O MANDATO da actual direcção do Clube Náutico de Macau (CNM) terminou no dia 6 de Junho, sem que tenham sido convocadas eleições nem apresentados quaisquer relatórios ao longo dos dois anos, para aprovação em Assembleia Geral. Para fazer frente a este problema e tentar resolvê-lo, um grupo de sócios descontentes, entre os quais se encontram o ex-deputado Jorge Fão e o ex-CEO da CTM, Paulo Alves, decidiram avançar com um abaixo-assinado para obrigar à convocação de novas eleições no clube.
Como é do conhecimento público, esta instituição, já com 63 anos de história, tem vivido desde 2007 um período conturbado, devido à actual direcção insistir em construir um «Club House», tendo para isso assinado um contrato algo confuso com uma empresa «offshore», registada nas Ilhas Virgens, britânicas, e com escritório em Hong Kong.
Em linhas gerais, o contrato diz que a empresa, a «Realgain Development», se comprometia a construir o «Club House» em troca dos direitos de construção de um edifício habitacional de 40 andares. Para tal, a direcção do Clube Náutico de Macau comprometia-se, no contrato, a interceder junto do Governo para modificar a natureza do terreno e do contrato de concessão do mesmo, permitindo-lhes, assim, construir algo que fosse para além das estruturas necessárias ao funcionamento do clube; em termos mais claros, que no terreno fosse possível também construir habitação para venda. No citado contrato haveria também uma garantia bancária, prestada aparentemente pela «Realgain», mas onde o nome que aparece é diferente, para assegurar que o contrato seria cumprido. Caso não o fosse, essa verba serviria para pagar a construção do «Club House», segundo a direcção cessante. No entanto, essa verba, dez milhões de dólares de Hong Kong, segundo se pode ver no contracto assinado, depositada num banco do continente, está bloqueada porque, entretanto, o empreiteiro encarregue das obras meteu uma acção em tribunal, por falta de pagamentos por parte do CNM.
Este grupo de sócios do CNM – intitulados SOS Clube Náutico de Macau – quer ver a situação resolvida e o clube a funcionar condignamente. No comunicado por eles lido afirmam que «de há dois anos, a actividade náutica do clube deixou de ter qualquer expressão. A doca do clube é hoje, essencialmente, um mercado especulativo para compra e venda de postos de amarração».
De salientar que os pontões da Marina do Lamau são «privados»! Quem ali tem as suas embarcações, em vez de pagar à Marina, paga a um privado que é o proprietário do lugar; daí a especulação. No entanto, nada foi adiantado relativamente à solução deste problema. Aliás, caso fosse o clube a receber as mensalidades, em vez dos proprietários privados, muitos dos problemas de financiamento da instituição estariam resolvidos, visto que o total de «rendas» é superior a 200 mil patacas mensais, mais de dois milhões por ano: um valor mais do que suficiente para fazer face a todas as despesas mensais de funcionamento do CNM, se a gestão for cuidada. Se assim fosse desde o ano 2000, já teriam dinheiro mais do que suficiente para construir as instalações.
Pede-se, veementemente e com urgência, a intervenção do Governo para resolver a situação, especialmente nesta altura em que foi anunciado por Macau, China e Hong Kong a implementação da política de visto único para iates visitantes. Algo que pode contribuir para o crescimento do número de turistas, mas que precisa de uma marina e um clube a funcionar condignamente, defendem estes sócios descontentes.
Entretanto, em notícias publicadas em alguns jornais de Macau após a conferência de imprensa, podia-se ler que este grupo não mete de lado, totalmente, a construção de um prédio habitacional nos terrenos cedidos pelo Governo. Em alguns jornais podia ler-se que, numa segunda fase, poderá ser submetido um pedido ao Executivo para mudar a finalidade de parte do terreno, de modo a permitir a construção de um edifício habitacional, não se sabendo em que modos o querem fazer.
Actualmente, os sócios do clube são pouco mais de 120 e, destes, a sua maioria quer apenas ver o clube a funcionar bem e sem problemas. Afinal, quem ali tem os seus barcos quer ter a possibilidade de os usar e passar umas horas de recreio agradáveis. Muitos desses sócios defendem que os locais de amarração, que agora são particulares, deveriam ser restituídos ao Clube Náutico de Macau (à Marina do Lam Mau), porque não tem qualquer cabimento serem particulares, quando o terreno é do Governo e tem um prazo de utilização de apenas 25 anos (com início em 2000).
Se os pontões e todas as instalações fossem da marina, estaria assegurado o seu futuro financeiro com os pagamentos mensais de quem ali tem as embarcações, ficando o clube apenas dependente de si próprio, visto que as mensalidade dos sócios são insignificantes.
Outro dos aspectos que muitos sócios põem em questão é o facto de, actualmente, existirem muitos barcos na marina cujos proprietários nem sequer são membros do Clube Náutico de Macau, algo que deveria ser revisto quanto antes. Pessoas que não são sócios da instituição não deveriam ter acesso ao Clube, nem sequer deveriam ser autorizadas a ter ali a sua embarcação
Um problema para o Governo de Macau resolver quanto antes, em prol do desenvolvimento de um sector de actividade, que já teve muitas tradições no território.
Se este grupo de sócios conseguir angariar 25% de assinaturas para convocar novas eleições, pode ser que seja o primeiro passo para o ressurgimento do Clube, para bem de todos os que gostam de desportos náuticos.
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