A PREPOTÊNCIA e arrogância de alguns dirigentes públicos começa a passar das marcas e, sinceramente, é altura da população começar a pedir contas ao Governo e às decisões por este tomadas e responsabilidade a quem as toma. A isto soma-se o que também vai acontecendo na Assembleia Legislativa, onde alguns deputados, por vezes, passam das marcas nos discursos e linguagem utilizada, sem que ninguém tome uma posição de força.
Já basta termos que levar com a frieza dos serviços prestados pelos privados, que fazem o que querem e lhes bem apetece, nomeadamente as empresas concessionárias de serviços do Governo (água, electricidade, telefones, parques de estacionamento, apenas para citar alguns) que cobram taxas altíssimas e oferecem um serviço e produtos de baixa qualidade, sem que o utente nada possa fazer.
Recentemente, essa prepotência que se vem notando nos anos de RAEM atingiu um patamar nunca visto. Num elevador do parque de estacionamento de um dos novos edifícios da Função Pública, o novo edifício da Direcção dos Serviços de Obras Públicas e Transportes, junto ao edifício da CEM, na Estrada de Dona Maria, foi colocado um aviso, onde se lia, – e passo a citar para que não digam que inventei: – «Atenção – Reservado para utilização dos dirigentes e chefias». Isto porque, segundo se veio a saber, os chefes começaram a chegar atrasados por causa dos abusos dos outros funcionários, que carregavam nos botões dos elevadores todos!
Há em alguns serviços, que pela sua particularidade precisam de elevadores separados, elevadores de serviço: os tribunais, por causa da movimentação dos detidos e dos juízes, quando se realizam julgamentos de alto risco; ou os hospitais, devido à possibilidade de contaminações, quando transportam roupas sujas e outros materiais utilizados. Outros exemplos há mas todos eles com razoáveis justificações.
Relativamente ao edifício em questão, onde funciona a Direcção dos Serviços de Obras Públicas e Transportes, a Direcção dos Assuntos de Tráfego e a Inspecção dos Jogos, qual será a necessidade das chefias e dirigentes terem de deslocar-se em elevadores separados e terem um elevador, apenas para eles, do parque de estacionamento? Tanto quanto sei, não há perigo de ataque, nem de contágio em tais departamentos! Se é porque não podem chegar atrasados, façam como eu, que vivo num quarto andar sem elevador e trabalho num segundo nadar. Saiam mais cedo, para evitar atrasos!
Algumas chefias em Macau, especialmente nos últimos anos, parecem que trazem o rei na barriga. Muitos deles, aparentemente a julgar por algumas decisões, nem sequer têm capacidades técnicas para assumir as posições que ocupam e, possivelmente, para encobrirem essas incapacidades, acabam disparando disparates em todas as direcções, apontando o dedo e fazendo a vida difícil a todos os seus subordinados. Infelizmente, e aos olhos de todos, a Administração de Macau está cheia de chefias assim e nada parece ser feito para resolver o problema.
Dá impressão que em Macau impera o princípio de Peter: as pessoas são promovidas até chegarem a um patamar em que se tornam incompetentes…
Acredito que por esta altura o dito aviso já não esteja no elevador e que tenha havido alguém com dois dedos de inteligência que o tenha mandado retirar. No entanto, quem deu a ordem para que fosse ali afixado passa sem ser chamado à responsabilidade!?
A má educação e carácter de alguns dos chefes da Função Pública começa a tornar-se visível; e estes pouco fazem, ou mesmo nada, para a disfarçar. Ainda recentemente, um dos dirigentes do meu serviço, passando por mim e por outros dois colegas num fim-de-semana, nem se dignou cumprimentar-nos. Poderia alegar que não viu, mas tal não me parece plausível, visto que trocou olhares comigo e nada disse.
Não é que eu pretendesse que a pessoa nos cumprimentasse, mas, na posição que ocupa, gostando ou não de confraternizar, tem obrigação de cumprimentar os seus subordinados, por uma questão de boa educação.
São pormenores como este, e como o do aviso colocado no elevador separando as chefias e dirigentes da restante plebe, que fazem com que o funcionalismo público ande completamente sem ânimo e sem grande vontade de se empenhar nos trabalhos da Administração. E andando os funcionários públicos desanimados, isso reflecte-se em toda a sociedade. Os cheques que vão sendo distribuídos não são mais que pensos rápidos e, como tal, não são solução permanente.
Julgo que, se fossem feitos concursos para chefias, em vez de se aplicar o princípio de Peter, o resultado final seria melhor, pelo menos a nível técnico e de conhecimentos.
O Governo e os seus dirigentes parecem viver num outro patamar e custa-lhes, descer ao nível da população, para se aperceberem dos problemas reais. Com algumas excepções, poucos são os que realmente conseguem ter uma comunicação directa com o normal cidadão. Por exemplo, quantos serviços públicos de Macau têm realmente presença na «net», especialmente no «Facebook», que hoje em dia é utilizado por quase 70% da população de Macau com acesso à rede?
Numa era como a que atravessamos, quer se goste das redes sociais ou não, estas são um meio privilegiado para os departamentos governamentais se aperceberem do pulsar da população, das suas queixas e seus anseios.
Os serviços do Governo, individualmente, deveriam ter uma página nessas redes sociais, a que a população possa aceder e deixar os seus comentários. Todos os serviços em países civilizados as têm, desde os Presidentes da República aos serviços administrativos…
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