COMO é do conhecimento público, o Clube Náutico de Macau (CNM) tem sido protagonista de várias cenas menos dignas de uma instituição com mais de seis décadas de história. Recentemente, e após dois anos sem qualquer Assembleia Geral e sem prestar quaisquer explicações aos sócios, à sociedade ou à Comunicação Social sobre as polémicas que foram vindo a terreiro, teve lugar uma AG que serviu para apurar relatórios financeiros de 2009 a 2012 e para a eleição dos novos corpos gerentes. Ou melhor, reeleição dos existentes porque, mesmo havendo interessados em apresentar listas concorrentes, a presente direcção nunca providenciou a lista de membros actualizada. Isto, apesar de alguns sócios a terem pedido, com a antecedência prevista nos regulamentos e por escrito diversas vezes, para que fosse possível saber quantos sócios há com direito a voto e quais as probabilidades de haver transparência na sessão de voto. Um procedimento normal em qualquer associação, pelo que sei.
As alegações de fraude, por parte de alguns associados, são de vária índole e não vale a pena voltar aqui a enumerar todas as polémicas. Certamente que o Governo irá resolver o problema, caso a isso seja chamado e caso não venha a surgir bom senso na presente direcção e em todo o corpo de sócios. Só espero que não tenha que dissolver o Clube ou criar as condições para que isso aconteça. Se tal vier a suceder, esta direcção terá muito que explicar. Uma simples investigação dos Comissariado Contra a Corrupção ou do Comissariado de Auditoria deverá ser suficiente.
Não nos devemos esquecer que o terreno, ao redor do qual giram todas as polémicas, é propriedade do Governo. E, caso este seja retirado ao Clube, nenhuma direcção terá condições para continuar a aguentar o «barco».
Como tenho afirmado desde o início da polémica, não pretendo saber quem é o presidente ou quem são os corpos gerentes, assim como não estou interessado, nem sequer disponível, para assumir qualquer tipo de papel activo numa direcção. O que apenas me interessa é que – seja qual for a «gerência» – o faça em favor do Clube e que, acima de tudo, seja transparente para com todos os sócios e para com a sociedade.
O Clube Náutico de Macau é uma entidade sem fins lucrativos que se deve dedicar ao fomento das actividades náuticas e à gestão das instalações que lhe foram confiadas. E, sempre que algum sócio, em pleno direito, lhe requisite dados que não violem o direito à privacidade dos outros sócios (número e nome), estes lhe sejam facultados a qualquer momento e sem qualquer delongas. É uma entidade associativa, não uma sociedade privada com fins lucrativos, pelo que não há lugar a segredos. A transparência tem de ser total e acima de qualquer desconfiança.
A presente direcção, que foi nomeada para um novo mandato de dois anos, se realmente é tão sincera como diz ser, deveria ter vergonha na cara por obrigar o Clube a passar pelo vexame que tem atravessado nos últimos meses.
Costuma-se dizer que quem não deve, não teme. Portanto, a presente equipa directiva, se está tão segura de que tudo está a ser feito dentro da legalidade, deveria mostrar todos os dados públicos, para consulta de todos os sócios. Deveria cancelar os resultados desta eleição e dar a conhecer todos os dados que os sócios solicitem (mesmo que seja apenas um sócio a requerê-lo), antes das eleições, para que todos estejam em pé de igualdade.
O resultado para aprovação dos relatórios de contas (que foram aprovados todos ao mesmo tempo) foi de 69 votos a favor, 23 contra e 4 abstenções.
Para a eleição dos corpos gerentes, 64 votos a favor, visto que todos os outros abandonaram a sala em protesto.
É de salientar, – e eu posso comprovar porque estive presente no local – não havia mais de 40 pessoas na sala. A maioria dos votos foi feito por procuração; no entanto, os sócios não puderam verificar a veracidade dos nomes nas listas, porque estas não foram disponibilizadas atempadamente.
Dizer que os dados podem ser consultados na sede do Clube a qualquer altura não serve. Estes devem ser facultados antes das eleições e não após as mesmas. Aliás, se pedir para ver a lista de sócios na sede, tenho de esperar que venha autorização do presidente do Clube!
Como posso eu votar em consciência, quando não tenho conhecimento de toda informação?
Por exemplo, na última AG foram votados os relatórios financeiros relativos a 2009/2010/2011. Porque foram estes apenas entregues aos sócios minutos antes da votação? Como podia votar em consciência, se nem tempo tive de analisar os dados e confirmar os documentos apresentados?
Acredito que tudo tenha sido feito dentro da maior das legalidades e que nada haja a esconder. Mas, como a mim me pedem o cartão de sócio para comprovar o meu direito de voto, visto que a minha palavra não chega, serei eu e os outros sócios obrigados a acreditar na palavra da direcção?
Como se costuma dizer, «à mulher de César não basta ser séria, é preciso parecê-lo». Portanto, antes que peçam às pessoas que confiem neles, devem dar provas de o merecer.
Para bem do Clube Náutico, para o bom nome das pessoas envolvidas e para a boa imagem de Macau, penso não haver outra saída, para as pessoas de bem presentes na direcção, que não seja demitirem-se e proporem outro acto eleitoral com todos os elementos, a tempo e horas.
Motivo da polémica: a construção do «Club House» e o contrato que foi assinado mais do que uma vez. Esta situação tinha sido resolvida, se no princípio a actual direcção não tivesse vendido os direitos dos pontões a privados. Esta medida fez com que o CNM ficasse sem fontes de receitas, dando os lucros a associados que especulam agora em busca de lucro. Se as rendas fossem para os cofres do CNM, penso que haveria dinheiro, mais do que suficiente, para fazer o «Club House», sem ser preciso andar com contratos que apenas geram discórdia.
Basta fazer contas! O ponto de amarração mais barato custa mil e 500 patacas por mês (18 mil por ano – todos os outros são mais caros, mas faremos contas pelos preços mais baixos). Há, pelo menos, 57 lugares, pelo que seria mais de um milhão de rendas por ano (1.026.000 patacas). Numa década, haveria dinheiro mais do que suficiente para fazer as construções necessárias e que estão na base de toda esta polémica. A mim, como sócio, interessa-me ver estas contas preto no branco. Tudo o resto, é acessório.
Quanto às declarações recentes da Capitania dos Portos, ao vir dizer que as vendas dos locais de amarração são ilegais, dá vontade de perguntar: porque não tomam a iniciativa e resolvem o problema?
E prevendo a Lei a possibilidade de se ancorar os barcos de recreio noutras zonas, nomeadamente na doca do Fai Chi Kei (durante a Administração Portuguesa havia ali muitos amarrados às bóias que ainda hoje existem), por qual razão a Capitania recusa permitir que ali deixemos os nossos barcos, forçando-nos a ter de pagar a privados que exploram ilegalmente os pontões da marina?
Espero por respostas das autoridades responsáveis.
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