ESTE mês que agora começa, o de Novembro, é, por tradição, o de maior cartaz turístico em Macau. Este ano, apenas por força do Grande Prémio, visto que o Festival da Lusofonia foi, uma vez mais, antecipado para Outubro. Resta-nos, que mais não seja, o Festival Internacional de Música, – o encerramento é já amanhã, – que todos os anos lá nos vai trazendo alguma coisa do que se faz em Portugal. Desta vez, aliás, trouxe-nos algo do que se fez, «numa de saudosismo»!
Não se percebe muito bem porque é que no ano em que se comemora o décimo aniversário da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM), a festa que assinala a mais-valia de Macau não tenha tido, no mínimo, o mesmo destaque do ano passado. Muitas vozes se levantaram contra esse facto, mas as explicações oficiais foram poucas. Passadas poucas semanas, porém, já ninguém se lembra e a vida continua, como se nada tivesse acontecido e dizendo cada um com os seus botões: «para o ano há mais»!
A verdade é que se nota uma grande disparidade entre o que se diz e o que se faz. Se, por um lado, temos altas figuras da hierarquia, quer de Macau quer de Pequim, a dizer que as relações entre a Grande China e os países da Lusofonia devem passar, obrigatoriamente e com todo o sentido, por Macau, – aliás, para isso até foi criado um fórum que muito tem contribuído para tal, – por outro, esquecem-se de incluir os eventos lusófonos, quando se comemoram os dez anos da RAEM.
Quando nos referimos à lusofonia, às relações com a China e ao papel de Macau, temos também de olhar para o outro lado do problema. O que se faz nos países lusófonos para promover a imagem de Macau como plataforma ideal para este convívio? Ou o que se faz em Portugal, por exemplo, para dignificar e dar a conhecer as relações centenárias com a China e o significado de Macau nas mesmas?
É uma questão antiga que, certamente, não terá apenas uma resposta nem nunca será satisfatoriamente esclarecida. Vamos, como sempre, vivendo de compromissos e posições dúbias, que nenhum dos lados assume oficialmente, mas que ambos praticam como mais lhes convém. Macau é isto mesmo: um compromisso assumido há quase meio século e que promete perdurar por muitos mais anos.
Nós, os lusófonos, queixamo-nos, porque parece estar no nosso sangue tal fazer, ou assim pensam os nossos comparsas asiáticos. Por muito ou pouco que se faça, há sempre críticas a quem faz e ao que se apresenta. Aliás, temos um dito muito conhecido na língua portuguesa que diz, mais ou menos assim: «não se pode agradar a gregos e troianos». Assim sendo, não será necessário entrar em muitos mais detalhes neste campo.
Nós, que decidimos viver em Macau, há muito que aceitamos estas situações como normais e olhamos para cada caso como sendo um percalço do percurso de crescimento da RAEM, como já nos habituámos a ouvir de muitas pessoas de boca oficial.
Ao completar dez anos, a RAEM entra na idade da «estupidez», como é conhecido popularmente o período «teenager» em Portugal. Um período onde todas as traquinices e diabrites são perdoadas, porque não se é ainda adulto, mas também já não se é propriamente uma criança.
Vamos esperar até à maioridade da região para ver em que tipo de adulto se irá transformar. Afinal, iremos vê-la com mais anos de maioridade, do que como criança ou adolescente. Será conveniente lembrar que a RAEM vai andar por aqui até aos cinquenta anos.
Acabámos um ciclo de criança que teve os seus momentos altos e baixos. Vamos agora entrar no período de adolescência, em que serão postos à prova os conhecimentos e experiência adquiridas nos primeiros anos de vida. Um momento, pois, de real preparação e definição do carácter adulto de qualquer entidade. Ora, neste caso, tratando-se de uma entidade e não de uma pessoa, está em causa a forma como a mesma se irá relacionar com os cidadãos que nela vivem.
Preocupamo-nos, principalmente, com o que será da lusofonia em Macau, em todas as suas vertentes.
Julgo que, como se viu nos primeiros anos de vida da RAEM, será da capital que virão sempre os maiores incentivos à preservação e fomento desses laços que a língua portuguesa aqui deixou. Penso também que tal interesse se irá manter, enquanto se mantiverem os interesses económicos da China nos países de língua portuguesa e na União Europeia.
Quando tal terminar, se antes não tiver sido fomentado qualquer outro tipo de dependência, podemos muito bem esquecer o que nos mantém em Macau. Até lá, muito trabalho há a fazer de ambos os lados pelas partes interessadas. Os nossos Governos têm de mostrar muito mais trabalho de casa e, antes de mais, têm de manifestar genuinamente estarem empenhados em alimentar esta relação centenária e privilegiada com a China.
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