O ARTIGO de hoje vai fugir um pouco do estilo que nos tem acompanhado ao longo dos últimos tempos. Em vez de opinião, será mais a transcrição de uma conversa com uma «filha da terra».
Incluído nos eventos de comemoração do 10 de Junho em Macau, foi organizado o lançamento de três obras relacionadas com Macau e a comunidade macaense. Tive oportunidade de trocar algumas impressões com a autora de um dos trabalhos. «Filhos da Terra – A Comunidade Macaense, Ontem e Hoje», de Alexandra Rangel, é uma obra que vai passar, sem dúvida, a ser de referência para quem queira abordar a temática macaense. Não sendo uma obra exaustiva, começou por ser uma tese académica, que acabou publicada em livro. Ela aí está para todos lermos e percebermos melhor esta terra onde vivemos e «quem são os macaenses». Um trabalho fácil de ler, informativo e que, mesmo para os mais informados sobre a temática, traz novas achegas.
A ideia, segundo Alexandra Rangel, surgiu aquando da necessidade de escolher o tema da dissertação de fim de curso da Licenciatura e Mestrado em Ciências da Cultura (especialização em Comunicação e Cultura), na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Perante a necessidade de escolha, a autora teve de decidir entre «diversas hipóteses sobre temática abordada nos vários seminários realizados durante o curso», acabando por escolher um tema «especialmente caro: a comunidade macaense, ontem e hoje». Segundo ela, «duas razões ditaram esta escolha: por um lado, o facto de estar intimamente ligada a essa comunidade e ter acompanhado de perto a sua evolução no período especialmente difícil, de grandes transformações, resultantes do acordo firmado por Portugal e a República Popular da China sobre o futuro de Macau; e, por outro, o desejo de divulgar mais amplamente essa comunidade tão singular, mas ainda, infelizmente, tão pouco conhecida em Portugal».
Um trabalho académico seria, pois, uma boa forma de ajudar a preservar essa herança e de dar a conhecer as características e as transformações no seio dos macaenses. O livro, que fala da comunidade macaense, dos desafios e do seu passado, segundo a autora, não foi muito difícil de organizar, visto existirem muitas fontes e locais onde procurar informação. «Talvez a maior dificuldade tenha residido na selecção das vastas fontes disponíveis», – sublinha – a começar por casa, onde o seu pai, membro destacado da comunidade local, guarda e continuamente aumenta o espólio relacionado com a história dos seus antepassados.
Depois de elaborado o plano de trabalho e identificados os capítulos a escrever, foi feita uma selecção da bibliografia e das pessoas a contactar, algo que demoraria imenso tempo, caso não tivesse havido a ajuda dos ensinamentos aprendidos durante alguns dos seminários organizados pela Universidade; especialmente o de metodologias de investigação foi de grande utilidade, confidenciou-nos a autora.
Apesar de ter começado como tese académica, o livro merece ser lido pela população em geral. A informação que agregou é de grande importância e lança uma nova luz sobre a comunidade macaense, desafios e futuro. Alexandra Rangel considera que é «apenas mais um contributo para um maior e melhor conhecimento dessa comunidade»; mas, depois de o ler, estou convencido ser algo mais do que isso. Agora que a obra é conhecida e que cada vez mais pessoas a lêem, continua a receber incentivos e votos para que continue o trabalho de pesquisa sobre o mesmo tema. Quanto a isso, Alexandra nada garante, mas adianta que, embora não tenha ainda planos concretos, planeia no futuro abordar outros temas relacionados com esta comunidade que bem conhece e com a sua terra.
Este trabalho, apesar de já estar disponível na Internet, na sua versão de tese, há algum tempo, apenas foi lançado como livro incluído nas comemorações do passado 10 de Junho, numa cerimónia de lançamento de três obras publicadas pelo Instituto Internacional de Macau (IIM): «Macau 1937-45 – Os anos da guerra», de João Botas; «Filhos da Terra – A Comunidade Macaense, Ontem e Hoje», de Alexandra Rangel e «The Portuguese Community in Shanghai», de António Pacheco Jorge da Silva.
A apresentação do livro de Alexandra Rangel foi também feita em Lisboa, no passado dia onze deste mês, no Palácio da Independência, durante um serão macaense, em que foi também apresentada outra obra publicada pelo IIM – «O livro de receitas da minha tia/mãe Albertina» – da autoria de Cíntia Conceição Serro.
Quanto à obra «Filhos da Terra – A Comunidade Macaense, Ontem e Hoje», diversas casas de Macau espalhadas pela diáspora já se mostraram interessadas e disponíveis para ajudar a promover a divulgação. Trata-se de um trabalho que todos os que se interessam por Macau, pela sua história e pelas suas gentes devem ler o quanto antes. Um manancial de informação e de novos dados, que irão surpreender os menos atentos e propiciar bons momentos de leitura informativa.
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