COMO se pode entender que uma empresa que apresenta resultados positivos de centenas de milhares de patacas venha reclamar e queixar-se que, mesmo assim, é pouco, porque o Executivo decidiu não aumentar as tarifas do serviço que presta?
Quantas empresas de Macau, que não recebem chorudos subsídios do Governo, se podem gabar de centenas (neste caso meia dúzia) de milhar de patacas de lucro no fim do ano financeiro? Poucas, tirando as empresas ligadas ao jogo e as grandes companhias que contam com estruturas mais do que solidificadas ao longo dos anos.
Na Imprensa vinham retratados dois pontos de vista da apresentação dos resultados financeiros da dita empresa, a Transportes Colectivos de Macau (TCM). Uma notícia dava conta do descontentamento de apenas terem lucrado pouco mais de seiscentas mil patacas, enquanto que outra avançava que tinham perdido mais de 15 milhões. Bom! Perder 15 milhões não é o mesmo que ter prejuízo do mesmo montante, penso eu nas minhas básicas noções de matemática. Hipoteticamente, comparando com os resultados dos anos anteriores, a empresa poderia ter lucrado esses milhões todos, mas, porque foi obrigada a melhorar os serviços e a dar condições dignas a quem faz o trabalho, o lucro caiu para as seiscentas mil patacas. E com este resultado os patrões já não podem comer «abalone» e sopa de barbatana de tubarão todos os dias!
Irá cair o «Carmo e a Trindade»? Ou reflectirá este resultado um melhor serviço para a população? Penso que nenhum dos casos irá acontecer…
A verdade, visível a todos os que se servem dos autocarros, é que mesmo com o «investimento» dos tais 15 milhões que deveriam ter sido lucro na TCM o serviço continua uma lástima e os autocarros, mesmo sendo novos, continuam a ser de uma qualidade abaixo do desejado: barulhentos, poluidores e com pouco conforto, além de serem inseguros.
O Governo, quando subsidia os serviços, neste caso os de transportes públicos colectivos, em princípio não o faz para encher a carteira dos proprietários das empresas; deve fazê-lo tendo em vista que o serviço prestado melhore em favor do utilizador utente. O dito subsídio serve para, perante as adversidades e especificidades do mercado de Macau, ajudar as empresas a fazer face aos custos e garantir que oferecem um serviço de qualidade. Portanto, fácil é de perceber que, num mercado livre, qualquer destas três empresas, que prestam o serviço de transportes colectivos, dificilmente sobreviria porque, se mesmo com subsídios quase não conseguem apresentar lucros suficientes para os seus accionistas, imaginem sem o apoio do Governo.
A verdade é que em Macau as empresas concessionárias estão mal habituadas desde sempre. Aliás, basta vermos os serviços prestados por todas elas, para se ver que a qualidade é um dos aspectos mais negligenciados. E, recentemente, o da segurança também tem andado nas bocas do mundo.
Nos sectores onde foi introduzida concorrência controlada os lucros continuam a ser elevados, tendo em conta a qualidade dos serviços. No caso dos autocarros, olhando para o que oferecem a quem os usa, caso estivessem num mercado de concorrência aberta, já há muito que tinham fechado portas. Portanto, se continuam a existir, isso deve-se ao facto de ser o Governo a sustentá-los, porque o que oferecem não tem qualidade suficiente para se auto-sustentarem.
A opção do Executivo em apoiar as empresas de autocarros deve-se ao facto de seguir uma política de descentralização, optando por atribuir aos privados um serviço que, de outra forma, teria de ser por si mantido. A estrutura de uma empresa de autocarros, com todo o seu equipamento, pessoal e forma de funcionamento, não se coaduna com a organização do Governo que, por si só, já tem uma organização pesada e lenta. Daí se ter optado por oferecer, mediante o pagamento de serviços, essa tarefa a algumas empresas privadas criadas para o efeito. Por outro lado, desta forma, o Governo consegue manter algum controlo sobre o funcionamento dos serviços, sem ter que se preocupar com a gestão corrente dos mesmos.
Todos sabemos que estas críticas vindas agora a público trazem «água no bico», como se costuma dizer. De lembrar que foram antecedidas pela decisão do Executivo em adiar o anunciado aumento de tarifas até Setembro. A questão que fica é esta: Será que se justifica um aumento de tarifas que terá de ser, novamente, suportado pelo Governo na totalidade? O serviço prestado é, para não usar uma palavra mais forte, lamentável. Por que razão têm que receber mais em troca da mesma qualidade?
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