ESTA terra onde vivemos começa a tornar-se conhecida pela curta memória que vamos revelando ao mundo. Será mesmo que todos temos memória curta em Macau? Será que só damos atenção a certos assuntos, até que outros apareçam nas páginas dos jornais e nos façam mudar o nosso foco?
Gostaria de perguntar: quem ainda se lembra de uma notícia que veio na Comunicação Social, há uns meses, sobre a destruição do campo de jogos na Taipa, junto ao quartel da guarnição dos Exército Popular de Libertação? Uma decisão do nosso Executivo, em resposta às reivindicações dos soldados, só porque disseram que precisavam de mais espaço para guardar os «brinquedos». Como se o recinto que têm, em local nobre, não fosse suficiente! Para fazer face a essa falta de espaço vão privar a população de um dos poucos locais de desporto na ilha! As obras já arrancaram e podem ser vistas por quem ali se desloca.
Antes de enveredar pela destruição do espaço da população, e para fazerem face à falta de espaço que dizem sentir, porque não usam o que têm? Se repararem nas imagens disponíveis no «Google Maps», existe no recinto do EPL espaço livre para construírem as ditas arrecadações. Têm a maior piscina de Macau e a que maior «ratio» por utente apresenta, quando mesmo ao lado existe a piscina olímpica da RAEM e que eles também deveriam utilizar! Têm um espaço de treino e para paradas que ultrapassa o do campo desportivo que pediram ao Governo e que raramente é utilizado. E têm jardins que apenas eles podem usufruir, visto ser um local vedado à população.
Basta ver o mapa para se verificar a falta de aproveitamento do espaço disponível. Esta falta de racionalização não se coaduna com Macau, onde a escassez de terreno é um dos maiores problemas que enfrentamos.
A zona C na foto, que engloba a piscina ao ar livre, a zona de parada e as zonas de jardins e de treino é, sem qualquer dúvida, muito maior que a zona B, onde se encontram os dois campos de futebol e a parede de escalada. Portanto, qual é a necessidade de privar a população de um escasso espaço de lazer e desporto, quando existe, no recinto do exército, área livre para as ditas instalações de arrecadação?
Será que o homens da farda, sendo eles o epíteto do que deve ser a honra e rectidão na nação, não percebem que Macau tem falta de terreno e que a população tem de vir sempre em primeiro lugar? Afinal, não juram eles defender a Pátria e a suas gentes? Essas mesmas que agora atacam, espoliando o pouco que ainda têm. Pelo menos foi isso que fiz, quando jurei bandeira no meu tempo de tropa.
Quando a notícia veio a público, lembro-me de as autoridades dizerem que os campos seriam mudados para Coloane! E, nestas mesmas páginas, me indignei e pedi que me explicassem como iriam milhares de pessoas da Taipa para Coloane? Certamente que o Gabinete de Comunicação Social não enviou o texto aos visados, pois até hoje não recebi qualquer reacção das autoridades nem resposta às minhas questões.
Mas, apesar de continuar indignado e das obras estarem a arrancar no mesmo momento em que o leitor lê estas linhas, parece que mais ninguém se preocupa.
Em comparação, quando se falou da construção de um edifício junto ao lago da Avenida da Praia, até petições surgiram para tentar salvar as garças e o seu «habitat». Não descurando a importância das garças e do ecossistema de Macau, não seria também meritório organizar uma manifestação de desagrado, relativamente ao facto do Exército Popular de Libertação estar a ocupar terrenos que são do usufruto da população? Ou será que, sendo o exército, estão acima da Lei e ninguém se atreve a criticá-los? Que me desculpem os mais sensíveis, mas eu fui criado num país livre, nascido durante uma ditadura, mas criado durante um período de grande liberdade, pelo que, mesmo sendo o exército o símbolo máximo da autoridade e do poder, não me refreio de o criticar, quando considero que estão a violar direitos da população que juram proteger.
A justificação dada para a necessidade do terreno está relacionada com o facto de precisarem de espaço para armazenarem os equipamentos. Sendo o COTAI tão perto da Ilha da Montanha – no máximo cinco minutos – não seria prático que se optasse por construir o tal depósito para o material do outro lado do canal? Que diferença faria terem de se deslocar cinco minutos, quando está em causa não prejudicarem a população?
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