A SITUAÇÀO dos transportes públicos está a atingir um ponto de não retorno em Macau. Os acidentes sucedem-se em catadupa e o Governo parece ser incapaz de meter mão no problema para o resolver de uma vez por todas. O congestionamento continua a agravar-se de dia para dia e, perante a eventualidade de vir a ser permitida a entrada livre de carros vindos do outro lado da fronteira, o futuro apresenta-se bastante negro para o território.
A última empresa a entrar no mercado dos transportes públicos, a Reolian, tem sido o alvo de todas as críticas neste sector. Pessoalmente, e sem ter nada a ver com o assunto, lamento o que tem sido dito de forma pouco justa, porque se formos ver os registos das outras concorrentes, a Transmac e a Transportes Colectivos de Macau (TCM) não ficam nada melhor na fotografia! Com efeito, acidentes acontecem em todas elas.
A Reolian está a pagar, talvez, por ter sido a última e estar sob o constante escrutínio da população e da opinião pública. Talvez por ser estrangeira? Não quero acreditar que seja por isso, tanto mais que o sócio local é de peso, mas…
A verdade é que os problemas dos transportes públicos e dos acidentes têm raízes bem mais profundas do que apontar culpas à empresa A, B ou C.
Estou em crer que, à semelhança de muitos locais menos civilizados do que Macau, se fosse obrigatório para os condutores profissionais (e aqui incluo-os todos, taxistas, motoristas privados, condutores de autocarro, etc) fazerem cursos anuais ou bienais de reciclagem com provas também obrigatórias, muitos deles, se não mesmo a totalidade, não veriam a licença profissional renovada. Tem de haver critérios rígidos para quem «transporta» as nossas vidas diariamente. Afinal, os pilotos de avião não são obrigados ao mesmo? A diferença é apenas que um anda no ar e o outro em terra, mas ambos têm responsabilidade pelas vidas humanas que transportam.
O problema está na raiz do sistema e parte já do modo como as licenças são atribuídas e as cartas de condução são emitidas. Tirar a carta de condução, em Macau, é mais fácil do que fazer o exame da quarta classe! Por isso, como será possível exigir que os condutores profissionais estejam habilitados a conduzir bem?
E, se a isso juntarmos toda uma multidão de condutores «amadores» que diariamente circulam nas ruas de Macau, o problema assume proporções alarmantes, com resultados que todos conhecemos. A par disto, temos uma autoridade complacente, que apenas actua em situações de mau estacionamento. Se as regras fossem aplicadas abrangentemente, os condutores depressa aprenderiam que há regulamentos e formas de comportamento que têm de ser seguidos.
O nosso sistema de ensino de condução (desde o normal ao profissional) é podre e caduco. As pessoas ficam habilitadas a conduzir, sem nunca terem estado inseridos em situações reais de trânsito. Aliás, quando são admitidas às aulas de condução, não sabem nem dez por cento da teoria! Portanto, quando não sabem as regras, como podem vir a ser bons condutores?
Os próprios instrutores, salvo raras excepções, são grande parte do problema, porque também eles não sabem o suficiente para ensinarem aos alunos. Ora, quando o mestre é fraco, todos sabemos que a obra sai torta.
Quantos de nós não foram já buzinados pelo carro de trás, quando paramos na passadeira para deixar passar os peões? A mim acontece-me diariamente e apetece-me sempre sair do carro e perguntar ao condutor que buzinou se conhece o Código!
Urge fazer uma reforma completa do sistema de ensino da condução e da forma de actuação das autoridades, perante as infracções ao trânsito. Há situações que merecem mais atenção do que o estacionamento ilegal.
Só depois de mudar o sistema de ensino seriamente, se pode começar a pensar em ter condutores civilizados em Macau. E, quanto aos que poderão vir do outro lado da fronteira, há que os informar muito claramente que as regras aqui são diferentes e que a autoridade não perdoa transgressões.
Custa muito pouco sonhar com um futuro melhor!
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