POUCAS pessoas em Macau tiveram conhecimento, mas passou pelo território, entre 16 e 26 deste mês, um dos fadistas mais conhecidos da nova geração em Portugal. Duarte, prémio Amália revelação de 2005/2006, esteve na região em visita privada e aproveitou para fazer uma pré-apresentação do seu novo álbum, que será lançado em meados de Novembro, no Museu do Fado em Lisboa.
Com a sua voz inconfundível, Duarte acedeu a quatro actuações, uma na Casa Garden, sede da Fundação Oriente; uma no restaurante Miramar, em Coloane; e duas no restaurante O Santos. Todas as actuações, num ambiente descontraído e com Duarte a cantar e a tocar viola, foram acompanhadas pelo exímio guitarra portuguesa, Samuel Cabral. Guitarrista que já tocou com todos os grandes nomes do Fado e um dos melhores especialistas da guitarra portuguesa da actualidade. Um apelativo extra das actuações de Duarte em Macau foi ver e ouvir Samuel Cabral dedilhar as cordas da guitarra portuguesa, extraindo os acordes mais incríveis nos concertos.
Duarte, por sua vez, recebeu várias ovações do público em pé, nos locais onde actuou. Apesar de não ser muito frequente ouvir fado em Macau, quem agora teve tal oportunidade mostrou saber como comportar-se no ambiente típico de uma casa de fados. Excepção feita a uma das actuações, em que um dos presentes, depois de várias advertências, teve de ser convidado a abandonar o local por estar a perturbar a actuação dos artistas e o bom ambiente no interior do recinto. Foi, porém, uma excepção, que não voltou a repetir-se.
Apesar dos vários contactos feitos para conseguir organizar mais actuações deste fadista em Macau, as portas mantiveram-se todas fechadas. Mesmo instituições que deviam ser sensíveis para mostrar o que se faz em Portugal, consideraram de pouca importância o facto de estar no território uma das vozes mais representativas da nova vaga de fadistas portugueses. Aliás, esta seria até uma boa oportunidade para, com pouco investimento, organizar um evento cultural que a comunidade local apreciaria. Prova disso foram as várias actuações feitas, que mereceram os maiores elogios por parte de quem esteve presente. Um dos comentários mais ouvidos foi o de que era incompreensível estarem estes artistas em Macau e não ter sido organizado nada pelas entidades oficiais, fossem elas da cultura do Governo ou da parte do Consulado Geral de Portugal.
Pessoalmente, tendo marcado presença em todas as actuações, não me lembro de ter visto ninguém em representação do Governo, nem mesmo o cônsul geral de Portugal em Macau ou alguém do Consulado Geral.
Falo disto porque, a pedido do fadista e do seu agente, por sermos amigos de longa data, me tinha sido solicitado fazer contactos com possíveis locais interessados em que eles actuassem. Dos que tive possibilidade de contactar, – não vale a pena estar aqui a enumerá-los, – as respostas foram todas negativas ou, com muita falta de respeito, nem sequer responderam. Os que responderam positivamente foram os locais onde o fadista actuou e que, – diga-se, – mostraram toda a disponibilidade para mais actuações e um possível regresso em breve.
Muitas vezes nos queixamos em Macau pelo facto de não haver muitas oportunidades para desfrutar de momentos vivos da cultura portuguesa, especialmente no que diz respeito às novas tendências. Acontece, porém, surgirem ocasiões como esta, em que elas nos «batem à porta», mas as portas se mantêm fechadas. O próprio Governo, que através dos seus departamentos de cultura se diz apostado em não deixar morrer a cultura de cariz português que torna Macau um local diferente, pouco ou nada faz. Aliás, alguns digníssimos representantes do Instituto Cultural (IC) cruzaram-se com os ditos fadistas num casino de Macau e nem se dignaram a apresentar cumprimentos!
Duarte deixou Macau bastante bem impressionado pela forma como foi recebido, sem qualquer tipo de ressentimento e deixou a porta aberta para um possível regresso, caso as entidades oficiais de Macau assim o entendam.
Eu diria mais: se querem trazer a Macau grupos que representem Portugal e que nos tragam o que de melhor lá se faz actualmente, acho que deveriam aproveitar oportunidades como esta, em vez de andarem a gastar milhares a trazer grupos e artistas que passaram à história há dezenas de anos e que apenas nos trazem cultura datada e sem nada de novo.
O que se quer em Macau, a nível de cultura de cariz português, é o que se vai fazendo de novo, porque de saudosismo, por cá, já estamos todos bem servidos.
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