Elevador insalubre
AGORA que o tempo quente parece ter chegado para ficar em Macau, gostaria de chamar a atenção do leitor para uma falha que se arrasta, há alguns anos, sem que ninguém faça nada para a rectificar e que afecta grande número de pessoas. E para piorar ainda mais a situação, muitas delas são debilitadas e doentes. Por isso, as queixas conhecidas têm sido poucas.
Esta resignação pode muito bem ser um sinal de que os cidadãos deixaram de ter esperança de ver o Governo resolver os problemas. Por mim, espero estar enganado e que quem nos dirige ouça os apelos de quem precisa e leve em conta as críticas construtivas que vão sendo feitas na Imprensa.
Quem se desloca ao hospital público para consultas e não tem a sorte de ter condutor que o deixe à porta das instalações, certamente já terá usado o acesso pelo elevador existente na Rua Nova à Guia. Se bem que esse equipamento para levar as pessoas para a zona das urgências e para o piso principal do Centro Hospitalar Conde de São Januário tenha trazido grandes benefícios, não se pode deixar de apontar o que está mal.
Quem por ali passa já se terá deparado com a falta de civismo, tanto de quem sai do elevador, como de quem espera pela sua vez para entrar. O espaço é exíguo, dificultando a circulação das pessoas, quando estas não têm o mínimo de respeito pelo seu semelhante. Se a fila de espera não for feita ordeiramente e junto à parede (mesmo encostada), quem sai do elevador não tem outra opção que não seja ir de encontro a quem espera pela sua vez para entrar, originando-se uma confusão tremenda entre quem sai e quem entra num corredor onde não cabem mais que duas pessoas lado a lado. A situação piora quando se trata de pessoas em cadeiras de rodas.
Quanto à educação cívica, o Governo pouco mais poderá fazer do que esperar que a mentalidade das pessoas em Macau mude, tornando-se mais civilizadas, visto que não será muito provável aumentar a largura do corredor, por contingências físicas do local. No entanto, existem outros pontos que podem e devem ser melhorados.
Quem ali se desloca, infelizmente, não o faz por gosto. O simples facto de ter de ir ao hospital é suficiente para deixar uma pessoa insatisfeita e de humor pouco propício a sorrisos. E, se a juntar à realidade de ter de se deslocar à consulta ainda for obrigada a ter de enfrentar a falta de edução dos outros e a falta de condições das instalações, é natural que tenha pouca paciência para aturar abusos.
De Verão esse conjunto de factores conta ainda com mais uma agravante que pode deitar por terra o utente mais bem-disposto: o calor. Em todo o corredor não existe um único ar condicionado a funcionar, de modo a atenuar a temperatura. Apesar de existir uma ventoinha (apenas uma no final do corredor) e uma cortina de ar (que nunca vi funcionar e que pelo pó acumulado deixa adivinhar que está inactiva há muito tempo), isto de pouco vale quando a temperatura ultrapassa os 25 graus e se juntam dezenas de pessoas num espaço exíguo que apenas tem uma saída/entrada de ar fresco.
É comum ver pessoas a transpirar imenso e usar todos os meios ao seu alcance para fazerem face ao extremo desconforto que sentem.
O Governo deve ter este aspecto em atenção e tentar encontrar uma solução para o problema. A simples instalação de um sistema de ventilação e de ar condicionado no local pode ser suficiente para melhorar, substancialmente, as condições.
Outro dos aspectos a melhorar é o da ordem das filas de entrada e saída. Sei que aqui conta muito a educação e civismo de cada um; no entanto, as autoridades podem colocar fitas separadoras e mesmo funcionários, durante alguns meses, para indicar às pessoas para que mantenham a ordem da fila.
Paralelamente a estas iniciativas, podem também colocar, nas duas línguas oficiais, e também em Inglês, painéis educativos sobre a forma correcta de se comportarem enquanto esperam pelo elevador.
A falta de Português
Estando a falar de um acesso ao hospital, não quero deixar passar a oportunidade para referir que o desrespeito pelo artigo 9 da Lei Básica continua a ser regra no Centro Hospitalar Conde de São Januário, já que o uso de Português continua a ser desrespeitado diariamente, sem que ninguém faça nada para mudar a situação.
A informação disponibilizada pelos corredores do hospital está, maioritariamente, em Chinês e Inglês. Há diversos cartazes relativos a doenças e seminários que apenas apresentam informação em Chinês, esquecendo completamente a segunda língua oficial de Macau. No elevador citado anteriormente a informação sonora é apenas em Chinês (cantonense) e Inglês.
Nas urgências a informação disponibilizada ao público está, na sua grande parte, em Chinês e Inglês, sendo o Português tratado como língua marginal. E no tratamento com os doentes a situação repete-se, não havendo qualquer clínico no serviço de urgências que faça o atendimento em Português.
Esta situação não se irá resolver com a contratação de duas dezenas de médicos a Portugal. É um problema que merece outro tipo de abordagem mais profunda.
Antigamente existia um ponto nos requisitos para entrar na Função Pública, sendo exigido ao candidato um mínimo de conhecimento das duas línguas oficiais. Penso, por isso, que actualmente, para certas posições nos Serviços de Saúde, tal deveria ser ainda exigido. Julgo até que do facto deveria ser dado conhecimento a Pequim e talvez assim se resolvesse o impasse.
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