ir a Zhuhai ou a casa de algum amigo macaense?
A aposta privada de pequenos investidores tem feito mais pela preservação da cultura de Macau do que o próprio Governo. Se ainda vai havendo locais onde se podem comer pratos macaenses, isso deve-se apenas a alguns aventureiros que se deixam apaixonar pela gastronomia e teimam em não deixar morrer tradições. O exemplo mais recente, se não estou em erro, é o Lagoa Azul, do nosso bem conhecido Dillon, ali na Avenida da Praia Grande. Há outros, ainda bem. Mas faz falta a mão do Governo para proteger tudo isto…

Sem comentários:

Enviar um comentário

Obrigado pelo comentário.
Volte sempre.

NaE's kitchen A Cozinha da NaE

NaE's kitchen A Cozinha da NaE
Visite... Visitem...