Macau infeliz
ANDAR pelas ruas de Macau hoje em dia parece quase uma aventura. E a verdade é que se trata de uma aventura que todos nós temos de enfrentar diariamente.
Será que alguém tem ideia de quantas obras estão neste momento em curso? Julgo que não exista qualquer tipo de contabilização. Mas caso existisse, penso que não incluiria obras como, por exemplo, as da Avenida Sidónio Pais, ali perto da zona do Tap Seac, que tem sido martirizada meses a fio com rasgos e cortes, ora na via da direita ora na da esquerda! Imagino o que será viver, trabalhar ou ter de passar por ali diariamente. Só a área junto da Escola Sir Robert Ho Tung tem sido alvo de intervenções há mais de um ano.
Macau parece, hoje mais do que nunca, um autêntico estaleiro a céu aberto e ninguém parece incomodar-se com isso.
Falava-se, ainda recentemente, do grau de satisfação da população. Não sei como certas sondagens são feitas, mas creio bem que pouco terão de universal e representativo. Ninguém – que eu saiba – alguma vez fora contactado para responder a estes questionários, pelo que levanto a questão: será falta de sorte ou as pessoas são escolhidas a dedo. É que, passada mais de uma década a viver nesta terra, conheço um bom número de pessoas de todas as etnias. Mesmo assim, embora relacionado com um grupo bastante ecléctico de amigos e conhecidos, não tenho conhecimento de nenhum deles ter sido sondado. Apesar de ser matematicamente possível, as probabilidades de nunca terem acertado com alguém que conheça são muito baixas.
Voltando ao grau de satisfação das gentes de Macau, parece que andamos todos muito felizes. Pela parte que me toca, não me vou queixando muito; no entanto, acredito que haja muitas pessoas com muito a assinalar. Perguntem a um beneficiário do Instituto de Acção Social – que infelizmente são cada vez mais, apesar de Macau estar a arrecadar mais dinheiro do que nunca – se estão contentes com a vida que levam.
Há vários factores que contribuem para que as pessoas se sintam felizes. Se me perguntassem, eu elegeria: ser saudável, ter um emprego que ofereça um salário suficiente para pagar as despesas; ter amigos e família por perto; e um sistema de segurança social que me garanta os anos de reforma. Estes seriam os meus principais pontos de preocupação, ao avaliar o meu grau de felicidade.
Claro que cada pessoa tem as suas prioridades. Se tivesse de escolher apenas dois dos pontos que referi, possivelmente escolheria o segundo e o terceiro. É natural que, se pedissem a uma pessoa com outras necessidades para escolher entre estas opções, possivelmente escolheria o primeiro e o quarto. Afinal, a felicidade é isso mesmo: algo muito pessoal e que dificilmente se consegue medir de forma científica.
Voltando à questão das obras, será que alguém consegue sentir-se feliz se viver num local onde se ande constantemente a fazer obras? Não falo apenas nas obras de rua, mas também naquelas que se realizam diariamente, e anos a fio, nos prédios onde vivemos, ou nos edifícios que constantemente vão sendo demolidos para dar lugar a novas torres.
Macau vai agora entrar noutra fase de construções que, possivelmente, se irão arrastar por mais cinco ou dez anos. Temos o metro na calha e os novos aterros. Só estes empreendimentos vão demorar mais de cinco anos e terão um impacto à escala global, influenciando todas as zonas do território. Aliás, o metro é obra que promete prolongar-se no tempo, visto ser uma estrutura que vai estender-se a várias áreas da cidade.
É já tempo das autoridades começarem a programar, de uma vez por todas e de forma séria e acertada, as intervenções urbanas, de modo a atenuar o transtorno a quem aqui vive. E para que, depois da sua conclusão, não seja necessário que outro serviço volte a abrir buracos para mais construções.
Deixem-nos descansar e saborear Macau como deve ser! Só assim se pode ter uma população satisfeita e contente!
Sem comentários:
Enviar um comentário
Obrigado pelo comentário.
Volte sempre.