Uma dieta de coelho
VAMOS ter coelho para o ano inteiro, agora que cruzámos a última lua de mais um ciclo chinês. Chegámos a 4708, de acordo com o milenar calendário tradicional do Império do Meio. Um ano do coelho que será ensombrado pelos pandas de Seac Pai Van ou, que mais não seja, pela moda que se vê por toda a cidade. Por sorte, e tirando as orelhas ao coelho, os animais até se parecem um com o outro. São ambos peludos e, de certa forma, dados a abraços aconchegados.
A verdade é que, sem darmos por isso, Macau deu mais uma volta ao calendário e, terminado o ano do tigre, entramos agora no ano Xin Mao, ou mais conhecido como ano do coelho.
Não sou muito dado a adivinhações mas sempre me entretenho, nestas alturas, a ler o que se vai publicando na imprensa local acerca do que nos espera para este novo ciclo. Sem querer entrar em pormenores, tenho a dizer que não fiquei muito convencido, tanto pelos dotes de adivinho dos «especialistas» contactados, assim como com os prognósticos avançados. Se no ano do tigre se esperavam dias difíceis, as previsões para este ano parecem ser ainda piores. Na verdade, não me lembro de ver, ao longo dos anos a viver no Oriente, um adivinho a dar um prognóstico positivo para o ano seguinte. Sem saber muito bem porquê, as hipóteses avançadas apontam sempre mais para o lado negativo. Atrevo-me a dizer que se trata de uma boa forma de se protegerem. É que, dizendo ser negativo, mesmo que não se concretize, ninguém lhes vai apontar o dedo. Pelo contrário, se apontarem um futuro risonho e depois não se concretiza, terão uma mão-cheia de processos judiciais em cima e a clientela a cair em flecha! Tal e qual como a Comunicação Social, o que é positivo não vende!
Sem dar-me ares de cartomante ou de adivinho chinês, atrevo-me a dizer que este ano vamos ter doze luas dominadas por uma polémica em redor do Metro Ligeiro, entrelaçada com «boas novas» dos pandas de Coloane e uma ou outra novidade que não veio no programa de Governo. Prevejo também que para os lados do COTAI se registem mais umas detenções de trabalhadores ilegais e que os pequenos empresários de Macau continuem a ter sérias dificuldades em encontrar mão-de-obra. E, por último, é quase certo que a venda de coelhos de estimação irá aumentar durante este ano, sendo um bom ano para as quintas produtoras do outro lado da fronteira. Cuidado com as pragas de sarna que normalmente afligem este animal. E acrescento ainda: se estes prognósticos não se registarem, pouco pior há-de ser o nosso ano!
Como não quero passar sem deixar um cheirinho do que li, aproveito para escrever que, em 2011, de acordo com as revistas da especialidade, o que define o ano não é o tamanho do animal, mas sim os seus intrínsecos valores. No caso do coelho, caso fosse pelo tamanho, teríamos um ano pequenino, doze meses muito «sofisticados». Seja lá o que isto quer dizer! «Gracioso e sensível»! Daí que os especialistas aconselhem para que as decisões sejam «tomadas tendo por base a nossa intuição e de forma sensível e ponderada, pondo de lado todos os impulsos e explosões espontâneas».
Dizem ainda que os nascidos no ano deste animal serão «bons candidatos para políticos ou diplomatas», o que me leva a deduzir que em Macau e Portugal, nos anos do coelho, a partir de 1939 (os de 39 terão agora 71 anos; os de 1951, 59 anos; os de 63 estarão a contar 47 anos e os de 75 terão completado 35 anos), tenham nascido muito poucas pessoas. E as que nasceram enveredaram pela profissão errada, se tivermos em conta o estado da política actualmente! Esperança então para o futuro…
Resta-nos apenas esperar que, no ano de Xin Mao, prestes a começar, tenhamos saúde, emprego e boa disposição. Tudo o mais que vier será por acréscimo.
Um bom ano a todos os amigos e leitores.
Kung Hei Fat Choi!
PS – Permitam-me um aparte. Assim como gosto pouco de ver decorações natalícias nos templos chineses, também não gosto de ver decorações de Ano Novo Chinês em igrejas católicas. Cada tradição no seu lugar certo, para que todos sejam respeitados.
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