Quando não se sabe, cria-se uma comissão
FINALMENTE entrámos a sério do mês de Fevereiro e com ele devem ter acabado as férias e festas que marcaram Janeiro e que nos fizeram perder a paciência com tanto turista e tanta falta de consideração pelo local visitado e pela sua cultura e costumes. Estava tentado a escrever os meses com letra minúscula, como manda o novo Acordo Ortográfico, mas como Macau ainda não aderiu e como eu sou completamente contra, vamos ficar pelas maiúsculas!
Acabou-se o nada fazer e esperemos agora que o território comece a funcionar como deve ser. Grande parte da população já regressou das merecidas férias e estará de baterias carregadas para levar isto aos ombros.
Foram muitos dias em que não se tomaram decisões e em que nada andou para a frente, visto que a maior parte dos departamentos governamentais estavam às moscas.
Para animar estes últimos dias tivemos as notícias sobre o aumento salarial da Função Pública. Primeiro, dizia o chefe máximo do edifício ali na Rua do Campo, que não tinha sido decidido nada, para vir depois o único deputado que representa os funcionários afirmar que se tinha acordado cinco por cento, muito abaixo do valor que ele tinha defendido e abaixo da inflação. Na blogosfera muito se tem falado de tal aumento e da nova famosa comissão que o irá decidir de ano para ano.
Apetece-me dizer que Macau é o paraíso das comissões, grupos de trabalho e afins. Sempre que se tem de decidir algo, lá vem mais uma comissão com os amigos do costume, que nada decidem e que apenas servem para receber umas senhas de presença e meter o nome no cartão de visita. Com mais ou menos comissões, arrastam-se os problemas e nada muda. Macau assemelha-se, cada vez mais, a Portugal. Será que alguém no Executivo sabe quantas comissões e grupos de trabalho existem? E, já agora, os membros que acumulam assentos nas mesmas?
Como nada se fez e nada se decidiu desde o Natal, a máquina começa agora, lentamente, a entrar na velocidade de funcionamento, mas sempre muito devagarinho para não emperrar. Os gabinetes começam a ter luzes acesas e as decisões do ano passado começam a ter esperança de ser tomadas em conta, ou, pelo menos, de alguém lhes dar alguma atenção e as mude de sítio na secretária.
Exemplo de trabalho incansável tem sido o serviço responsável pela «organização» do trânsito e das ruas do território. De acordo com estes «especialistas», os exames de condução de Macau, este ano, vão ser mais exigentes. Aconselha-se, pois, mais atenção aos alunos e aos instrutores. Será que é desta que vamos ter condutores dignos desse nome, em Macau?
Estas provas são o que todos sabemos; basta olhar para quem conduz os carros nas ruas. Para fazer face às constantes queixas da população e à cada vez mais evidente falta de rigor na forma como os exames são feitos, a autoridade responsável, em reposta a alguns deputados que, aparentemente, se mostraram preocupados com a questão, respondeu que os exames iriam ser alterados, «agravando-se moderadamente a sua exigência». Acreditem que é literal! Então, não eram rigorosos?
Dá vontade de rir quando se ouve a DSAT a tentar explicar a completa falta de regras de trânsito em Macau. Aliás, aos mesmos deputados disse que, para obrigar a respeitar as passadeiras para peões, iriam continuar (outra vez ipsis verbis) a «colocação de forma racional de instalações luminosas de alerta intermitente para peões, “olhos de gato”» no pavimento. Como se tal fosse resolver alguma coisa, digo eu!
Semáforos intermitentes? Dá-me vontade de rir! Basta observar durante cinco minutos as passadeiras nas proximidades do Galaxy no COTAI, onde existem essas ditas «luminosas», e ver quantos carros, autocarros e motos param, para deixar passar os peões. Nem a polícia, quanto mais o normal dos condutores. É vê-los a acelerar ainda mais, para garantir que conseguem passar a passadeira antes de algum peão ter a veleidade de meter o pé à estrada.
Desde sempre defendi que as lombas deveriam ser a forma mais usada para nos obrigar a reduzir velocidade na zona de passadeiras. Existem em várias zonas de Macau e funcionam sem qualquer problema, pelo que não se entende a razão de não ser usadas em todas as passadeiras, nomeadamente nas que são mais utilizadas no centro da cidade.
Será que é necessário que alguém mais morra para que a DSAT assuma que não percebe nada do assunto?
Se não sabe, peça ajuda a mais uma comissão…
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